Você pergunta como podemos conhecer o Infinito. Eu respondo que não é pela razão. A tarefa da razão é distinguir e definir. Assim, o Infinito não pode fazer parte de seus objetivos. O Infinito só pode ser apreendido por uma faculdade superior à razão, que nos faz entrar num estado no qual você já não é o seu eu finito, estado no qual a essência divina lhe é comunicada. Esse é o êxtase (Consciência Cósmica). É a sua mente, liberta da consciência finita. O semelhante só pode aprender o semelhante. Assim, quando você deixa de ser finito, você se torna uno com o Infinito. Na redução de sua alma ao eu mais simples, sua essência divina, você realiza essa união — essa identidade.
Mas essa condição sublime não tem duração permanente. Só podemos desfrutar dessa elevação de vez em quando (misericordiosamente posta ao nosso alcance), elevação que se acha acima dos limites do nosso corpo e do mundo. Eu próprio, até agora, só a desfrutei por três vezes e Porfírio não foi contemplado nem uma só vez. Tudo aquilo que contribui para purificar e elevar a mente, ajuda-lo-á a atingi-la e facilitará a aproximação e a reincidência desses felizes intervalos. Há, pois, diferentes caminhos pelos quais podemos alcançar esse fim. O amor à beleza, que exalta o poeta; a devoção ao Único e o desejo de ciência, que constituem a ambição do filósofo; o amor e as orações de uma alma devotada e ardente que busca a perfeição moral da purificação. Esses são os grandes caminhos que conduzem ao que está acima do presente e do particular, quando nos vemos face a face com o Infinito, que brilha além das profundezas da alma.
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As almas humanas que desceram à corporalidade são as que se permitiram escravizar pela sensualidade e dominar pela luxúria. Agora, acham-se perdidas do seu verdadeiro ser e, afanando-se pela independência, assumem uma falsa existência. Precisam voltar atrás e como não perderam a sua liberdade, a conversão ainda é possível.
Aqui, chegamos a filosofia prática. Percorrendo o mesmo caminho que lhe serviu para a descida, a alma deve refazer os degraus que a levam de volta ao Deus supremo. Em primeiro lugar, deve retornar A SI MESMA. Isso se alcança pela prática da virtude, cujo fim é a semelhança com Deus e que conduz a Deus. Na ética de Plotinus, todos os antigos esquemas de virtude acham-se alterados e reorganizados em série graduadas. O estágio mais baixo é o das virtudes civis, seguido pela purificação e por último por todas as virtudes divinas. As virtudes civis simplesmente enfeitam a vida, SEM ELEVAR A ALMA. Essa tarefa pertence às virtudes purificadoras, pelas quais a alma se liberta da sensualidade, VOLTA A SI MESMA e então ao "NOUS". Por meio de práticas ascéticas o homem uma vez mais se converte em um ser espiritual, livre de todos os pecados. Entretanto, ainda há um escalão mais alto: não basta ser sem pecado; é preciso converter-se em "Deus". isto se alcança pela contemplação do Ser primevo, do Único ou, em outras palavras, por uma aproximação extasiada desse Único. O pensamento não pode chegar a isso, , pois atinge apenas o "nous" e é, em si mesmo, uma espécie de movimento. O pensamento é um estágio preliminar de aproximação de Deus. É apenas em estado de PERFEITA PASSIVIDADE E REPOUSO que a alma pode reconhecer e tocar o SER primevo. Assim, para atingir este fim mais alto a alma necessita passar por um CURRICULO ESPIRITUAL. Iniciando na contemplação das coisas corpóreas, em sua multiplicidade e harmonia, RETIRA-SE PARA DENTRO DE SI MESMA, NAS PROFUNDEZAS DE SEU PRÓPRIO SER, atingindo então o "nous", o mundo das ideias. Mas o MAIS ALTO, o Único, ainda não termina aí. Ainda há uma voz que diz: "Nós não nos fizemos a nós mesmos". O último estágio é alcançado quando, na mais alta tensão e concentração, no silêncio e esquecimento de todas as coisas, a alma acha-se apta a perder-se EM SI MESMA. Então, ela pode ver a Deus, a fonte da vida, o Ser, a origem de todo bem, a raiz da alma. Nesse momento, ela desfruta da benção mais indescritível; é como se fosse banhada pela divindade, mergulhada na luz da eternidade.
Richard M. Bucke - Consciência Cósmica - Estudo da evolução da mente humana