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terça-feira, 17 de julho de 2018

A morte do tempo psicológico


segunda-feira, 2 de abril de 2018

Existe uma ação sem passado e sem futuro?


Existe uma ação sem passado e sem futuro?

O orador gostaria de saber, o por que de estarem aqui. Com que intenção, com que propósito, com que tipo de conceitos imaginários ou conceitos supersticiosos que tenham? E quem sabe, se me permitem ser tão audacioso como para sugerir que, talvez, tenham chegado com essas ideias, com as fórmulas. E temo que será decepcionante porque — espero que você possa ouvir, está de acordo?

Tenho falado em todo o mundo por um logo tempo, setenta anos, isso é muito tempo, e tem sido criado, naturalmente todo tipo de fantasia, superstição imaginária, reputação, e as imagens que foram criadas, realmente são sem sentido.

O que estamos falando é totalmente diferente de uma conferência. Uma conferência está destinada a informar, instruir, orientar e assim sucessivamente. Isto não é uma conferência. Por favor, devemos ser muito claros sobre este ponto. Isto não é uma conferência. Não há nenhuma intenção por parte do orador, em guiar-lhe, em ajudar-lhe, perdoem se uso essas palavras, ou para informe-lhe a respeito de algo que você gostara que se falasse, teórico, supersticioso, imaginário e ficções, por assim dizer. Mas vamos deliberar juntos. Essa palavra tem um significado muito profundo, deliberar, o que significa um peso em conjunto, ter um consenso em conjunto, nutrindo-se um ao outro, não fisicamente, espero, mas psicologicamente, intelectualmente e penetrar o mais profundamente possível na própria consciência, em sua própria função, sua própria maneira de pensar, viver. Não se trata de um encontro teórico, falando de coisas distintas que devem ser, ou que não tenha sido, mas juntos, você e o orador estão tomando um consenso juntos, com um peso de coisas juntos. Por favor, não se trata só de um monte de palavras. O orador realmente diz o que significa, goste você ou não. Ele diz que vamos tem um consenso em conjunto, pesando as coisas juntos, eu não penso e logo lhe digo a respeito, mas sim que juntos, você e o consenso do orador, tomam em conjunto, pesam juntos. Isto não é propaganda, porque estamos juntos investigando, perguntando, questionando, duvidando.  A ideia e o fato são coisas diferentes. O fato é uma coisa. O microfome não é uma ideia, é um fato. Portanto, o fato é o que vamos discutir, não a ideia do fato. Espero que esteja claro. Tudo bem? Devo manter-me em silêncio enquanto vocês se mantêm em silêncio?

Esta é uma reunião séria, e não só uma troca de palavras. Algo mais, senhor? Portanto, desde o princípio temos que ver muito claro que isto não é uma conferência, não estamos falando de teorias, o que tem ocorrido aos seres humanos através dos longos dois milhões e meio de anos de evolução, mas que somos o que temos passado a ser, e o que é o nosso futuro — não da humanidade, qual é o futuro de todos nós? Certo? Sejamos claros sobre este ponto. Vamos deliberar juntos o consenso, nutrindo uns aos outros, tanto intelectualmente, não verbal e psicológico. Não é algo intelectual. Não é romântico, não é supersticioso, imaginário. Etc. Assim que estamos juntos; não pode simplesmente se sentar ai e dizer, sim, sim, ou não, não. Você está participando, está compartilhando, que são as pesagens, tomando assim o consenso. Verdade? Estamos entendidos? E não estamos fazendo nenhum tipo de propaganda, ou de convidá-lo para unir-se a uma seita. E aqui devo acrescentar que não sou seu guru, que vocês não são meus seguidores. Não somos a criação de um novo culto, uma nova sociedade, um novo ashram, um novo tipo de campo de concentração. Se isto está muito claro entre nós, você e o orador, juntos, vão formar parte de todas as conversações, isso depende, da condição física do corpo.

Então, tem existido nesta terra, de acordo com os cientistas e arqueólogos, e assim sucessivamente, durante mais de dois milhões de anos e aqui estamos. O que somos? Não é verdade? Faça-se a pergunta. Não estou sugerindo o que você é. Estamos abrindo a profunda cova, as profundas causas subjacentes, a realidade que se esconde por detrás da causa. É assim que vamos entrar nas conversações. Não sei quantas haverá, mas não posso assegurar-lhe. Eles lhe dirão se haverá uma amanhã, ou não. Ou só haverá uma fala, que é a de hoje, e quarta-feira uma sessão de perguntas e respostas, e o próximo sábado a última reunião. Assim que juntos vamos olhar este mundo, que somos nós mesmos. Certo? Você está disposto? Ou está assustado, escondendo-se por detrás de todos os tipos de absurdas teorias, todas as insinuações psicológicas; todos os homens que têm se ajuntado, que chamamos religião, a sociedade existente, que é a degeneração do que está ocorrendo: a contaminação em todas as cidades, os ataques aéreos, também a corrupção. Isto é o que se apanha. Então, o que tem ocorrido de errado conosco? Ou se trata de um curso natural? Entendem a pergunta? Realmente querem escutar todo este lixo? Vocês devem ler sobre tudo isto nos jornais, se são honestos, revistas e é claro, todos os gurus no mundo que têm destruído o que querem. Assim, começamos, mas, por favor, tenha em conta, isto não é uma conferência. Você não veio escutar-me, veio escutar a si mesmo, contudo a regulação de si mesmo é complicada, sem dúvida é superficial, é profunda. Vamos entrar nisto tudo. Talvez não numa fala, mas veremos ao final da fala se o orador sobrevive. Esse que está atrás dele, lhe solicitará que se sentem em silêncio durante dois ou três minutos, depois sairei, e o orador averiguará se pode continuar amanhã, ou se colapsará ao final ele mesmo? Tudo depende de você, porque do contrário, como ouvinte, pode dizer, sim, sim, soa muito bem, ou não conduz a nada de bom. Não é lógico ou ilógico e assim sucessivamente.  Certo?

O que somos, como seres humanos, que têm vivido nesta terra por um período tão longo de tempo, por que somos como somos? Estão entendendo a pergunta? Verdade? Estão entendo a minha pergunta? É muito simples, senhor. Estou utilizando o inglês ordinário, inglês não profissional. Digo mais uma vez: todos estamos compartilhando juntos. Você não somente escuta o orador, o consultamos juntos, estamos deliberando. Essa palavra é realmente muito boa, para deliberar, consultar significa tomar em conjunto, pesar as coisas juntos, não seu preconceito, não suas opiniões, não suas conclusões, mas todo o processo de pensar, o que tem feito o homem e assim sucessivamente, certo? Se não entendem, eu sinto muito, não vou voltar novamente a ela. Estamos falando inglês ordinário.

Então, o que tem ocorrido conosco, a cada um de nós? Quer dizer, temos vivido nesta terra como seres humanos, durante muito, muito anos, o que se chama evolução. E durante a evolução da experiência, o conhecimento, o pensamento, todas as coisas que o homem criou, incluindo suas superstições, seus deuses, seus diferentes impérios, e quando chega a realidade, o que ocorreu a cada um de nós? Não querem saber? Ou estamos assustados para saber? O que é? Deus, o que se passa? Não é uma resposta.

Q: Queremos perguntar.

K: Não entendo do que está falando. E você é o resto do mundo, o que sofrem, o que passa, o aborrecimento diário, a mesquinhez da vida: a luta, a dor, a ansiedade, a tristeza, a negligência, o descuido, a indiferença.  E isto é compartilhado por toda a humanidade. Não é verdade? Todo mundo passa por isto: seu guru — se você tem um, espero que não tenha nenhum — seu guru, se estão todos despertos, se estão todos sãos e racionais... vá através de tudo isto. Os reis e os ministros passam por tudo isto: a dor, a ansiedade, a incerteza, a tristeza, a morte, com a esperança de ter algo no futuro. Isto é o que todos os seres humanos, onde quer que você esteja, sem é civilizado, ou não, cada ser humano passa por isto, não é verdade? Vocês duvidam desse fato? Você duvida que, todos os seres humanos em todo o mundo passam por tudo isto? E isto constitui a nossa consciência, certo? Estamos nos entendendo uns aos outros? Estamos trabalhando juntos? Estamos investigando juntos? Ou estou guiando-lhe, ajudando-lhe? Não estou. Pode estar seguro de um fato: não quero lhe ajudar, eu não sou seu guia ou seu ajudante; então, você vai se perguntar: por que estou aqui?  Você está sentado aqui, provavelmente por curiosidade, do que tem ouvido falar ou ler umas poucas linhas de um livro, ou tem dito, vê e escuta, se encontra fora. Assim que, por favor, sejamos claros, o orador não vai lhe guiar, não o está ajudando. Ele não vai lhe ajudar. Porque há anos estão lhe ajudando, lhe tem ajudado: salvadores, gurus, mahatmas, você sabe a lista completa deles, todos estão demasiados dispostos a lhe ajudar, com seus ashrams, com suas fundações, incluída esta. E o tem ajudado. Se você tem alguma dificuldade, corre à um guru, à um templo ou pede por ajuda, o que se chama oração. E eles os têm ajudado, têm sido guiados, politicamente, religiosamente, psiquiatricamente, e ao fim disto tudo, você é o que era. Portanto, o orador diz: por favor, leve isto a sério — não está sendo guiado, não está sendo ajudado, ao contrário, estamos caminhando juntos no mesmo caminho, juntos.

Assim que estamos compartilhando, nutrindo-nos. Estou utilizando a palavra “alimentação”, tanto intelectualmente, como psicologicamente. Não podemos nos alimentar mutuamente, há gente demais. Então, tendo em conta todo o tempo, você e o orador estão buscando juntos todo este problema, não só minha tristeza, ou sua tristeza, a ansiedade, a incerteza, é compartilhada por todos os seres humanos sobre a terra. E sua consciência é a consciência da humanidade. Não é verdade? Você pode não estar de acordo, mas investigar, inclusive intelectualmente, logicamente, não emocional, pois assim se perdem. Logicamente, sadiamente, olhando, não com preconceito, opiniões, mas olhe: você sofre e o faz o homem na Rússia. Você não está seguro, também não está o homem na China. Por que sua consciência é compartilhada por toda a humanidade, de maneira que você é a humanidade, não é verdade? Você se encontra na humanidade, não é Sr. Smith, ou Sr. Rao, o algo assim. No caso de que se mostre a você, mas não se aceita, logicamente, se mostra, a investigação de todos juntos, compartilhando juntos, que faremos? Entende minha pergunta? Vendo tudo isto, como a humanidade tem se dividido em nações, em seitas, em religiões — meu guru é melhor que seu guru — e assim sucessivamente. Esta divisão, esta separação existe em todo o mundo. Essa é uma das principais causas da guerra, as nacionalidades. Mas vai continuar com seu nacionalismo, com o hinduísmo, com sua tradição apesar do que disse o orador. Não é verdade? Certo, senhores? Estão de acordo, me alegro, mas vamos continuar como antes, não é verdade?  São uma multidão estranha.

Então, quando você se percebe deste fato, toda a humanidade, não fisicamente, mas psicologicamente, então vocês sempre devem se fazer a pergunta, o que vou fazer? Certo? Não esperem que lhe digam, estamos compartilhando juntos. Estamos tomando um consenso juntos. Isto não é uma conferência. Devo repetir, já que isto se utiliza para conferências, alguém vertendo sucessivamente para sua informação. Então, o que vamos fazer, se vemos racionalmente este fato de que somos toda a humanidade? Verdade? É claro que, você não o verão porque é muito importante dispor da individualidade: Estou separado de você. É claro que estão fisicamente separados de mim, você é uma mulher, sou um homem, ou sou mais alto, são mais baixos e tudo o mais.

A parte da divisão biológica, a consciência, nossa consciência, que é essa, todas suas recordações, experiências, seus anseios e todo o resto dela, a consciência é compartilhada por todos os seres humanos. Não é verdade? Vocês não estão de acordo com tudo isto. Não importa, seguirei se desejam me escutar. Vou fazê-lo, não importa se escutam ou não. Como os pássaros, vão cantando, como uma tormenta cheia de vento, a chuva e o trovão e a grande beleza da luz.

Portanto, se na realidade, não em teoria ou intelectualmente, se percebe, quer dizer, se aperceber de algo, é como uma cobra venenosa, uma serpente cascavel é venenosa, assim que não se aproxima dela. Não é mera conclusão, é sua morte se você se aproxima dela. Então, fisicamente estamos condicionados a uma serpente. Certo? Então, estamos condicionados, em forma, moldados na ideia de que você está separado dos seres humanos. Você tem uma alma separada, a ideia cristã e, se se apercebe são a humanidade, se não se questionam, o que são? Se observa com cuidado, se vê em forma deliberada, sem evitá-lo, verá que você sofre, o outro homem sofre, as brigas com sua esposa, e todos os meninos e o resto da vida cotidiana. Então, o que você deverá fazer? Não é verdade? O que você vai fazer? Qual é a sua ação? Não uma conclusão. Você entende, senhor? Devido a ser uma conclusão, não é o fato. Um fato pode se transformar numa conclusão, mas a conclusão não é o fato.

Estou no meio de um mar de pessoas que não parecem reagir a tudo isto. Seu conjunto de religiões se baseiam na individualidade, todas as suas orações, seu culto. Não importa, seguirei. Então, o que você deverá fazer? Que vou fazer, vivendo nesta sociedade, a sociedade que é tão corrupta, que devo fazer? Qualquer coisa que faça, vai afetar a sociedade? Entendem? Afetará ao meu vizinho, vai afetar ao homem, não na lua, mas o homem na Rússia? Portanto, tenho que perguntar: quem criou está sociedade? Certo? Estão pensando todos juntos, ou não? Oh! Deus meu! Que devo fazer se não reagem, se não falam algo, por que estamos perguntando quem criou esta sociedade que é tão imoral, tão corrupta, todo o mundo, que está destruindo ao homem, que está degenerando, que está contaminando todo o mundo, que devo fazer, ou não, influir nesta sociedade? Entendem minha pergunta? Sou diferente da sociedade? Verdade? Quem tem criado esta sociedade na qual vivemos? Estão pedindo que se trate, ou só escutam a mim? Certo? Está pedindo que se trate? Qual é a sua resposta? Se realmente usam o cérebro, não só consentindo com a cabeça, qual é a sua surpresa? Não uns deuses.

Q: Algo...

K: Refiro-me por um tempo, se não se importa, um pouco mais tarde. Não se importa? Quando for uma sessão de perguntas e respostas, se a há, você pode me perguntar o que quiser. Então, quem criou esta sociedade? Meu pai, seu pai, minha avó e sua avó. Certo? Todo eles ajudaram a construir esta sociedade corrupta na qual vivemos.  Então, somos os criadores desta sociedade, os construtores desta sociedade, através de nossas aspirações, nossos medos, o desejo da segurança em minha relação, em meu trabalho, poder, posição. Certo. Todos queremos isso. Estou dizendo a verdade, ou algo imaginário? Portanto, somos os construtores desta sociedade. A sociedade não é diferente de mim, de nós, porque somos ambiciosos, somos cobiçosos, estamos assustados, queremos posição, poder, privilégios. Não é verdade? Queremos tudo isto, e Deus também, de vez em quando. Portanto, a criação de Deus é nossa também. Você pode não estar de acordo, não está de acordo, vamos investigar, partilhar. O mundo ocidental é capturado por essa religião particular, e estão fazendo estragos fora dela. Sinto muito, devo dizer que não. Deus e o dinheiro vão na mão. Quando vocês têm problemas, querem alguém que os ajude, emocional, sexual, ou psicologicamente. Existem em todos os templos, mesquitas e igrejas e há uma cura. Não estou sendo cínico, estou mostrando os fatos. Então, o que você deve fazer? Ao saberem que, eu sou o resto da humanidade... não o senhor K! Entendem a pergunta? Que sou eu, que sou o resto da humanidade, não me pergunte aonde vai a humanidade, me pergunto se você vê a importância disto. Me pergunto se você vê a profundidade disto, a beleza disto, a imensidão e a responsabilidade disso. Temo que não. Porque se realmente visse isso, se sentiria totalmente responsável por seu irmão, totalmente responsável por seu vizinho. Você não vai interferir com ele ou lhe golpear na cabeça, ou lhe dizer o que fazer. Você é o vozinho, você é o guardião de seu irmão. Não sei se vocês veem tudo isto.

Então, o que devo fazer? Não estou pedindo sua ajuda. Não estou pedindo através de orações para que um todo poderoso me guie — se é que existe um todo poderoso. E levantamos esta questão a si mesmo, e devo, e espero que você faça. O que devo fazer, ao saber que eu sou o resto da humanidade? Eu sou a humanidade. Posso ser uma mulher ou um homem, baixo, alto, moreno, ou qualquer que seja a cor, a cor não é o importante; o importante é o que está dentro do crânio. Então, o que devo fazer? O que quer que eu seja, afetará a sociedade, que vem de mim. Entendem? A sociedade sou eu. Eu me separei da sociedade, mas o fato é que a sociedade tem sido elaborada pelo homem e o homem, em seu desejo de ter segurança, segurança permanente, através da propriedade, através das convicções, através das fórmulas, etc., etc., através de qualquer coisa, certo? Tem construído igrejas, mesquitas, templos, não só neste país, senão que estão tomando a América por desgraça. Então, o que devo fazer? Não estou separado da sociedade, não estou separado do resto da humanidade, a fim de fazer o que tem significado e a imensa responsabilidade. Verdade? Imensa. Então, qual é a minha responsabilidade? Verdade? Qual é a sua resposta? Não sente aí e me olhe. Minha primeira resposta a isto é: o que entendemos por ação?

Quero fazer algo, não só como um ser humano, tenho afeto pela sociedade, quero mudar a sociedade, quero colocar fim nesta degeneração que está ocorrendo. Você sabe o que está se passando no mundo. Não vou entrar em tudo isso. Então, que medidas devo tomar? Assim, antes de levantar esta pergunta, ou que a ponha em questão, devo perguntar: o que é ação? Certo? Diga-me você, qual é a ação? Para atuar de acordo com uma fórmula, não é ação total, porque a repetem e a repetição é parte de nossa segurança. E a repetição nos dá uma certa sensação de bem-estar, são estáveis, são firmes. Portanto, a ação é baseada em certas recordações, certos conhecimentos, certas experiências do passado e assim sucessivamente?  O que é a ação? O que é agir? Não, vou atuar, ou como atuei, para atuar agora. Você entende minha pergunta? Não? Vocês estão todos muito comportados. Todos vocês são bem educados, e provavelmente nunca se fizeram esta pergunta: O que devo fazer? Eu sou a realização de toda a humanidade, e a responsabilidade por ela, a grandeza.  Por isso perguntamos: o que é ação? Para atuar, não no futuro, que não é ação, não como tenho atuado, que é o passado. Então, qual é a ação que tem passado ou futuro? Entrar nela, esta é uma pergunta tremendamente importante. Se você baseia sua ação no passado, não é ação, é uma repetição, uma modificação, um pouco modificada, mas segue sendo a repetição. Certo? Deus, onde vocês foram educados?

Portanto, há uma ação, por favor, esta questão é mais séria: há uma ação que não dependa do passado ou do futuro ou conforme algum padrão? Entendem? Ou — trata-se de um pouco mais difícil — ou não há nenhuma ação em absoluto. Teremos que entrar nela muito mais devagar. Querem escutar tudo isto? Ou querem ficar quietos e meditar? Não sei o que vocês chamam de meditação. É uma dessas palavras que vai de boca em boca por todo lugar. Você vão num pequeno povoado da Califórnia e falam de meditação. E eles dizem, o que querem dizer com essa palavra? Não sabem, mas vão meditar. Não entrarei nisso agora.  

Portanto, ação que não é dependente do tempo. Entendem isso? Não, cuidado, senhor, não esteja de acordo com o que foi dito, pelo amor de Deus. Existe uma ação sem motivo, o auto interesse, sem querer obter recompensa?  Entendem a minha pergunta? Tudo isto implica tempo. Certo? Serei recompensado pelo meu belo trabalho, serei recompensado se rezo por uma geladeira — por que não? É tão bom, meu Deus, mais real que Deus, mais efetiva que Deus.

Então, há uma ação, a qual requer o uso de seu cérebro — não de suas emoções —, que não se baseia no auto interesse, ou numa conclusão na qual você esteja trabalhando? Por isso temos que investigar, o que é tempo? Entendem? Devido a função do tempo, você está entediado? Podem ter a amabilidade de me dizerem se estão entediados?

Q: Não, senhor.

K: “Eu sei, eu sei”. (Risos) A resposta invariável. Você não, mas estou realmente entediado com você? Assim, temos que olhar a natureza do tempo, não é verdade? O que é o tempo? Não de acordo com o nascer do sol, o pôr do sol, que tem seu próprio padrão, uma nova lua, um presente do céu e a lua cheia, que outro dia vi aumentando o mar. Foi uma maravilhosa visão. A saída do sol e as estrelas, a noite, tudo isso faz parte do tempo. E também há tempo se você tem um pequeno menino, um bebê tornar-se um homem, o que requer muito tempo, 20 nos, 30 anos, 90 anos, o que também significa tempo. Vivemos com o tempo. Há que se levantar pela manhã, num determinado momento, cozinhar e tudo o mais. Assim que vivemos em função, atuando nos limites do tempo. Para nós, o tempo é extraordinariamente importante. Faço uma reunião aqui, às 17:30, e você tem que fazer todo tipo de arranjos para chegar às 17:30. O orador também os fez. Assim que vivemos no tempo, não no momento dos cientistas, que é demasiado complicado. Não vou entrar nisso.

Vivemos no tempo, mas além do tempo físico e há também o tempo psicológico. Não é verdade? Quer dizer, estou e serei. Estou enciumado, incerto, ambicioso, quero cumprir, subir no escalão e todo o resto do mesmo; subir no escalão necessita tempo, passo a passo para chegar lá em cima, não é verdade? Portanto, há tempo psicológico e tempo físico. Isto está claro? Não concordem, por favor. Vocês não estão de acordo comigo, isto é um fato. Vocês não têm utilizado este tipo de pensamento, que é seu problema. Vocês não querem compartilhar nada com ninguém. Portanto, estamos obrigados ao tempo,  entendem? Eu sou cobiçoso, mas se me dão um pouco de tempo, serei não cobiçoso; deem-me um pouco de tempo para ser não-violento, não é verdade? Portanto, utilizamos o tempo como um meio de recompensa e castigo, não é verdade?

Vocês leem jornais? Eles lhes informam a respeito de tudo o que está ocorrendo conforme seu editor, e absorvem tudo o que o jornal está dizendo. Mas aqui não se trata de absorção, estão na realidade, pensando. E se você não quer pensar, pode ir para sua casa, pois é muito melhor. Mas se querem pensar, saber, não só têm que usar seu cérebro, que é extraordinariamente ativo. Se querem dinheiro, trabalhem como um inferno para consegui-lo. Se deseja uma posição, o poder, o bom, senhor, olhem todos os que trabalham fora de suas mãos. E se há uma ação que é eterna... entendem a pergunta? Que não é baseada no tempo como passado, presente e futuro. Então, o que é o tempo? Separado do tempo físico, o tempo inclui o passado, não é Verdade? Todos os conhecimentos que os cientistas têm adquirido, passo a passo, experiência por experiência, tratando sem defeito, adicionando mais e mais e mais ao que já sabem. Certo? Entendem algo do que estou dizendo? Ótimo!

Assim que o tempo é o passado, tempo é o presente, tempo é o futuro. Este é o círculo em que estamos presos. Recordo-me de minha experiência, a qual é um tempo preciso que eu tinha, estas memórias. Então, esse dia que foi tão horrível, me recordo disto. Assim que meu cérebro está cheio de recordações do passado, o presente e o futuro. Portanto, o futuro é o que sou agora, não é verdade? Certo, senhores? Não estejam de acordo, senhores, por favor, pelo amor de Deus não estejam de acordo. Se não o veem, isso não importa. Mas desde que tenham se incomodado de vir aqui, é um desperdício de dinheiro e de energia se não escutam, se não captam a verdadeira história do perfeccionismo de tudo isto; estão perdendo tempo, sua energia, seu dinheiro.

Assim que o tempo é o passado, o presente e o futuro. Os cientistas dizem algo mais, tenho falado deste assunto com eles, querem todo tipo de complicadas manobras para chegarem em suas próprias conclusões. Agora, o passado é tempo. Todas as recordações, todos os conhecimentos, toda a experiência, toda a dor, a ansiedade, a solidão, desespero, a incerteza, tudo isso é o passado que está atuando no presente. Não é verdade? Modificado, mudado ligeiramente, mas todo o passado está atuando agora. O que pensava há dez anos, ligeiramente modificado, segue seu curso. Você acredita em Deus, porque a fé lhe dá uma certa segurança, e amanhã você ainda acredita em Deus, se é uma ilusão ou fantasia ou sem sentido. Portanto, modificar o passado no presente se converte no futuro. Isso é bem claro, muito simples. Portanto, o futuro é agora. Não? Porque o que há, terá lugar amanhã, a menos que você realize uma radical mutação. Entendem isto? Todos vocês estão dormindo? Gostariam de ir para a cama?

Provavelmente, vocês nunca tenham pensado nisto tudo, nunca tenham visto isso, nunca se incomodaram em investigar, nunca tiveram tempo, um pouco de tempo durante o dia para dizer: “Meu Deus, o que é tudo isto?” Tudo isto é a vida e qual é o significado desta absurda forma de vida? Assim, se puder dar dez minutos agora, prestar atenção em seu coração para descobrir, não como um mero fato intelectual, uma ação verbal, senão dar a totalidade de seu ser, para averiguar, se encontra muito rapidamente, por si mesmo. Então nenhum deus, nenhum sacerdote, nenhum país, nenhum poder, posição e tudo isso, desaparecem completamente, carecem de sentido.

Portanto, o futuro é agora. Entendem? Porque sou agora: sou cobiçoso, invejoso, tenho vários inimigos — eu não, suponho que o tenham — inimigos, meu deus é, meu guru é melhor que seu guru, e todos os demais absurdos. Portanto, se vocês podem colocar de lado tudo isto — as opiniões, juízos, valores e enfrentar o fato de que vocês estão ao fim de dois milhões de anos, o que são agora: medo, solidão, depressão, ansiedade, incerteza, que é o que são agora, hoje. Amanhã serão exatamente os mesmos, ligeiramente modificados, mas vocês serão exatamente os mesmos.  Portanto, o futuro é agora. Não sei se veem isto.

Assim, que a questão que se levanta: o que é a transformação? Entendem? Se sou cobiçoso agora, ou então raivoso, se tenho sido invejoso, ciumento, tenho uma dor ou um grande número de dor, se não há agora uma mutação radical, amanhã será exatamente o mesmo. Isso é lógico, sensato, portanto, pergunto-me: qual é a transformação? Entendem? Existe tal coisa como a transformação? Entendem isto? Ao menos alguns de vocês? Usamos a palavra “transformar”, que significa mudar as formas: sou isto, mas vou mudar para ser isso, o que continua sendo o mesmo padrão. Não é verdade?

O que significa a palavra “amor”? O que ela significa para você? Alguma vez já trataram disso? Amor de deus, o amor das imagens, o amor da literatura, o amor para com minha esposa, que pode ser bastante duvidoso, e a literatura me encanta, etc. O que significa a palavra amor para cada um de nós? Você gostaria de esperar a resposta, tem tempo? Ou continuamos com ele? Entendem? Você gostaria de responder estar pergunta, o que é amor? Ou, se querem, o orador adentrará nela, é muito mais fácil para o orador nela entrar, eu sei. É uma importante questão, bastante, o que é amor? Como você saberá? Como averiguará, por si mesmo, a verdade desta questão, não todos os valores românticos; já sabem tudo isso. Então, o que é o amor, que não é emoção, que não é resposta sexual, que não é uma imaginação, já sabem de todas essas coisas. Então, para você, o que é o amor?

Q: O silêncio.

K: Silêncio. Isso é amor? Silêncio? Quando você bate em sua esposa, ou seu impulso de fazer algo para ela, estão em silêncio? Tudo é válido neste país, não é verdade? Todos os santos, todos os gurus, o último milagre de todos os trabalhadores, e tudo isso, que absorvem tudo, não é verdade? Alguém escreve um livro, e você diz, sim, estou de acordo com isso. Alguém vem e contradiz e você diz, sim. E vocês têm banido Buda deste país. Ou dizem, é um dos nossos. Para que seu cérebro seja capaz de absorver os resíduos, estão de acordo com o que parece ser certo. Não fazem tudo isto? Realmente estão enfrentando ao fato? Não? Seu cérebro é capaz de absorver tudo o que segue em nome da religião: puro lixo, e algo mais extraordinariamente certo. E esta mistura está em nossas vidas, não é verdade? Tenho que parar. Então, o que é amor?  

Tenho que parar agora. Teremos que seguir melhor nesta quarta-feira, ou amanhã ou no próximo sábado, não é verdade? Está bem? Importam-se?

Q: Amanhã.

K: Gostaria disso? Ao seja gracioso, senhor. Por que você quer amanhã? É conveniente para você, não é verdade? O que?

Q: Amanhã é domingo.

K: Amanhã é domingo, isso é correto, senhor? Ou é conveniente para você? Suponho que não seja conveniente para mim, pois vocês não são sérios. Vale tudo. (Risos)

Portanto, senhores, o Sr. Narayan anunciará se falo amanhã ou quarta-feira. Correto, senhores?

Q: Sim.

K: Adeus, senhores.

Krishnamurti, Madras, primeira  palestra pública, 1986 
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sábado, 31 de março de 2018

Na vida holística, não há raízes psicológicas

Na vida holística,
não há raízes
psicológicas

[...] Devemos compreender a insegurança, sua causa. A causa da insegurança é nossa própria limitação de percepção, nosso estado psicológico fragmentado. Mas há uma maneira de viver holística em que não existe a segurança ou a insegurança.

Assim, se o desejam, vamos nos perguntar o que é esse estado holístico da vida. A palavra holístico significa “completo”, um estado no qual não existe fragmentação (como um homem de negócios, um artista, um poeta, uma pessoa religiosa, etc.) Contudo, nós constantemente categorizamos as pessoas como comunistas, socialistas, capitalistas, etc.

Nossas vidas, se observam com determinação, estão divididas fragmentadas; e devemos compreender por que os seres humanos, que tem vivido nesta magnífica Terra durante milhões de anos, estão fragmentados, tão divididos. Como dissemos ontem, uma das principais causas da divisão se deve a que o cérebro é escravo do pensamento, o qual é limitado. Onde há limitação tem que haver fragmentação. Se estou interessado em mim mesmo, em meu progresso, em realizar-me, em minha felicidade e em meus problemas, divido toda a estrutura da humanidade em forma de “eu”. D modo que o pensamento é um dos fatores da fragmentação dos seres humanos. E o tempo é outro fator.

Alguma vez já consideraram, o que é o tempo? Segundo os cientistas interessados no tema, o tempo é uma sequência de movimentos; movimento é tempo. O tempo não é só do relógio, do cronológico, senão que também é o nascer e o pôr do sol, a escuridão da noite e a luminosidade da manhã. E também há o tempo psicológico, o tempo interno: “Sou isto e serei aquilo”; “Não sei matemática, mas algum dia a aprenderei”. Para tudo isso se requer tempo; para aprender um idioma se necessita de muito tempo. Há o tempo para aprender, para memorizar, para desenvolver uma habilidade, e também há o tempo como a entidade egoísta que diz: “Chegarei a ser algo mais”. Esse “chegar a ser” psicológico também implica tempo. E nós estamos estudando não só o tempo para aprender uma habilidade, senão também o que temos desenvolvido como um processe de conquista. Não sabe como meditar, mas cruza as pernas e aprende como controlar seus pensamentos para conquistar algum dia essa suposta meditação. De modo que pratica, pratica, pratica, e é assim que se converte em mecânico. Quer dizer, qualquer tipo de prática faz com que seja mecânico.

De modo que o tempo é o passado, o presente e o futuro. O passado consta de todas as recordações, as experiências, o conhecimento, e o que os seres humanos têm conquistado. Tudo o que permanece no cérebro como memória é o passado. É tão simples. O passado (as recordações, o conhecimento, as experiências, as tendências) está atuando agora; por isso você é o passado. E o futuro é o que você é agora, talvez, algo modificado. O futuro é o passado modificado. Por favor, observe, compreenda isso. O passado, que se modifica no presente, é o futuro. Sem uma transformação radical no presente, amanhã você será o mesmo que é hoje. Assim que o futuro é o agora; não me refiro ao futuro necessário para adquirir conhecimentos, senão ao futuro psicológico. Assim, a psique, o “eu”, o ego são o passado, são a memória. E essa memória se modifica a si mesma no agora, e assim segue. Portanto, o futuro e o passado estão no presente. Todo tempo (o passado, o presente e o futuro) é uma continuidade do agora. Isto não é complicado, mas sim, lógico. Se agora vocês não se transformam, quer dizer, neste instante, o futuro será o que são agora, o que têm sido. Pois bem: é possível nos transformar radical, fundamentalmente agora? Não no futuro.

Somos o passado. Não há duvida disso. E o passado se modifica de diferentes modos através de reações e desafios, e essa modificação se converte no futuro. Este país tem tido uma civilização durante três ou quatro mil anos; isso é o passado. Mas as circunstâncias modernas requerem que rompemos com esse passado e que deixemos essa cultura. Podem falar da cultura passada e desfrutar de sua fama, mas esse passado se esfumaçou, tem sido anulado pelas necessidades e os desafios do presente. E estes modificam para uma entidade econômica.

O passado e o futuro estão no agora. Qualquer tempo está no agora. E estamos dizendo que o pensamento e o tempo são as maiores causas de fragmentação nos seres humanos. De forma similar, queremos ter raízes e nos identificar com um grupo, com um guru, com uma família, com uma nação, etc. E a ameaça da guerra é o maior fator em nossas vidas. A guerra pode destruir nossas raízes psicológicas, e por isso estamos dispostos a matar aos demais. Estes são os maiores fatores de nossas vidas fragmentadas.

Agora, vocês escutam essa verdade ou meramente desacreditam do que se está dizendo e, portanto, se contentam com a descrição e não com a verdade, com a ideia e não com o fato? Por exemplo, quem lhes fala diz: “Qualquer tempo está no agora”. Se o compreendem, é a verdade mais maravilhosa. O escutam como uma série de palavras, como uma ideia, como uma abstração da verdade, ou o captam como a verdade que é? O que fazem? O veem, vivem com este fato? Ou fazem desse fato uma abstração, uma ideia, e se interessam por ela e não pelo fato em si? Assim atuam os intelectuais. O intelecto é, de todas as maneiras, necessário, e seguramente temos pouquíssimo intelecto porque dependemos dos outros. Quando escutam uma afirmação como: “Qualquer tempo está no agora”, ou “Você é a humanidade inteira, porque sua consciência é uma com todas as demais”, como escutam isso? Fazem disso uma abstração, uma ideia? Ou escutam essa verdade, esse fato, essa profundidade e sensação de imensidade que a envolve? As ideias não são uma imensidade; sem dúvida, o fato tem enormes possibilidades.

Assim, onde há tempo, pensamento, desejo de identificação e de ter raízes, não pode haver uma vida holística. Tudo isso impede a totalidade do viver, sua completude. Ao escutar esta afirmação, seguidamente sua pergunta deve ser: “Como deter o pensamento?”. Essa é uma pergunta natural, não é verdade? Sabemos que o tempo é necessário para aprender uma habilidade, um idioma ou um tema técnico. Mas, por sua vez, estão começando a perceber de que o fato de “chegar a ser”, o movimento de “o que é” ao “o que deveria ser” implica tempo, e que isso pode ser totalmente errado, que ser que não seja uma verdade. Desse modo, começam a questionar as coisas. Ou simplesmente dizem: “Não entendo o que você diz, prefiro seguir por minha conta”? Isso é o que, de fato, ocorre. A honestidade, igualmente que a humildade, é uma das coisas mais importantes. Quando um homem fútil cultiva a humildade, está é uma parte de sua futilidade. Porque a humildade não tem nada que ver com futilidade, com o orgulho. É um estado da mente que diz: “Não sei o que sou, vou averiguar”; nunca diz: “Eu sei”.

Bem, vocês têm escutado o fato de que todo o tempo está no agora. Podem estar de acordo ou não. E concordar ou descordar é algo terrível. Por que deveríamos concordar ou descordar? Por exemplo, não importa se estão de acordo ou desacordo com a afirmação de que o Sol nasce pelo leste. Em consequência, podemos deixar de lado nosso condicionamento de estar de acordo ou em desacordo, de modo que ambos possamos observar os fatos, que não há divisão entre os que estão de acordo e aqueles que não o estão, para que somente então possamos ver as coisas tais como são? Posso dizer: “Não vejo isso”, mas isso é algo muito diferente. Nesse caso, podemos investigar por que não vê isso. Mas se entramos nessa área de estar de acordo ou não, nos confundiremos mais e mais.

Quem lhes fala diz que vivemos vidas fragmentadas, que nossa forma de pensar está fragmentada. Alguém, um homem de negócios, ganha muito dinheiro e, a partir daí, constrói um templo ou faz obras de caridade; observem que contradição. Nunca somos realmente sinceros com nós mesmos, não sinceros no sentido de ser algo mais ou de compreender algo mais, senão melhor, ser claros e ter essa sensação de absoluta sinceridade significa não assegurar ilusões. Se diz uma mentira, sabe que a disse e o aceita: “Disse uma mentira”; não necessita encobri-la. Se se irrita, está irritado e diz que o está; não precisa lhe buscar as causas, nem dar explicações ou tratar de se livrar disso. Tudo isso é absolutamente necessário se querem investigar as coisas com mais profundidade, tal como estamos fazendo agora. Não convertam um fato em uma ideia, senão, melhor, permaneçam com o fato, o qual requer percepção com muita clareza.

Depois de escutar tudo isto, diz: “Sim, entendo isso lógica e intelectualmente”. E pergunta: “Como relaciono o que entendi lógica e intelectualmente com o que escutei? Qual é a verdade?” Assim, já se criou uma divisão entre o entendimento intelectual e a ação. Você percebe isso? Escute, tão só, escute. Não faça nada a respeito. Não pergunte: “Como posso conseguir algo? Como posso terminar com o pensamento e o tempo?”. Não posso fazê-lo. Seria absurdo, porque você é o resultado do tempo, do pensamento, e o único que faria seria dar voltas no mesmo círculo. Escute, não reaja, não pergunte como, tão só limite-se a escutar (como escutaria uma bela música ou o canto de um pássaro) essa afirmação de que qualquer tempo está contido no agora, e que o pensamento é um movimento. O pensamento e o tempo andam juntos; não são dois movimentos independentes, mas sim um único e constante movimento. Isso é um fato. Escute isso.

É evidente que vocês querem se identificar, e essa é uma das causas da fragmentação em nossas vidas, igual ao tempo e o pensamento. Assim mesmo, querem estar seguros e por isso se apegam. Estes são os fatores da fragmentação. Escutem isso; não façam nada. Agora, se escutam com muita determinação, esse mesmo escutar cria sua própria energia. Se escutam o fato do que está se dizendo e não reagem (porque tão somente escutam), isso significa que reúnem toda sua energia para escutar; significa prestar enorme atenção ao escutar. E isso mesmo elimina os fatores ou as causas da fragmentação. Se fazem algo a respeito, então atuaram sobre isso. Sem dúvida, se observam se distorção, sem preconceitos, então essa mesma observação, essa percepção, que é enorme atenção, elimina a sensação de tempo, de pensamento, etc.

Outro dos fatores que faz com que vivamos nossas vidas de forma fragmentária é o medo. Esse é um fato comum a todos os seres humanos. E os seres humanos, desde os primórdios, têm tido medo, e nunca solucionaram esse problema. Se realmente não tivessem medo, não existiriam os deuses, os rituais e as orações. Esse medo criou todos os deuses, todas as deidades e os gurus com seus absurdos. Assim, podemos analisar a questão de por que os seres humanos vivem com medo, e se é possível libertar-se totalmente do medo, e não tão só ocasional e esporadicamente? É possível ter a percepção dos objetos do medo e também das causas internas do mesmo? Você pode dizer: “Não tenho medo”, mas seu interior tem como base o medo.

O que é o medo? Você não tem medo? Se é sincero de verdade, para variar, por que não dizer: “Tenho medo”. Tenho medo da morte, de perder meu emprego, de minha esposa ou marido, de que meu guru não me reconheça como um grande discípulo, da escuridão, ou de muitas outras coisas. Não estamos falando dos objetos do medo, do medo de algo. Estamos investigando o medo per se, em si mesmo. Assim, perguntamos: qual é a causa do medo e o que é o medo sem uma causa? Existe tal coisa como o medo se não existe uma causa? Ou a palavra medo, o som do medo faz sentir medo? Por exemplo, se são capitalistas ou socialistas, quando escutam a palavra comunismo, reagem de determinado modo. E quando escutam o termo medo também reagem, ao é verdade? Claro que o fazem. Agora, é a palavra que cria o medo ou a palavra é diferente do medo? É a palavra medo diferente do fato, ou o termo cria o fato? Você deve ter isso bem claro. Se não existisse uma palavra como medo, teríamos medo? A palavra amor não é essa chama intensa. Igualmente, pode ser que a palavra medo não seja o medo, essa sensação de paralisia, de viver em um estado de nervos. Vocês já sabem o que causa o medo nas pessoas; vivem na escuridão, sempre temerosas, assustadas, e suas vidas são terríveis. Sem dúvida, a palavra não é o fato, não é a coisa. Isto deve ficar muito clara. Bem, qual é a causa do medo?

Quem lhes fala lhes perguntou qual era a causa do medo. Mas, como vocês escutaram essa pergunta? Ela tem sua própria vitalidade, sua própria energia. É uma pergunta muito importante, e não meramente intelectual. Se ficam com a pergunta e não tratam de encontrar a resposta, começa a desdobrar-se a própria questão. Suponhamos que com toda seriedade lhes digo: “Amo-lhes”. É de coração que digo. Como escutam isso? Escutam ou surgem reações? Talvez nunca tenham amado de verdade. Pode se que estejam casados, tenham sexo e filhos, e não saibam o que é o amor. Seguramente não o sabem, o que pode ser um fato, porque se amassem não criariam imagens nem divisões. Muito bem, qual é a causa do medo? Escutem, porque tentarei sugeri-lo de uma maneira respeitosa. Façam-se essa pergunta e não procurem respondê-la, porque se procuram encontrar uma resposta (de averiguar a causa para logo eliminá-la), significará que “vocês” são diferentes do medo. Mas, vocês são diferentes ou são o medo? Sim, são cobiçosos; a cobiça é diferente de vocês? Se estão irritados, a irritação é diferente de vocês? Vocês são a irritação, são a cobiça, são o medo. Claro que o são. Vocês podem ver o fato de que são a irritação, a cobiça e o medo? Ao separarem-se do medo, vocês dizem: “Devo fazer algo com o medo”. Mas já se vêm fazendo algo com o medo a cinquenta mil anos; já se tem inventado deuses, rituais, etc.

Escutem a pergunta e não a reação, não perguntem como. A palavra como deve desaparecer por completo de suas mentes. Do contrário, sempre pedirão ajuda, e sempre dependerão dos outros. Perderão toda sua vitalidade, sua independência e seu sentido de estabilidade. Se farão essa pergunta sem esperar uma resposta? Façam-na. Se você planta uma semente na terra e está viva, crescerá e através do concreto. Já viram como as lâminas das ervas se abrem através do pesado cimento! Da mesma maneira, se fazem a pergunta e a retém, descobrirão a causa. É muito simples. Posso explicá-la, mas no momento esse não é o tema principal. O importante é fazer-se a pergunta, porque são pessoas sérias e querem descobri-lo. Permitam que a mesma pergunta responda, igual a semente na terra. Nesse caso verão que a semente floresce e se murcha. Não a desenterrem continuamente para ver se cresce. Igualmente como plantam uma semente na terra, nós fazemos o mesmo com a sensação do medo em nossos corações e em nossas mentes. Se deixamos a pergunta a sós e vivemos com ela, então veremos a causa do medo, não a palavra, não a explicação, senão a verdade disso. A causa do medo é o pensamento e o tempo: “Tenho um emprego e amanhã posso perdê-lo”. “Tenho tido uma dor e agora não a tenho, mas pode ser que volte amanhã”. Não o conhecem?

Como já foi dito, o tempo é o passado e o futuro. O pensamento e o tempo são dois fatores do medo. Não podem fazer nada a respeito. Não perguntem como se pode deter o pensamento, já que é uma pergunta absurda. Precisam pensar para regressar à sua casa, para dirigir um automóvel, para falar um idioma, mas ser que o tempo não seja realmente necessário no psicológico, no interno. Diz-se que o medo existe devido a dois grandes fatores, que são o tempo e o pensamento, o que implica recompensa e castigo.

Bem, tenho escutado sua afirmação. E a tenho escutado muito bem, porque esse é um enorme problema que o ser humano não o resolveu e, portanto, está criando estragos no mundo. Você também tem me dito: “Não faça nada a respeito; formule-se a pergunta e viva com ela”, igual a uma mulher que leva a semente em suas entranhas. Formule-se essa pergunta e permita que floresça. Quando o fizer, a mesma pergunta se murchará. Não se trata de que primeiro floresça e logo se murche, senão que no próprio florescer está o murchar-se. Entendem do que falamos?

Senhores, aprendam a arte de escutar. Saibam escutar a sua esposa ou a seu esposo. Escutem ao homem de rua: sua fome, sua pobreza, seu desespero e sua falta de amor. Escutem-no. Quando o fazem, não existem problemas, não há confusão. Unicamente estão escutando e, por conseguinte, no ato de escutar, o tempo desaparece.

Krishnamurti, Bombaim, 3 de fevereiro de 1985
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quinta-feira, 29 de março de 2018

Na percepção direta, o findar do tempo


Na percepção direta, o findar do tempo

K: Você vê que sua própria vida diária é mecânica, repetitiva, com falsos desejos, atividades e hábitos. É possível que um ser humano rompa com isso e fique novo a cada momento,  a cada minuto do dia? Essa é a verdadeira questão, não? Como se pode mudar isso?

I: Temos que ver que na realidade vivemos, efetivamente, de modo mecânico.

K: Se vemos que nossa vida é mecânica, que nossos prazeres, penas e ansiedades são uma repetição, como tudo isso pode terminar?

I: Às vezes termina, mas volta a começar.

K: Não creio que às vezes termine e volte a começar.

I: Se seguimos vendo todos os dias, você não acredita que começamos a nos distanciar da mente condicionada?

K: Isso significa que você considera o tempo como um meio de destruir o processo mecânico.

I: Sim.

K: Se você chega a isso eventualmente, por lentos degraus, através de perceber-se, e libertar-se do condicionamento, isso implica tempo. Você considera o tempo como meio de terminar com esta maneira mecânica de viver.

I: Exceto que, ao meu juízo, isso nos coloca em outra dimensão do tempo, não a da mente condicionada. Mas reconheço que segue sendo tempo.

K: Não sei o que é esta outra dimensão de tempo. Posso inventá-la, posso especular sobre ela, posso esperá-la; mas o fato real é que não a conheço. Não estou com ela; não faz parte de mim. Tenho que descobri-la, tenho que chegar a ela. Não devo utilizar o tempo, porque este implica esforço e continuidade. O processo mecânico segue adiante. Mas, é possível viver de tal modo que não exista o amanhã? Internamente, no psicológico, o que na realidade queremos é a continuidade do prazer, prazer que tem um amanhã.

I: A convicção subconsciente de que você o que sofrerá ou desfrutará do prazer dentro de um momento é tão forte que não sei se é possível realizar o que você disse.

K: Não é “Faça o que eu digo”, senão “Veja o que ocorre”, senhor.

I: Senhor, é possível livrar-se psicologicamente do amanhã quando se vive sob a lei natural? Quer dizer, é de dia e depois é de noite; há luz e ligo escuridão. Isto penetra muito fundo em si, certamente, ainda mais fundo que a mente condicionada.

K: Não compreendo bem, senhor.

I: Como é possível livrar-se do querer, da esperança do amanhã e a continuidade do tempo, quando se vive sob as leis naturais do dia e da noite, da escuridão e da luz? Tudo isso o faz ter a percepção do tempo.

K: É que a sucessão da noite e o dia lhe faz ter a percepção do tempo?

I: Isso só lhe faz ter a percepção da MUDANÇA, não do tempo.

I: Vejo que não é esforço que nos faz ter a percepção do tempo.

K: Espero do amanhã, porque amanhã desfrutarei. O pensar sobre a manhã me dá prazer. Vou me encontrar com alguém..., todo tipo de prazer.

I: Mas pode ser que amanhã eu não desfrute. Poderia pensar em algo que me desse medo.

K: Se me dá medo do amanhã, é a mesma coisa.

I: Como é possível temer o amanhã, se não sei o que é o amanhã?

K: Seguro de que você tem algum medo do amanhã, medo da morte, de não ser, de perder um emprego, ou de perder sua esposa. Conhecemos assim mesmo muito bem o prazer criado pelos pensamentos sobre o amanhã.

I: Seguindo o que disse esse senhor sobre a lei natural, penso que somos como o peixe dourado num aquário. Estamos tão rodeados de coisas que continuamente nos recordam o tempo, que temos que considerá-lo sem cessar. Ainda que nossa postura e a forma em que guardamos o equilíbrio são hábitos. Parece bastante difícil separar o tempo psicológico o tempo real, o do relógio, do processo vivente natural de nosso próprio corpo.

K: Muito bem, senhor; vamos olhar outra vez, de modo diferente. O que é o ato, o momento de aprender? O que é o ato de ver e de escutar? Quando você está escutando, escuta com o tempo? Está escutando com conceitos, com fórmulas, com ideias, ou simplesmente escuta? Existe esse ruído do tráfico que passa fora da sala. Como você o escuta? Escuta com irritação, com recordações, com desgosto, ou tão só se limita a escutar? Quando você vê, com o tempo, ou fora do tempo? Vê só com os olhos quando vê sua esposa ou a seu marido, ou quando se vê num espelho? Ou também vê no tempo, com desgosto, desespero, depressão, ou alguma outra reação baseada na memória?

I: Você perguntava sobre o ato de aprender, mas eu não creio que NA REALIDADE aprendemos. Tratamos de introduzir o tempo nisso. Olhamo-nos no espelho e vemos mais cabelos brancos. Os comparamos com a quantidade que havia ontem, e achamos que envelhecemos. Assim é como aprendemos, mas não creio que isso seja aprender de verdade.

K: Então, o que é aprender?

I: Creio que é ver sem o tempo.

K: Não especule sobre isso! O que é aprender? Quando você aprende?

I: Quando tem a percepção de seu condicionamento.

K: Quando você aprende? Não responda em seguida, por favor. Simplesmente veja-o. O que é o ato de aprender? Qual é o estado da mente quando ela está aprendendo?

I: Você se refere a aprender a partir do ver?

K: Para mim, ver e aprender são o mesmo.

I: É experimentar.

I: Estar aberto.

I: Mediante a concentração. Ter o anseio de descobrir.

K: Quando você aprende? Aprender é diferente de conhecer, não? Acumular conhecimento é diferente de aprender. No momento em que aprendi, isso se converte em conhecimento. Depois de haver aprendido, acrescento mais a isso. A este processo de adicionar o chamamos aprender, mas isso não é mais que a acumulação de conhecimento. Não sou contra a acumulação de conhecimento, mas nós estamos tratando de descobrir o que é o ato de aprender. Na realidade, a mente só aprende quando se acha em um estado de não conhecer. Quando não sei, estou aprendendo. Desde o momento em que tenha aprendido, o aprendido se situa no tempo; se converte em condicionamento, e com esse condicionamento atuo. Posso atuar também aprendendo?

I: Creio que às vezes você se limita a dizer em palavras que não sabe, mas isso não é o real. Eu posso dizer que não sei, mas é outra coisa perceber que isso na realidade é um fato.

K: Só se pode aprender quando há um término real.

I: Por que não há de ser a coisa real?

K: Senhor, o que tratamos de descobrir? Não estamos tratando de descobrir, não verbal ou teoricamente, senão na realidade e de modo efetivo, se é possível viver neste mundo em uma dimensão diferente que não implique esforço algum? Isto significa viver em um nível em que não haja problema; ou melhor, se surge um problema, se o enfrenta de modo tão completo que haverá terminado no minuto seguinte. Podemos seguir criando muita teorias, mas isso é demasiado pervertido e infantil. Para descobrir qualquer coisa, tem que terminar o que é conhecido, ou não deve permitir-se a interferência do que é conhecido. Tenho que aprender o que é terminar, e o terminar deve ser em completa energia.

I: Você se refere a algo mais que esquecer?

K: Certamente que sim. Esquecer é muito simples.

I: Quer deixar um pouco mais claro o que entende por terminar?

K: Olhe, senhor, é muito simples. Já experimentou alguma vez com o findar de um prazer?

I: Sim.

K: Sem esforço?

I: Sim.

K: Sem nenhuma forma de restrição, sem saber o que ocorreria depois?

I: Sim. Já cheguei a me entediar.

K: Oh, não, não, não entediar-se! Tome por exemplo seu próprio hábito prazeroso, seja o sexo, o fumar, o beber, a ambição ou alguma outra coisa. Termine com ele sem luta, sem saber o que vai se passar depois. Tome como exemplo o hábito do tabaco. Termine com ele imediatamente, sem racionalizar, sem temer o dano de fumar, sem temer o tipo de câncer que teria se seguisse fumando. Termine com o hábito.

I: Enquanto desfruta ainda dele?

K: Claro que sim, enquanto ainda desfruta dele. (Risos) Como chega-se ao ponto em que, no pleno desfrute de algo, termina-se com isso?

I: Se você segue inativo quando normalmente empreenderia alguma ação para satisfazer o desejo, e em vez de empreender essa ação, se limita a observar o desejo.

K: Como observa? Olhe, não teorize. A partir do momento em que teorizar, não poderá seguir adiante. Considere um prazer determinado que esteja desfrutando. Você se sente feliz com ele. Por que há de interrompê-lo?

Com o tempo, este prazer repetitivo se torna mecânico. Causa-lhe desgosto, e você adota outro prazer, o qual desfruta até que esse também o entedie.

I: Não o abandonaria se não visse que o prende.

K: Não quero abandonar nada. Vejo que a vida é tão terrivelmente mecânica; o prazer e a dor, o tédio com a dor e o prazer. Ao estar entediado, trato de utilizar o templo como fuga, a igreja, a meditação, os Mestres, ou a busca de conhecimento. Tudo isso é uma tentativa de escapar deste processo mecânico do viver.

Não quero teorizar. Desejo descobrir se é possível viver na realidade de um modo diferente, que não seja mecânico. Como você vai fazê-lo? O único modo, tal como posso ver agora — posso mudar a medida que penetro mais nisso — é que tem que cessar todo desperdício de energia; porque, para terminar com qualquer coisa, necessita-se de enorme energia; é necessária para escutar. O ver sem a interferência do pensamento, sem a interferência de meu condicionamento, sem preconceito, o ver mesmo, é energia total. Para escutar esse carro que passa, necessita-se de uma atenção em que não haja interferência alguma; e para atender por completo, faz falta grande energia. A atenção total requer energia não só neurologicamente, senão também no mental.

Agora estou dissipando energia. Como vou deter esta dissipação sem esforço? No momento em que faço um esforço para detê-la, isso gerará outras formas de contradição, outro desperdício. A mente compreende que tem que deter o derrame de energia. Como pode fazê-lo?

I: Vejo que a mente por si mesma não pode. Se eu, como uma totalidade, não estou convencido, não sei, não vejo e não compreendo o que deve fazer-se, não terminarei com esse derrame.

K: A própria mente, que é resultado do tempo, não pode acabar com ele, porque está formada por preconceitos, idiossincrasias, temperamentos e experiências. A própria mente, utilizando o tempo, está se desperdiçando; assim que não pode funcionar, não pode terminar com o desperdício de energia. Quando você está escutando ou quando vê, ou aprende, está utilizando só a mente, ou melhor, a totalidade de seu ser: a mente, o intelecto e as emoções?

I: Percepção total.

K: Está em funcionamento uma total percepção, atenção, intensidade, quando você escuta? Você nunca escuta a si mesmo todo tempo, evidentemente. Há momentos em que se está completamente atento, consciente, e há alguns, largos períodos de tempo nos quais não se está atento, nos quais não se dá conta tão completamente. O que você vai fazer? Em geral, diz: “Como vou me aperceber de maneira continua?” Creio que essa é uma pergunta, uma demanda errônea. O que tem que se fazer é estar atento da desatenção. Porque é a desatenção o que está gerando problemas e conflitos, não a atenção.

I: Quando não há atenção, quem há que estar atento?

K: Quando não há atenção, quem é que está atento nessa desatenção? Esse é o assunto. Quando você está atento, quando escuta, quando aprende, quando vê, existe uma entidade que esteja observando? Enquanto escuta ao que fala, descubra-o. Quando você presta sua atenção completa, com seu corpo, mente, nervos, olhos, existe um observador, um censor?

I: Não.

K: Só quando você está desatento é que isso interfere. Essa interferência cria problemas, e ainda assim se busca, em meio da desatenção, a solução dos problemas. Se você tem um problema e o escuta completamente, de modo total, sem tratar de achar resposta, sem racionalizar, sem tratar de escapar dele, senão vivendo totalmente com ele, então você verá que não existe problema em absoluto. O problema só surge quando não há atenção.

I: Creio que é muito provável que este tipo de atenção necessite de enorme energia.

K: Sim.

I: É certo. Não posso estar nesse tipo de atenção mais que por um momento. Perco-a. Não posso renová-la.

K: A atenção não pode renovar-se.

I: Durante esses momentos de atenção, você vê que existe ali algo todo o tempo.

I: O problema, como você disse, consiste em que devemos prestar intensa atenção para conservar nossas forças, mas parece que há algo em torno de minha mente de maneira continua. A razão de eu não prestar atenção total não é que não o possa, senão que NÃO QUERO. ESSE é meu problema.

K: Então, mantenha-o como seu problema. (Risos). Na forma em que vivemos, a vida está cheia de problemas, não é assim? E, se a você gosta disso, viva com isso, continue com isso. Sofra a pena e o desespero, todo o medo que é nossa vida.

I: Não, não é isso exatamente. O que eu queria dizer é que temo ao que faria essa atenção total. Há essa explosão de energia...

K: Mas, senhor, você não pode ter medo de algo que não conhece.

I: Muito bem, é um fato que não se pode, mas é possível escolher.
K: Você disse, pois: “Não posso estar atento de maneira total porque tenho medo”.

I: Exatamente.

K: Temos, pois, que examinar o medo, não o modo de nos livrarmos dele, não todos os conceitos e fugas intelectuais. O que é o medo? Provem isto comigo: escutem-no completamente, dando a ele sua plena atenção. Não podem prestar plena atenção se não têm o corpo completamente relaxado; a mente em completa calma. No físico, no emotivo e mental, têm que haver completo descanso. Psicologicamente tem que haver também quietude, calma para escutar. Escutem nesse estado. O que estão escutando: uma explicação, uma série de palavras ou a coisa que temem? Há temor se assim escutam? Vocês podem escutar as insinuações inconscientes do temor, não é assim? E, então, existe o temor?

Tomemos por exemplo, o medo da solidão, a essa sensação de isolamento. Existe uma sensação de completa solidão ainda que se esteja relacionado com muitas pessoas e tenha muitíssimos amigos. Você o sabe, e essa é provavelmente a principal causa do temor. Para escutar o sentimento de solidão, para vê-lo, senti-lo e aprender sobre ele, deve-se ter enorme energia, uma energia que não esteja disciplinada. Não há racionalização, não há explicação. Nesse estado de escutar, a mente está completamente calada com relação a essa solidão. Se você está dessa maneira atento e aprendendo sobre isso, não há entidade que esteja acumulando conhecimento a respeito. Não existe o observador nem o observado. Esta é a coisa mais difícil. A contradição, a divisão entre o observador e a coisa observada, cria o problema do conflito. É possível olhar algo de modo tão completo em que o observador não exista?

O que é comunicação? Como você se comunica? Palavras ou gestos são necessários para que possamos ser entendidos. Mas se há de haver comunicação, tanto o que fala como a pessoa com quem se comunica, tem de estar a certo nível de intensidade. Nesse estado de intensidade não há um que escuta e o outro que fala; há só o ato de escutar. Nesse estado, a mente se acha em comunhão. A comunhão implica espaço.

Uma mente que tenha problemas se embota; e uma mente embotada não pode de maneira alguma estar atenta. Quando surge qualquer problema, só uma mente que esteja atenta, intensa, aprendendo e escutando pode fazer frente, dissolver o problema e seguir adiante. Como vai encarar-se com novos problemas uma mente que já tem tantos? Há o problema da morte, do tempo, do espaço, da relação, o problema do viver, de ganhar a vida, os problemas da enfermidade, a saúde e a velhice. Como a mente vai encarar todos estes problemas de uma vez, não um por um, senão na totalidade deles de uma vez, sem esforço?

Nossos problemas são todos fragmentários, na forma em que agora os enfrentamos. Existe o problema do medo, do tédio, do desfrute: uma multidão de problemas, uma atrás do outro. Há um meio de se fazer frente a todos, não separadamente, senão, totalmente? Se trato cada problema separadamente, cada um deles demandará tempo; tenho, pois, que compreender o tempo.

I: Se você pode tratar todos os problemas de uma vez, então isso implica que eles têm uma raiz comum.

K: Isso, em parte, é verdade.

I: Se você está vivendo no presente, só tem um problema de cada vez; na realidade, todos os problemas se fundem em um só.

K: Os existencialistas dizem: “Viva no presente”. O que significa viver no presente, o presente ativo?

I: Significa que o passado não o afasta dele.

K: Por favor, penetre nisso um pouco mais, senhor. Como posso viver no presente quando sou resultado do passado e quando estou utilizando o presente como meio de chegar ao futuro? Isso significa que tenho que trazer todo o tempo: o passado, o presente e o futuro, ao imediato presente. Para viver no presente, o tempo tem que desaparecer.

I: Eu diria, senhor, que é através da percepção direta, sem tratar de fazer nada sobre isso.

K: Sim, senhora, mas olhe, por favor, na imensa dificuldade. Como o tempo vai desaparecer? Como o espaço vai desaparecer? Ou a distância entre aqui e a lua? Não diga: “Bem, se estou atenta, desaparecerá”; essa não é a resposta. Quando dizemos “Viva no presente”, isso tem que ser algo extraordinário. Porque eu sou o resultado de milhões de anos, minha mente, meu cérebro e meus hábitos são todos do tempo. Você me diz que vive no presente. Pergunto-lhe o que é que você quer dizer com isso. Como posso viver no presente quando tenho atrás de mim uma imensa história que me empurra através do presente para o futuro? Como vou viver no presente com o passado? Não posso. Por isso, tem que haver uma desaparição do tempo. O tempo tem que terminar; tem que deter-se.

I: Creio que vivo no presente quando não tenho recordações, quando simplesmente estou aqui; nesses momentos em que tenho experiência.

K: Sim, mas esses momentos vêm e vão. Isso não é suficiente. Todos temos tido esses momentos em que o tempo não significa absolutamente nada.

I: Vê-se a inter-relação entre todos os problemas, e então daí, surge uma ação.

K: O que você entende por ação? É fazer, ser, mover-se, pensar, atuar? E o que significa ação, levantar-se, ir ao trabalho e tudo o mais? Essa ação se baseia no passado, na ideia, na memória. Para nós, a ação se relaciona com o tempo. Agora estamos tratando de que tudo se ajuste ao tempo. Descobrir, viver e atuar no presente: todas essas coisas requerem a compreensão e o findar do tempo.

I: Para que o tempo termine, isso tem que significar o findar da entidade.

K: Sim, senhor, o fim da entidade.

I: Você quer explicar por que ocorre que sempre parece que o passado e o futuro são muito mais interessantes que o presente?

K: A dama quer saber por que o passado e o futuro são muito mais interessantes que o presente. Isso é bastante claro. (Risos)

I: Bem, posso fazer esta pergunta? Por que é tão difícil encarar-se com o presente?

K: Se realmente compreendemos algo, se de verdade vemos algum fato, então esse fato mesmo, essa mesma observação, traz sua própria ação. Não tenho que descobrir como tenho que atuar. O que tratamos de achar, o que tentamos descobrir por nós mesmos, é se é possível, de algum modo, viver no presente.

I: Não é impossível o não viver no presente? É o único lugar em que podemos viver.

K: Isso é uma ideia, senhor. Todos os meus atos se baseiam em ideias, em uma fórmula, em uma experiência, no conhecimento, tudo o qual pertence ao passado. Não conheço ação que não esteja relacionada com o tempo. Então chega alguém e me diz que eu viva no presente. E eu digo: “O que você quer dizer com isso? Como posso viver no presente?” Se é uma teoria, carece de valor; não tem sentido algum. Para descobrir o que significa, tenho que descobrir, compreender e perceber plenamente o tempo: tempo como espaço, como distância, como conquista gradual; e usar o meio de libertar-me de algo ou de ganhar algo. Para viver no presente, tem que findar essa maneira de pensar, olhar, de viver. Mas a totalidade de meu ser, consciente ou mesmo inconsciente, é do tempo. Como a mente pode dele sair?

I: Tem que findar todas as imagens de si mesmo.

K: Isso é uma ideia, senhor. Não é um fato.

I: O fato é que não sei muito.

K: Você não tem tempo para saber muito.

I: Mas eu me vejo criando tempo, sempre que penso. A cada momento em que estou com plena atenção, que é praticamente todo o tempo, o relógio segue avançando.

K: Sim, senhor.

I: De modo que, durante toda minha vida, estou criando tempo.

K: Como você vai terminar com ele?

I: Eu poderia simplesmente e de modo arbitrário, deixar de pensar.

K: Certamente que não. A questão é esta: pode findar o tempo? Viver no presente significa que não existe o amanhã, e isso representa que termina o prazer, o penar, a dor; não amanhã, senão agora. Não se pode viver no presente com a dor, com o desespero, com a esperança, com a ambição. Tem-se que chegar a este findar do tempo, a esta detenção ou derrubada do tempo, não de modo direto, senão de uma maneira distinta. Tem-se que chegar a isso de forma negativa. Não se sabe o que significa findar com o tempo; de modo que se tem que chegar a isso tendo a percepção de como a mente pensa, e de como ela utiliza o tempo, em forma negativa ou positiva, como meio de conseguir algo.

Existe a questão da paz. Como se vai ser pacífico, não em teoria, não como um ideal que se vai conquistar, senão na realidade? Como se vai ser pacífico quando há guerras, disputas, discussões? Tudo neste mundo está baseado na violência. Para que a paz exista, não pode haver um amanhã.

Os cientistas estão investigando esta questão do findar do espaço, que também é tempo, porque os foguetes levarão tantos meses, ou anos, para chegar em Marte. Pode haver um meio de chegar em Marte com maior rapidez. Nisto estão implicadas enormes coisas. Pode uma mente como a nossa, quem tem estado acostumada ao tempo, que tem vivido assim durante milhões de anos, findar de repente? Podemos eliminar incessantes disputas, realizações, temores e esperanças?

Da próxima vez eu gostaria de discutir sobre se é possível o findar do tempo. Talvez isso seja a criação.

Londres, 26 de abril de 1965
Diálogos com Krishnamurti
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill