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sábado, 14 de fevereiro de 2015

A constatação de uma realidade ridícula, patética

É impressionante o nível de alienação mental das pessoas "bem informadas" ou tidas como dotadas de "grandes conhecimentos". Todos querem saber de tudo que se passa na terra, nos mundos espirituais e nos mundos cósmicos. Querem saber das energias que constituem a vida, nos mais diversos níveis possíveis. Alguns carregam bibliotecas inteiras na memória, como perfeitos computadores humanos. Todos apresentam-se com grande abertura para a "aquisição" de conhecimento. Uma espécie bestamente programada para consumir, assim como adquire geladeiras e celulares para depois jogarem fora, adquire novos conhecimentos para depois serem desprezados e substituídos por outros “mais modernos”. Para viciados no consumo, tudo vira consumo.

Mas para uma coisa vivem completamente fechados, como a ostra em sua concha – para o fundamento de si mesmos, em si mesmos. O que sou eu, afinal de contas?

Sabem de tudo e investigam tudo o dia inteiro, mas quando de se trata de descobrir a "si mesmo intrinsecamente", fogem, como foge o diabo da cruz.

Afinal das contas, quem detém o conhecimento e dá valor a ele? Quem inventa o conhecimento? A mente. O que é a mente? Onde está a mente? A vida que me dá vida vem de mim ou de algo fora de mim? Existe algo entre mim e eu mesmo, no sentido mais simples, profundo e intrínseco possível?

O que é isso que existe aqui na forma de um corpo e pensamentos cogitando outros mundos e outros níveis de consciência? O que é a consciência, afinal? Como a criança inocente que cucuta a cobra com uma varinha curta, querem mexer no que pensam que é consciência.

Se há seres espirituais e extra-terrestres, a vida que os faz vivos também vem de seu ser intrínseco, por qualquer que seja sua forma, por mais sutil ou “elevada” que seja.

Fica clara a constatação de uma realidade ridícula, patética feita de medo e fugas, onde tanto eles (os seres espirituais e extra-terrestres) fogem de si mesmos para cá, como nós fugimos de nós mesmos para lá.

É ridículo!

domingo, 30 de novembro de 2014

É fácil evitar a sociedade, mas como evitar o próprio ego?

Conhecer a si mesmo é a coisa mais difícil. Não deveria ser assim. Deveria ser exatamente o oposto — a coisa mais simples. Mas não é — por muitas razões. Tornou-se tão complicado, pois você investiu tanto na auto-ignorância que parece quase impossível retornar, voltar à fonte, encontrar a si mesmo.

Toda a sua vida, tal como ela é, como é aprovada pela sociedade, pelo Estado, pela Igreja, está baseada na auto-ignorância. Você vive sem se conhecer, porque a sociedade não quer que você se conheça. É perigoso para a sociedade. Um homem que conhece a si mesmo está destinado a ser rebelde. O conhecimento é a maior das rebeldias — quer dizer, o autoconhecimento, não o conhecimento acumulado através das escrituras, não o conhecimento encontrado nas universidades, mas o conhecimento que acontece quando você encontra o seu próprio ser, quando chega a si mesmo na sua nudez total; quando você se vê como Deus o vê, não como a sociedade gostaria de vê-lo; quando você vê o seu ser natural, no seu florescimento total e virgem — não o fenômeno civilizado, condicionado, educado, polido. 

A sociedade está interessada em fazer de você um robô, não um revolucionário, porque o robô é mais útil. É fácil dominar um robô; é quase impossível dominar um homem de autoconhecimento. Como se pode dominar um Jesus? Como se pode dominar um Buda ou um Heráclito? Ele não cederá, não obedecerá ordens. Ele se moverá através de seu próprio ser. Será como o vento, como as nuvens; ele se moverá como os rios. Será selvagem — naturalmente belo, natural, mas perigoso para a falsa sociedade. Ele não se ajustará. A menos que criemos no mundo uma sociedade natural, um Buda continuará sendo sempre um desajustado, um Jesus certamente será crucificado. 

A sociedade quer dominar; as classes privilegiadas querem dominar, oprimir, explorar. A sociedade gostaria que você permanecesse completamente inconsciente de si mesmo. Esta é a primeira dificuldade. E a pessoa tem de nascer numa sociedade. A sociedade está em toda parte, à sua volta. Parece realmente impossível — como escapar? Como encontrar a porta que leva de volta à natureza? Você está cercado de todos os lados. 

A segunda dificuldade vem do seu próprio ser — porque você também gostaria de oprimir, de dominar; você também gostaria de possuir, de ser poderoso. Um homem de autoconhecimento não pode  ser escravizado, e também não pode escravizar ninguém. Não se pode oprimir um homem de conhecimento e um homem de conhecimento não pode oprimir ninguém. Ele não pode ser dominado e não domina. A dominação simplesmente desaparece nessa dimensão. Você não pode possuí-lo e ele não possui ninguém. Ele é livre e ajuda os outros a serem livres. 

Esta é uma dificuldade ainda maior do que a primeira. Você pode evitar a sociedade, mas como evitar o próprio ego? Você sente medo — porque um homem de conhecimento simplesmente não pensa em termos de posse, de domínio, de poder. É inocente como uma criança. Ele gostaria de viver totalmente livre, e gostaria que os outros também estivessem livres.

Esse homem será uma liberdade aqui neste mundo de escravidão. Você gostaria de não ser explorado? Sim, você responderá, você gostaria de não ser explorado. Gostaria de não ser um prisioneiro? Sim, você gostaria de não ser um prisioneiro. Mas gostaria também da outra coisa? — de não prender ninguém? Não dominar, não oprimir, não explorar? Não matar o espírito, não transformar o outro num objeto? Isso é difícil. E lembre-se: se você quiser dominar, você será dominado. Se você quiser explorar, você será explorado. Se você quiser que alguém seja seu escravo, você será escravizado. Os dois lados pertencem a mesma moeda. Esta é a dificuldade do autoconhecimento.

O S H O 

sábado, 20 de abril de 2013

Para além da normose

PARA ALÉM DA NORMOSE
"As emoções destrutivas ligadas à cultura, matam em nós mesmos a harmonia e a paz de nossa sabedoria primordial".
Pierre Weil
O poder castrador de nossa sociedade não é de ordem sexual, como afirmava Freud, mas sim, espiritual e seu nome é: normose - a patologia da normalidade. Ela impõe a sociedade, uma cultura do sucesso, sendo que o fracasso e o ostracismo são uns dos maiores medos do normótico, que busca por segurança em estados temporários e ilusórios, nos objetos exteriores, em conquistas e sucessos efêmeros não sabendo que a verdadeira segurança é uma condição subjetiva, resultado de uma experiência transpessoal, que se revelará de forma espontânea e natural no momento do despertar da verdadeira consciência. O desastre é eminente para o normótico que faz depender a sua segurança das parafernálias externas e não da paz da vida interna, a qual não depende das circunstâncias da vida externa. O normótico vive fazendo investimentos e seguros para sua vida, mas não investe na espiritualidade, sendo esperto por alguns momentos, mas um tolo a longo prazo, pois leva muito tempo para ele constatar que o acúmulo de riquezas, prestígio e poder é apenas uma troca, e não o fim, da sua falta de segurança. Em sua busca insana pela segurança financeira, o normótico perde sua saúde para depois pagar de bom gosto tudo o que conquistou para ter novamente sua saúde física, mental e emocional. Na tentativa de conquistar a "pseudo-segurança" para a sua vida, o normótico esquece de vivê-la e como resultado vive num desespero silencioso, precisando às vezes chegar ao topo da escada do sucesso, para amargamente descobrir que a mesma estava encostada na parede errada. É justamente neste desespero silencioso que uma fração de sanidade pode romper as paredes da normose e levá-lo ao questionamento do tipo: Espelho, espelho meu, será que algum dia eu já vivi?


O NORMÓTICO: Um entediado anônimo



O normótico, ou se preferir, o entediado anônimo - é vítima de um estado de conflito interior prolongado. Na tentativa de anestesiar a dor resultante desse conflito interior, das esperanças frustradas e dos sonhos abortados, injeta "novocaína" - o anestésico do novo - em muitos aspectos da sua personalidade. Ele não sente nada de maneira vívida: nem alegria, nem tristeza, nem esperança, nem desespero. As coisas acontecem, mas ele não as registra pois é preciso muita coragem para se permitir sentir. É alguém que vive num eterno confinamento solitário causado por suas crenças disfuncionais; alguém que se trancou numa rotina solitária e engoliu a chave. Alguém que vive uma vida unilateral e morre em estado imperfeito. Não possui a consciência de que a Grande Vida lhe deu uma alma, uma mente e um corpo, os quais deve procurar desenvolver de forma harmônica. Vive dominado pelas influências do sistema de crenças do modismo social permitindo que a sociedade continue lhe impondo suas ilusões por meio de um fortíssimo esquema de marketing que o bombardeia de forma brutal durante as 24 horas do seu dia a dia. Não possuí a coragem de virar a mesa contra o clichê social e assumir a responsabilidade pela sua maneira de pensar e pelo controle de sua vida. Não fica difícil constatar os resultados desse caótico modo de viver: medos, preocupações, paranóias, estresse, insatisfação, descontentamento e toda espécie de somatização oriunda de uma pseudofelicidade. Não consegue perceber que sem satisfação interior, nenhum acúmulo de sucesso exterior consegue trazer felicidade e segurança duradoura. Como Adão e Eva, vive exilado do jardim das delícias da unidade consciente com Deus, pela ação da serpente do conformismo, tornando-se com isso, um ser limitado devido ao crédito dado ao sistema de crenças do clã a que pertence.

O normótico opta por uma forma de pensar pelo simples fato de muitas pessoas optarem por ela ou por constar de algum livro que a sociedade considera como sagrado; não consegue avaliar por si mesmo sobre a questão e ajuizar se ela é razoável ou não. Para ele, se prender as velhas rotinas consagradas pela sociedade, é muito mais seguro do que se aventurar ao Aberto. É aquele cujo desejo mais profundo ainda dorme, mas que teme a ação perigosa de acordar. É como um cavaleiro que perdeu o domínio da carruagem e é arrastado pelos cavalos dos instintos degenerados. Vive atrelado à matéria, com o Ser ainda fechado para o que é eterno, caminhando sobre uma corda bamba, em chamas, pronta para arrebentar. Não possuí a consciência de que não é um ser material com necessidades espirituais ocasionais; mas sim, um ser espiritual com necessidades materiais ocasionais. Prefere a pseuda-paz do conformismo social do que a angústia da busca pelo seu vir-a-ser. Passa a maior parte de sua vida com um sentimento de vazio e falta de propósito tão grande, que é como se faltasse uma parte de si mesmo. Sem que se perceba, muito do que faz o leva cada vez mais para a sensação de vazio interior. Procura preenchê-lo com acúmulo de dinheiro e matéria, com prestígio e reconhecimento profissional, chegando muitas vezes a extremos como o excesso de comida, bebida, sexo ou até mesmo às drogas. Quanto maior é o seu desespero em ocupar esse vazio interior, mais vazio se sente. Em nenhum momento, lhe ocorrer que essa sensação de ausência possa ser de natureza espiritual, muito embora, esse conhecimento lhe chega de varias maneiras. Somente quando a dor chega ao seu extremo que ele começa a olhar para dentro de si e a buscar por algumas práticas espirituais, através das quais, finalmente, pode encontrar o verdadeiro conceito de objetivo e plenitude.

Normose: Uma fábrica de clichês



Boa parte dos normóticos está limitada pela identificação corporal. Não possuem a consciência de que é justamente esse tipo de limitação sem fundamento que os mantém longe de qualquer possibilidade de estados alterados de consciência. O normótico, quando não há nada para fazer, pensa em todas as possibilidades de atividades, menos, tentar se sentar e experiênciar o Ser; é alguém que sofreu a ferroada do não ser, a dor de uma vida não vivida, das estradas não exploradas, dos riscos não sofridos, das pessoas não amadas, dos pensamentos não realizados e dos sentimentos não apreciados. Sua normose é fruto do resultado do pecado da omissão. É alguém que passa muito de seu tempo se iludindo, deliberadamente, criando álibis para encobrir suas fraquezas e que não possui a consciência de que se utilizasse seu tempo de maneira diferente, esse mesmo tempo seria suficiente para curar seus defeitos de caráter e imperfeições, de modo que então não seriam necessários os álibis.

O normótico vive principalmente para si próprio e sua família. Em raríssimos casos existe qualquer visão mais elevada do que essa. Poucos são capazes até mesmo de dar um olhar em direção aos pedintes que vem em sua direção nas paradas do trânsito. Quase toda sua experiência é a de viver para si mesmo e sua família, com apenas um minúsculo fragmento deixado para os outros.

Quanto a mensagens de cunho espiritual, as rejeita por medo de que suas verdades possam lhe convencer e ter, então, de abandonar seu modo de vida disfuncional com suas conseqüentes zonas de conforto. Devido a esse tipo de medo, vive sob a custódia de uma elite dominante da mesma forma como o gado está sob os cuidados dos boiadeiros. Não raro são às vezes em que se obriga a fazer coisas das quais se envergonha, alegando quando descoberto, que está cumprindo com o seu dever; é um ser que sofre devido à alienação e desconexão com o Ser que o faz ser. Em nome da aceitação condicionada por parte das pessoas significativas de sua vida, negligencia a si mesmo, abandonando-se e fechando-se para o mundo devido ao medo de ser exposto à vergonha tóxica e a dor da solidão, tendo como resultado dessa atitude, o desenvolvimento da incapacidade de amar de forma incondicional.



O normótico é aquele que se conforma em ouvir sobre Deus, rezar para Deus e pela espera de um encontro com Deus no próximo mundo: alguém que não consegue sair da crença para ousar pela busca da experiência. Não tem a percepção espiritual, que torna Deus uma realidade demonstrável; está convencido de que Deus é uma necessidade, mas ainda não está convencido de Deus. Prefere se agarrar na concepção oriunda da experiência pessoal de Deus vinda de terceiros. Vive preso a um ciclo compulsivo de hábitos, comportamentos e relacionamentos profissionais e/ou afetivos mesmo que seus prazos de validade estejam vencidos e repetidamente se mostrando disfuncionais. Sua falta de sinceridade para consigo mesmo é uma das maiores e mais potentes barreiras do processo de vir-a-ser. A insinceridade corrói a integridade de sua Alma e destrói o fortalecimento da razão. Vive aprisionado a um modismo social que determina um comportamento padronizado dentro de uma sociedade mecanicamente padronizada e com isso, autoboicota todo seu potencial criativo. Se ao menos soubesse da existência de um estilo de vida imensamente mais rico e profundo do que toda essa existência apressada - dotada de serenidade, paz e poder, sem pressa - se soubesse como a vida interior é realmente poderosa, não hesitaria nem um instante em abandonar todas as coisas que barram seu caminho para ir em direção a ela e assim constatar por si mesmo, que tudo aquilo que a normose tem para lhe oferecer para beber é tão somente um copo d´água salgada, cujo propósito é o de lhe deixar ainda mais sedento.


Normose: um substituto para o sofrimento genuíno.


Segundo Sri-Aurobindo:
"Os homens caçam pequenos sucessos e maestrias triviais dos quais se retiram exaustos e enfraquecidos; enquanto isso, toda a infinita força de Deus no universo espera em vão para colocar-se a seu dispor".

Há muitas pessoas que se tornam neuróticas porque são exclusivamente normóticas, como há aqueles que são neuróticos porque não podem ser normóticos. Já afirmava Jung, que todos nós nascemos originais e morremos cópias.

O normótico vive infeliz, devido ao fato de pensar só em si mesmo, no que deseja, no que gosta, em qual o respeito que os outros lhe devem dar. Com essa maneira de ser, consegue estragar tudo o que toca; fazendo uma miséria com tudo que Deus coloca em seu caminho. Não se faz necessário um grande estudo para se constatar a veracidade dessa afirmação. Basta uma boa olhada na incidência do alcoolismo, do consumo de drogas, do sexualismo compulsivo e do suicídio em nossa sociedade contemporânea para ver a falência relativa da normose. Como nos dizeres de Paramahansa Yogananda, Tarthang Tulku, Paul Brunton e Krishnamurti:

"As pessoas tentam encontrar felicidade em bebida, sexo e dinheiro, mas as páginas da história estão repletas de relatos de suas decepções. O tempo que passei meditando tornou minha vida inconcebivelmente rica. Mil garrafas de vinho não produziriam a alegria que a meditação me deu. Nessa alegria encontra-se a orientação consciente da sabedoria de Deus" - Paramahansa Yogananda.

"Quaisquer que sejam as nossas propensões ou crenças, não podemos escapar de uma consciência cada vez mais aguda da nossa insatisfação. Quando olhamos em volta, vemos poucos sinais de verdadeira felicidade. Mesmo os ricos enfrentam problemas com o tédio, e são incapazes de encontrar satisfação permanente em seus bens ou na busca da realização de seus desejos. Sucesso social ou profissional não traz necessariamente contentamento; uma vida de muita luta e competição geralmente produz problemas complexos e, por fim, grande exaustão". Tarthang Tulku - Conhecimento da Liberdade - Ed. Dharma

"Pode chegar uma hora em que o homem se canse de todos os círculos sociais, da incessante e indigna competição profissional e do mundo dos negócios, e deseje afastar-se de tudo isso - uma hora em que ele comece a ver através das futilidades, superficialidades e estupidez que lhe são próprias. Que outro recurso podem tentar ter, depois de tentar os caminhos comuns - bebida, sexo, drogas ou religião -, além da busca?" - Paul Brunton - A Busca - Ed. Pensamento

"Nossas aquisições são um meio de encobrirmos o nosso próprio vazio; nossas mentes são como tambores ressonantes, batidos pelas mãos de cada um que passa e produzindo muito barulho. Esta é a nossa vida, o conflito gerado pelas fugas que nunca satisfazem, e por nossas crescentes misérias". Krishnamurti - O Verdadeiro Objetivo da Vida - Ed. Cultrix

Do mesmo modo que a moderna produção em massa requer a padronização das mercadorias, a normose também requer a padronização do homem, e o conformismo a essa espécie de padronização é chamada de "normalidade". Na verdade, por medo do abandono e da solidão, o normótico se conforma com essa "normalidade" num grau muito mais alto do que seja forçado a se conformar. Erick Fromm já alertava anteriormente para os motivos geradores desse conformismo. Segundo ele:

"... a união com o grupo é a forma preponderante de superar o estado de separação. É uma união em que o eu individual em larga medida desaparece e em que o objetivo é pertencer ao rebanho. Se sou como todos os outros, se não tenho sentimentos ou pensamentos que me tornam diferente, se me conformo em matéria de usos, roupas e idéias, ao modelo do grupo, então estou salvo - salvo da terrível experiência da solidão...Todo homem, por natureza, possui no mais profundo de si mesmo, o conhecimento da verdade, mas que, no decorrer de seu desenvolvimento pessoal, com relação ao ambiente e a sociedade, é obrigado a "removê-lo", perdendo, desta maneira, sua sensibilidade e sua capacidade de perceber a realidade profunda das coisas".. Erick Fromm

A mediocridade da normose tecnológica e industrial



"Não importa o quanto às pessoas estejam insatisfeitas com as suas vidas, elas continuam a fazer exatamente o que eles sempre fizeram. Elas nunca param para pensar como poderiam por um fim em seus problemas. Ao invés disso, elas apenas reclamam, culpam seus maridos ou esposas, seus patrões, o governo ou a atualidade....A maioria das pessoas vive em sua personalidade exterior comum e ignorante que não se abre facilmente ao Divino; mas há um ser interior dentro delas, do qual elas não sabem, que pode se abrir facilmente à Verdade e à Luz. No entanto há uma parede que as separa dele, uma parede de obscuridade e não-consciência. Quando ela desmorona, então há uma libertação." Sri Aurobindo - La Sintesi dello Yoga - Vol. II

"Hoje, mediocridade virou padrão. Se você for ver quem são as pessoas mais ricas na MPB, todos são músicos medíocres, e por quê? As empresas, as gravadoras que tornaram essas pessoas ricas também ficaram ricas. Então, uma rádio, que não passa de uma rádio comercial, uma televisão comercial, uma gravadora, que não passam de uma fábrica de goiabada ou de sabão em pó, estão aí para faturar. Preservar valores culturais não tem o menor sentido para esse pessoal. O negócio deles é o balancete no final do mês, quanto saiu e quanto entrou. Se está no verde, tudo bem. Se entrou no vermelho, tira todo o mundo e muda tudo. Vender, vender, vender. Eles vão atrás de quem está comprando. Quem está comprando? É o jovem e o povão. Então, é para esse público que eles estão direcionados. Aí eu repito: a maior parte dos Estados do Brasil já se entregou à banalização, à superficialização da arte." - Ivan Lins - Jornal A NOTICIA

Existe no normótico uma resistência de ordem espiritual, que é uma recusa de crescer, de frutificar, de se transformar, uma recusa constante de se entregar a uma Vontade Superior, a qual faz com que se conforme com sua condição humana e se recuse a experiênciar Deus em si mesmo.

Por não vivenciar essa experiência de unicidade interior, não consegue superar a identificação ilusória de separatividade. Vê-se como um ser separado de si mesmo, dos outros seres humanos e do próprio Universo. Esse tipo de posicionamento normótico diante da sua própria existência leva-o a mediocridade...

"A mediocridade processa idéias como um triturador, misturando tudo numa massa uniforme, eliminando nuances, detalhes, sabores, cores, transformando tudo numa coisa só, na maioria das vezes, cinza. E sempre com o respaldo de um líder, de uma tese, de uma idéia". Luciano Pires - Brasileiros Pocotó

Essa mediocridade faz com que o normótico permita a existência de um sistema tecnológico industrial imediatista e inconseqüente, isento de uma genuína responsabilidade social. Podemos encontrar respaldo para esta afirmação neste texto de Sogyal Rinpoche:

"A sociedade moderna é em larga escala um deserto espiritual em que a maioria imagina que esta vida é tudo o que existe. Sem qualquer fé autêntica numa vida futura, a maioria das pessoas vive toda a sua existência destituída de um sentido supremo... crendo basicamente que esta vida é única, as pessoas do mundo moderno não desenvolveram uma visão a longo prazo. Assim, nada as refreia de saquear o planeta em que vivem para atingir suas metas imediatas, e agem com um egoísmo que pode tornar-se fatal no futuro". Sogyal Rinpoche - O livro Tibetano do Viver e do Morrer - Pág. 25

Ainda no mesmo livro, encontramos um texto de José Antonio Lutzenberger, que demonstra que a total insensatez da normose industrial:

..."a sociedade industrial é uma religião fanática. Estamos derrubando, envenenando e destruindo todos os sistemas vivos do planeta. Estamos assumindo dívidas que nossos filhos não poderão pagar... Agimos como se fôssemos a última geração do planeta. Sem uma mudança radical no coração, na mente, na visão, a Terra se extinguirá como Vênus, calcinada e morta".

A nova tecnologia é uma espécie de arte circense de inventar necessidades desnecessárias que se tornam absolutamente imprescindíveis e que leva o normótico de forma inconsciente, a um modo de vida estressado, apressado, rotineiro, excessivamente barulhento e repleto de "novidades". Mal possuí tempo para respirar ou para aprender a usar o "novo" lançamento da tecnologia. Quando ele esta quase se acostumando com seu uso, o mesmo já se tornou obsoleto e "novamente" se permite ser bombardeado pela mídia da "novocaína". Dentro desse ritmo frenético e consumista, não sobra muito tempo para o questionamento da real necessidade dos mesmos. O resultado é sempre igual: a mídia lhe impulsiona com as promessas de satisfação, fazendo com que o normótico entre num processo compulsivo que só termina quando consegue conquistar a sua "nova droga de escolha". Digo droga, pois este modo consumista tem como função primordial lhe anestesiar temporariamente do seu estado de monotonia e falta de sentido existencial. Preso a este ciclo vicioso, o normótico corre o risco de nunca tomar a consciência de que somente por meio de uma experiência transpessoal, que transpasse os seus sentidos, poderá ter removida a grande monotonia que sente e quem sabe assim, perceber a urgente necessidade de buscar por uma prática espiritual, que preencha as verdadeiras necessidades de sua alma. Como nos dizeres de Paul Brunton:

"Neste país, os homens estão mais ansiosos para melhorar suas fábricas do que a si mesmos. Aceitam suas próprias imperfeições com complacência e satisfação, mas as imperfeições de seus automóveis - nunca! Entretanto, qual é a utilidade de correrem de um lugar a outro nesta terra se nem mesmo sabem por que estão aqui... Usamos todos os momentos possíveis para cultivar os campos incertos do comércio ou flores efêmeras do prazer, mas somos incapazes de reservar um momento para cultivar os campos seguros do espírito dentro de nós ou as artemísias duradouras da devoção divina".
Do livro: A BUSCA - Ed. Pensamento

Fica claro para mim, que enquanto o normótico se deixar arrastar pelos apelos da mídia, da tecnologia e da moda e não optar por uma simplicidade voluntária, (ver Simplicidade Voluntária - de Duane Elgin - Ed. Cultrix), nunca saberá por experiência própria, o que vem a ser a verdadeira realização pessoal e muito menos, tomar consciência da natureza e finalidade de sua existência. Ele precisa tomar consciência que, na essência dos apelos da tecnologia e da moda, sempre haverá um componente de incerteza e de insegurança. Somente quando chega a um ponto de saturação em relação aos ditames da sociedade, somente quando percebe que suas conquistas tecnológicas, alegria e suas amizades são todas superficiais, pode estar apto para iniciar seu processo de "desnormotização" através de um aprendizado de uma nova maneira de viver. Encerro este tópico com um texto de Tarthang Tulku:


"Em toda parte do mundo as pessoas passam a vida sonhando em desenvolver-se espiritualmente, sem jamais fazer muita coisa nesse sentido. Neste país, sobretudo, é preciso muita força de vontade para que alguém se desenvolva interiormente. Somos apanhados na competição pelas vastas reservas não exploradas de poder, que a tecnologia moderna colocou a nossa disposição. Nós vivemos sob intensa pressão para nos conformarmos com as regras e as restrições da nossa sociedade urbana "civilizada". A estrutura está enraizada de tal maneira que, se não nos conformarmos ser-nos-á difícil sobreviver. Assim, muitos de nós nos sentimos constrangidos embora sejam poucas as pessoas capazes de tomar a decisão de mudar suas vidas e menos ainda os que têm o poder de fazê-lo."

A normose educacional

"A verdadeira educação é aquela que conduz à liberação". Shrii Shrii Anandamurti

A normose é fruto de um sistema educacional que não ensina ao ser humano a arte de viver, de amar incondicionalmente, a arte de meditar e muito menos a arte de morrer. Nosso sistema de educação não é educacional, muito pelo contrário, é um sistema fragmentário, reducionista e formador de uma normose da especialização competitiva, onde os valores do ser são "normalmente" substituídos pelos valores de códigos obsoletos do ter que tem a função de tornar o ser humano uma outra pessoa, alguém que não pode ser. Para elucidar, gosto de citar uma frase do Psicólogo, Antropólogo e Escritor, Roberto Crema, seguida de outro pensamento de Tarthang Tulku:

"a especialização é um tipo de modelagem para a alienação e nós temos que encarar os fatos. A definição que eu lapidei ao longo de muitos anos mais própria do que seja um especialista: "É uma pessoa um pouco exótica, que sabe quase tudo de quase nada, dotado de uma certa imbecilidade funcional, que aprendeu a fazer um cacoete, que aprendeu a apertar um parafuso,que tem uma viseira, que se orgulha da unilateralidade de visão e de ação e que perdeu desgraçadamente a visão da inteireza".

"A educação formal nos ajuda a fazer melhores escolhas para nossa vida, mas não oferece garantia alguma de que nossas escolhas não nos levarão ao sofrimento. Depois de muitos anos de experiência, talvez consigamos finalmente reconhecer onde se encontram as nossas maiores promessas de satisfação. A vida é a nossa maior mestra, mas suas lições são geralmente aprendidas tarde demais, e à custa de muito sofrimento". Tarthang Tulku - Conhecimento e Liberdade - Ed. Dharma

Justamente pelo fato de aceitar esses códigos obsoletos é que muitos normóticos acabam desenvolvendo a neurose. Desde o primeiro dia de vida, as pessoas estão sendo treinadas para serem condicionadas ao sistema de crenças em que nasceram. Isso é conveniente para a elite dominante. Esse condicionamento normótico reduz o ser humano a um estado de fragmentação e retardamento mental. Desde a mais tenra idade, o ser humano é educado para viver num sistema que não lhe permite o questionamento, a dúvida, e um ser humano que não é capaz de duvidar, de questionar, de dizer "não", de forma alguma poderá ser capaz de potencializar os seus talentos e ser ele mesmo; viverá de aparências e quem vive de aparências, só aparentemente vive. Por não ousar sair da limitação imposta pelo sistema em que vive e se aventurar no Aberto, no desconhecido, o normótico não consegue de forma alguma, potencializar os seus talentos, sua criatividade, se fechando assim, para toda possibilidade de expansão da própria alma. É natural que sua vida, com o passar dos dias, entre numa dolorosa rotina e falta de sentido. Swami Muktananda formulava de tal forma este ponto de vista:

"Durante muitos anos você esteve acumulando as impressões do mundo. Esteve enchendo a sua mente e coração com a noção de que é pequeno, que é fraco, que é pecador. Aprendeu estas coisas de seus professores, de sua sociedade e de todos os livros sagrados de diferentes religiões e passou a acreditar neles. Pensava a seu respeito como uma criatura limitada, aprendeu a ver pecado no Ser puro. Como resultado, você vem nadando num oceano de sentimentos limitados - desejos e anseios, apego e aversão, raiva e ciúme. Agora a sua mente e coração tornaram-se tão nublados e embotados, que você não pode ver a luz do Ser e, mesmo quando alguém lhe diz que você é o Ser, você não consegue aceitar. Por isso você precisa fazer sadhana (prática espiritual) Sadhana é o meio pelo qual você pode tornar seu coração puro e forte o bastante para reter o conhecimento da verdade".

O que acontece é que o normótico não consegue ter a consciência que por detrás dessa busca desenfreada por segurança e status, o que inconscientemente procura é pelo preenchimento de sua sede de plenitude. Esse tema já foi explorado de forma brilhante pela escritora Christina Grof, em seu livro editado pela Editora Rocco, intitulado Sede de Plenitude - Apego, Vício e o Caminho Espiritual. Podemos confirmar este ponto de vista, nos pensamentos de um outro grande escritor e poeta da espiritualidade, Paramahansa Yogananda:

"Em tudo que buscamos - dinheiro e prazeres sensórios - estamos, na verdade, procurando Deus. Somos garimpeiros de diamantes que descobrem, em vez disso, pedacinhos de vidro brilhando ao sol. Atraídos por esses vidrinhos e momentaneamente ofuscados por eles, esquecemo-nos de continuar procurando os diamantes autênticos, muito mais difíceis de achar... O homem é como um fantoche. Os cordéis de seus hábitos, emoções, paixões e sentidos comandam a dança. Amarram sua alma. Quem não quer ou não pode cortar os cordéis para conhecer Deus, não O encontrará... Precisamos ser capazes de renunciar a tudo para conhecê-Lo: "Buscai, primeiro, o reino de Deus, e todas essas coisas vos serão acrescentadas."...Você deve conceber Deus como a necessidade prioritária de sua vida. Quebre as algemas da limitação, dos hábitos obscuros e da rotina diária, mecânica... Queridos, já fui como vocês, andei pela Terra procurando a verdade e a felicidade, mas tudo que prometia alegria me deu sofrimento, e voltei-me então para Deus. Cada um deve descobrir a própria divindade e conquistar para si próprio o reino de Deus".

A normose exerce sobre a massa da sociedade uma espécie de hipnose refletida na busca do status por meio de um materialismo grosseiro, apoderando-se de sua energia vital como uma sanguessuga no corpo. Essa hipnose faz com que o normótico não se dê conta da sabedoria contida nas sábias palavras de Jean Jacques Rosseau: "Obtém-se tudo, tendo dinheiro, menos, bons costumes e bons cidadãos".

Para o normótico a vida espiritual é uma espécie de mito ou um motivo de chacotas; ele apresenta as mais absurdas espécies de desculpas para não iniciar uma prática espiritual ou para não continuá-la se a iniciou, achando-a enfadonha, vazia ou demasiada cansativa e não é raro, vê-lo fazer comentários e piadinhas de mau gosto em relação àqueles que vivem uma busca espiritual. Transcrevo abaixo, textos de alguns autores espiritualista que elucidam bem a ação dessa forma de hipnose materialista:

"Aqueles que se encontram demasiado absorvidos pelos encantos de uma cobiça excessiva, pelos tórridos vapores das paixões desordenadas ou pelo turbilhão das atividades incessantes, talvez desdenhem dessa disciplina, tachando-a de vaga e insípida. Paciência! Mas assim como a vida termina por triunfar (embora secretamente) sobre a morte, assim também a vida espiritual com todo o seu desenvolvimento e riqueza terminará por triunfar ostensivamente sobre o materialismo sem alma dos nossos dias". Paul Brunton - A Busca do Eu Superior - Ed. Pensamento

"Às vezes penso que a maior aquisição da cultura moderna é sua brilhante promoção do samsara e suas estéreis distrações. A sociedade moderna me parece uma celebração de todas as coisas que nos afastam da verdade, fazendo difícil viver para ela e desencorajando as pessoas até mesmo de acreditar que ela existe... Esse samsara moderno alimenta-se de ansiedade e depressão que ele próprio fomenta, e para as quais nos treina e cuidadosamente nutre com um mecanismo de consumo que precisa manter-nos ávidos para continuar funcionando. O samsara é altamente organizado, versátil e sofisticado. Investe sobre nós de todos os lados com sua propaganda, criando à nossa volta uma cultura de dependência quase inexpugnável. Quanto mais tentamos escapar, mais nos sentimos enredar nas armadilhas que ele tão engenhosamente nos prepara..." Sogyal Rinpoche - O livro Tibetano do Viver e do Morrer - Pág. 41

"...Hoje, o homem tornou-se tão materialista que ele teme qualquer experiência, exceto a dos sentidos. Ele acredita que somente aquilo que ele pode experimentar por meio dos sentidos é uma experiência verdadeira, e que aquilo que não é experimentado por meio dos sentidos é alguma coisa desequilibrada, alguma coisa que deve ser temida; isso significa penetrar em águas profundas, algo anormal, pelo menos um caminho inexplorado. Com muita freqüência o homem teme cair num transe, ou ter um sentimento que é incomum, e pensa que aqueles que vivenciaram tais coisas são fanáticos que perderam a razão. Mas não é assim. O pensamento pertence à mente, o sentimento, ao coração. Por que alguém deveria acreditar que o pensamento está certo e o sentimento, errado?" Sufi Hasrat Inayat Khan - O Coração do Sufismo - Ed. Cultrix

"Ao trabalhar com tantas pessoas diferentes ano após ano, ouvi jovens e idosos expressarem os mesmos sentimentos. Muitos são aqueles que, apesar de riqueza, educação e sucesso profissional, estão insatisfeitos com suas vidas, e sentem uma profunda fome interior que não sabem como saciar... Debaixo da superfície próspera das nossas vidas, ainda experimentamos frustração e confusão, ansiedade e desespero. Dentro das nossas sociedades, mesmo os mais afortunados têm pouca esperança de liberação completa da frustração e insatisfação". Tarthang Tulku - Conhecimento da Liberdade - Ed. Dharma

Fica portanto, claro para mim, que a normose, resultado de um viver egocêntrico, é uma das maiores barreiras ao desenvolvimento espiritual, e tem como função primordial, frustrar a abertura dos olhos de nossa alma e o conhecimento de sua natureza imortal.

Normose tem cura para quem procura

"Ninguém precisa se envergonhar de estar mental e emocionalmente doente, pois é a coisa que normalmente acontece com os que fazem parte da grande massa, isto é 95% da população. E fazer parte dos 5% restantes pode até dar uma sensação de isolamento". Livro Bronze da Irmandade de N/A - Neuróticos Anônimos

Quando o normótico começa a tomar consciência da sua verdadeira natureza e do significado da sua existência, observa-se uma aceleração do seu processo evolutivo. E isso ocorre porque o mesmo começa a colaborar com o impulso evolutivo e a se tornar consciente, sentindo cada vez mais forte e irresistível a premência de reencontrar a realidade de si mesmo capaz de lhe proporcionar a Unidade interna necessária para a conquista de um modo de vida equilibrado, efetivo e feliz.

O processo de recuperação da normose, num primeiro momento, inclui um minucioso e destemido questionamento quanto ao atual sistema de crenças, a coragem de recusar a submissão às mesmas que se mostrarem disfuncionais e obsoletas, o destemor dos resultados da opinião social a seu respeito e a coragem suficiente para rejeitar as idéias religiosas bem como os costumes de terceiros e um questionamento destemido e minucioso quanto aos padrões que se encontram subjacentes às insatisfações pessoais, e descobrir o que esta limitando a realização e o prazer de viver. Traz consigo a responsabilidade de buscar por idéias avançadas capazes de suplantar sua insanidade estagnante. Os que se interessam o suficiente para enfrentar este processo indiferente ao desprezo social, assim como explorar o que está além das idéias institucionalizadas, estão aptos para exercerem a divina missão de não mais perpetuar essa condição em si mesmos e no mundo que os rodeia. Para o exercício desta missão, se faz necessário a conscientização de que o grosso da sociedade sofre de uma espécie de alergia diante de conversas que levem ao questionamento quanto à normose e que apenas poucos são capazes de ousar por uma independência e juízo individual. Precisa ter em mente que muitos normóticos, (assim como ele mesmo no decorrer do exercício da própria normose), por medo de perder a estabilidade financeira ou por medo do abandono e da solidão se afastam de práticas e de pessoas que possam colocar em xeque a sua atual maneira de viver, chegando muitas vezes, até mesmo a hostilizá-las, pois sentem que as mesmas, colocam em perigo as coisas e os relacionamentos dos quais dependem para ter segurança e uma boa imagem. Com razão dizia Thomas Merton, em seu livro Na Liberdade da Solidão - Ed. Vozes:

"Não pode o homem dar o seu assentimento a uma mensagem espiritual enquanto tem a mente e o coração escravizados pelo automatismo".

É preciso ter em mente de que o normótico só irá procurar por ajuda para a limitação imposta por sua disfuncional maneira de viver, quando não tiver mais com o que anestesiar a dor do tédio, a insatisfação e a falta de sentido existencial. Transcrevo abaixo, pensamentos de alguns escritores que elucidam bem este ponto de vista. São eles:

"...via de regra só o fazem sob o impacto de uma grande dor, crise emocional ou outra perturbação que temporariamente os faça voltarem-se para dentro de si mesmos e torne toda a atividade centralizada no eu fútil e sem sentido. É estranho que ao atingir aquele ponto em que a vida não parece mais valer a pena ser vivida é que as pessoas começam a interessar-se deveras pelo aspecto espiritual da existência, quando anteriormente só ligavam para o seu lado material. É nesse ponto que recorrem à religião em busca de lenitivo, à filosofia em busca de compreensão, e, quando ambas as coisas não parecem suficientes, a cultos estranhos e heterodoxos em busca de uma luz qualquer. Contudo, qualquer que seja a fonte a que recorrerem a fim de obter orientação interior e esclarecimento, ver-se-ão sempre em última instância face a face com o mistério do eu, o qual exigirá sempre, conquanto de forma silenciosa, investigações mais profundas. Torna-se portanto obrigatório que o homem entenda tal coisa e faça da auto-compreensão uma das razões primordiais da sua vida. Até que assim faça, religião, filosofia, psicologia superior, em suma, todas as trilhas do conhecimento não-sensorial continuarão a confundi-lo e intrigá-lo".
Paul Brunton - A Busca do Eu Superior - Ed. Pensamento

"Como é triste que a maioria de nós apenas comece a apreciar a vida quando estamos a ponto de morrer!... Não há comentário mais desalentador sobre o mundo moderno do que esse: a maioria das pessoas morre despreparada para morrer, como viveu despreparada para viver". Sogyal Rinpoche - O livro Tibetano do Viver e do Morrer - Pág. 28

"Há um lugar no ser interior onde sempre se pode permanecer calmo e de lá olhar com equilíbrio e discernimento as perturbações da consciência de superfície e agir sobre ela para mudá-la. Se você puder aprender a viver nesta calma do ser interior, você terá encontrado sua base estável". - Sri-Aurobindo

"Ao enxergar sob uma luz bem mais abrangente os padrões que condicionam a vida, é possível que não ficássemos tão dispostos a participar de ações que sempre resultaram em sofrimento... Com um entendimento assim, não haveria limites para a nossa visão do ser humano, nem limites para a liberdade humana". Tarthang Tulku - Conhecimento da Liberdade - Ed. Dharma

"...Quem tiver a coragem e a paciência para permitir que sua mente raciocine por essa forma, livre da ideologia convencional, será em última instância gratificado com a descoberta da verdade eterna a cerca do homem. Dar-se por satisfeito com as teorias científicas e filosóficas correntes, que podem e devem ser completamente modificadas nas próximas décadas ou então ser taxadas de errôneas e incompletas pela geração seguinte, é demonstrar inércia e covardia mental. A verdade não é para os preguiçosos ou tímidos". Paul Brunton - A Busca do Eu Superior - Ed. Pensamento

O normótico que quer se recuperar precisa buscar por momentos de solidão onde possa praticar uma qualidade de escuta interior pela qual se possa manifestar a Presença do que está presente, no mais profundo de sua essência, abrindo-se cada vez mais "àquele que É". Ele precisa superar o estado de identificação corporal para uma maior identificação com o transpessoal. Precisa entrar num estado de apatia, ou seja, um estado onde não mais se deixa enganar pelas promessas de satisfação vindas do externo, o qual faz com que o normótico saia da sua horizontalidade em busca do Essencial, acima de todas as coisas - a busca da ação da verticalidade do Ser.

O normótico não consegue perceber a realidade da prisão em que vive, do mesmo modo que o peixe não se percebe prisioneiro num aquário. Por essa razão, o normótico submete sua liberdade à autoridade grupal em detrimento de sua autonomia. Não consegue perceber que são nas escolhas individuais, na mais ampla liberdade do homem que se encontra o potencial de saúde.

"Esta normalidade é uma mediocridade que não admite ou até mesmo condena tudo o que se encontra fora de suas normas e o considera como anormal sem levar em conta que muitos comportamentos ditos como anormais são em realidade começos ou tentativas para ultrapassar a mediocridade" - Roberto Assagioli

Bons momentos!

Parafraseado por Nelson Jonas
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill