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terça-feira, 17 de julho de 2018

Como você observa a si mesmo?


Permaneça na observação passiva


segunda-feira, 9 de abril de 2018

Em conflito, jamais vemos o que é real

Em conflito, jamais vemos o que é real

[...] Vemos a vida, uma pessoa, uma árvore, através de ideias, opiniões, lembranças? Ou estamos em comunhão direta com a vida, a pessoa, ou a árvore? Penso que nós vemos através de ideias, lembranças e juízos e que, por conseguinte, nunca vemos nada. Assim, vejo-me a mim mesmo tal como “eu realmente sou”, ou vejo-me como “eu deveria ser” ou como “eu fui”? Por outras palavras, a consciência é divisível? Falamos com muita facilidade a respeito da mente consciente e da mente inconsciente, e das muitas camadas entre ambas existentes. Existem essas camadas, essas divisões, e elas se acham opostas umas às outras. Temos de percorrer todas essas camadas, uma a uma, para nos livrarmos delas ou tentarmos compreendê-las — maneira muito cansativa e ineficaz de resolver um problema — ou é possível varrermos todas as divisões, todo esse conjunto, e tomarmos conhecimento da consciência total?

Como dizia noutro dia, para nos tornarmos apercebidos totalmente de uma coisa, necessita-se de percepção, visão, não colorida por ideia alguma. Ver uma coisa inteiramente, totalmente, não é possível quando existe motivo, um propósito. Se estamos interessados em alguma alteração, não estamos vendo o que realmente é. Se estamos interessados na ideia de que devemos ser diferentes, de que devemos melhorar o que vemos, torná-lo mais belo, etc., não somos então capazes de ver a totalidade do que é. A mente só está então interessada em mudança, alteração, melhoria, aperfeiçoamento.

Mas posso ver-me assim como sou, como consciência total, sem ficar enredado nas divisões, nas camadas, nas ideias opostas, existentes na consciência? Não sei se já alguma vez praticastes a meditação — por ora não discorrerei sobre esta matéria. Mas, se já o fizestes, deveis ter observado o conflito que se verifica na meditação — a vontade lutando para controlar o pensamento, e o pensamento a escapar-lhe sempre. É uma parte de nossa consciência — esse impulso para controlar, moldar, satisfazer-se, ter êxito, encontrar segurança; e ao mesmo tempo a compreensão do absurdo, da inutilidade, da futilidade de tudo isso. A maioria de nós tenta desenvolver uma ação, uma ideia, uma vontade de resistência, para servir como uma espécie de muralha em torno de nós mesmos, e dentro dessa muralha esperamos permanecer num estado de ausência de conflito.

Ora bem. É possível percebermos a totalidade desse conflito e permanecermos em contato com essa totalidade? Isso não significa permanecer em contato com a ideia da totalidade do conflito, ou vos identificardes com as palavras que estou empregando; mas, sim, significa estar em contato com o fato da totalidade da existência humana, com todos os seus conflitos de tristeza, sofrimento, aspiração e luta. Significa enfrentar o fato, “viver com ele”.

Como sabeis, “viver com uma coisa” é extremamente difícil. “Viver com aquelas montanhas” que nos cercam, com a beleza das árvores, com as sombras, a luz matinal, a neve, “viver com isso” realmente, é muito difícil. Todos tomamos conhecimento dessas coisas, não é verdade? Mas, vendo-as dia por dia, embotam-nos diante delas, como acontece com os camponeses, e nunca mais tornamos a olhá-las realmente. Mas “viver com a coisa”, vê-la cada dia como nova, com clareza, com sensibilidade, com apreciação, com amor — isso requer enorme soma de energia. E “viver com uma coisa feia” sem que essa coisa feia possa perverter, corroer a mente — isso requer por igual muita energia. “Viver tanto com o belo como com o feio” — como temos de viver, em nossa existência — requer descomunal energia. E essa energia é rejeitada, destruída, quando nos encontramos num estado de perpétuo conflito.

Assim, pode a mente olhar a totalidade do conflito, “viver com ele”, sem aceitá-lo, nem rejeitá-lo, sem permitir que o conflito nos deforme a mente, porém observando realmente todos os movimentos internos de nossos próprios desejos, geradores de conflito? Acho que isso é possível — não apenas possível, mas, quando penetramos mui profundamente o conflito, quando nossa mente está apenas a observar e não a resistir, a rejeitar, a escolher, eis o que acontece. Então, depois de chegardes até aí, não em termos de tempo e espaço, porém com a experiência real da totalidade do conflito, descobrireis por vós mesmos que a mente é capaz de viver muito mais intensa, apaixonada e vitalmente; e uma mente assim é essencial para que possa surgir na existência aquela “certa coisa imensurável”. A mente em conflito jamais descobrirá o verdadeiro. Poderá tagarelar incessantemente acerca de Deus, da bondade, da espiritualidade e tudo o mais, mas só a mente que compreendeu de maneira completa a natureza do conflito e, por conseguinte, se acha fora dele, só ela pode receber aquilo a que se não pode dar nome, aquilo que não pode ser medido.

Krishnamurti, Saanen, 30 de julho de 1961, O Passo Decisivo

Não vemos “o que” é em sua totalidade

Não vemos “o que” é em sua totalidade

Considero bem importante, principalmente no decorrer destas reuniões, aprendermos a escutar. Mui poucos escutam, dentre nós; limitamo-nos a ouvir. Ouvimos superficialmente, como estamos ouvindo aquele barulho na rua, e o que assim se ouve entramos muito pouco no cérebro. O que ouvimos apenas superficialmente, enunciamos à menor provocação. Mas existe uma maneira diferente de escutar, em que o cérebro está vigilante sem esforço, interessado, sério, empenhado em descobrir o que é verdadeiro e o que é falso, sem emitir opinião, juízo, e sem traduzir ou comparar o que se diz com o que ele já sabe. Por exemplo, a última moda agora é interessar-se pelo Zen; é a mania atual. E se, durante estas palestras, procurardes comparar o que se está dizendo com o que tendes lido, assim procedendo não estareis escutando verdadeiramente. Estareis unicamente comparando, e esse comparar é uma espécie de indolência. Já se escutardes sem ser por intermédio do que tendes aprendido, ouvido ou lido, estareis então escutando diretamente e reagindo diretamente, sem preconceito algum. Estareis vendo a verdade ou a falsidade do que se disse, e isso é muito mais importante do que vos limitardes a comparar, avaliar, julgar.

Espero, pois, não vos causar desagrado com repetir continuamente quanto é difícil aprender a arte de escutar — arte tão difícil como o ver. E tanto ver como escutar são coisas necessárias.

Dissemos da última vez que existe grande confusão no mundo. Exteriormente, existe pobreza, fome e corrupção; interiormente, também, existe confusão, sofrimento e pobreza do ser. Existe contradição no mundo. Os políticos se declaram em favor de paz e prepararam a guerra; fala-se de união da humanidade, e ao mesmo tempo estamos assistindo à sua desintegração. E do meio desses caos, dessa desordem, todos desejamos que saia a ordem. Temos paixão pela ordem. Assim como temos paixão por manter nossos quartos limpos e bem arrumados, assim também temos paixão por pôr o mundo em ordem. Não sei se temos refletido profundamente nessa palavra, no que ela implica. Queremos ordem interiormente, queremos viver sem contradição, sem luta, sem confusão, de maneira que exclua todo sentimento de desarmonia e luta; e, assim, recorremos aos líderes espirituais, para que nos deem a ordem, ou aderimos a grupos, ou seguimos um certo sistema de ideias, de disciplinas. Eis como erigimos autoridades; queremos que nos mostrem o que devemos fazer. Tentamos produzir a ordem pelo ajustamento, pela imitação.

Do mesmo modo desejamos ter a ordem externa, na política, no mundo dos negócios. Por essa razão existem ditadores, tiranos, governos totalitários que prometem a ordem total, na qual a ninguém é permitido pensar. Ensinam-vos o que deveis pensar, da mesma maneira como vos ensinam o que pensar quando pertenceis a uma igreja ou a um grupo que crê num certo sistema de ideias. A tirania da igreja é tão brutal como a tirania dos governos. Mas gostamos dela, porque desejamos a ordem a qualquer preço. E temo-la. A guerra produz uma ordem extraordinária num Estado. Todos cooperam para a mútua destruição.

Cumpre, assim, compreender essa obsessão pela ordem. A sujeição de nossa própria confusão à autoridade, interna ou externa, produz a ordem? Compreendeis esta pergunta?

Vejo-me confuso e não sei o que faça. Minha vida é estreita, limitada, confusa, infeliz — encontro-me num estado de contradição e não sei o que faço. Assim sendo, dirijo-me a alguém, instrutor, guru, santo, salvador; e provavelmente alguns de vós viestes aqui com igual propósito. Assim, por causa de vossa confusão escolheis vosso líder, e quando atuais por motivo de confusão, vossa escolha só pode criar mais confusão. Abandonais-vos à autoridade — e isso significa que não desejais pensar, não desejais descobrir por vós mesmos o que é verdadeiro e o que é falso. Descobrir o que é verdadeiro e o que é falso é dificílimo; temos de estar muito ativos, muito vigilantes. Mas, como em geral somos preguiçosos, insensíveis, não profundamente sérios, preferimos que nos digam o que devemos fazer; e para isso temos os santos, os salvadores, os instrutores, para dirigirem nossa conduta interior; e exteriormente temos os governos, os tiranos, os generais, os políticos, os especialistas. E esperamos que, seguindo-os, nossas tribulações se acabarão gradualmente e, por conseguinte, teremos ordem.

Por certo, a palavra “ordem” implica tudo isso, não? Ora, a exigência de ordem produz ordem? Considerai isso, por favor, pois desejo examinar este ponto. A meu ver, a autoridade e o poder, de qualquer espécie que sejam, são destrutivos. O poder, em qualquer forma, é coisa má, porque estamos confusos; porque não sabemos, queremos ser ensinados.

Penso, pois, que desde o início destas palestras deve ficar bem entendido que este orador não é nenhuma autoridade; tampouco o sois vós, que ouvis e acompanhais o que se está dizendo. Nós estamos procurando investigar, descobrir juntos. Se aqui viestes com a ideia de que se vos irá dizer o que deveis fazer, partireis de mãos vazias.

A mim o que importa é perceber a existência da desordem exterior e interior, e que a exigência de ordem é simplesmente exigência de segurança, garantia, certeza. E infelizmente não existe segurança, nem interna, nem externa. Os bancos poderão falir, poderá haver guerra, há a morte, os valores da bolsa poderão sofrer uma queda desastrosa — tudo pode acontecer, e coisas terríveis já estão acontecendo. Como vemos, a exigência de ordem é exigência de segurança; e é isso o que todos, velhos e moços, queremos. Não temos muita preocupação quanto à segurança interior, porque não sabemos como proceder para obtê-la, mas esperamos alcançar pelo menos a segurança exterior, com bons bancos, bons governos, uma tradição perdurável. Torna-se, assim a mente gradualmente satisfeita, embotada, segura, confinada na tradição, e essa mente, como é bem óbvio, nunca descobrirá o que é verdadeiro ou o que é falso; é incapaz de enfrentar o tremendo desafio da existência.

Espero não vos estejais deixando mesmerizar pelas minhas palavras, mas que estejais escutando de maneira tal que possais descobrir por vós mesmos se realmente existe coisa tal como a segurança. Este é um problema formidável. Viver num mundo exterior onde não existe segurança, e viver num mundo interior onde nenhuma tradição existe, onde não existe amanhã nem hoje — isso significa que a pessoa ou se torna desequilibrada, completamente insana, ou extraordinariamente viva e sã.

Isso não é questão de escolha. Não se pode escolher entre a segurança e a insegurança; mas é fácil perceber que não existe segurança interior, psicológica. Nenhum estado de relação oferece segurança; e por mais fortemente que estejamos apegados a uma certa doutrina, crença, a isso está sempre associada a dúvida, a suspeição, o medo. Uma investigação desta natureza é necessária, quando há paixão pela ordem.

Não é verdadeiro, tampouco, o contrário disso: que devamos viver na desordem, no caos. Isso é apenas uma reação. Sabeis que vivemos e atuamos por efeito de reação. Todas as nossas ações são reações. Não sei se já notastes isto. E se vemos que a ordem não é possível, pensamos então, invariavelmente, que deve haver o oposto, a desordem, a reação à ordem. Mas se se percebe a verdade de que a exigência de ordem implica tudo o que acabamos de apontar, então, do descobrimento do que é verdadeiro resulta a ordem verdadeira. Estou-me fazendo claro? Vou expressá-lo de diferente maneira.

A paz, por certo, não é a ausência da guerra. A paz é coisa diversa. Não é o intervalo entre duas guerras. Para descobrirmos o que é a paz, precisamos estar completamente libertados da violência. Para nos libertarmos da violência, requer-se tremenda investigação da violência. Isso significa perceber realmente que na violência estão implicados compulsão, ambição, desejo de êxito, perfeita eficiência, autodisciplinamento, e o seguimento de certas ideias e ideais. Por certo, forçar a mente a ajustar-se — não importa se a um padrão nobre ou ignóbil — implica violência.

Dizemos que, se não nos ajustarmos, haverá caos. Mas tal afirmativa é uma reação, não achais? A violência não é uma coisa superficial; o sondá-la requer muita investigação. A cólera, o ciúme, o ódio, a inveja, tudo isso são expressões da violência. Estar livre da violência é estar em paz, não achar-se num estado de desordem. Eis por que o conhecimento de si mesmo não é questão simplesmente de se considerarem as coisas ocasionalmente, pelo espaço de uma manhã, e não cuidar mais disso pelo resto da semana. É uma questão muito séria.

Assim, compreender a ordem é muito mais importante do que a reação pela qual dizemos: “Se não houver ordem, haverá caos” — como se o mundo em que vivemos fosse uma maravilha, belo e deslumbrante, sem caos nem sofrimento! Basta-nos olhar a nós mesmos, para vermos como somos pobres interiormente. Somos vazios de afeição, de simpatia, de amor, somos feios, e mui facilmente persuadidos; e há sempre essa busca de companhia, a impossibilidade de estarmos sós.

Importa, pois, considerarmos a ordem em sua totalidade, e não apenas pedacinhos dela, aqueles que preferimos. E é dificílimo vermos uma coisa totalmente — como se vê a árvore inteira. Falei um pouco extensamente a respeito da ordem, da autoridade, e do ajustamento; e, se puderdes ver isso de maneira total, vereis então como o cérebro, a mente, se livra dessa exigência de ordem e, portanto, do desejo de seguir — seja a um herói nacional, à lenda ou a outros absurdos que tais, seja ao vosso instrutor preferido, guru, santo, etc.

Pois bem. Que é “ver totalmente”? Em primeiro lugar, que é “ver”? É só a palavra? Tende a bondade de acompanhar-me com um pouco de atenção, se vos apraz. Quando dizeis “vejo”, que quereis dizer? Não me respondais, por favor; acompanhai-me, apenas. Não me estou erigindo em vossa autoridade, e vós não sois meus seguidores. Não tenho nenhum, graças a Deus! Estamos, juntos, investigando a questão relativa a “ver”, uma vez que ela é muito importante, como por vós mesmos descobrireis.

Quando dizeis: “vejo aquela árvore”, a estais vendo realmente, ou vos estais satisfazendo, apenas, com a palavra “vejo”? Pensai nisso. Vamos devagar! Dizeis: “Aquilo é um carvalho, um pinheiro, um olmo” — o que quer que seja — e passais adiante? Se assim é, isso denota que não estais vendo a árvore, porque estais confinado na palavra. Só quando compreendeis que a palavra não é importante e podeis pôr de parte o símbolo, o termo, o nome, é só então que podeis olhar. Isso é muito difícil — olhar — porquanto significa que o nome, a palavra, com todas as lembranças, reminiscências associadas à palavra, têm de ser postos de parte. Vós não olhais para mim. Tendes certas ideias a meu respeito. Tenho uma certa reputação, etc., e isso vos impede de me verdes. Se puderdes despojar a mente de todo esse absurdo, podereis então ver — e esse “ver” é completamente diferente de ver através da palavra.

Podeis agora olhar para os vossos deuses, vossos prazeres favoritos, vossos sentimentos de nobreza, de espiritualidade, etc. — despojados da palavra? Isso é dificílimo, e são pouquíssimos os que se sentem dispostos a olhar assim. Esse ver é total, porque já não está associado com a palavra e as lembranças, os sentimentos que a palavra evoca. Assim sendo, o ver uma coisa totalmente significa que não existe divisão, que não há reação ao que se está vendo: há, apenas, ver. E a percepção do fato em si provoca uma série de ações dissociadas da palavra, da memória, das opiniões e ideias. Isso não é uma façanha intelectual, embora o pareça. Ser intelectual ou ser emotivo é um tanto estúpido. Mas o ver totalmente o medo liberta a mente do medo.

Ora, nunca vemos uma coisa totalmente, porque estamos sempre olhando as coisas com o intelecto. Isso não significa que não se deva fazer uso do intelecto; pelo contrário, temos de fazer uso do intelecto em sua capacidade máxima. Mas a função do intelecto é fracionar as coisas; foi ele educado para observar por partes, não totalmente. Estar inteiramente apercebido do mundo, da Terra, isso não implica nenhum senso de nacionalidade, nem tradições, nem deuses, nem igrejas, nem repartição das terras, nem divisão da Terra em mapas coloridos. E ver a humanidade como constituída de entes humanos não significa segregá-los em europeus, americanos, russos, chineses ou indianos. Mas o intelecto recusa-se a ver totalmente a Terra e o homem que a habita, porque o intelecto foi condicionado através de séculos de educação, tradição e propaganda. Assim o intelecto com todos os seus hábitos mecânicos, seus instintos animais, seu impulso para permanecer em segurança, protegido, jamais pode ver coisa alguma em sua totalidade. Entretanto, é o intelecto que nos domina; é o intelecto que está sempre funcionando.

Por favor, não salteis logo à ideia de que deve haver algo além do intelecto, de que em nós deve habitar um espírito, com o qual devemos entrar em contato, e outros absurdos de igual natureza. Estou caminhando passo a passo; assim, tende a bondade de seguir-me, se o desejardes.

O intelecto, pois, foi condicionado — pelo hábito, pela propaganda, pela educação, por todas as influências diárias, pela insignificância da vida e por seu próprio e incessante tagarelar. E é com esse intelecto que olhamos. Esse intelecto, ao escutar o que se diz, ao contemplar uma árvore, um quadro, ao ler um poema ou ouvir um concerto, é sempre fracionário; sempre reage em termo de “gosto” e “não gosto”, em termos de vantagem ou desvantagem. A função do intelecto é reagir e, se assim não fosse, seríamos destruídos da noite para o dia. É, portanto, o intelecto, com todas as suas reações, lembranças, impulsos e compulsões — tanto conscientes como inconscientes — que olha, vê, escuta e sente. Mas o intelecto, sendo, em si, parcial, produto do tempo e do espaço, da educação — conforme já descrevemos — não pode ver totalmente. Está sempre comparando, julgando, avaliando. Mas a função do intelecto é reagir, avaliar; por conseguinte, para poder ver as coisas totalmente, o intelecto tem de suspender sua atividade. Espero me esteja explicando claramente.

Deste modo, o percebimento total de uma coisa só se pode verificar quando o intelecto é altamente receptivo à razão, à dúvida, à indagação, mas ao mesmo tempo reconhece as limitações do raciocinar, do duvidar, do indagar e, portanto, não permite a si mesmo interferir no que está vendo. Se desejais realmente descobrir algo que seja mais do que produto do intelecto, este deve em primeiro lugar alcançar os seus limites, interrogando, argumentando, examinando, desejando descobrir e conhecer sua existência limitada, parcial; e essa própria experiência, esse conhecer da limitação, quieta a menta, o intelecto. Há então a visão total.

Quando se puder ver a totalidade da ordem — com todas as implicações que já examinamos — ver-se-á também surgir, dessa compreensão total, uma ordem de qualidade inteiramente diferente. Por certo, só poderá apresentar-se a ordem correta com a destruição da mente que exige ordem para sua própria satisfação e segurança. Depois de o intelecto despedaçar tudo o que ele próprio criou, de destruir o solo em que cultiva toda espécie de fantasias, ilusões, desejos, então surgirá, em consequência dessa destruição, um amor que criará sua ordem própria.

[...] O que desejo transmitir-vos nesta manhã, se possível, é só uma coisa — não idéias, nem sentimentos, nem uma certa coisa extraordinária, “espiritual”, porém o quanto importa ver totalmente. E ver totalmente significa ver sem julgamento, sem condenação, sem avaliação. Significa também que o intelecto não está reagindo àquilo que vê, porém, tão só, observando, naquele estado em que não existe pensador separado da coisa observada. Isso é sumamente difícil e, portanto, não penseis alcançar  esse estado por meio de palavras. Significa compreender por inteiro a questão da contradição, porque todos nós nos achamos num estado contraditório.

Krishnamurti, Saanen, 27 de julho de 1961, O Passo Decisivo

sábado, 31 de janeiro de 2015

Faça as pazes com seu inimigo

Não tente parar a mente. Ela faz parte de você — será loucura tentar pará-la. É como uma árvore tentando impedir que suas folhas cresçam: as folhas fazem parte de sua natureza. 

A primeira coisa a fazer é não tentar interromper seus pensamentos. Em segundo lugar, é preciso divertir-se com a mente, apreciá-la e dar-lhe as boas-vindas. Ao fazer isso, você começará a se tornar mais alerta e mais perceptivo da existência e do funcionamento da mente. 

Mas essa consciência precisa se dar de forma natural. Quando você tenta ficar mais alerta, a mente o distrai e você acaba ficando irritado, pois tem a impressão de que se trata de uma mente desagradável, que está constantemente tagarelando, quando o que você quer é permanecer em silêncio. 

O risco é você começar a encarar a mente como um inimigo. Isso não é bom, pois significa que você está dividido. Se você e sua mente ficarem em lados opostos do ringue, conflitos e atritos começarão a surgir. Todo enfrentamento é de certa forma um suicídio, porque significa energia sendo desperdiçada. Como não temos tanta energia sobrando para que possamos esbanjá-la lutando contra nós mesmos, é mais inteligente que ela seja usada para alegria. 

Comece se divertindo com a maneira pela qual o pensamento é processado. Note as nuances dos pensamentos, as voltas que eles fazem e como uma coisa leva a outra. É realmente um milagre a ser apreciado. Um pensamento mínimo pode levá-lo ao extremo mais distante e, se você olhar atentamente, não perceberá conexão alguma. 

Divirta-se com esse processo aleatório. Deixe o jogo rolar e jogue-o sem hesitação — você se surpreenderá com a insuspeita beleza da ausência de ação e de pensamento. De repente, você perceberá que um cão está latindo, mas sua mente continua em silêncio. Nenhuma corrente de pensamentos se inicia. Pequenas pausas surgirão... mas elas não devem ser criadas por você. É importante que elas surjam espontaneamente e, quando surgirem, serão belas. Esses pequenos intervalos permitem que você observe o observador. Mais uma vez os pensamentos surgirão e você se sentirá bem. Vá com calma, sem pressa. A consciência chegará a você naturalmente. 

Observar, apreciar e acompanhar o ritmo dos pensamentos é tão belo como apreciar o mar revolto. Pena que as pessoas não desfrutem as ondas em sua própria consciência com o mesmo prazer que observam as ondas do mar. 

OSHO

sábado, 20 de dezembro de 2014

A arte de meditar: soltar o macaco louco da mente


segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Viemos a comprovar o poder da observação sem escolhas

Não é possível parar o pensamento — não que ele não pare, só não é possível fazê-lo parar. Ele pára espontaneamente. É preciso entender essa diferença; do contrário você vai ficar maluco tentando perseguir a sua mente. 

A não-mente não surge quando você pára de pensar. Quando não existe mais o pensar, existe a não-mente. O próprio esforço para parar de pensar criará mais ansiedade, criará mais conflito, fará com que você fique dividido. Você viverá em constante tumulto interior. E isso não ajudará em nada. 

E, mesmo que você consiga forçá-lo a parar por alguns instantes, isso não será nenhuma conquista — pois esses instantes ficarão quase mortos, não estarão vivos. Você pode até sentir certa tranquilidade... mas não silêncio. Pois a tranquilidade forçada não é silêncio. Lá no fundo, nas profundezas do inconsciente, a mente reprimida continua em atividade. 

Portanto, não existe um meio de parar a mente. Mas a mente pára — isso é certo. Ela pára por livre e espontânea vontade. 

Então, o que fazer? — a pergunta é relevante. Observe. Não tente pará-la. Não é preciso fazer nada contra a mente. Para começar, quem iria fazer isso? Seria a mente brigando com ela mesma; você dividiria sua mente em duas: uma parte estaria tentando ser a chefe, a manda-chuva, estaria tentando matar a outra parte de si — o que é um absurdo. É um jogo idiota, pode levá-lo à loucura. Não tente deter a mente ou o pensamento. — só observe, de vazão a ele. Deixe a mente em total liberdade. Deixe-a vagar no ritmo que quiser; não tente de forma nenhuma controlá-la. Seja só uma testemunha

Ela é tão bela! A mente é um dos mecanismos mais belos que existem. A ciência ainda não foi capaz de criar nada como ela. A mente continua sendo uma obra-prima, tão complicada, com um poder tão grande, com tantas potencialidades! Observe-a! Aprecie-a! 

E não a vigie como se ela fosse um inimigo, pois, se você olhar para a mente como um inimigo, não conseguirá observá-la. Você já será preconceituoso, já estará contra ela. Já terá decidido que existe algo de errado com a mente — já terá chegado a uma conclusão. E sempre que você olha para uma pessoa como se ela fosse sua inimiga, você não olha profundamente, nunca olha dentro dos olhos; você a evita

Observar a mente significa olhar para ela com um amor profundo, com profundo respeito e reverência — ela é uma dádiva de Deus para você. Não existe nada de errado com a mente em si. Não há nada de errado com o ato de pensar. Trata-se de um lindo processo, assim como é todo processo.(...) Olhe a mente com profunda reverência. Não brigue com ela; ame-a. 

Observe as sutis nuances da mente, os volteios repentinos, os belos volteios. Os saltos e trancos, que ela dá, os jogos que continua fazendo; os sonhos que ela navega — a imaginação, a memória, as mil projeções que ela cria — observe! Ficando ali, afastado, um pouco distante, sem se envolver, paulatinamente você começa a sentir... Quanto mais atento você fica, mais profunda fica sua consciência; começa a haver lacunas, intervalos. Um pensamento vai, não vem outro, e surge uma brecha. Uma nuvem passa, outra está a caminho e surge um intervalo. 

Nesses intervalos, pela primeira vez você terá lampejos da não-mente. Você sentirá o gosto da não-mente (...) Nesses pequenos intervalos de repente o céu fica limpo e o sol brilha. De repente o mundo se enche de mistério, porque todas as barreiras vão abaixo; a tela nos seus olhos deixa de existir. Você vê com clareza, de modo penetrante. Toda existência fica transparente. 

No início, haverá apenas uns raros momentos, espaçados. Mas eles lhe proporcionarão vislumbres do que seja o samadhi. Pequenas porções de silêncio  elas virão depois irão embora, mas você saberá que está no caminho certo. Então você começa a observar novamente. Quando um pensamento cruza a sua mente, você observa; quando um intervalo, você o observa. As nuvens são bonitas; o brilho do sol também é tão belo. Agora você não faz escolhas. Agora você não tem uma mente fixa. Você não diz, "Gostaria que só houvesse intervalos". Isso é estupidez, pois, se se ficar apegado ao desejo de que só haja intervalos, você novamente terá decidido ficar contra o pensamento. E aí os intervalos desaparecerão. Eles só acontecem quando você está muito distante, afastado. Eles acontecem, não podem ser provocados. Eles acontecem, você não pode forçá-los a acontecer. São eventos espontâneos. 

Continue a observar. Deixe que os pensamentos venham e vão embora — para onde quiserem ir. Nada está errado! Não tente manipular nem dirigir nada. Deixe que os pensamentos sigam seu curso livremente. E, então, começarão a surgir intervalos cada vez maiores. Você será abençoado com pequenos satoris. Haverá ocasiões em que, por alguns minutos, não haverá pensamentos; não haverá trânsito nenhum — só um silêncio total, imperturbável. 

Quando começarem a surgir brechas maiores, começará a surgir uma nova lucidez. Você não terá somente lucidez para enxergar o mundo, você será capaz de enxergar seu mundo interior. Com os primeiros intervalos você enxergará o mundo — as árvores ficarão mais verdes do que parecem agora, você se verá cercado por uma música infinita, a música das esferas. Você subitamente estará na presença da santidade — inefável, misteriosa. Tocando você, embora você não consiga apreendê-la. Ao seu alcance e mesmo assim fora dele. Com os intervalos maiores, o mesmo acontecerá interiormente. Deus não estará apenas lá fora, de repente você ficará surpreso — ele está aqui dentro também. Ele não está apenas na coisa observada, ele está também no observador — dentro e fora. Pouco a pouco... 

Mas tampouco se apegue a isso. O apego é o alimento que faz com que a mente continue funcionando. O testemunho imparcial é o meio de detê-la sem fazer nenhum esforço. E, quando você começar a apreciar esses momentos de bem-aventurança, sua capacidade de conservá-los por períodos mais longos virá à tona. Finalmente, um dia você acaba se tornando senhor de si. A partir desse dia, quando quiser pensar, pensará; se o pensamento for necessário, você o usará. Se não for, você o deixará em repouso. Não que a mente tenha deixado de existir — ela existe, mas você tem a opção de usá-la ou não. Agora a decisão é sua, assim como a de usar as pernas; se quiser correr, você as usa; se não quiser, simplesmente fica onde está. As pernas estarão ali, à sua disposição. Da mesma forma, a mente estará ali também.

O S H O 

Da impotência à potência perante o fluxo dos pensamentos

A mente é apenas um processo. Na verdade, ela nem existe — só os pensamentos existem, pensamentos passando tão rapidamente que você pensa e sente que existe alguma coisa contínua ali. Um pensamento vem, outro vai, chega mais um e assim sucessivamente... a lacuna é tão pequena que você não consegue perceber o intervalo entre um pensamento e outro. Assim, dois pensamentos se agrupam, formam uma continuidade e por causa dela você acha que a mente existe. 

(...) Os pensamentos existem — a mente não existe; ela é só aparência. E, quando você olha a mente mais de perto, ela desaparece. Ficam os pensamentos, mas, quando a "mente" desaparece e só restam os pensamentos individuais, muitas coisas se dissolvem imediatamente. Logo de início você percebe que os pensamentos são como nuvens eles vêm e vão, e você é o céu. Quando não existe mente, surge imediatamente a percepção de que você deixou de se envolver com seus pensamentos — os pensamentos estão ali, passando por você como nuvens passando no céu, ou o vento passando entre as árvores. Os pensamentos estão passando por você e podem continuar passando, porque você é um IMENSO VAZIO. Não há nenhum obstáculo, nenhum impedimento. Não há muros para barrá-los; você não é um fenômeno fortificado. Seu céu é uma imensidão infinita para onde passam os pensamentos. E, depois que você começa a sentir que os pensamentos vêm e vão, e que você é um mero observador, uma testemunha, o domínio da mente é conquistado.

A mente não pode ser controlada, no sentido comum do termo. Em primeiro lugar, porque ela não existe, como você poderia controlá-la? Em segundo lugar, quem iria controlar a mente? Porque não existe ninguém por trás da mente — e, quando eu digo que não existe ninguém, quero dizer que não há ninguém por trás dela, só um vazio. Quem a controlará? Se alguém está controlando a mente, então se trata apenas de uma parte, um fragmento da mente, controlando outro fragmento dela. É isso o que o ego é. 

A mente não pode ser controlada dessa forma. Ela não existe e não há ninguém para controlá-la. O vazio interior pode ver, mas não controlar. Ele pode olhar, mas não controlar — mas o próprio olhar é que é o controle, o próprio fenômeno da observação, do testemunho, torna-se o domínio, pois a mente desaparece. 

(...) A mente nada mais é do que a falta da sua presença. Quando você se senta em silêncio, quando olha bem dentro da mente, ela simplesmente desaparece. Os pensamentos continuarão, eles existem, mas a mente não estará mais ali. 

Porém, quando a mente desaparece, você nota que os pensamentos não são seus. É claro que eles surgem, e às vezes ficam um tempinho em você, mas depois vão embora. Você talvez seja uma área de descanso, mas não é a origem dos pensamentos. Você já reparou que nem um único pensamento parte de você? Não brota de você nem um único pensamento; eles sempre vêm de fora. Não pertencem a você — sem casa, sem raízes, eles rondam por aí. Às vezes, eles descansam em você, isso é tudo; como uma nuvem que paira sobre uma montanha. Depois eles se vão por conta própria; você não precisa fazer nada. Se você simplesmente observar, você assume o controle. 

A palavra controle não é muito boa, pois as palavras nunca são muito boas. As palavras pertencem à mente, ao mundo dos pensamentos. Elas nunca são muito perspicazes, pois lhe falta profundidade. A palavra controle não é boa porque não existe ninguém para controlar, nem ninguém para ser controlado. Mas, de uma certa forma, ela ajuda a entender uma certa coisa que acontece: Quando você olha bem fundo dentro da mente, ela é controlada — de repente você passa a ser quem manda. Os pensamentos não vão embora, mas eles deixam de dominar você. Eles não podem fazer nada com você, simplesmente vêm e vão embora; você continua intacto como uma flor de lótus em meio a um aguaceiro. Gotas de chuva caem nas pétalas, mas acabam escorrendo sem afetá-las. O lótus continua intacto(...) Seja como o lótus, só isso. Permaneça intacto e você estará no controle. Continue intacto e você será o senhor de si mesmo.

(...) Centrar-se na consciência é dominar a mente. Por isso, não tente "controlar a mente" — a linguagem pode enganar você. Ninguém pode controlar, e esses que tentam controlar ficarão loucos; eles simplesmente ficarão neuróticos, pois tentar controlar a mente nada mais é que uma parte da mente tentando controlar outra.

(...) Só os fracos se preocupam com os pensamentos. Só os fracos se preocupam com a mente. As pessoas mais fortes simplesmente absorvem o todo e se enriquecem com ele. Os mais fortes simplesmente não rejeitam nada.

O S H O 

sábado, 6 de dezembro de 2014

Qual é a diferença entre testemunho e consciência sem escolha?

Qual é a diferença entre testemunho e consciência sem escolha? Testemunho é consciência sem escolha. Se você escolhe, você não está testemunhando; você gostou ou desgostou. Você escolheu, ficou identificado. 

Por exemplo, na sua mente existem alguns pensamentos se movendo. Testemunhar significa que você simplesmente fica ali percebendo que eles estão se movendo, como nuvens se movendo no céu ou o tráfego da estrada. Você não tem escolha alguma e não diz: "Isso é bom, deixe-me mantê-lo, e isso é mau, deixe que se vá."Se você falar dessa maneira, você não está testemunhando. Você está se envolvendo, se identificando, criando relacionamentos amor-ódio, e quando você se relaciona você não pode ser uma testemunha. Testemunho significa consciência sem escolha!

E o que é o estado de ser? Quando você não escolhe, as coisas são como elas são. A raiva passa por ali... então existe raiva. Há uma testemunha e a a raiva. Você não está com raiva; se escolher você está com raiva. Se você escolhe contra ela, você fica repressivo a ela. Você simplesmente observa. A raiva vem, a ambição vem, e elas passam por ali. Elas vê e vão e você observa e não escolhe. Assim, as coisas são como elas são! Você não dá valor, não diz que isso é superior e aquilo é inferior, isso é espiritual e aquilo é material, isso é pecado e aquilo é um ato muito sagrado. Você não faz qualquer avaliação; você abandona qualquer avaliação e simplesmente vê como um espelho, um espelho vazio. Seja lá o que passar, o espelho reflete. Isso é testemunhar. 

E o espelho nunca escolhe, pois ele não é uma chapa fotográfica. A chapa fotográfica simplesmente escolhe; ela é pega e capturada. O espelho permanece limpo: você passou e o espelho está novamente limpo e vazio. Na verdade, quando você estava passando, então também havia somente reflexo, mas o espelho não estava tendo nenhum conteúdo nele; era sempre um sombra, uma sombra passando. 

Quando você não escolhe, as coisas são como ela são. Esse é o estado de ser — isto é tathata

"Testemunhar" vem dos Upanixades — sakshi. Essa é a palavra usada pelos videntes dos Upanixades. "Consciência sem escolha" vem de Jiddu Krishnamurti — uma nova palavra para a mesma velha coisa. "estado de ser" é uma palavra budista, tathata; ela vem de Buda. Mas todas significam a mesma coisa! Não seja pego pelas palavras e não comece a ficar erudito através delas. 

Contudo, esses problemas surgem porque você nunca penetra em nenhuma prática, em nenhuma experiência. Tudo permanece teórico.

O S H O 


sábado, 23 de agosto de 2014

Para observar é preciso meditar?

Observar é meditação, e isso não significa que para observar temos de meditar. Observar é uma das coisas mais difíceis que há. Observar, por exemplo, uma árvore, é dificílimo, porque temos ideias, imagens relativas à arvore e essas ideias — conhecimentos botânicos, etc. — nos impedem e olhar a árvore. Observar sua esposa ou marido é mais difícil ainda, porque você também tem uma imagem relativa de sua esposa e ela tem uma imagem a seu respeito, e a relação existente é entre essas duas imagens. É o que em geral se chama "relações": dois conjuntos de lembranças, de imagens, em relação entre si. Veja quanto isso é absurdo. As relações que em geral temos são uma coisa morta. Observar significa, com efeito, estar consciente da interferência do pensamento; perceber como a imagem que você tem da árvore, da pessoa, do que quer que seja, intervém no ato de olhar. Observe como você se esquece do objeto que está olhando — a árvore, a pessoa; e veja porque o pensamento interfere, porque você tem uma imagem de tal pessoa. Por que você tem uma imagem de quem quer que seja? Aqui estamos, você e eu, a nos olhar — eu, o orador, e você, o ouvinte. Você tem uma imagem relativa do orador, infelizmente; mas eu, não lhe conheço, nenhuma imagem tenho de você e, por conseguinte, posso olhá-lo. Mas não posso olhá-lo se digo para mim: Vou servir-me desse ouvinte para alcançar poder, posição, explorá-lo, tornar-me um homem famoso — você sabe o resto — de todas as futilidades que os entes humanos cultivam. Assim, observar significa: observar sem a interferência de nosso fundo. Entende? Todo o nosso ser, que está a olhar, é o nosso fundo — cristão, francês, intelectual. Pela observação, descobre-se esse fundo; e observá-lo sem nenhuma escolha, nenhuma inclinação, é uma disciplina tremenda — não a absurda disciplina de ajustamento, de imitação. Essa observação torna a mente sobremodo ativa, sobremodo sensível. Isso em seu todo é meditação. Não se entenda, pois, que "para observar é preciso meditar", porém, antes, que é quando observamos, que todas as coisas sucedem. Isso, em seu todo, é meditação, e não um certo método de controle do pensamento, assunto que trataremos noutra ocasião.

Krishnamurti em, A essência da Maturidade

sábado, 2 de agosto de 2014

Observe, com distância, as manifestações da mente

Observe a ganância, observe o sexo, observe a cólera; a dominação, o ciúme. Uma coisa deve ser lembrada: não se identifique; simplesmente observe, torne-se um expectador. Geralmente, a qualidade de testemunha cresce e passa a ser capaz de notar todas as nuances da manifestação. São muito sutis. Você passa a ser capaz de ver o quanto são sutis as funções do ego, como são sutis duas formas. Não é uma coisa grosseira. É muito sutil e delicada e profundamente oculta. Quanto mais você observa, mais seus olhos se farão capazes de ver, mais perceptivos se tornarão e, quanto mais você ver, mais profundamente caminhará e maior distância se estabelecerá entre você aquilo que você faz. A distância ajuda porque, sem distância, não pode haver percepção. Como você pode distinguir uma coisa que está demasiado próxima? Se seus olhos estiverem tocando o espelho, como você poderá ver? Uma distância é necessária. E nada pode dar-lhe distância, a não ser o testemunhar. Tente e verá.

(...)A testemunha é um estranho. Por sua própria natureza, a testemunha nunca pode tornar-se alguém que está de dentro. Procure essa testemunha e, então coloque-se no topo da colina: tudo se passa no vale, sem que você tenha a menor participação. Você simplesmente vê: o que você tem com aquilo? É como se tudo tivesse se passando com outra pessoa.(...) Lembre-se, simplesmente, de uma coisa: você tem que ser um observador, porque, então, a identificação se romperá, então a raiz será cortada. E, desde que a raiz seja cortada, de vez que você descubra que você não é aquele que atua, tudo se modifica de repente. E a modificação É SÚBITA, NÃO HÁ GRADUAÇÃO NELA.

(...) No momento em que você corta a raiz da mente, a identificação, a SAMSARA, tomba com ela, todo o mundo se desmorona como um castelo de cartas. Basta uma pequena brisa de consciência, e toda a casa cai. De súbito, você está ali; não mais no mundo pois você transcendeu. Você pode viver da mesma maneira antiga, porque você já não é antigo. É um ser perfeitamente novo — isso é um renascimento. Os hindus o chamam DWIJ, duas vezes nascido. Um homem que a isso chegou é duas vezes nascido; a Iluminação é um segundo nascimento: o nascimento da alma. Isso é o que Jesus quer dizer quando fala em ressurreição. A ressurreição não é o renascimento do corpo, é um novo nascimento da consciência.

O S H O

quinta-feira, 13 de março de 2014

Simplesmente feche seus olhos e observe os pensamento

Simplesmente feche seus olhos e observe os pensamento.
O que acontece?
Os pensamentos estão aí dentro, mas você não está.
O observador sempre está além.
O observador sempre está no alto da montanha.
Todas as coisas se movem o redor, mas o observador está além.
O observador nunca está dentro, não pode nunca ser o de dentro - ele está sempre fora.
Observar significa estar fora.
Pode chamar esse fenômeno de testemunho, de percepção, de consciência, ou seja lá do que quiser, mas o segredo é: observe!

Assim, sempre que sentir que sua cabeça está demais, sente-se sob uma árvore e observe, não tente sair.
Quem sairá? - não há ninguém dentro.
Como você pode sair?
Pode continuar tentando e tentando, e ir se envolvendo cada vez mais.
Pode até ficar louco, mas nunca sairá.
Uma vez que você sabe que num momento de vigilância está além, transcendendo - já está fora.
A partir desse momento, está sem cabeça.
A cabeça pertence ao corpo não a você.
A cabeça faz parte do corpo, pertence ao corpo, tem uma função no corpo.
Ela é bela, é boa.[...]

Uma vez que você sabe que, observando, está fora, fica acéfalo.
Anda por esta terra sem nenhuma cabeça.
Que beleza de fenômeno!
Um homem andando sem cabeça. 
É este o significado quando digo: torne-se uma nuvem branca - um fenômeno acéfalo.
Você não pode imaginar quanto silêncio pode descer ao seu encontro quando a cabeça não está presente.
Sua cabeça física estará presente, mas o envolvimento, a obsessão não estará.
A cabeça não é o problema!
Ela é bela, uma criação maravilhosa, o maior computador já inventado - algo tão complexo, um mecanismo tão eficiente.
Ela é linda.
Deve ser usada, e você pode alegrar-se em usá-la.
Mas de onde tirou a idéia de que está dentro dela?
Isto parece ser um falso ensinamento.[...] 
Qual é a realidade?
A realidade é: você está além.
[...]

Observe...
E quando observar, lembre-se de que enquanto estiver observando, não deve julgar.
Se julgar, a observação será perdida.
Enquanto observar, não avalie.
Se avaliar, a observação será perdida.
Enquanto observar, não condene.
Se condenar, perderá o ponto.

Enquanto observar, apenas observe...
seja um rio fluindo, deixe a corrente da consciência fluir, permita que os pensamentos atômicos flutuem como bolhas e fique sentado na margem observando.
O curso continuará e continuará.
Não diga isto é bom, não diga isto é mau, não diga que isto não deveria ter acontecido, não diga que aquilo deveria ter acontecido.
Não diga nada - simplesmente observe.
Não queira criticar.
Você não é um juiz - é apenas um observador.
E veja o que acontecerá.
[...]

Observando o rio, de repente, você estará além... 
E uma vez que sabe que está fora, pode permanecer fora.
Pode mover-se nesta terra sem a cabeça.
Este é o jeito de cortar a cabeça.
Todo o mundo está interessado em cortar a cabeça dos outros -
isto não auxilia em nada.
Você já fez isso demais.
Corte a sua mesma.
Seja acéfalo, e estará em profunda meditação.

O S H O

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Por que observar o tédio, a insatisfação e a solidão?

Quando nos observamos, observamos os seres humanos.
Eu gostaria agora, se me permitem, de abordar o problema de nós mesmos nos observarmos. Quando nos observamos, não estamos nos isolando, ou nos limitando, ou nos tornando centrados em nós mesmos, porque, conforme explicamos, nós somos o mundo e o mundo é nós. Isso é um fato. E quando nós, como seres humanos, examinamos todo o conteúdo da nossa consciência, de nós mesmos, estamos realmente investigando o ser humano como um todo — quer ele viva na Ásia, na Europa ou na América. Então, não se trata de uma atividade autocentrada. Quando nos observamos, não estamos nos tornando egoístas, centrados em nós mesmos, nos tornando cada vez mais neuróticos, desequilibrados; ao contrário, quando nos olhamos, estamos examinando todo o problema humano da desgraça, do conflito, bem como tudo quanto de aterrador o homem produziu para si mesmo e para os outros. Assim, é muito importante compreender este fato: nós somos o mundo e o mundo é nós. Você pode ter maneirismos superficiais, tendências superficiais, mas, na essência, todos os seres humanos, por toda parte deste mundo desafortunado, estão acometidos de angústia, de confusão, de agitação, de violência, de desespero, de agonia. Há então um espaço comum, sobre o qual todos nós nos encontramos. Assim, quando nos observamos, observamos os seres humanos.

Krishnamurti — Saanen, 13 de julho de 1976

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Pode haver consciência sem observador?

Pergunta: Pode haver consciência sem observador?

Chögyam Trungpa: Sim, porque o observador é apenas paranoia. Podemos ter abertura completa, uma situação panorâmica, sem precisar discriminar entre dois lados, "eu" e "outro". 

P: Esta consciência implicaria em sentimento de felicidade completa?

Chögyam Trungpa: Creio que não, porque essa felicidade é uma experiência muito individual. Você é independente e vive a sua felicidade. Quando o observador se vai, não há avaliação da experiência em termos de prazer ou dor. Quando você tem consciência panorâmica sem a avaliação do observador, a bem-aventurança se torna irrelevante pelo simples fato de não haver ninguém que a esteja experimentando.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

É possível observar sem a palavra?

A revolução interior ou psicológica implica uma transformação completa, não só da mente consciente mas também da inconsciente. Pode-se facilmente modificar o padrão externo da sua existência, ou da sua maneira de pensar. Você pode deixar de pertencer a qualquer igreja que seja, ou pode abandonar uma igreja para ingressar noutra. Pode pertencer ou não pertencer a determinado partido político ou grupo religioso. Tudo isso pode facilmente ser modificado pelas circunstâncias, por seu medo, por seu desejo de maior recompensa, etc. A mente superficial pode ser facilmente modificada, porém, muito mais difícil é efetuar uma alteração no inconsciente — e é aí que se encontra o nosso problema. E o inconsciente não pode ser alterado pelo anseio, pelo desejo, pela vontade. Temos de abeirar-nos dele negativamente.

O examinar negativamente a totalidade da consciência implica o ato de escutar; implica perceber os fatos sem interferência de opiniões, juízos, condenação. Por outras palavras, requer pensar negativo. A maioria de nós, por educação e experiência,, está acostumada a ajustar-se, a obedecer, a seguir autoridades estabelecidas — autoridades morais, éticas, ideológicas. Mas o que aqui estamos examinando exige que não haja autoridade de espécie alguma; porque, assim que o indivíduo começa a INVESTIGAR, já nenhuma autoridade existe. Cada momento é um descobrimento. E como é possível a mente descobrir quando está sujeita à autoridade. A suas anteriores experiências? Assim, pois, o pensar negativo significa devassar nossas crenças assertivas, dogmáticas, nossas experiências, ansiedades, esperanças e temores; significa ver tudo isso negativamente, isto é, sem o desejo de alterá-lo ou transcende-lo, porém, observando-o simplesmente, sem avaliação.

Observar sem avaliação significa observar sem a palavra. Não sei se você já tentou alguma vez olhar uma coisa sem a palavra, o símbolo. A relação das palavras com aquilo que elas descrevem constitui o pensamento, o qual é reação da memória; e olhar um fato, SEM palavras, é olhá-lo sem a intervenção do pensamento.

Experimente-o, uma vez. Ao sair daqui, nesta manhã, olhe para as montanhas com seus capuzes de neve, ou ESCUTE aquele rio, sem nenhum pensamento — o que não significa estar dormindo. Não significa olhar com a mente “em branco”. Ao contrário, olhar uma coisa sem a intervenção do pensamento requer que você esteja totalmente desperto. E esta é uma tarefa árdua, porquanto você está condicionado, desde a infância, para julgar, para avaliar. Estamos condicionados pelas palavras... através dessa cortina de palavras olhamos e escutamos; por isso, nunca vemos, nunca ouvimos.

Eis porque é tão importante libertarmo-nos da escravidão às palavras. Tome-se a palavra “Deus”. Temos de ficar completamente livres dessa palavra, principalmente se nos considerarmos pessoas religiosas ou espirituais; porque a palavra não é a coisa. A palavra “Deus” evidentemente não é Deus; e para se compreender o que seja essa extraordinária entidade, temos de ficar livres da palavra — o que significa ficar interiormente livre de todas as influências e associações decorrentes dessa palavra. Isso, por sua vez, não implica crer ou descrer; implica que não se deve pertencer a nenhuma religião, nenhum sistema organizado de pensamento. Só então temos a possibilidade de descobrir por nós mesmos se algo existe além das palavras, além das medidas da mente.


Jiddu Krishnamurti — O homem e seus desejos em conflito 

sábado, 21 de setembro de 2013

Como libertar o pensador dos seus pensamentos?

Krishnamurti: Que é pensamento? Pensamento é reação a uma condição, o que significa que o pensamento é a reação da memória; e como pode a memória, que representa o passado, criar o eterno?

Auditório: Não dizemos que a memória o cria, porque a memória é uma coisa privada de lucidez.

K: Ela é inconsciente, subconsciente, surge por si mesma, involuntariamente. Estamos agora procurando averiguar o que entendemos por pensamento. Para compreenderem esta pergunta, não consultem um dicionário, consultem a si mesmos. Que entendem por pensar? Quando dizem que estão pensando, que estão realmente fazendo? Estão reagindo. Estão reagindo através da memória do passado de vocês. Ora, que é memória? É experiência, é a acumulação da experiência de ontem, quer coletiva, quer individual. A experiência de ontem é memória. Quando nos lembramos de uma experiência? Por certo, só quando ela não se completou. Tenho uma experiência, e esta experiência fica incompleta, inacabada, e deixa marca. Essa marca eu chamo memória, e a memória reage a um novo estímulo. Essa reação da memória a uma estímulo é chamada pensar.

Auditório: Mas onde fica impressa a marca?

K: No “eu”. Final de contas, o “eu”, o “meu”, é o resultado de todas as lembranças, coletivas, raciais, individuais, etc. Esse feixe de lembranças é o “eu”, e esse “eu”, com sua memória, reage. Essa reação é chamada pensamento.

Auditório: Por que essas lembranças se reúnem em feixe?

K: Através da identificação. Reúno todas as coisas numa bolsa, consciente ou inconscientemente.

Auditório: Há então uma bolsa separada da memória.

K: A memória é a bolsa.

Auditório: Por que as lembranças se mantêm coesas?

K: Porque são incompletas?

Auditório: Mas as lembranças não têm existência, permanecem em estado de inércia, a não ser que exista alguém que as suscite.

K: Em outras palavras, aquele que se lembra é diferente da memória? Aquele que se lembra e a memória são duas faces da mesma moeda. Sem a memória não existe o que se lembra, e sem o que se lembra não existe memória.

Auditório: Porque persistimos em separar o percepiente da percepção, o que se lembra da memória? Não está aí a raiz da nossa dificuldade?

K: Nós o separamos, porque o que se lembra, o experimentador, o pensador, se torna permanente pela separação. As lembranças são obviamente transitórias; por isso o que se lembra, o experimentador, a mente se separa, porque deseja permanência. A mente que faz esforço, que luta, que escolhe, que é disciplinada, não pode evidentemente encontrar o real; porque, como dissemos, por esse mesmo esforço ela se projeta e sustenta o pensador. Pois bem, como libertar o pensador dos seus pensamentos? É isso o que estamos discutindo. Porque, o que quer que ele pense, tem de ser resultado do passado e, por conseguinte, ele cria deus, cria a verdade, com a memória, e isso, evidentemente, não é o real. Em outras palavras, a mente se move sem cessar do conhecido para o conhecido. Quando a memória funciona, a mente só pode mover-se dentro do campo do conhecido; e, movendo-se dentro do campo do conhecido, nunca poderá conhecer o desconhecido. Nosso problema, portanto, é de como libertar a mente do conhecido. Todo esforço para nos libertarmos do conhecido é prejudicial, porque o esforço vem do conhecido. Todo esforço, portanto, deve cessar. Já tentaram permanecer sem esforço? Se compreendo que todo esforço é fútil, que todo esforço constitui uma projeção adicional da mente, do “eu”, do pensador, se percebo a verdade disso, que acontece? Se percebo muito distintamente, numa garrafa, o rótulo “veneno”, não toco nela. Não há esforço algum para não sermos atraídos por ela. Identicamente — e aí está a maior dificuldade — se compreendo que todo esforço de minha parte é prejudicial, se percebo a verdade disso, fico livre do esforço. Qualquer esforço de nossa parte é prejudicial, mas não temos certeza disso, porque queremos um resultado, porque visamos uma realização — e essa é a nossa dificuldade. Por esta razão ficamos a lutar, a lutar, a lutar. Mas Deus, a verdade, não é um resultado, uma recompensa, um fim. Ele deve vir a nós, por certo, pois não podemos ir a ele. Se fazemos um esforço por alcança-lo, isso significa que buscamos um resultado, uma consecução. Mas, para que venha a verdade, precisa um homem estar passivamente consciente. O percebimento passivo é um estado no qual não existe esforço; significa perceber sem julgar, sem escolher, não em algum sentido determinado, mas em todos os sentidos; significa estarmos conscientes de nossas ações, nossos pensamentos, nossas reações relativas, sem escolha, sem condenação, sem identificação ou negação, para que a mente comece a compreender cada pensamento e cada ação, sem julgamento. Isso suscita outra questão: pode haver compreensão sem pensamento?

Auditório: Pode, de certo, se somos indiferentes a uma coisa qualquer.

K: Senhor, a indiferença é uma forma de julgamento. Uma mente embotada, uma mente indiferente, não é lúcida. Perceber sem julgamento, saber exatamente o que está ocorrendo, é lucidez. É vão, portanto, procurar Deus ou a verdade sem estarmos lúcidos agora, no presente imediato. É muito mais fácil irmos a um templo, mas isso constitui uma fuga para o domínio da especulação. Para compreendermos a realidade, precisamos conhece-la diretamente, e a realidade, evidentemente, não está no tempo e no espaço; ela está no presente, e o presente é o nosso próprio pensamento, a nossa própria ação,

Jiddu Krishnamurti — Novo acesso à vida – 4 de julho de 1948   

 
 

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

A Verdade resultante da busca não é Verdade

Pergunta: conforme pensa, assim se torna o homem. Não é essencial que saibamos uma forma de não ficarmos à mercê de nossos pensamentos maus e incontroláveis?

Krishnamurti: Em primeiro lugar, o interrogante começa citando a frase: "conforme pensa, assim se torna o homem". Não é um fato muito curioso esse — de que não sabemos pensar diretamente num problema? Temos citações e mais citações, em apoio de nossas teorias — citações do Bhagavad-Gita, de Marx, Sankara, Churchill ou Mau-Tsé-Tung. A nossa mente é incapaz de observar e experimentar qualquer coisa diretamente. Essa sabedoria de empréstimo nos destrói a capacidade de descobrirmos a Verdade por nós mesmos.

(...) A mente de vocês está inibida, tolhida; e uma mente inibida é incapaz de ser livre. Apenas é livre a mente que compreende achar-se tolhida; então há possibilidade de fazer-se alguma coisa. Uma mente que diz: "não estou inibida", "estou repleta de conhecimentos", "estou recheada de citações das ideias dos outros" — é incapaz do descobrimento daquilo que é Real. O homem de tal mentalidade vive num nível "de segunda mão".

Agora, a segunda parte da pergunta é: "não é essencial que conheçamos uma forma de não ficarmos à mercê de nossos incontroláveis pensamentos?" Nesta pergunta duas coisas se compreendem. Diz ele: "como posso manter-me livre dos pensamentos maus e incontroláveis?" Preste muita atenção a isto, porque é importantíssimo; pois, se puderem realmente perceber o significado, se puderem penetrar as palavras, descobrirão algo.

(...) Existe o pensador, a entidade separada do pensamento, separada dos pensamentos maus e incontroláveis? Tenham a bondade de observar a própria mente de vocês. Dizemos: "há o 'eu', que deseja permanecer separado dos maus pensamentos, dos pensamentos instáveis, erradios". Isto é: há o "eu" que diz: "este é um pensamento extravagante", "esta é uma ação má", "isto é bom", "isto é mau", "preciso controlar este pensamento", "preciso reter este pensamento". É isso o que sabemos. A pessoa, o "eu", o pensador, o juiz, a entidade que julga, o censor, é diferente de tudo isso? O "eu" é diverso do pensamento, da inveja, do que é mau? O "eu" que se diz distinto de uma coisa má está sempre lutando para sobrepujá-la, dominá-la, lutando para tornar-se alguma coisa. Vocês têm, pois, esta luta, este esforço de banir os pensamentos e de "não ser extravagante".

No próprio "processo" do pensar criou-se este problema do esforço. Compreendem? É então que nasce a disciplina, o controle, por parte do "eu", do pensamento mau; o esforço do "eu" para tornar-se não invejoso, não violento, para ser isto ou aquilo. Vocês criaram, pois, deveras, o processo do esforço, no qual figuram o "eu" e a coisa que ele está controlando. Este é o fato real de nossa existência diária.

Ora bem, o "eu" que está observando, o observador, o pensador, o agente é diferente da ação, do pensamento, da coisa que observa? Temos dito, até agora, que o "eu" difere do pensamento. Consideremos, pois, esta coisa: "o pensante difere do pensamento?" Diz o pensante: "meus pensamentos são erradios, maus; por conseguinte, devo controlá-los, moldá-los, discipliná-los". Nesse processo criou-se o problema do esforço e a fórmula negativa "não ser". (...) Como disse, criamos o esforço sob formas distintas — de negação e afirmação; tal é a nossa vida de cada dia.

Mas, existe alguma diferença entre o pensador e o pensamento? Investiguem isso. Há diferença? Isto é, se não pensassem, existiria um "eu"? Se não houvesse pensamento, ideia, memória, experiência, existiria o "eu"? Vocês dizem ser, o "eu", a entidade superior, a coisa que está acima do pensamento a guiar-lhes e governar-lhes. Pois bem, se dizem isso, tornem a considerá-lo; não o adotem. Se dizem tal coisa, então essa mesma entidade que pensa a respeito do Atman, continua compreendida na esfera do pensamento. Toda coisa suscetível de ser pensada está na esfera do pensamento. Isto é, quando penso a respeito de você, no nome próprio que sei, quando lhe conheço, você já se encontra na esfera do meu pensamento, não é verdade? Meu pensamento, está, por conseguinte, em relação com sua pessoa. Assim, pois, o Atman, ou "eu superior", ou qualquer palavra que preferirem, está sempre na esfera do pensamento. Vemos, pois, há sempre uma relação entre o pensador e o pensamento; eles não constituem dois estados separados, mas um processo unitário.

Há, pois, tão-somente, pensamento, o qual se divide, a si mesmo, em duas partes — pensador e pensamento, atribuindo ao pensador a superioridade. Esse pensamento cria o "eu", que se torna permanente, porque, na verdade, é este o estado a que ele aspira: a segurança, a permanência, a certeza, — nas relações, com minha esposa, meu filho, minha sociedade; sempre o desejo de inalterável certeza. O pensamento é desejo; por conseguinte, o pensamento, o desejo, buscando a certeza, cria o "eu". E o "eu", então, se fecha na permanência e começa a dizer: "preciso controlar os meus pensamentos, preciso banir tal pensamento e adotar tal pensamento" — como se esse "eu" tivesse existência separada. Se observarem, verão que o "eu" não é separado do pensamento. Aí se faz sentir a importância de se experimentar realmente essa coisa, de que o pensador é o pensamento. Esta é a meditação verdadeira: o descobrir como a mente está sempre produzindo a separação do pensador e do pensamento.

Interessa-nos o processo total do pensar, e não o "eu", querendo observar o pensamento, o "eu" que cria, que domina, subjuga e sublima pensamentos. Só há um único "processo": o pensar. O pensamento que declara "esta é minha casa" é inspirado pelo desejo de segurança, nessa casa. Identicamente, quando dizem "minha esposa", esse pensamento implica segurança. Vemos, pois, que o "eu" ganha superioridade, na certeza. Não há senão um processo, que é o pensar, pois não há "eu" separado do pensamento.

Nessas condições, ao reconhecerem esse fato, ao apresentar-se esta percepção, esta compreensão, que acontece aos pensamentos erradios, instáveis, a saltitarem por todos os lados, como borboletas ou macaquinhos? Quando já não existe censor, quando já não há nenhuma entidade que diz "preciso controlar o pensamento" — que acontece?... Existe então "pensamento errático"? Entendem? Não há mais nenhuma entidade operando, julgando; por conseguinte, cada pensamento é um pensamento, de per si, e não deve ser comparado e declarado bom ou mau. Por conseguinte, não há divagação ou instabilidade.
Só há pensamento erráticos, quando o pensamento diz "estou divagando; não devo fazer aquilo; devo fazer isto". Quando não há o pensador, a entidade que quer controlar o pensamento, então o que nos interessa é só o pensamento, tal qual é, e não como deveria ser. E descobrirão então quanto é belo observar, na sua realidade, cada pensamento e a respectiva significação; porque, então, não há mais pensamento errático. Eliminem definitivamente o problema do esforço, pois não se pode alcançar a Realidade por meio de esforço; o esforço tem de cessar, para que a Realidade possa apresentar-se. Vocês devem ser receptivos. Não se trata de recompensa ou castigo. Não se trata de recompensas por suas boas ações. A sociedade interessa a respeitabilidade de vocês; porém, para a Verdade, não.

Para que a Verdade possa existir, o pensamento deve estar em silêncio. Não deve estar o pensamento em busca de recompensa ou punição, e nem ter pretensões. Só nesse estado de espírito, em que não há busca, é possível manifestar-se a Verdade. A Verdade resultante da busca não é Verdade nenhuma; não é senão uma voz projetada do "eu", traduzindo-lhe a ambição de preenchimento. Assim, pois, ao perceberem tudo isso, ao perceberem na sua inteireza o quadro em que se mostra como a mente opera, não há então pensamento para controlar ou disciplinar; todo pensamento tem então sua importância; há a observação do pensamento, com o pensamento no papel de observador que observa o pensamento, coisa essa dificílima de experimentar-se, uma vez que requer uma extraordinária lucidez e tranquilidade de espírito. Todo pensamento é resultado da memória — da memória que não é mais do que um nome. Porque, em verdade, nós pensamos com palavras; seu pensamento é produto ou "projeção" da memória; a memória se constitui de imagens, símbolos e palavras. Portanto, enquanto houver aquela "projeção", haverá pensamento. Um homem interessado em compreender o pensamento deve, por conseguinte, compreender todo o processo da sua produção: dar nome, lembrar-se, reconhecer. Só então há possibilidade da mente tornar-se, totalmente tranquila. Essa tranquilidade vem com a compreensão. Pode então a Verdade dispensar ao indivíduo as suas bençãos, chegar-se a ele, libertá-lo de todos os seus problemas; somente aí surge o ente criador — que não é o homem que pinta quadros, escreve poemas ou trabalha dez horas por dia.

Jiddu Krishnamurti — Autoconhecimento — Base da Sabedoria 

domingo, 15 de setembro de 2013

A imagem é diferente de seu criador?

(...) Não nos interessam opiniões. Elas só podem servir para dissertações dialéticas. E nós estamos tratando de coisa inteiramente diferente. Estamos interessados no processo total do viver; esse processo, como se pode observar, está sempre criando imagens a respeito de nós mesmos e de outros — imagens que se formam através da experiência, através do conflito. A essa imagem ora se adiciona, ora se subtrai algo, mas o fator central daquela energia criadora das imagens é constante. Temos alguma possibilidade de superá-lo? Estamos conscientes da existência, dentro de cada um de nós, de uma imagem de nós mesmos, consciente ou inconsciente? Quer dizer, uma pessoa pode ter de si a imagem de uma entidade superior ou de um ente sem capacidade, ou de uma entidade agressiva, orgulhosa — enfim, todas as nuanças e sutilezas de que pode constituir-se tal imagem. Sem dúvida nenhuma, cada um possui essa imagem de si próprio. Nós a temos mesmo em plena juventude (pois a idade nada tem a ver com isso) e, com o passar dos anos, ela se vai consolidando e cristalizando cada vez mais... até não haver mais remédio.

Estamos conscientes dessa imagem? Se estamos, QUEM é a entidade que se torna consciente da imagem? Compreendem? A imagem é diferente de seu criador? (...) Entendem? Posso ver que tenho uma imagem de mim mesmo: sou isto e sou aquilo; um grande homem ou um homem insignificante; meu nome é conhecido ou desconhecido, enfim toda a estrutura verbal e não verbal que se ergue em torno de mim, consciente ou inconscientemente. Percebo que essa imagem existe, se presto atenção, se me ponho vigilante. E observador que a percebe sente-se diferente dela. Não é isso o que está ocorrendo? (...) E o observador começa então a dizer, de si para si, que a imagem é o fator responsável pela deterioração e que, portanto, terá de destruí-la a fim de alcançar um resultado superior — rejuvenescer a mente, etc. — Compreendendo que essa imagem é o fator de deterioração, faz um grande esforço para libertar-se dela.(...) Ele (o observador) luta, explica, justifica, acrescenta; esforça-se para transformá-la numa imagem melhor; transfere-a para uma dimensão diferente, uma diferente parte do campo a que chama "vida". O observador, pois, ou se empenha em destruir a imagem, ou em acrescentá-la, ou ultrapassá-la. É o que estamos fazendo a todas as horas. E nunca nos detemos para investigar se o observador não é o criador da imagem e, por conseguinte, ele próprio a imagem. Assim, uma vez compreendido esse fato, — não verbal porém realmente —isto é, que o observador é o criador da imagem e, com sua ação, não só destrói a imagem que então tem de si próprio, mas também cria outra imagem e continua a criar imagens, indefinidamente, lutando, esforçando-se, controlando, alterando, ajustando; uma vez claramente compreendido que o observador é a coisa observada, cessam todos os esforços para alterar ou transcender a imagem.

(...) Assim, ao perceber-se que o observador é o criador de imagens, todo o nosso processo de pensar passa por uma enorme mudança. E, portanto, a imagem é o conhecido, não? Podem não estar conscientes dela; podem não estar conscientes de seu conteúdo, de sua forma, de suas peculiares nuanças, sutilezas — mas essa imagem, quer dela estejamos conscientes, quer não, se encontra no campo do conhecido.

(...) Enquanto a mente, em seu todo — ou seja, a mente, o cérebro e o corpo — estiver funcionando no campo da imagem, que é o conhecido — do qual podemos estar conscientes ou não — nesse campo estará sempre o fator de deterioração.

(...) O problema é se a mente — que é o resultado do tempo, psicológico e cronológico, resultado de milhares de experiências, de inúmeras tensões e pressões, do conhecimento técnico, da esperança, do desespero, de tudo o que passa o ente humano, das inúmeras formas de medo — o problema é se a mente funciona sempre dentro desse campo, desse campo do conhecido. Emprego a palavra "conhecido" compreendendo, inclusivamente, o que pode existir dentro daquele campo e que ainda não observaram; isso também é conhecido. É esse o campo em que a mente funciona: sempre o campo do conhecido. O conhecido é a imagem criada pelo intelecto ou por pensamentos sentimentais, emocionais, românticos — pensamentos de toda espécie. Enquanto suas atividades, seus pensamentos, seus movimentos estiverem confinados no campo do conhecido (onde se processa a criação das imagens), é inevitável a deterioração, não importa o que se faça. Temos, assim, a questão: É possível esvaziar a mente do conhecido? (...) Essa pergunta — se é possível livrar-nos do conhecido — já deve ter sido feita, vagamente ou com um propósito definido, porque todos sofremos, temos ansiedades e vagos pressentimentos dessa possibilidade. Estamos agora a fazê-la como uma pergunta que tem de ser respondida, como um desafio a que se tem de reagir — não a um desafio exterior, porém um desafio interior, psicológico.

(...) pode-se ver muito claramente que só há compreensão, ação, quando a mente está totalmente quieta. Isto é, digo que compreendo ou que vejo uma coisa com muita clareza quando a mente está de todo silenciosa. Você diz-me algo que me agrada ou desagrada. Se me agrada, presto alguma atenção; se não, nenhuma atenção lhe dou. Ou eu ouço o que você está dizendo e traduzo-o de acordo com minha idiossincrasia, minha inclinação, justificando, etc. etc. Não o escuto, absolutamente. Ou me oponho ao que você diz, porque tenho uma imagem de mim mesmo, e essa imagem reage.(...) Desse modo, eu não ouço nem escuto. Oponho objeções; discordo; torno-me agressivo. Mas tudo isso, evidentemente, me impede de compreender. Eu desejo compreender-lhe. Entretanto, só posso compreender-lhe se nenhuma imagem tenho de você. E, se me é completamente desconhecido, um estranho, nenhum interesse tenho no que você diz; não quero, sequer, compreender-lhe, porquanto você está completamente fora da órbita de minha imagem: não estou em relação com você. Mas, se você é um amigo, um parente, meu marido, minha mulher, etc., tenho a respectiva imagem; e a imagem que de mim você tem e a que tenho de você — essas imagens estão em relação entre si. Todas as nossas relações se baseiam nisso. Vê-se muito claramente que é só quando a imagem não interfere — imagem na forma de conhecimento, pensamento, emoção, etc. — que posso olhar, que posso ouvir, que posso compreender. Isso ocorre com todos nós. Quando, após discutir, argumentar, demonstrar, etc., a sua mente se torna de súbito quieta e você percebe o fato, diz: "Agora sim, compreendi!" — Essa compreensão é ação, e não ideia.

(...) Quando o observador é a imagem e, por conseguinte, nenhum esforço faz para alterar ou aceitar a imagem, e só existe o fato — O QUE É —, então, a observação desse fato opera radical transformação do próprio fato. Isso só pode verificar-se quando o observador é a coisa observada. Não há nada de misterioso nisso. O mistério da vida está acima de tudo isso — da imagem, do esforço, da atividade centralizada, egocêntrica, subjetiva. Existe um imenso campo e, nele, uma certa coisa que jamais pode ser encontrada através do conhecido. E o "esvaziar" da mente só pode verificar-se não verbalmente, quando não há observador nem coisa observada. Tudo isso exige imensa atenção e percebimento, que não é concentração.

(...) Há percebimento quando a pessoa observa (e isso qualquer um pode fazer) não só as coisas exteriores, a árvore, o que os outros dizem, o que ela própria pensa, etc., mas também quando observa interiormente, sem escolha. Quando observa simplesmente, sem escolha alguma. Porque a pessoa só escolhe quando há confusão, e não quando há clareza.

Só há percebimento quando não há escolha; ou ao estarmos conscientes de todas as escolhas e desejos contraditórios e da tensão respectiva: no observarmos todos os movimentos da contradição. Quando se sabe que o observador é a coisa observada, não há nesse processo escolha alguma, porém, tão-só, observação do que É, e isso difere inteiramente da concentração. Esse percebimento produz uma atenção de tal qualidade que não há observador nem coisa observada... Nesse estado de atenção há silêncio. Produz essa atenção um extraordinário estado de renovação, de juvenilidade, estado em que a mente se torna vigorosa, completamente nova. Esse "esvaziar" da mente de todas as experiências que teve é meditação.

(...) A meditação é um processo que exige muita energia; não é simples ocupação para gente velha, que nada tem que fazer. Requer intensa e continuada atenção. Acharão então, por vocês mesmos... não, não acharão nada: não se está procurando nenhuma experiência, não há nada para achar. Quando a mente está totalmente quieta, não por qualquer espécie de sugestão, de hipnotismo ou qualquer outro método — nessa total quietação há um estado, uma dimensão diferente, que o pensamento jamais tem possibilidade de imaginar ou de experimentar. Ela se encontra acima de toda busca. Já não há buscar. A mente toda iluminada não busca. Só aquela que está na obscuridade, confusa, busca permanentemente e espera achar alguma coisa. E o que acha é sempre resultado de sua confusão.


Jiddu Krishnamurti — A importância da Transformação

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill