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quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Liberte-se do sistema “messiânico”

Dom Peps: e ai Out?

Outsider: estamos ai!

D.P: você está na padaria?

Out: em casa.

D.P: ok

Out: como você está?

D.P: estou indo!

Out: Está em casa?

D.P: Só na observação sem o observador.

Out: como assim? Iluminou?

D.P: nada!

Out: vi que você teve uns surtos de sanidade... ahahaha

D.P: as vezes dá uma luz.

Out: Nossa conversa gerou reflexão.

D.P: sim, claro!

Out: A galera deu retorno pelos comentários no Youtube... Foi além mar!

D.P: potencializa!

Out: um carinha de Portugal se identificou com nossa conversa.

D.P: sério? Que legal! Sinal que não estamos viajando !

D.P: fico contente que tem pessoas nos ouvindo; as nossas conversas realmente tem causado efeito; vejo que isso vai acordar as pessoas.

Out: sim, talvez!

D.P: vai ficar gravado para posteriores gerações.

Out: está ocorrendo uma expansão de conscientização, graças a Net, talvez, como nunca antes na história humana.

D.P: verdade.

D.P: Vejo que temos um papel fundamental...

Out: o papel fundamental que temos é conosco mesmo!

D.P: sim, claro! Sem recompensa!

Out: se libertar desse "eu" que pensa ter um papel fundamental; esse "eu" é uma falácia, um engodo, uma mentira!

D.P: sim, concordo!

Out: E vejo que é profundamente difícil, dele, abrir mão.

D.P: esse eu que engana a nós mesmos!

Out: ele parte da inadaptação social para tentar se adaptar como uma “entidade”, uma “entidade consciente”; ele parte de uma entidade sem consciência para tentar se mostrar como uma entidade profundamente consciente e, o pior de tudo, dizendo que essa consciência livresca, é de sua propriedade.

D.P: concordo!

Out: ele parte de uma entidade ignorante, para uma entidade cheia de conhecimentos colhidos de terceiros, se apropriando como fosse de sua própria inteligência; aliás, ela não tem nada de inteligência... Os "flashs de lucidez" ocorrem quando ela momentaneamente desaparece

D.P: sim, claro!

Out: ai ela chega e já quer assinar como se fosse de sua autoria, tal percepção lúcida.

D.P: concordo com você!

Out: é uma merda!

D.P: essa entidade é sagaz!

Out: pra cacete!

D.P: ela não quer ser anônima! Ela precisa aparecer; tem que ser a dona da mensagem!

Out: de certo modo, penso que, nesse processo, onde ela tenta se afirmar através do conhecimento alheio, sem que ela se perceba, através desse conhecimento, que abre espaço para a retomada da Consciência que somos, essa entidade vai entrando num processo de "egocídio".

D.P: mas ela não quer morrer; ela vai tentar de tudo pra viver.

Out: sim!... Estou atravessando isso; um período em que tenho tido, digamos assim, "baixas emocionais" que se parecem com a dor de luto; como se algo estivesse morrendo.

D.P: ela vai lutar até o fim...

Out: no entanto, a percepção do movimento do ego está muito forte, muito rápida; quase que “no pulo do gato”. Ainda ocorrem momentos em que o ego, o pensamento, a entidade, consegue criar aquele estado de "torpor mental", de hipnose momentânea, onde ocorre o devaneio, com suas somatizações físicas, como por exemplo, a profunda ansiedade. Só que, ao contrário de antigamente, não há nenhum movimento para deter a manifestação da ansiedade, ao contrário, o que ocorre, é um "sentar-se com a ansiedade", vendo-a, observando-a, tornando-se consciente de seu processo no tempo, na ponte do tempo psicológico, passado-futuro. Essa percepção desmonta o processo de ansiedade e não deixa marcas na memória. Portanto, não “cristaliza” o ego, mas sim, o espaço da consciência. Acho que a palavra melhor seria, “fundamenta", ao invés de "cristalizar".

D.P: ok!

Out: está ocorrendo um processo de "reparação", no sentido de reparar, ver o modo como essa entidade funcionou durante toda uma existência sem consciência; de perceber a enorme quantidade de auto-enganos, de escolhas irrefletidas, inconscientes e, muitas delas, inconsequentes.

D.P: entendo!

Out: há uma reparação da realidade da formação psíquica dessa entidade: medo, vergonha, inveja, ressentimento, ansiedade, luxúria, lascívia, maledicência, desejo de retalhação...

D.P: sim, claro!

Out: ...desejo de vingança, busca de segurança e prestígio; uma entidade autocentrada profundamente interesseira, que só se preocupa com o outro, se esse outro, de algum modo supre alguma de suas necessidades veladas.

D.P: exatamente!

Out: nessa reparação, há a percepção do total desconhecimento do que vem a ser AMOR, do que vem a ser a genuína COMPAIXÃO.

D.P: exato!

Out: há a percepção de que nunca houve um estado de ser cujo interesse pelo outro fosse totalmente desacompanhado de qualquer forma de auto-interesse.

D.P: as vezes, as pessoas confundem compaixão com piedade.

Out: deixemos as pessoas para lá; fiquemos com o foco só em nós dois... Isso é uma das maquinações do ego: desfocar!... Apontar para fora... Externalizar.

D.P: concordo!

Out: percebo nitidamente, que essa entidade sempre funcionou no sentido da busca da “satisfação sensória” e que nunca mediu esforços para conseguir suprir essa necessidade sensória. Desse modo, com todos que "pensou" manter contato, acabou usando-os como um meio a ser descartado quando do fim.

D.P: só pelo interesse: conta-se um enredo para depois chegar ao objetivo final.

Out: sim.

D.P: Ao suprir-se de prazer, logo, descarta-se “a preza”...

Out: mas é algo dotado de uma mínima consciência, sem contudo a consciência da CONSCIÊNCIA.

D.P: exatamente!

Out: os instintos naturais ficam a mercê das exigências descabidas do ego, da entidade, que precisa da "sensação" momentânea para que ocorra, digamos assim, um auto-esquecimento.

D.P: e essa sensação, fica sendo prolongada no tempo.

Out: sim, através da memória.

D.P: repetindo uma espécie de padrão comportamental.

Out: Sim! Esse padrão, quando se manifesta, "dispara" a busca de segurança e mais sensação; isso é factual!

D.P: igual o cachorro do Pavlov!

Out: sim! Exato!

Out: o fato é que, como dizia Gurdjieff , é que essa entidade tem sua base na mentira, ou seja, numa "mente irada", não numa mente amorosa, numa mente conscienciosa; uma mente iluminada por uma consciência amorosa, inteligente e criativa, de modo algum faz uso do outro, uma vez que esta não mais enxerga essa dualidade "eu-outro". Para ela, não há mais a ocorrência da chamada "Ilusão de separatividade"; para ela já não há mais aquela medição do tipo: "não farei com o outro aquilo que não quero que façam comigo!" Vejo que nessa afirmação, ainda encontra-se o medo, encontra-se a percepção de alguém não livre do medo e da busca de segurança, portanto, ainda há um espaço entre observador e coisa observada.

D.P: sim, claro!

Out: Essas percepções vão ocorrendo e, com elas, a instalação dessa Consciência que somos, a qual traz a genuína maturidade, que nada tem a ver com a questão da idade cronológica, mas sim, com o despertar da inteligência, até então, sufocada pelo entulho do condicionamento que dá origem a essa entidade autocentrada. E isso não se dá pelo processo de desejo, ou de esforço pessoal, mas sim, na espontânea manifestação de um estado ausente de desejo e de esforço. Ocorreu-me como exemplo, o efeito de uma vacina... Depois que você toma determinada vacina, não há nenhuma preocupação com a sua ação no corpo; você segue sua vida, enquanto a vacina segue sua limpeza e seu trabalho de “imunização interior”. Acho que a percepção, a reparação, funciona do mesmo modo: ela, de certo modo, cria esse processo de imunização diante das constantes influências, sejam elas exteriores ou interiores, influências essas que tem como função manter a continuidade da identificação ilusória com essa entidade autocentrada.

D.P: sim, claro! Na sua opinião, qual é a origem do pensamento?

Out: experiência memorizada condicionante; veja a criança: é pura! Começa, através do contato com “entidades cristalizadas”, a ter experiências condicionantes, as quais se estabelecem na memória, formando imagens, símbolos, que se cristalizam em forma de pensamento, que a seu tempo, se tornará pensamento manifesto através da “palavra”. A palavra, por sua vez, — que é pensamento — criará maior cristalização ainda. Faz sentido para você?

D.P: sim! E na sua opinião, o “sistema” usa isso?

Out: Isso é o sistema! Não existe isso de um sistema isolado fazendo uso disso - eu e você somos esse sistema! Somos esse sistema, seja ele se manifestando como "sistemaziado ao máximo ou ao mínimo".... Você é o sistema! A entidade que você pensa ser é o sistema, funcionando numa determinada forma do sistema comportamental. Veja: qual a diferença de um banqueiro que quer se apossar da sua energia financeira e dessa entidade que você pensa ser, quando esta quer se apossar da energia sexual de uma mulher, sem nenhum comprometimento?

Out: não há!

Out: Pois bem: trata-se da mesma “energia sistêmica” agindo em palcos diferentes. Ciente disso, vejo essa preocupação com o sistema, mais um mecanismo de fuga utilizado pela entidade para assim, autoperpetuar-se. A entidade É o sistema!

D.P: Verdade!

Out: Precisamos que ocorra um "desplugar"... Lembra-se do filme Matrix?

D.P: sim!

Out: antes do personagem “Neo” ter o início do seu processo de "desplugar", ele se depara dentro de uma espécie de cápsula de onde OBSERVA toda sistematização sonambúlica, lembra-se? Ai vem uma máquina e o pega pelo pescoço, mantendo a cabeça e o olhar fixos numa só direção... É aí que começa o “processo de desplugar”... em SI e não no assim chamado "sistema"!

D.P: sim!

Out: uma metáfora que aponta para a conscientização de que o trabalho é com a “cabeça do freguês" e não com a cabeça da sociedade.

D.P: sim!

Out: há que se ter a consciência de que, nesse processo de resgate da Consciência que somos, o ego vai querer vestir a capa "Messiânica", ou seja, do paladino da justiça, do salvador do mundo, do libertador do sistema.

D.P: verdade!

Out: muita gente cai nessa. Não sei se você já teve a triste mas educativa oportunidade de adentrar num sanatório...

D.P: ainda não.

Out: tem muita gente que é internada pensando ser um salvador, pensando ser Jesus ou outra figura messiânica qualquer; e tem muita gente aqui fora, neste imenso hospício que é a sociedade, se imaginando iluminado, se imaginando portador de uma poderosa mensagem de cura, se imaginando livre de qualquer tipo de questionamento, livre de qualquer resquício de ego. Talvez, quem sabe, existam de fato esses totalmente livres da ilusória identificação com a entidade, mas, até aqui, vivos, confesso que desconheço! O que se vê — assim como eu e você — são egos "esclarecidos" pelo conhecimento de segunda mão...

(Dom Peps não pode receber a mensagem pois está OFF-LINE)

sábado, 4 de agosto de 2012

Sobre a programação dos seres humanos

Como já sabemos, a maioria de nós traz o passado para o presente, e o presente se torna mecânico. Se você observar sua própria vida, verá quanto é mecânica! Você funciona qual uma máquina, como imitação perfeita do cérebro eletrônico.(1) (O Despertar da Sensibilidade, pág. 151

Pode-se ver (…) que nossa mente, nosso intelecto, se tornou mecânico. Somos influenciados em todos os sentidos. Tudo o que lemos deixa-nos sua impressão, e toda propaganda, sua marca. O pensamento é sempre convencional e, assim, o intelecto e a mente se tornaram mecânicos, como uma máquina. Exercemos mecanicamente nossas ocupações, mecânicas são nossas mútuas relações, e nossos valores são simplesmente tradicionais.(2) O Passo Decisivo, pág. 201

É então muito importante que lancemos uma olhada em nossas relações; não só nas relações íntimas, senão também na relação que estabelecemos com o resto do mundo. (…) Eu posso ser um muçulmano e você (…) um hindu. Minha tradição diz: “Eu sou muçulmano” – tenho sido programado como um computador para repetir “Eu sou muçulmano” – e você repete “Eu sou hindu”.(3) La Llama de la Atención, pág. 18

Nós, seres humanos, fomos “programados” biologicamente, intelectualmente, emocionalmente, psicologicamente, durante milhares de anos, e vivemos a repetir o padrão do programa. Nós paramos de aprender e devemos indagar se o cérebro humano (…) será capaz de aprender e transformar-se imediatamente numa dimensão totalmente diferente.(4) A Rede do Pensamento, pág. 17-18

(…) Os computadores eletrônicos são muito semelhantes à mente humana, só que nós somos um pouco mais engenhosos – pois somos seus criadores; mas eles funcionam exatamente como nós (…), por meio de reação, repetição, memória. (…) Por conseguinte, o problema urgente é este: Como libertar o intelecto e a mente? Porque, se não há liberdade, não pode haver ação criadora. (…) E isso exige capacidade de raciocinar, de sentir, para quebrarmos a tradição e destroçarmos todas as muralhas que erguemos para nossa segurança.(5) O Passo Decisivo, pág. 201

Se você penetrar mais na questão do pensar, alcançará um estado mental em que você diz: “Não sei”. (…) Aí é que está a diferença entre o computador eletrônico e a mente humana. (…) “Não sei” representa um extraordinário estado mental, quando realmente o compreendemos. (…) E não é necessário dizermos “Não sei”, para que a mente esteja sempre a aprender, (…) fresca, inocente, jovem? Só a mente jovem diz “Não sei”.(6) A Suprema Realização, pág. 47

O nosso ego, (…) personalidade (…) é inteiramente formada pela memória (…) Não há nenhum lugar ou espaço onde haja claridade (…). Vocês podem investigar isto: se estiverem indagando seriamente, verão que o “eu”, o ego, é todo memória, lembranças. (…) Nós funcionamos, (…) vivemos da memória. E, para nós, a morte é o fim dessa memória. (7) A Rede do Pensamento, pág. 104

Desse modo, você está cônscio da extensão em que seu cérebro está sendo programado? (…) Se está ciente de que está programado, condicionado, você pergunta: “Foi o conhecimento que me condicionou?” Aparentemente foi. Então por que é que a estrutura da psique é essencialmente baseada no conhecimento? Você entende? A psique, o “mim”, o “eu”, é essencialmente um movimento do conhecimento, (…) que é uma série de memórias. (The World of Peace, pág. 20-22)

O que é necessário registrar e o que não é necessário registrar? O cérebro está ocupado todo tempo registrando e, portanto, não há tranqüilidade, (…) quietude; ao passo que, se há claridade com relação ao que se deve e ao que não se deve registrar, então o cérebro está mais quieto – e isso é parte da meditação. (La Totalidad de la Vida, pág. 201)

Registrar só o que é absolutamente indispensável (…). É algo maravilhoso (…), porque então há verdadeira liberdade – liberdade com relação a todo o conhecimento acumulado, à tradição, à superstição e à experiência, coisas que têm edificado esta enorme estrutura à qual o pensamento se aferra em sua condição de “eu”. Quando o “eu” está ausente, surge a compaixão, e essa compaixão traz consigo claridade. Com essa claridade, há entendimento. (Idem, pág. 202)

Onde há registro desnecessário, não há amor. Se se quer compreender a natureza da compaixão, há de se investigar o problema do que é o amor, e descobrir se existe amor sem nenhuma forma de apego, com todas as complicações, (…) prazeres e temores associados ao apego. (Idem, pág. 202)

Como dissemos, estamos programados. O cérebro humano é um processo mecânico. Nosso pensamento é um processo materialista, e esse pensamento tem sido condicionado para pensar como budista, hindu, cristão, etc. Portanto, nosso cérebro está condicionado. É possível ficar livre do condicionamento? Há os que dizem que não, porque (…) como pode esse condicionamento ser completamente erradicado, de forma que o cérebro humano possa tornar-se extraordinariamente purificado, original, de infinita capacidade?

Muitas pessoas admitem isso, mas ficam satisfeitas em meramente modificar o condicionamento. Porém estamos dizendo que esse condicionamento pode ser examinado, observado, e pode haver total libertação do mesmo. Para descobrir por nós mesmos se é possível, ou não, temos de inquirir sobre nossas relações. (Idem, pág. 78)
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(O diálogo abaixo foi extraído do livro, ainda não editado em nosso idioma, "O Caminho da Inteligência").
K: Creio que todos estamos de acordo de que existe degeneração, de que há um processo de corrupção, tanto moral e intelectual como físico. Há caos, confusão, dor e desespero. Pensar é ser invadido pela dor. Bem, agora, como nos a reportaremos a esta presente condição? O faremos como cristãos, budistas, hindus, muçulmanos ou comunistas? Ou bem trataremos o problema sem adotar nenhuma posição, nenhuma postura? Os comunistas concordam que a dor é a carga da humanidade, e que se queremos mudar esse estado é necessário recondicionar a sociedade. Se conseguirmos deixar de lado todos os nossos pontos de vista, talvez possamos, realmente, enfrentar o problema da degeneração.

O problema é muito sério. O conhecimento seja ele do mundo tecnológico ou do psicológico, ou obtido através da tradição, dos livros, etc., parece se encontrar na raiz de todo o processo de degeneração. Investiguemos este ponto. Observo o caos que existe por cauda da insegurança, da enorme confusão e desespero. Como devo me aproximar delas? Está completamente claro que careço de resposta para este problema de degeneração que existe dentro de mim. Suponhamos que eu tenha lido o Vedanta e que ali encontro à resposta; ou que sou marxista e que penso que a solução está ali e que somente é necessário fazer modificações no sistema. Tais posicionamentos viciaram a indagação. Por isso não quero afirmar nada que não se baseia em fatos observáveis.

PJ: Krishnaji tem introduzido um novo elemento nesta investigação que exige um profundo exame, ao afirmar que o conhecimento per se - quer se trate de conhecimentos tecnológicos, da perícia ou de tudo o adquirido pelo cérebro humano ao longo de milênios - constitui em si a origem da degeneração. Antes de tudo, devo ver esse fato, esse desafio. Porém, como deve Vê-lo, como deve responder a ele?

Q: Isso pode ser completamente falso.

PJ: Tenho que descobrir a verdade ou a falsidade disso.

BK: Eu sigo dizendo que talvez não estamos preparados, seja anatômica, fisiológica ou biologicamente, para enfrentarmos a situação, e que carecemos dos instrumentos adequados. O que pergunto é: existe uma causa original de tudo isto?

K: Qual é essa causa? Podemos descobri-la? Não se trata de que examinemos os sintomas, porque todos os conhecemos. Porém, podemos descobrir, através de uma investigação objetiva, qual é o efeito do conhecimento em nossas mentes e em nossos cérebros? Isto é o que tem que ser examinado, e então essa causa será descoberta. Podemos encontrar um enfoque diferente?

JU: Há dois pontos pelos quais podemos analisá-lo; um é o do indivíduo e o outro é da sociedade. Os problemas surgem porque o indivíduo acredita ser intrinsecamente livre, porém, ao mesmo tempo, uma parte dela se acha em interação com a sociedade. O indivíduo é, parcialmente, uma entidade; porém, de forma global, ele é produto da sociedade. A fim de examinar a questão, temos de prestar atenção aos problemas gerados pelo indivíduo e pela sociedade, de forma separada. A relação que o indivíduo possui consigo mesmo e a relação que possui com a sociedade são, na realidade, processos dentro da mesma sociedade. Não vou me remontar a um passado distante, senão aos últimos três ou quatro séculos de civilização.

Quisera insistir em que o problema se encontra na natureza da relação entre o indivíduo e a sociedade. Há momentos nos quais o indivíduo adquire uma grande importância, e em outros é a sociedade que a adquire. Qual é a natureza da relação entre ambos e como se altera o equilíbrio? Será na transmissão do conhecimento ou da experiência donde tem que haver a relação entre eles?

K: Me pergunto se tanto o indivíduo como a sociedade não são abstrações. O real é a relação humana. Você pode chamá-la relação social, porém o fato é essa relação que se estabelece entre você e o outro, seja íntima ou não. Descubramos si somos indivíduos o se estamos programados para pensar que o somos. Eu me pergunto muito seriamente se o conceito de indivíduo é real. Você pensa que o é e atua como tal; daí surgem os problemas, depois você se pergunta a respeito da relação entre sociedade e indivíduo. Porém a sociedade é uma completa abstração. O que é real é a relação entre dois seres humanos, o qual é a sociedade.

JU: Você disse que não existe o indivíduo? Estamos trabalhando em dois níveis de ilusão.

PJ: Upadhyayaji disse que o indivíduo não existe, porém que engana a si mesmo de que ele o é. Tampouco a sociedade é, porém temos a ilusão de que é. Enquanto “existam” essas duas ilusões ‑ a existência individual e a social - haverá um conflito entre as duas que deverá ser resolvido.

G. Narayan: Ainda que tanto o indivíduo como a sociedade sejam meras ilusões, temos de fato uma realidade de ambas e aí estão todas as conseqüências.

K: Você está dizendo que o cérebro tem sido programado como indivíduo, com sua própria expressão, liberdade, desenvolvimento, etc., e como contrário a da sociedade? Você admite que o cérebro tem sido programado? Não a denomine relação; ele está programado para pensar desse modo. Portanto não se trata de uma ilusão. Programar é uma ilusão, porém não o programado.

AP: Afirmar que o indivíduo ou a sociedade são ilusões é dizer que temos formado um problema imaginário, que estamos discutindo de forma meramente especulativa. Na realidade, o que estamos discutindo é a condição humana. A qual é um fato; o homem está se deteriorando, é egoísta, desgraçado, se acha em conflito e a ponto de se autodestruir. Isto não se pode negar. Krishnaji disse que tanto os tradicionalistas como os marxistas estão programados.

PJ: Achyutji, você não está compreendendo o verdadeiro sentido. Krishnaji disse que não há que chamá-lo de ilusão porque não o é em tal sentido.

Não é que o cérebro o tenha criado; senão que ele, em si mesmo é isso, porque tem sido programado para sê-lo.

K: Se você o denomina ilusão, então a ilusão é o programado. Portanto, se você deixa de programar ao cérebro, que é ilusão, para com todo o assunto. O computador[1][7] está programado e nós também.

JU: Se paro com tudo isso, que sucede com a relação?

K: Deixemos os “si” e os “porém”. Vemos, na realidade, o fato ‑ não a teoria - de que não somos indivíduos?

RMP: Sempre que falamos de relação, damos por certo que há dois pontos entre os quais a estabelecemos. Minha hipótese é que antes de examinar a relação, devemos investigar esses dois pontos. Porque falar dela sem termos em conta se torna meramente acadêmico.

BK: Incluiremos nesta investigação aos animais, a mente animal? Porque se for assim não deveríamos falar dos últimos três ou quatro séculos, senão nos remontar aos tempos em que vivíamos nas árvores.

K: A que se refere, Senhor?

PJ: Estou me referindo ao que você disse a respeito de que o cérebro está programado. A onde vamos a partir dai? Você disse que a atividade egocêntrica ‑ o indivíduo tal como é, um pouco mais elaborado – tem de ser negado em cada detalhe. Porém quando observamos o exterior e o interior ‑ já que a preponderância de ambos é alternativa - a interação entre os dois é sempre evidente. Você pode denominá-lo indivíduo e sociedade, ou como melhor lhe pareça, porém sempre estão os dois. Eu o tenho criado. Essa é a questão. Portanto, como disse Rimpocheji, não podemos deixar dado ao indivíduo e falar exclusivamente da relação, porque temos que examinar os dois pontos.

K: Eu questiono isso. Digo que somente existe a relação.

PJ: Você estabelece a relação fora do contexto dos dois?

K: Sim. Quero dizer, o cérebro se relaciona a si mesmo com o passado. O cérebro é o passado.

PJ: Então, quem se relaciona com quem?

K: Não se relaciona com nada. Funciona dentro de seu próprio círculo, dentro de sua própria zona. É obvio.

SP: Porém, Senhor, este cérebro se relaciona com outros cérebros, com os que possui certas semelhanças.

PJ: Sunanda, você escutou o que ele disse a respeito de que você nunca está se relacionando com outro, de que ele mesmo, o cérebro é que cria esse “outro” com o que logo se relaciona?

K: Pode repetir o que disse?

GN: Você disse que não existe relação porque o cérebro cria ao “outro” e logo se relaciona com este. De fato somente existe o cérebro humano.

K: O cérebro somente se ocupa de si mesmo, de sua própria segurança, de seus problemas, de sua própria dor; e o “outro” também é isto. O cérebro jamais se relaciona com nada. Não existe o “outro”, uma vez que esse “outro” não é mais que a imagem criada pelo pensamento, que é cérebro.

RB: Você está dizendo que a mesma relação é parte da programação?

K: Não, nos afastemos da palavra “programa”.

RB: Não existe o “outro” e não existe a relação.

K: Não. A relação se produz sempre entre dois.

S: Você quer dizer que não há “outro”?

K: Você existe, porém minha relação com você se baseia na imagem formada que eu tenho de você. Portanto, me relaciono com a imagem que eu mesmo possuo.

BK: Porém parte do cérebro está também questionando isso.

K: Esclareçamos isto. Minha relação com você se baseia no pensamento que tenho a respeito de você, a sua imagem que tenho criado. Portanto, a relação não é com você senão com a imagem que tenho. Assim, pois, não há relação.

BK: O que não entendo é como se produz a programação.

K: Senhor, o computador está programado. Acreditará em deus, nos Vedas ou em qualquer coisa que se lhe diga. Meu cérebro também tem sido programado para crer que sou hindu, cristão, crer em deus ou não crer nele. Deixemos isto por momento. Estávamos dizendo que não há “outro”. Portanto, não há relação com o “outro”.

AP: Eu questiono isso.

K: O estou examinando. Meu cérebro, ele é o cérebro comum à humanidade, não é meu cérebro. Esse cérebro comum, que tem existido desde quase cinco ou dez milhões de anos, que tem armazenado experiências, conhecimentos, etc., tem formado uma imagem do mundo e também, por exemplo, de minha esposa. Ela está aí simplesmente para meu próprio prazer, para cobrir minha solidão; existe em mim como uma imagem que o pensamento tenha criado. Deste modo, não há relação.

Porém se, realmente, me dou conta disso e mudo todo esse movimento, talvez possamos saber o que é o amor. Então, a relação é totalmente diferente.

AP: Você tinha enunciado algo. É isso uma descrição ou um fato?

K: É uma descrição para comunicar um fato. Questionemos o fato, não a descrição.

AP: Eu questiono o fato. Digo que o fato é que o mundo está cheio de gente, dividida em nacionalidades, etc. Não posso permitir ou simplificar em extremo a situação, reduzindo todo o problema ao que está acontecendo no cérebro, porque algo está acontecendo fora, algo está acontecendo dentro de mim e existe uma interação; esse é o problema.

K: Você disse que há interação entre meu mundo psicológico e o mundo. E eu afirmo que somente há um mundo: meu mundo psicológico. Não se trata de uma extremada simplificação, senão de todo o contrário.

Q: Você disse que a relação que mantenho com minha esposa, é meu ideal a minha imagem, porém como se produz esta imagem? Pois para que a imagem chegue a ser, é necessário que um exista como indivíduo. Tenho criado sua imagem, porém para isto ela deve estar aí fora como um objeto. Algo tem que haver lhe causado.

Q: Você está eliminando o objeto.

K: Não tem sido eu.

PJ: Estamos falando de degeneração. Qualquer um que tenha observado como opera a mente se dará conta da validez da afirmação de Krishnaji; quer dizer, que podes ser fisicamente um ser humano, porém que para mim não és mais que a imagem que há em minha mente e que, portanto, minha relação é com essa imagem.

K: Portanto, não há interação, não há um “tu” com o qual possa o “eu” se relacionar.

AP: Tenho uma dificuldade. A menos que um aceite a existência do outro indivíduo, está desvalorizando ou negando quando surge como desafio desse “outro”, o qual possui tanta realidade como meus desejos ou respostas. Não são mais válidos que os da outra pessoa.

Q: Você está eliminando o objeto que coloca algo em movimento, que é uma realidade.

GN: O cérebro cria sua própria imagem que impede uma relação real. De fato, todo o problema surge quando o cérebro se relaciona com sua própria imagem.

AP: É sui generis o movimento que surge da imagem ou o cérebro é uma resposta diante de um desafio exterior? Eu digo que isto é último.

PJ: A resposta está no cérebro.

K: O cérebro é o centro de todas as reações sensoriais. Vejo uma mulher e se despertam as respostas sensoriais. O cérebro cria então a imagem da parceira dormindo, o sexo e tudo isso. A resposta sensorial acaba armazenada no cérebro que logo reage como pensamento, através dos sentidos, da memória, e todo o resto. A partir daí, enquanto esta sensação se encontra com uma mulher, se coloca em funcionamento todos os mecanismos sensoriais. Logo, se cria a imagem; e é essa imagem e não a mulher a que se converte em algo de suma importância. Pode ser que a mulher seja necessária para meu prazer, etc., porém já não haverá relação com ela, exceto no físico. É bastante simples.

AP: Um certo temor ronda em minha mente: Este é um processo de egocentrismo refinado?

K: Isso é o que estou dizendo.

BK: Podemos dar um passo a mais? Pode ser que seja uma relação mental? As imagens podem ser manipuladas, modificadas e melhoradas. É possível então que se produza uma relação mental?

K: Por suposto; isso é o que faz o cérebro continuamente.

PJ: Surge então a verdadeira pergunta: Qual é a ação ou o ato que desata ao final de toda esta maquinaria de produção de imagens, para que se faça possível um contato direto? Esta é a armadilha em que temos caído, como vemos, porém, seguimos com o mesmo padrão.

K: Assim o é. Por que funciona o cérebro de forma tão mecânica?

PJ: Que desafio, que ação poderá romper esse funcionamento mecânico, de forma que se produza um contato direto?

RB: Contato com o quê?

PJ: Contato direto com “o que é”.

K: Esclareçamos isto. O cérebro está habituado a este movimento sensorial e imaginário. O que romperá esta cadeia? Eis aí a pergunta básica.

JU: A dedução é que tudo quanto surge, surge de nossos sentidos. Nada procede dos fatos exteriores.

K: Já disse que não existe o exterior, somente existem as respostas que o cérebro dá a certas reações, o qual é conhecimento.

S: Você está dizendo que não há exterior nem interior, senão somente o cérebro?

K: Sim.

JU: Você estabelece uma afirmação. Tenho escutado o que você tem dito. Não entra em meu cérebro o fato de que não há um fato exterior; que a imagem nasça na maquinaria de produção de imagens do próprio cérebro; que seja o eu o que projeta as imagens que possui do outro. Tudo isso não entra em meu cérebro.

K: Por quê?

JU: É algo novo para mim.

BK: Está programado de forma diferente.

PJ: A pergunta é: qual é sua relação comigo ou com Upadhyayaji ou com X? Acaso não é você um fato para mim?

K: Que quer dizer com “você”?

PJ: Acaso não é um fato para este cérebro a afirmação de Krishnaji ou a forma em que o tenha perguntado ou quanto tenha estado dizendo?

K: O é.

PJ: Pois se o é, é que então existe um movimento distinto ao do próprio cérebro.

K: K faz uma afirmação. Isso somente constituirá um fato para você se pode responder a ele. De outra forma não o é.

PJ: Não o entendo.

AP: Olhe, alguém passa a meu lado e não produz em mim impressão alguma; não há registro e, portanto, não há resposta. Cabe a possibilidade de que algo esteja acontecendo e de que eu não responda de modo algum. E, pelo contrário, sucede que alguém me diz algo e, imediatamente, se produz minha reação.

K: Bem, há aqui o fato, como responde você a ele? Como budista, como cristão, hindu, muçulmano, como político, etc.? Talvez responda com a mesma intensidade do fato ou não responda em absoluto. Para que haja um fato, você e eu devemos nos enfrentar um ao outro, não fisicamente, senão de alguma forma.

JU: Se você é um fato, por que está negando que o fato possa vir de fora?

K: Isso é algo completamente diferente. O fato que vem de fora é o que o pensamento tem criado. O comunista desafia ao crente. O comunista é um crente que desafia a outra crença, de modo que isto se torna uma proteção; uma reação contra a crença. Porém isso não é um fato. Este que lhes fala carece de crenças. E deste lugar estabelece seu fato. O que é muito diferente ao fato externo.

PJ: Qual é desafio que não seja do centro?

K: Se você desafia minha reputação ou questiona minha crença? Eu reajo porque necessito me proteger, e você está me desafiando através da sua imagem. É um fato entre duas imagens criadas pelo pensamento. Porém se você desafia a K, que ele é um fato em absoluto, isso é algo completamente diferente.

PJ: Necessitamos voltar ao ponto donde começamos...

S: Meu cérebro, que é uma máquina de formação de imagens, responde ao do outro da mesma maneira que ao fato criado por uma pessoa como você. Não responde, acaso, da mesma forma?

PJ: Assim é. Porém a pergunta é, como há de terminar este movimento?

K: Como há de terminar este ciclo de experiência, conhecimento, memória, pensamento, ação; ação que volta a ser conhecimento conformando o círculo no que você está fechado?

PJ: Está perguntando como há de terminar o fluxo da causalidade? Esse processo que você tem mostrado, do fato, da sensação e da ação, não mostra que essa ação retorna para ser armazenada?

K: Por suposto, evidentemente. Isso é o que estamos fazendo.

JU: Regressa o que tinha ido ou volta algo novo?

PJ: Atua e, enquanto o faz, outras muitas causas concorrem nulo. Todo o assunto regressa e acaba armazenado novamente.

CN: Temos estado dizendo que o programa funciona assim: experiência, conhecimento, memória, ação. A ação fortalece a experiência e isto se repete.

JU: Em tal processo, o que sai não regressa como era, senão com algo especial que se lhe tenha acrescentado. Qual é essa qualidade especial que se lhe agregou?

RMP: Em todo o processo de pensamento? Segundo Upadhyayaji existe este ponto fixo, que é o interno e o externo. Se pudermos discuti-lo, talvez não seria mais fácil a compreensão?

GN: Não estamos negando a realidade do mundo exterior porque aí está a natureza, os outros seres humanos, os objetos. Tudo é real; a guerra, as nacionalidades e a outra pessoa são reais. O que queremos dizer é que realmente não existe contato; que a única coisa se produz é o contato com nossa própria imagem, o qual não constitui contato algum.

PJ: Pelo que se deduz, não existe verdadeira liberdade em absoluto, porque, atados a isto, não pode haver liberdade.

GN: Isso não nega a existência do mundo exterior, e voltamos ao tema da sociedade e eu.

AP: Um não nega o mundo exterior como objetos, senão que nega a realidade desse mundo como pessoas.

PJ: Não, se nega a realidade das imagens do mundo exterior que sua mente tenha criado.

JU: Aceito que quem cria as imagens é responsável do processo. Tenho podido chegar tão longe graças tão somente a um processo de casualidade. Quando regressa, o faz com nova experiência, desejos e requerimentos. Que coisa é esse novo fator e de onde procede?

PJ: Como possui lugar essa acumulação de conhecimento? O que era verde tem regressado amarelo, igual ao que acontece de uma folha, em um fruto.

K: Senhor, o que estou dizendo é que o conhecimento ‑ o conhecimento psicológico - tal e como existe agora, é a corrupção do cérebro. Entendamos este processo muito bem. Você pergunta como há de se romper essa cadeia. Creio que a questão central é o conhecimento psicológico, que corrompe o cérebro e, portanto, corrompe o mundo, corrompe os rios, os céus, as relações, tudo. Como há de se romper esta cadeia? Agora bem, por que formula esta pergunta, por que deseja romper esta cadeia? É uma pergunta lógica. Possui tal ruptura uma causa, um motivo? Se é assim, então você voltou para a mesma cadeia. Porque se me produz sofrimento e, portanto, quero sair disso, me verei aprisionado de novo; e se me causa prazer direi: “por favor, deixe-me tranqüilo”. Portanto, eu mesmo devo tê-lo claro. Não posso lhe persuadir você para que o tenha claro, porém ao que a mim concerne devo permanecer sem motivo ou direção alguma.

Satyendra: É uma questão fundamental e por isso seguimos nos perguntando: “como romper a cadeia?” Porém a pergunta que eu formulo agora é se com o cérebro que possuímos será possível consegui-lo.

Sou consciente de mim mesmo. Posso lhe perguntar desta maneira?; Se tratará basicamente de uma forma de olhar as coisas?; É uma questão de raciocínio, de lógica?

K: Não, não se trata de um assunto de analise, senão de uma observação plena do que está acontecendo.

Sat: Sem que a mente forme uma imagem?

K: O cérebro é o centro de todas as respostas sensoriais. Estas têm criado a experiência, o pensamento e a ação; e o cérebro, que se encontra atado nisto que é parcial, nunca é completo. Portanto, contamina tudo o que faz. Se você admite isto uma só vez, não como uma mera teoria senão como um fato, o círculo acabará rompido.

PJ: Praticamente, todos os ensinamentos relacionados com o processo meditativo, têm considerado aos sentidos como um obstáculo para colocar fim a este processo. Que papel você concede aos sentidos na liberação da mente?

RB: Creio que não é correto o que está nos dizendo. Todas esses ensinamentos não tem considerado aos sentidos como um obstáculo, porque quando falavam de “sentidos” incluíam a mente. Jamais estabeleceram uma separação entre mente e sentidos.

PJ: Depois de tudo, segundo o entendido, todas as práticas yoguísticas, todas as tapas[2][8] e ascetismos tratam de destruir o movimento dos sentidos face ao objeto.

K: Ignoro o que tem sido falado pelos antigos sábios.

Papila Vatsyayan: Creio que no pensamento antigo da Índia, denominado geralmente hinduismo, não se pretende negar os sentidos. Esse é um ponto crucial em toda nossa cultura, onde começou tudo isto, com o Katha Upanishad e sua percepção sensorial. A imagem que eles possuem dele é a carruagem e os cavalos. Sim, os cavalos, os sentidos, são primitivos e não há por que serem destruídos, senão compreendidos e controlados. Eles são os agentes da realidade exterior, não negam o exterior.

PJ: Eu pergunto qual é o papel dos sentidos.

K: Os sentidos, como o pensamento, criam o desejo. Sem a interferência do pensamento, possuem pouquíssima importância.

PJ: Os sentidos não possuem importância?

K: Possuem seu lugar. Se vejo uma árvore esplêndida, isto é beleza, o esplendor de uma árvore é algo impressionante. Onde interfere o desejo com os sentidos? Aí está a questão?

Não se trata de saber se os sentidos são importantes ou não o são, senão onde começa o desejo. Se alguém entende isto, por que há de lhe dar tão extraordinária importância?

RB: Parece que se estivera contradizendo.

K: Não.

RB: Senhor, você tem dito ‑ não agora, senão no principio – “se você pode observar com todos seus sentidos...” Assim, não pode negar sua importância.

K: Não recuso os sentidos. Tenho dito que se você responde a esta árvore, se a observa, envolta pela luz do sol depois da chuva, cheia de beleza, há uma resposta total na qual não existe “eu”, nem pensamento, nem centro de onde se responda. Isso é a beleza, não o quadro, nem o poema, senão a resposta total de todos nossos sentidos diante desse fato. Nossa resposta não é assim porque o pensamento tem criado uma imagem a partir da qual surge o desejo. Não há contradição no que disse.

PJ: Se puder lhe fazer uma pergunta, Upadhyayaji, que pensam os seguidores do Vedanta a respeito dos sentidos?

JU: Segundo o Vedanta, sem observador não é possível a observação.

PJ: E os budistas?

S: Dizem que somente existe visão quando não está presente o que vê. Não há diferença entre o que vê e a visão.

K: O observador é o observado. Simplesmente, vejam o que está acontecendo aqui. Nos preocupamos de qual é a atitude do Vedanta ou do Budismo, porém não saímos de nossa posição. Não estou criticando, porém voltemos ao ponto fundamental: o cérebro está atado neste movimento. E vocês estão se perguntando como há de se romper essa cadeia que tem construído o pensamento, o qual é limitado porque se originou do conhecimento que, por sua vez, é incompleto.

O conhecimento tem criado esta cadeia, e vocês se perguntam: como há de se romper tal cadeia? Quem formula esta pergunta?

S: O prisioneiro.

K: Você é isso. Quem faz a pergunta?

S: Aquele que é em si mesmo incompleto, é ele que a formula.

K: Somente observe-o. O cérebro está atado nisto. É ele quem faz a pergunta ou ele é o desejo que diz: “Como vou a sair disto?”. Eu não me faço nenhuma pergunta. Você vê a diferença?

AP: Entendo. Quando você disse, sim é o cérebro ou o desejo quem faz a pergunta, acaba bloqueando.

PJ: Não fazemos a pergunta?

K: Somente existe esta cadeia, isso é tudo. Não façam a pergunta. No momento em que formula a pergunta está tratando de achar uma resposta e, portanto, não está observando a cadeia. Você é isso, não pode fazer nenhuma pergunta. Vamos ao próximo ponto, que acontece quando você faz isso? Quando o faz, não há movimento. O movimento tem criado isto, e quando não há movimento ele termina. Há una dimensão completamente distinta. Assim, pois, tem de começar por não fazer perguntas.

Porém, na realidade, a cadeia é um fato para mim? Esta cadeia é desejo, desejo no sentido de respostas sensoriais. Se todos os sentidos respondem, não há desejo. Porém, somente quando as respostas sensoriais são parciais, o pensamento interfere e cria a imagem. Desta imagem surge o desejo. É, portanto, um fato que esta é a cadeia na qual o cérebro opera e que, seja lá o que faça, sempre será assim?

BK: Como podemos estar mais em contato com essa observação?

K: Olhe, quando tenho uma dor física, tomo imediatamente um comprimido, vou ao médico, etc. O mesmo movimento é adotado pela psique, que diz: “Que devo fazer? Dê-me um comprimido, ofereça-me uma fuga”. O problema se apresenta no momento em que você quer fugir disso. Sou capaz de enfrentar a dor física, porém pode o cérebro afetado por um sofrimento psicológico dizer: “é assim, não fugirei disso”? É assim. Observe logo o que acontece. O verdadeiro processo espiritual é esta busca cética, esta investigação cética. Essa é a verdadeira religião.

Madrás, 14 de Janeiro de 1981

[1][7] A palavra inglesa «computer» se repete cmn freqüência em vários capítulos. A tradução «computadr» é adequada para os países de língua hispana na América Latina, porém não é assim para a Espanha, onde se utiliza «ordenador», derivada do francês «ordinateur».

Ao ter que escolher uma tradução, temos optado por «computador» que assim aparecerá ao longo do texto. Pedimos desculpas para todas as pessoas que estão acostumadas a usar a outra traducción. (N. del T.)
[2][8] Tapas: Ascetismo, penitência, sacrifícios.
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill