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sexta-feira, 23 de março de 2018

Alquimia e Mutação


ALQUIMIA E MUTAÇÃO

Interlocutor P: Estava pensando se valeria a pena discutir a antiga atitude hindu para a alquimia e a mutação, e ver se os descobrimentos da alquimia têm alguma relação com o que você expressa. É significativo que Nagarjuna, um dos grandes sustentadores do pensamento budista, fora ele mesmo um mestre alquimista. A busca da alquimia na Índia não estava dirigida tanto à transmutação dos metais básicos em ouro, como a uma investigação dentro de certos processos psicofísicos e químicos nos quais, através da mutação, o corpo e a mente podiam ver-se livres dos estragos do tempo e dos processos da degeneração. O campo de investigações incluía o domínio da respiração, a participação de um elixir preparado em laboratório — uma substância na qual o mercúrio desempenhava um papel fundamental —, e a descarga de uma explosão na consciência. A ação dos três elementos leva a uma mutação do corpo e da mente. O simbolismo usado pelo alquimista era sexual; o mercúrio era a síntese masculina de Shiva, a mica a síntese da Deusa; a união de ambos, não só fisicamente e nos crisóis do laboratório, senão na mesma consciência, dava origem à mutação, um estado livre do tempo e dos processos de envelhecimento, um estado que não tinha relação com os dois elementos que em união total haveriam desencadeado a mutação. Isto está de algum modo relacionado com o que você disse?

KRISHNAMURTI: Você pergunta a respeito do estado de consciência que não pertence ao tempo?

P: Em todo indivíduo pode-se ver como opera um elemento masculino e o feminino. O alquimista bia a necessidade da união, de um equilíbrio. Há alguma validade nisto?

KRISHNAMURTI: Penso que isso pode ser observado em si mesmo. Muitas vezes tenho observado que em cada um de nós estão operando os elementos masculino e feminino. Ou se acham em um estado de perfeito equilíbrio ou estão em desequilíbrio. Quando existe este equilíbrio completo entre masculino e feminino, o organismo físico nunca fica realmente enfermo; pode ser que haja algum mal-estar superficial, mas no mais fundo não há enfermidade que destrua o organismo. Isto é o que provavelmente tem buscado, identificando-o com o mercúrio e a mica, o macho e a fêmea, e tratando através da meditação, do estudo e talvez mediante algum tipo de medicina, de produzir esta perfeita harmonia. Pode-se ver claramente em si mesmo como operam o masculino e o feminino. Quando um ou outro se torna exagerados, o desequilíbrio produz enfermidade; não doenças superficiais, senão enfermidades nas profundidades. Pessoalmente tenho notado em mim mesmo, debaixo de diferentes situações e climas, com distintas pessoas agressivas, violentas, como o feminino toma posse e se torna dominante. Este domínio do feminino utiliza o outro para afirmar-se a si mesmo. Mas quando ao redor de si há demasiada feminilidade, o masculino não se torna agressivo senão que se retira sem nenhuma resistência.

P: O que são os elementos feminino e masculino?

KRISHNAMURTI: O masculino é geralmente o agressivo, o violento, o dominante; e o feminino é o tranquilo, que geralmente se toma por submissão e então é explorado pelo homem. Mas a submissão, entendida como a qualidade do feminino, é na verdade a delicadeza que gradualmente conquista ao outro. Quando o masculino e o feminino estão em completa harmonia, transforma a qualidade de ambos. Já não é mais o masculino e o feminino. É algo completamente diferente com relação ao que se considera como masculino e feminino. O masculino e o feminino o positivo e o negativo, são dualísticos por causa de sua mesma natureza, enquanto que o completo equilíbrio, uma harmonia de ambos, tem uma qualidade diferente. Isso é como a qualidade da terra na qual tudo vive, mas não é da terra. Tenho notado com muita frequência este modo de operar. Quando a totalidade da mente se afasta do físico e do meio ambiente, é como se estivesse muito longe; muito longe no espaço e no tempo, senão que se trata de um estado ao qual nada pode afetar. Este estado não é uma abstração, nem um afastar-se do mundo, senão um absoluto estado interno de não-ser. Quando tem lugar esta perfeita harmonia devido a que não há conflito, ela tem sua própria vitalidade. Não destrói o outro. Assim que o conflito não está só no externo, mas também no interno, e quando este conflito cessa completamente, há uma mutação que não é afetada pelo tempo.

P: O alquimista chamava a isto de o nascimento de Kumara, o menino mágico; aquele que nunca envelhece, que é completamente inocente.

KRISHNAMURTI: Isso é muito interessante. Mas a alquimia se converteu em um sinônimo de tanta magia falsificada...

P: Mas os alquimistas, os mestres que eram colocados como os rasa siddhas — os portadores da essência —, afirmavam que aquilo que descreviam o haviam visto com seus próprios olhos, que o que relatavam não era de ouvidos nem havia sido ditado por um mestre. Há outro fator interessante; na alquimia se tem prestado muita atenção ao instrumento — o vaso. A ciência da metalurgia se desenvolveu a partir disto — um dos vasos ou yantras era conhecido como o garbha yantra, o vaso matriz. É uma palavra chave da alquimia. Existe uma tal coisa como a preparação da matriz da mente?

KRISHNAMURTI: No momento em que você usa a palavra preparação, isso significa um processo no qual o tempo está envolvido.

P: Os alquimistas também eram conscientes de que no ponto de mutação, de fixação do mercúrio, do nascimento do atemporal, não estava o tempo envolvido.

KRISHNAMURTI: Não use a palavra preparação. Coloquemos deste modo: É necessário um estado, um plano de fundo, um vaso que possa conter isto? Eu diria que o é, porque quando descobriram ao menino Krishnamurti, as pessoas que se supunha eram clarividentes para isso então, viram que ele carecia da qualidade do eu e que, portanto, era digno de ser o vaso. E penso que ele tem permanecido assim durante toda sua vida.

S: Pode ser que isso seja assim, mas, o que há com relação às pessoas correntes com nós? Este é um privilégio concedido a uns poucos, muito poucos, um em mil anos ou mais, ou isso pode ocorrer com pessoas que se interessam por tudo isto, que estão entregues a isto, que são verdadeiramente sérias em sua investigação?

KRISHNAMURTI: Certos fatores físicos e alguns estados psicológicos são necessários. Fisicamente tem que haver sensibilidade. A sensibilidade física não pode ter lugar quando se fuma, se bebe, ou se come carne. A sensibilidade do corpo deve conservar-se; isso é absolutamente essencial. Tradicionalmente, um corpo assim permanece em um lugar, sustentado por discípulos, pela família. Não é exposto nem submetido a agitações.

Um homem que é muito sério com relação a tudo isto, pode tornar altamente sensível a um corpo que tenha passado pelos normais efeitos embrutecedores? E o mesmo com uma psique que tenha sido ferida pela experiência?  Pode ela eliminar todas as feridas e cicatrizes, e renovar-se a si mesma de modo que haja um estado no qual não exista lesão alguma? Estas duas coisas são essenciais: a sensibilidade e a psique são cicatrizes. Eu penso que isto pode modificar qualquer pessoa que seja realmente seria.

Você já vê que a matriz está sempre pronta para conceber. Ela se renova a si mesma.

P: Como a terra, a matriz tem sua qualidade intrínseca de renovação.

KRISHNAMURTI: Penso que a psique tem exatamente a mesma qualidade.

P: Quando a terra se acha inativa e a matriz está quieta, em ambas existe a capacidade intrínseca de renovação.

KRISHNAMURTI: A terra, a matriz e a mente são da mesma qualidade. Quando a terra descansa e a matriz está vazia e na mente não há movimento algum, então tem lugar a renovação. Quando a mente está completamente vazia, é como a matriz: pura para renovar-se, para receber.

P: Este é então o vaso, o receptáculo.

KRISHNAMURTI: Sim. Este é o vaso, mas quando você emprega as palavras vaso, e receptáculo, tem que ser sumamente cauteloso.

Esta qualidade intrínseca da mente para renovar-se a si mesma, pode ser chamada de eterna juventude.

P: É conhecida como kumara vidya.

KRISHNAMURTI: O que é então que envelhece a mente? É óbvio que a mente envelhece devido ao movimento do eu, do ego.

P: O ego desgasta as células cerebrais?

KRISHNAMURTI: A matriz está sempre pronta para receber. Tem a qualidade de purificar-se a si mesma a todo tempo, mas a mente que está carregada com o ego — a fricção do ego —, carece de espaço para renovar-se a si mesma. Quando o ego está tão ocupado consigo mesmo e com suas atividades, a mente não tem espaço para renovar-se. De modo que o espaço é necessário tanto para o físico como para a psique. Como isto concorda com a alquimia?

P: A linguagem que eles empregam é diferente. Eles chamam de mutação através da união.

KRISHNAMURTI: Tudo isso implica esforço, fricção.

P: Como você o sabe?

KRISHNAMURTI: Se isso implica qualquer tipo de processo, qualquer forma de realização, então implica esforço.

Nova Delhi
14 de dezembro de 1970
Tradição e revolução
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill