Pergunta: De que maneira poderia um homem de estado que compreendesse o que o senhor está a dizer, dar-lhe expressão nos assuntos públicos? Ou não é mais provável que se retirasse da política quando compreendesse as suas falsas bases e objetivos?
Krishnamurti: Se ele compreendesse o que estou a dizer, não separaria a política da vida na sua totalidade; e não vejo porque deveria retirar-se. Afinal, a política atualmente é apenas o instrumento da exploração; mas se ele considerasse a vida como um todo, não só política – e por política ele quer dizer apenas o seu país, o seu povo, e a exploração de outros – e considerasse os problemas humanos não como nacionais mas como problemas do mundo, não como problemas americanos, hindus ou alemães, então, se ele compreendesse aquilo de que falo, seria um verdadeiro ser humano, não um político. E para mim, essa é a coisa mais importante, ser um ser humano, não um explorador, ou meramente um especialista num curso de ação específico. Tentei explicar isso ontem na minha palestra. Penso que é onde reside o mal. O político só lida com a política; o moralista com a moral, o chamado instrutor espiritual com o espírito, cada um pensando que ele é o especialista, e excluindo todos os outros. Toda a nossa estrutura de sociedade se baseia nisso, e portanto estes líderes dos vários departamentos geram maiores estragos e maior miséria. Ao passo que se nós como seres humanos víssemos a ligação íntima entre todos eles, entre políticos, religião, a vida econômica e social, se víssemos a ligação, então não pensaríamos e agiríamos separadamente, de maneira individualista.
Na Índia, por exemplo, há milhões de pessoas a morrer à fome. O Hindu que é nacionalista diz; “Vamos em primeiro lugar tornar-nos intensamente nacionais; então seremos capazes de resolver este problema da fome.” Ao passo que para mim, a maneira de resolver o problema da fome é não tornar-se nacionalista, mas antes pelo contrário; a fome é um problema mundial, e este processo de isolamento apenas incrementa mais a fome. Portanto se o político lidar com os problemas da vida humana apenas como um político, então esse homem cria maior devastação, maior mal, maior miséria. Mas se ele considerar o todo da vida sem diferenciação entre raças, nacionalidades e classes, então ele é verdadeiramente um ser humano, embora possa ser um político.
Krishnamurti - Ojai, California, 11ª Palestra - 30 de Junho de 1934.