Pergunta : Podeis
oferecer-nos alguma maneira prática de nos libertarmos de nossa mente
condicionada? Dizeis que qualquer preparo especial, tal como a ioga ou outros
exercícios espirituais, só serve para nos tornar escravos; mas continuo a
pensar que temos dê adotar alguma espécie de método. Dizeis que, para termos essa
liberdade, devemos dedicar-lhe a nossa vida; mas, como fazê-lo, sem algum
método ou sistema?
KRISHNAMURTI: Aí temos
uma questão um tanto complexa, e espero escuteis atentamente o que se vai
dizer. Por "atenção" não quero significar “aguardar mentalmente”
resposta que se deseja receber" — ou seja, a garantia de que uma certa
ajuda, uma certa disciplina ou prática é necessária para que possamos ser
livres. Estamos acostumados a obter resultados mediante certas práticas, certos
métodos, e a passar desses resultados a novos resultados. Mas, há um limite ao
que pode ser conhecido pela mente, mediante determinadas práticas ou
disciplina; e queremos agora investigar — não é verdade? — o que é a realidade,
o que é Deus. Para conseguir isso, deve a mente, em primeiro lugar, tornar-se
ilimitada, capaz de receber o desconhecido. A mente não pode chegar-se à verdade, não pode receber a verdade dentro de sua
clausura. A
verdade é imensurável, imensa, não podendo, pois, ser alcançada pela mente
limitada, por mais praticas que siga.
E
não é exato que vosso motivo, ao fazerdes
esta pergunta, é o de obter algo, atingir ou aprisionar a verdade? Mas a verdade
deve
vir a vós; a mente não pode ir
ao seu encontro. Pensais que, se vos
exercitardes em dominar vossas paixões,
isso
vos conduzirá à realidade e, por essa razão, o método
vos é
muito importante; mas a mente que
está sempre a esperar, a chamar, nunca alcançará, em circunstância alguma, o que se acha além dela
própria. Não há caminho, nem ioga, nem disciplina que vos leve a isso. O que a
mente pode fazer é, apenas, conhecer a si mesma. Conhecer suas próprias
limitações — motivos, sentimentos,
paixões, crueldades, falta de amor, — e estar cônscia de todas as suas
atividades. Devemos conhecer tudo isso e permanecer em silêncio, sem pedir, sem
suplicar, sem estender a mão para receber algo. Se estendeis a mão, ficareis de mãos
vazias para sempre. Mas, conhecer a si mesmo, tanto o consciente como o inconsciente,
é o começo da sabedoria; e conhecer a si mesmo por essa maneira, traz liberdade
— que não significa liberdade para
experimentar a realidade. O homem livre não é livre para alguma coisa, ou livre de alguma coisa; é livre, simplesmente; e então,
sem o desejar, aquele "estado de realidade" surgirá. Mas, se sairdes
à sua procura, ficareis como um cego a buscar a luz; nunca o achareis. O homem
que compreende a si mesmo, nada busca; sua mente é ilimitada, sem desejos, e a
essa mente pode manifestar- se o imensurável.
Krishnamurti –
Verdade Libertadora - ICK