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terça-feira, 29 de julho de 2014

A mente é a raiz de todos os problemas - parte 2

Observe as nuvens: as nuvens movem-se e podem ser tão densas que você não consegue ver o céu através delas. A vasta extensão azul do céu está perdida e você está coberto pelas nuvens. Então, você continua a observar: uma nuvem se move e outra ainda não chegou ao seu campo de visão — subitamente, há um ponto na vastidão do céu. 

O mesmo acontece interiormente: você é a vastidão azulada do céu, e os pensamentos são nuvens pairando em torno de você, entrando em você. Mas os intervalos existem, o céu existe. Ter um vislumbre do céu é satori; tornar-se o céu é samadhi. De satori a samadhi, todo o processo é uma profunda visão interior para a mente; nada mais. 

Em primeiro lugar: a mente não existe como uma entidade; apenas os pensamentos existem. 

Em segundo lugar: os pensamentos existem separados de você; não são ligados à sua natureza. Eles vêm e vão — você permanece, você persiste. Você é como o céu: nunca vem, nunca vai, está sempre ali. As nuvens podem ir e vir, são fenômenos momentâneos, não são eternas. Mesmo que você tentasse se agarrar a um pensamento, não poderia retê-lo por muito tempo. Ele tem de ir, tem seu próprio nascimento e morte. Os pensamentos não são seus, não lhe pertencem. Chegam como visitantes, hóspedes, mas não são o hospedeiro. 

Observe profundamente e se tornará o hospedeiro e terá os pensamentos como hóspedes. Como hóspedes, eles são belos; mas se você esquece completamente de que é o hospedeiro, eles se tornam os hospedeiros e você fica em confusão. Isso é o inferno. Você é o dono da casa, a casa lhe pertence, mas os hóspedes se tornam donos. Receba-os, cuide deles, mas não se identifique com eles; de outra maneira, eles se farão senhores. 

A mente torna-se problema porque você tomou os pensamentos tão profundamente, dentro de você, que se esqueceu por completo a distância, o fato deles serem visitantes, de irem e virem. Lembre-se, sempre, do que é duradouro: o que é a sua natureza, seu Tao. Fique sempre atento ao que nunca vem e nunca se vai, tal como o céu. Muda o gestalt: não faça dos visitantes o seu foco; permanece enraizado no hospedeiro. Os visitantes vêm e vão. 

Há, naturalmente, bons e maus visitantes, mas você não precisa se preocupar com eles. Um bom hospedeiro trata todos os hóspedes da mesma maneira, sem fazer distinções. Um bom hospedeiro é apenas um bom hospedeiro: quando um mau pensamento surge, ele trata o mau pensamento da mesma forma como trataria um bom pensamento. Não é de sua competência julgar o pensamento bom o mau. 

O que você está fazendo quando distingue este pensamento como bom e aquele como mau? Você está trazendo o bom pensamento para para mais junto de você, e empurrando para longe o mau pensamento. Mais cedo ou mais tarde, você estará identificado com o bom pensamento, que passará a ser o hospedeiro. E qualquer pensamento, quando se torna o hospedeiro, cria sofrimento — porque não é a verdade. O pensamento é um simulador, e você se identifica com ele. A identificação é a doença. 

Gurdjieff costumava dizer que só uma coisa é necessária: não se identificar com o que vem e vai. A manhã vem, depois dela o meio-dia, vem a tarde, e todos eles se vão. Chega a noite e, novamente, a manhã. Você permanece — não como você, porque isso também é um pensamento, mas como pura percepção. Não o seu nome, porque isso também é um pensamento; não sua forma, porque isso também é um pensamento; não o seu corpo, porque um dia você compreenderá que também ele é um pensamento. Apenas pura percepção sem nome, sem forma: somente a pureza, somente o que não tem forma nem nome, somente o próprio fenômeno de estar consciente — só isso é duradouro. 

Se você se torna identificado, torna-se mente. Se você se torna identificado, torna-se corpo. Se você se torna identificado, torna-se um nome e uma forma e, então, o hospedeiro está perdido. Você esquece o eterno e o momentâneo torna-se importante. O momentâneo é o mundo, o eterno é Divino. 

Esta é a segunda visão interior a ser obtida; a de que você é o hospedeiro e os pensamentos são os hóspedes.

O S H O - Tantra — A Suprema Compreensão

A mente é a raiz de todos os problemas - parte 1

O problema-raiz de todos os problemas é a própria mente.

Assim, a primeira coisa a ser compreendida é o que vem a ser a mente, de que matéria é feita, se é uma entidade ou apenas um processo, se é substancial ou apenas ideal. A não ser que você conheça a natureza da mente, não poderá resolver nenhum dos problemas da sua vida. 

Você pode tentar duramente, mas, se você tentar resolver problemas isolados, individuais, estará voltado ao fracasso —  isso é absolutamente certo. Porque, na realidade, não existe problema individual: a mente é o problema. Resolver este ou aquele problema de nada adiantará porque a raiz deles permanece intocada. 

É tal como cortar os galhos de uma árvore, podando as folhas, sem desenraizá-la. Novas folhas virão, novos galhos brotarão — até mais do que antes. A poda ajuda a árvore a se tornar mais espessa. A menos que você saiba como arrancá-la pela raiz, sua luta será injustificada, tola. Destruirá a si mesmo, não a árvore. 

Lutando, você desperdiçará sua energia, seu tempo, sua vida, e a árvore continuará tornando-se cada vez mais forte, mais espessa, mais densa. E você fica surpreendido com o que vai acontecendo. Você trabalha tão duramente, tentando resolver este e aquele problema, e eles continuam crescendo, aumentando. E mesmo quando você consegue que um problema seja resolvido, dez outros, subitamente, ocupam seu lugar.

Não tente resolver problemas individuais, isolados — eles não existem: a própria mente é o problema. A mente, porém, está oculta subterraneamente; por isso eu a chamo raiz, ela não é aparente.  Em qualquer ocasião em que se depare com um problema, ele está acima do solo; você pode vê-lo, por isso é iludido por ele. 

Lembre-se sempre: o visível jamais é a raiz. A raiz sempre permanece invisível, a raiz sempre está oculta. Nunca lute contra o visível, pois você estará lutando contra sombras. Será em vão, não poderá haver nenhuma transformação em sua vida. Os mesmos problemas aflorarão novamente, novamente e novamente. Observe sua própria vida e você verá o que eu quero dizer. Não estou falando de teoria alguma sobre a mente, mas sobre a "artificialidade" da mente. 

As pessoas vêm a mim e perguntam: "Como obter uma mente pacífica?" E eu lhes respondo: "Não existe tal coisa, mente pacífica. Jamais ouvi falar disso."

A mente nunca é pacífica. A "não-mente" é paz. A mente, em si mesma, nunca pode ser pacífica, silente. A própria natureza da mente é estar tensa, confusa. A mente nunca pode ser clara, nem ter clareza , porque a mente é, por natureza, confusão, nevoeiro. A clareza é possível sem a mente, a paz é possível sem a mente, o silêncio é possível sem a mente — portanto, nunca tente obter uma mente silenciosa. Se você o fizer, desde início você estará se movendo num plano impossível. 

Assim, a primeira coisa a compreender é a natureza da mente; e, só então, algo poderá ser feito. 

Se você observar, jamais encontrará uma outra entidade parecida com a mente. Ela não é uma coisa, é apenas um processo; não é uma coisa, é como uma multidão. Pensamentos individuais existem, mas seu movimento é tão rápido que você não pode ver as brechas entre eles. Os intervalos não podem ser vistos porque você não está consciente e alerta; você precisa de uma visão interior mais profunda. Quando seus olhos puderem ver profundamente, você verá, subitamente, um pensamento, outro pensamento e ainda outro pensamento — mas não verá a mente

Pensamentos reunidos, milhões de pensamentos, dão-lhe a ilusão de que a mente existe: como uma multidão, milhões de pessoas em pé, em multidão; há tal coisa, multidão? Você pode encontrar a multidão separada dos indivíduos que estão ali? Mas estão reunidos e a reunião faz com que você sinta que existe algo que é multidão — mas só indivíduos existem. 

Este é o primeiro olhar interior para a mente. Observe e você encontrará pensamentos, mas nunca se deparará com a mente. E, se isso se tornar uma experiência sua... se isso se tornar a sua própria experiência, se isso se tornar um fato de seu próprio conhecimento, então, subitamente, muitas coisas começarão a se modificar. Porque você terá compreendido algo tão profundo sobre a sua mente, que muitas coisas podem seguir-se a isso. 

Observe a mente e veja onde ela está, o que é. Você sentirá pensamentos flutuando e intervalos. E, se você observar por bastante tempo, verá que os intervalos existem em maior número do que os pensamentos, porque cada pensamento precisa estar separado de outro pensamento. De fato, cada palavra precisa estar separada de outra palavra. Quanto mais profundamente você for, mais e maiores brechas encontrará. Um pensamento flutua e, então, surge uma brecha onde não existe pensamento. Então surge outro pensamento e outra brecha se segue. 

Se você estiver inconsciente, não poderá ver os intervalos, as brechas. Você saltará de um pensamento a outro e nunca verá a brecha. Se você se tornar consciente, então, milhares de intervalos lhe serão revelados. 

E nesses intervalos, acontece o satori
Nesses intervalos, a Verdade bate à sua porta. 
Nesses intervalos, Deus é compreendido, 
ou outra forma, seja lá o que for, em que você expresse tal coisa. 
Então, a percepção é absoluta, 
então, haverá apenas um vago intervalo de inanidade. 


O S H O - Tantra — A Suprema Compreensão

sexta-feira, 25 de julho de 2014

A mente da maioria das pessoas é vulgar

Se minha mente é incapaz de resolver um problema, e eu atuo, o problema se multiplica, não é verdade? Este é um fato óbvio. E, ao ver que tudo quanto faça em relação ao problema só tem o efeito de multiplicá-lo, o que deve a mente fazer? Você compreende a questão? O problema — seja o problema de Deus, seja o da fome, o problema da tirania coletiva em nome do governo, etc. — existe em diferentes níveis de nosso ser, e a ele nos aplicamos esperando resolvê-lo; mas eu acho que esta é uma maneira de proceder completamente errônea, porquanto estamos assim atribuindo a principal importância ao problema. Parece-me que o problema real é a própria mente, e não o problema que ela mesma criou e estou tentando resolver. Se a mente é mesquinha, pequena, estreita, limitada, ela se aplica ao problema — por maior e mais complexo que seja — com suas próprias e pequeninas medidas. Se tenho uma mente pequenina e penso em Deus, o Deus de meu pensar será um Deus pequenino, ainda que eu o revista de grandeza, beleza, sabedoria, etc. 

O mesmo acontece com o problema da existência, do sustento, do amor, do sexo, das relações, o problema da morte. Todos estes problemas são enormes, e a eles nos aplicamos com uma mente pequena, tentamos resolvê-lo com uma mente muito limitada. Ainda que tenha capacidades extraordinárias e seja capaz de invenção, de pensamentos sutis e sagazes, a mente continua pequena; e uma mente pequena, ao enfrentar um problema complexo, só poderá traduzi-lo em seus próprios termos e, por conseguinte, o problema cresce e crescem os novo conflitos. A questão, por conseguinte, é esta: Pode a mente pequena, vulgar, ser transformada em algo não restrito pelas suas próprias limitações? 

(...) Considere, por exemplo, o complexo problema do amor. Ainda que eu seja casado e tenha filhos, a menos que exista aquele senso de beleza, a profundeza e a claridade do amor, a vida é superficial, sem significação; e eu me aproximo da questão do amor com uma mente bem limitada. Desejo saber o que ele é, mas tenho suposições de toda espécie a seu respeito, já lhe vesti as roupagens de minha mente pequenina. O problema, pois, não é de como compreender o amor, porém de libertar de sua própria vulgaridade a mente que se aproxima do problema; e a mente da maioria das pessoas é vulgar. 

Por "mente vulgar" entendo a mente que está sempre ocupada. Você compreende? A mente ocupada com Deus, com planos, com a virtude, ou sobre como colocar em prática o que certas autoridades dizem a respeito de finanças ou de religião; uma mente que se ocupa consigo, com seu próprio desenvolvimento, com a cultura, com o seguir um certo modo de existência; a mente que está ocupada com uma identidade, uma nação, crença ou ideologia — essa é a mente vulgar.(...) A pessoa que tenta aprimorar-se pela aquisição de conhecimento, que procura tornar-se mais inteligente, mais poderosa, obter um emprego melhor — tal pessoa é vulgar. Ela pode ocupar-se com Deus, com a Verdade, com o Atman, ou com o desejo de sentar-se entre os poderosos — mas é sempre uma pessoa vulgar.

Assim, o que acontece? Sua mente vulgar e ocupada começa com certas conclusões, suposições, emite certas ideias — e é com essa mente ocupada que você tenta resolver o problema. Quando uma mente vulgar se encontra com um problema descomunal, ela age, evidentemente, e esta ação produz um resultado: o crescimento do problema. Se você observar, poderá ver que é isso exatamente o que está acontecendo no mundo. Os que estão nos altos postos ocupam-se consigo, em nome da nação; como eu e você, querem posição, poder, prestígio. Estamos todos navegando no mesmo barco e, com nossas mentes pequeninas, tentamos resolver os extraordinários problemas do viver, problemas que exigem uma mente não ocupada. A vida é algo fundamental e sempre em movimento, não é? Por conseguinte, temos de chegar-nos a ela com vigor, com uma mente que não esteja inteiramente ocupada, que contenha um certo espaço, um certo vazio. 

Ora, qual é o estado da mente que sabe que está ocupada e percebe que essa ocupação é vulgar? Isto é, ao perceber que minha mente está ocupada e que mente ocupada é mente vulgar, o que acontece?

Parece que não percebemos com suficiente clareza que uma mente ocupada é vulgar. Quer a mente esteja ocupada com o melhoramento de si própria, quer com Deus, com bebidas, com a paixão sexual ou o desejo de poder, tudo isso é essencialmente a mesma coisa, embora sociologicamente essas ocupações possam ter uma diferença. Ocupação é ocupação, e a mente ocupada é vulgar porque se acha interessada em si mesma. Se você vê, se realmente experimenta a verdade desse fato, então, certamente, sua mente já não se preocupa consigo mesma, com seu próprio melhoramento; existe, pois, para a mente que está aprisionada, a possibilidade de eliminar sua clausura. 

Como simples experiência, observe por si mesmo como sua vida está baseada em alguma suposição: que há Deus ou que não há Deus, que um certo padrão de vida é melhor do que outro padrão, etc. A mente ocupada começa sempre com uma suposição, abeira-se da vida com uma ideia, uma conclusão. Pode a mente acercar-se de um problema de maneira total, afastando as suas conclusões, suas prévias experiências que são também formas de conclusão? Afinal de contas, um desafio é sempre novo, não é verdade? Se a mente é incapaz de compreender adequadamente ao desafio, , há deterioração, retrocesso; e a mente não pode corresponder adequadamente se, consciente ou inconscientemente, está ocupada — sendo que toda ocupação se baseia em alguma ideologia ou conclusão. Se você perceber a verdade a este respeito, descobrirá que a mente já não será vulgar, porque se achará num estado de investigação, num estado de sadio ceticismo — que não significa ter dúvidas a respeito de alguma coisa, porque isso também se torna uma ocupação. A mente que investiga de verdade não acumula. Vulgar é a mente que acumula, quer esteja acumulando conhecimentos, quer dinheiro, poder, posição. Com o total percebimento desta verdade, verifica-se a real transformação da mente, e essa é que é a mente capaz de atender aos nossos numerosos problemas.

Krishnamurti — Nova Deli, 31 de outubro de 1956

domingo, 4 de maio de 2014

Por que não experimentamos a Beatitude, o Êxtase da Vida?

Ensinamos uma criança a focalizar a mente — a concentrar-se — porque, sem concentração, ela não pode enfrentar a vida. A vida exige isso: a mente deve ter capacidade para concentrar-se. Mas, desde o momento em que a mente se torna capaz de concentrar-se, torna-se, também, menos perceptiva. A percepção significa mente consciente, mas não focalizada. A percepção é consciência de tudo quanto está acontecendo. 

Concentração é uma escolha. Exclui tudo, menos o objeto da concentração. Produz estreitamento. Se você está caminhando por uma rua, terá de estreitar sua consciência para poder caminhar. Habitualmente não lhe é possível estar consciente de tudo o que está acontecendo, porque se você estiver consciente de tudo o que está acontecendo, não estará focalizado. Assim, a concentração é uma necessidade. A concentração da mente é uma necessidade para que possamos viver — sobreviver, existir. Por isso é que toda cultura, a seu modo, tenta estreitar a mente da criança. 

Crianças, tais como são, jamais focalizam. Sua consciência está aberta para todas as sensações. Cada sensação penetra em sua consciência. E quanta coisa chega! Por isso é tão vacilante, tão instável. A mente não-condicionada de uma criança é um fluxo — um fluxo de sensações — mas não lhe seria possível sobreviver com este tipo de mente. Ela deve aprender como estreitar a mente, como se concentrar. 

Do momento em que você estreita sua mente torna-se particularmente consciente de uma coisa, e, simultaneamente, inconsciente de muitas outras coisas. Quanto mais estreita for a mente, mais sucesso haverá. Você se torna um especialista, você se torna um perito, mas a coisa toda consistirá em você saber mais e mais sobre menos e menos.

O estreitamente é uma necessidade existencial. Ninguém é responsável por isso. Assim como a vida existe, ele deve existir. Mas não é o bastante; só o ser utilitário não é o bastante. Por isso, quando você se torna utilitário e a consciência é estreitada, estará negando à sua mente muito daquilo de que ela é capaz. Você não está usando sua mente total. Está usando apenas uma pequena parte dela. E o remanescente — a porção maior — irá tornar-se inconsciente. 

Na verdade, não há fronteira entre o consciente e o inconsciente. Não há duas mentes. "Mente consciente" refere-se àquela porção da mente que tem sido usada no processo de estreitamento. "Mente inconsciente" refere-se àquela porção que tem sido negligenciada, ignorada, fechada. Isso cria uma divisão, uma brecha. A porção maior da sua mente torna-se alheia a você. Você se torna alienado de seu próprio eu, torna-se um estranho à sua própria totalidade. 

Uma pequena parte está sendo identificada como o seu eu, e o resto é perdido. Mas a parte inconsciente, remanescente, está sempre ali, como potencialidade sem uso, como possibilidade sem uso, como aventura não-vivida. Essa mente inconsciente (esse potencial, essa mente sem uso) estará sempre em luta contra a mente consciente. Por isso é que existe sempre um conflito interior. Todos estão em conflito por causa dessa fenda entre o inconsciente e o consciente. Mas só se o potencial, o inconsciente, estiver livre para florescer, é que você poderá sentir a beatitude da existência... Não há outra maneira. 

Se a porção maior de suas potencialidades permanecer irrealizada, sua vida será uma frustração. Por isso é que quanto mais utilitária é uma pessoa, menos realizada é, menos beatitude conhece. Quanto mais utilitária é a abordagem — quanto mais a pessoa está na vida dos negócios — menos estará vivendo, menos será tomada pelo êxtase. A parte da mente, que não pode ser útil no mundo utilitário, foi desprezada.

A vida utilitária é necessária, mas com grande custo. Você perdeu a festividade da vida. A vida torna-se uma festividade, uma celebração, se todas as suas potencialidades florescerem. Então, a vida é uma solenidade. Por isso é que eu sempre digo que religião significa vida transformada em celebração. A dimensão da religião é a dimensão do festivo, do não-utilitário. 

A mente utilitária não deve ser tomada como se fosse o todo. O remanescente... a maior parte... a mente inteira... não deveria ser sacrificada. A mente utilitária não deve se tornar um fim. Terá que permanecer ali, mas como um meio. A outra — a remanescente, a maior, a potencial — deve tornar-se o fim. Isso é o que eu chamo uma abordagem religiosa. 

Com uma abordagem não-religiosa, a mente dos negócios (a utilitária) torna-se o fim. Quando tal coisa acontece, não há possibilidade de a mente inconsciente realizar seu potencial. A mente inconsciente será desprezada. Se a utilitária se torna um fim, isso significa que o servo está representando o papel do senhor. 

A inteligência, o estreitamento da mente, é uma forma de sobrevivência, mas não de vida. Sobrevivência não é vida. Sobrevivência é uma necessidade — mas o fim terá de ser, sempre, um florescimento do potencial, de tudo quanto foi criado para você. Se você for completamente realizado, se nada permanecer sob a forma de semente, se tudo se faz realidade, se você florescer, então e só então você poderá sentir a beatitude, o êxtase da vida.

A parte de você que foi desprezada, a parte inconsciente, pode tornar-se ativa e criativa, só se você acrescentar uma nova dimensão à sua vida — a dimensão do festivo, a dimensão da jovialidade. Assim, a meditação não é um trabalho, é um divertimento. Rezar não é um negócio, é um divertimento. A meditação não é algo que se faz para chegar a atingir um alvo (paz, beatitude...) mas algo a ser gozado como um fim em si mesmo.

O S H O — Meditação: A Arte do Êxtase

segunda-feira, 24 de março de 2014

Deixe um pouco sua cabeça e vá até o coração

Como é possível que a mente esteja constantemente produzindo pensamentos, e como posso parar o que não comecei? 

Você não pode parar o que não começou. E nem tente, porque será um desperdício de tempo, de energia, de vida. Você não pode para a mente porque não foi você que a iniciou. Pode apenas observar, e dessa observação ela para. Mas não é você que a está parando, é apenas uma consequência da observação, é uma função da observação. 

Não é você que faz isso, não há como fazer parar a mente. Se tentar, ela acelerará ainda mais, lutará, criará milhões de problemas para que você nunca mais tente. 

A verdade é esta: se não foi você quem começou, como poderá fazê-la parar? Ela é uma consequência da sua inconsciência e só poderá desaparecer pela consciência. Nada se pode fazer para cessá-la, a não ser estar cada vez mais alerta. 

A própria ideia de querer parar a mente é uma barreira, porque se você diz, "Agora ficarei atento para fazê-la parar", acaba perdendo o ponto principal. Nem mesmo sua atenção vai resolver porque essa ideia estará presente: como parar a mente. Depois de alguns dias de esforços inúteis — porque se a ideia está lá, nada acontece — você vem me procurar dizendo, "Tenho estado atento mas a mente não para". 

Você não a pode parar, não existe método nenhum para isso. Mas ela para! E não é você que faz isso, para por si mesma. Você simplesmente observa. Na observação você retira a energia que ela necessita para funcionar. A energia é canalizada para a observação e automaticamente os pensamentos vão se tornando debilitados, enfraquecidos. Continuarão presentes, mas cada vez mais impotentes, porque não há energia disponível. Ficarão circulando à sua volta, mas aos poucos a energia vai sendo absorvida pela consciência. 

De repente, um dia, esse energia não é mais movida para os pensamentos e eles desaparecem. Não podem existir sem energia. Por favor, esqueça isso de querer para-los, não é da sua conta. 

A segunda questão: "Como é possível que a mente esteja constantemente produzindo pensamentos?" É apenas um processo natural. Assim como o coração bate sem interrupção, a mente está sempre pensando. Assim como o corpo não para de respirar, assim como o sangue está sempre circulando, o estômago digerindo, a mente está pensando. Não há nenhum problema nisso; é uma coisa muito simples. Mas você não está identificado com sua circulação sanguínea, não SE sente circulando dentro das veias. Na verdade, nem tem consciência de que seu sangue está circulando — e mesmo assim ele não para. 

Todo problema existe com a mente porque você acha que é VOCÊ quem está pensando. A mente tornou-se um foco de identificação. E é apenas isso que tem que ser rompido. Se você acha que se a mente parar você jamais terá pensamentos, está enganado. Você só pensará quando for necessário. Os pensamentos estarão sempre presentes mas agora será tudo muito natural: será apenas uma resposta, uma atividade espontânea, e não mais uma obsessão. 

Por exemplo, ou você come quando sente fome, ou isso pode se tornar uma obsessão e você come o dia inteiro. Então você enlouquecerá, estará cometendo um suicídio. Você anda quando quer andar. Quando quer ir a algum lugar movimenta as pernas. Mas se ficar dando passos enquanto estiver sentado numa cadeira, poderão pensar que você ficou louco. E então, se você perguntar o que fazer para que suas pernas parem de mexer e alguém aconselhar: "Force-as, prenda-as com os braços!", terá ainda mais problemas. Além das pernas que não param, agora também os braços estão envolvidos. Sua energia luta contra ela mesma. 

É só isso: você está identificado com a mente. Isso é natural: ela está muito próxima e você a utiliza muito. Geralmente as pessoas passam todo o tempo dentro de suas cabeças. É como alguém que dirige o mesmo carro há anos e nunca sai de dentro dele. Chega até a se esquecer de que ode sair se quiser, que é ele quem está dirigindo. Esqueceu-se tão completamente que chega a pensar que é o próprio carro. Não pode sair porque quem irá sair? Não sabe mais como abrir a porta e ela já funciona por não estar sendo usada há tantos anos. Enferrujou, já não abre como antes. O motorista acabou se tornando o próprio carro — é só o que aconteceu. Surge então outra confusão: como fazer o carro parar? Quem irá fazer isso?

Você é o motorista da mente. Ela é um mecanismo em volta de você, que vai sendo utilizado pela sua consciência. Mas você nunca sai de dentro dela. É por isso que insisto: deixe um pouco sua cabeça e vá para até o coração. De lá, terá outra perspectiva e poderá ver que o carro está separado de você. 

tente sair de seu corpo, isso também é possível. Fora do corpo, terá saído do carro completamente. Verá que nem o corpo, nem a mente, nem o coração, são você; você está separado. 

Por ora, lembre-se apenas de uma coisa: você está separado de tudo que o circunda. O conhecedor não é o conhecido. Sinta isso cada vez mais a ponto de se tornar substancialmente cristalizado em seu ser que o conhecedor não é o conhecido. Se você conhece o pensamento, se o pensamento, como pode ser ele? Se conhece a mente, como pode ser ela? Afaste-se, é preciso que haja uma pequena distância. Um dia, quando estiver realmente distanciado, o pensamento cessará. Se o motorista sai, o carro não anda — não há mais ninguém para dirigir. Então você poderá dar boas risadas ao ver que tudo não passou de um mal-entendido. E então, sempre que for necessário, pense. 

Você faz uma pergunta e eu respondo. A mente entrou em funcionamento. É através dela que eu lhe falo, não pode ser de outra maneira. Mas quando estou só, a mente para de funcionar.

Ela não perdeu sua capacidade. Na verdade, aprendeu a funcionar corretamente. Por não estar funcionando descontroladamente, pode reter energia, tornar-se mais clara. Por isso, para a mente, não significa que você não será mais capaz de pensar. Na verdade, pela primeira vez, estará pensando. Envolver-se com pensamentos irrelevantes não é pensar, simplesmente loucura. Ser claro, limpo, inocente, é estar no caminho certo para pensar. 

Quando surgir um problema, você não estará mais confuso, não verá através dos preconceitos. Olha diretamente e assim o problema começa a dissolver. Se for realmente um problema, acabará se dissolvendo e sumindo. Se não for problema e sim um mistério, vai se dissolver e se aprofundar. Então você saberá o que é um problema. 

O problema é tudo o que pode ser solucionado pela mente: o mistério não pode. O mistério tem que ser vivido e o problema resolvido. Mas quando você está muito no pensamento, não saberá quando é um ou outro. Às vezes você toma um mistério como problema. Você ficará lutando toda a sua vida e jamais encontrará a solução. Outras vezes pensa que um problema é um mistério e fica esperando tolamente: já poderia ter sido solucionado. 

É preciso que haja clareza, perspectiva. Quando estiver pensando, — essa tagarelice, essa discussão interior que está sempre acontecendo — pare! Você estará alerta e consciente. Poderá ver as coisas como são, encontrará as soluções. Saberá também quando é um mistério. E se for mistério, você sentirá um profundo temor, um grande respeito. 

Esta é a qualidade religiosa do ser. Sentir respeito é ser religioso, sentir admiração é ser religioso. Sentir-se profundamente maravilhado de ser criança novamente, é entrar no Reino de Deus. 

O S H O     

segunda-feira, 17 de março de 2014

A mente é mais ridícula do que se possa imaginar

Gayatri: Acho que minha mente nunca esteve tão visível para mim quanto agora. Ela era bem mais ridícula do que eu podia imaginar. 

Osho: Ela é? E não é só a sua. A mente como tal é ridícula. Nós podemos continuar tolerando-a porque nunca olhamos para ela. Estar no momento é encará-la continuamente. Então, pode-se ver toda a estupidez da mente. Ela é simplesmente absurda. Nós perdemos muito tempo e energia com ela. Como um mestre, a mente é a coisa mais terrível que existe. Como um servo, ela é muito útil. 

A observação, a conscientização, fazem você reconhecer, em primeiro lugar, que a mente como tal é louca, e começa-se a rir de si mesmo. Esse é o começo da sabedoria. Normalmente, as pessoas riem dos outros. Então elas ainda não sabem o que a risada deve ser. Quando você vê sua mente, começa a rir da sua própria situação. E quando a gente ri de si mesmo, há uma quebra, uma ruptura. 

Uma vez que você entende que a mente é ridícula, ela já está perdendo o controle sobre você — do contrário, você não terá sido capaz de ver o ridículo dela. Ela é muito esperta em se esconder, em racionalizar a si mesma. Ela é muito esperta em enganar, mas se você viu isso, é um bom sinal. E viver cada momento é o único jeito de sair da mente. 

A mente só pode existir com ajuda do passado e do futuro. Ela está no passado ou no futuro. Quando você vive cada momento, ela se torna ridícula. Ela está continuamente correndo para o passado ou para o futuro, e nunca está aqui. 

Você quer estar aqui porque o momento está aqui, então, você vê toda a tolice dela. Você está comendo e a mente está indo para algum outro lugar. Você está olhando para as estrelas e a mente está indo para algum outro lugar; ela nunca está aqui. 

Ela está sempre sentindo falta de alguma coisa, sempre desejando e, quando o momento vem, ela nunca desfruta dele. Ela está sempre fragmentada, pulando de uma coisa para outra, nunca completando nada e criando uma confusão ao seu redor. Olhando essas reviravoltas, começa-se a rir. 

Assim, agora, o segundo ponto para você é: sempre que sentir que tudo isso é ridículo, ria-se. Não imagine apenas a risada, mas ria realmente, uma boa gargalhada. Não se preocupe se os outros ficarão surpresos com a sua risada. Eles não conhecem a piada; eles não sabem o que está acontecendo. Portanto, comece a rir sempre que sentir isso. 

Não há nada como a risada para ajudá-la a sair da mente. As pessoas continuam fazendo muitas coisas, mas por um preço barato, a risada é possível. 

Os fisiologistas dizem que quando você franze o rosto, duzentos e cinquenta músculos são envolvidos. É uma grande tensão. Se você ri, apenas sete músculos são envolvidos. É o ato mais econômico que pode ser feito, o mais relaxado, o que menos musculatura envolve. Quanto mais você aprende a rir, menos importante vão sendo até mesmo esses sete músculos. Um momento vem no qual nada é envolvido. O riso simplesmente se espalha por você como uma onda, como uma brisa passando. Então, ele se torna muito sutil, mas ajuda a afastar-se o máximo da mente. 

Assim, acrescente agora esse segundo passo e continue a viver no momento. Sempre que você sentir o ridículo, dê uma boa gargalhada. Ótimo, Gayatri.

O S H O 

sábado, 14 de setembro de 2013

A mente em conflito deforma tudo que vê

Vamos falar a respeito da meditação, uma das coisas mais extraordinárias — quando sabemos o que significa ter mente capaz de meditar. Ignorá-lo é ser como um cego, incapaz de ver as cores, como um homem de mente embotada. Se não sabemos o que significa meditar, teremos uma vida muito estreita e limitada, por mais inteligentes e eruditos que sejamos, por melhores que sejam os livros que escrevemos ou os quadros que pintamos. Permanecemos fechados num muito estreito círculo de conhecimento — pois o conhecimento é sempre limitado. Para compreender a questão da meditação, temos de examinar a questão da experiência e também de investigar porque buscamos e o que estamos buscando.

No fundo, a nossa vida é confusão, desordem, aflição, agonia. Quanto mais sensíveis somos, tanto maior o nosso desespero e ansiedade, nosso “sentimento de culpa”; e dessa vida desejamos naturalmente fugir, porque nela não encontramos nenhuma solução; não sabemos de que maneira sair de nossa confusão. Desejamos fugir para um outro mundo, uma outra dimensão. Fugimos por meio da música, da arte, da literatura; mas, trata-se sempre de fuga e a coisa para que fugimos é sem realidade, em comparação com aquilo que estamos buscando. Todas as fugas são iguais, não importa se fugimos pela porta de uma igreja, em busca de Deus ou de um Salvador, ou pela porta da bebida ou de diferentes drogas. Não só temos de compreender o que e  porque estamos buscando, mas também temos de compreender essa necessidade de experiências profundas e duradouras, porque só a mente que nada busca, que não exige experiências de nenhuma forma, poderá ingressar numa esfera ou dimensão inteiramente nova. É o que vamos fazer nesta tarde; assim espero.

Nossa vida em si mesma, é superficial, insuficiente, e desejamos uma outra coisa, uma experiência mais sublime, mais profunda. Também, vivemos num inaudito isolamento. Todas as nossas atividades e pensamentos e maneiras de comportar-nos levam-nos a esse isolamento, a essa solidão a que desejamos fugir. Se não compreendermos esse isolamento, não intelectual, verbal ou racionalmente, porém entrando diretamente em contato com o que estamos realmente buscando, entrando em contato com o estado de solidão; se não compreendermos e dissolvermos, completamente, aquele isolamento, toda meditação, toda busca, toda atividade espiritual ou religiosa (assim chamada) será inteiramente fútil, porquanto representará uma fuga ao que somos. É o mesmo que uma mente superficial, embotada, mesquinha, pensar em Deus. Se existe essa coisa em que ela pensa, aquela mente e seu Deus permanecerão sempre muito insignificantes.

A questão consiste em saber se é possível para a mente que está fortemente condicionada, toda enredada nas aflições e conflitos da vida de cada dia, se é possível a essa mente manter-se desperta, tão ampla e profundamente desperta que não haja busca nenhuma, nenhum desejo de experiência. Quando um indivíduo está desperto, quando em si próprio há luz, não há busca e nenhum desejo de mais experiências. Só o homem que está na escuridão vive a buscar a luz. É possível um indivíduo manter-se tão intensamente desperto, tão altamente sensível, física, intelectualmente e a todos os respeitos, que não haja ima única sombra em sua mente? Só então não há mais busca; só então não há mais ânsia de novas experiências.

É possível isso? A maioria de nós vive de sensações, sensações dos sentidos, e o pensamento adiciona-lhes o prazer. Com o pensar nessas sensações, delas obtemos um grande prazer — e, quando há prazer, há sempre dor. Temos de compreender esse processo, como o pensamento cria o tempo, o prazer e a dor; como o pensamento, depois de cria-los, deles procura fugir; e como essa própria fuga gera conflito. Vejo-me aflito e gostaria de ser feliz, de colocar fim a minha aflição. O pensamento criou a aflição, e espera, depois, colocar-lhe fim. Nesse estado dual, o pensamento cria conflito para si próprio.

A maioria de nós se vê nesse estado de isolamento e solidão, nesse estado de vazio. Embora o indivíduo tenha a companhia de sua família ou de outro grupo qualquer, conhece esse estado, essa profunda ansiedade por causa de nada. Pode o indivíduo libertar-se disso, superá-lo, sem procurar preencher esse isolamento, essa solidão, esse vazio, com conhecimentos, experiências, palavras de todo gênero? Você conhece todas as coisas que uma pessoa costuma fazer para preencher o vazio em si existente. Pode-se transcendê-lo? Para compreender uma coisa e dela libertar-se, a pessoa tem de entrar em contato com ela. (...) temos uma imagem do vazio, da solidão, e essa imagem nos impede o direto contato com o fato — a solidão.

Se você se acha em contato com alguma coisa, sua mulher, seus filhos, o céu, as nuvens, qualquer fato, no momento em que o pensamento intervém perde-se o contato. O pensamento nasce da memória. A memória é a imagem, e é daí que você olha e, por conseguinte, verifica-se uma separação entre o observador e a coisa observada.

(...) É essa separação entre observador e a coisa observada que faz o observador desejar mais experiência, mais sensações, e o impele a uma perene busca. (...) enquanto existir o observador, a entidade que está em busca de experiência, enquanto existir o censor, que avalia, julga, condena, não pode haver contato direto com o que é. (...) Enquanto isso não for plenamente compreendido, percebido, elucidado, e sentido profundamente; enquanto não se aprender integralmente, não intelectual ou verbalmente, que o observador é a coisa observada, a vida continuará a ser toda de conflito e contradição entre desejos opostos; o que deveria ser e o que é. Só é possível essa compreensão quando percebemos que estamos olhando uma coisa como “observador” — uma flor, uma nuvem, qualquer coisa. Se a entidade que olha o objeto, o está observando com seus conhecimentos, não há contato com ele.

A mente que está em conflito, de qualquer natureza e em qualquer nível, consciente ou inconsciente, é uma mente torturada; tudo o que vê se deforma... tudo o que essa mente vê se deforma, necessariamente, enquanto existe conflito, o conflito da ambição, do medo, a agonia da separação etc. A mente em conflito é uma mente deformada. Esse conflito só pode acabar quando o observador deixa de existir e só fica a coisa observada. Tem então a virtude, isto é, o comportamento, um significado inteiramente diferente. Virtude é ordem; (...) Se não existir, profundamente, em nós mesmos, essa ordem, o pensamento criará desordem com o nome de virtude.(...) Uma vez compreendido isso, pode-se começar a compreender o que é meditação, porquanto a compreensão do observador e da coisa observada faz parte da meditação.(...) Necessita-se de uma mente muito sutil e ágil, uma mente capaz de raciocinar, uma mente equilibrada, não neurótica. Todas as neuroses se verificam quando há atividade egocêntrica, quando existe o observador desejoso de expressar-se em várias atividades, e, por conseguinte, a criar conflito em si próprio. Tudo isso faz parte da meditação.

Jiddu Krishnamurti — Encontro com o eterno

domingo, 25 de agosto de 2013

O entrave da “cortina de palavras” do intelecto

Pergunta: Você diz que, para haver compreensão, a mente, a memória e o processo do pensamento precisam desaparecer; todavia, você está nos comunicando algo. O que você diz representa experiência de algo do passado, ou o experimenta no momento em que o comunica?

Krishnamurti: Quando é que vocês se comunicam? Quando é que comunicam ao outro a experiência de vocês? Depois de ter tido a experiência, e não no momento do experimentar. A comunicação não é mais do que um resultado anterior. Precisam da memória, das palavras, dos gestos, para transmitir uma experiência que tiveram. A comunicação de vocês é, pois, a expressão de uma experiência já terminada.

Ora, quando é que compreendem, quando é que há compreensão? Não sei se já notaram que só há compreensão quando a mente está muito quieta, ainda que seja por um segundo; dá-se o lampejo da compreensão quando não há verbalização do pensamento. Experimentem e verão que terão o clarão da compreensão, aquela extraordinária rapidez da intuição, quando a mente está muito tranquila, quando o pensamento está ausente, e quando a mente não está cheia de barulho por ela mesma produzido. Nessas condições, a compreensão de qualquer coisa — de um quadro moderno, de uma criança, de sua esposa ou seu vizinho — ou a compreensão da verdade, que está em todas as coisas, só pode despontar quando a mente está muito tranquila. Mas tal tranquilidade não pode ser cultivada, porquanto, se cultivam a mente para a tranquilidade, não terão uma mente tranquila, mas sim, uma mente morta.

É essencial ter-se uma mente tranquila, a fim de compreender-se, o que é bastante óbvio para aqueles que já experimentaram tudo isso. Quanto mais se interessarem por alguma coisa, quanto maior a intenção de compreender, tanto mais simples, clara e livre estará a mente. Cessa, então, a verbalização. Afinal de contas, o pensamento é palavra, e a palavra é que perturba. É “a cortina de palavras, a memória, que se interpõe entre o desafio e a “resposta”. É a palavra que está respondendo ao desafio, o que chamamos intelectualização. Assim sendo, a mente que vive a tagarelar, a verbalizar, não pode compreender a verdade — a verdade nas relações, não é uma verdade abstrata. Não existe verdade abstrata. Mas a verdade é muito sutil. É a sua sutilidade que é difícil seguir. A verdade não é abstrata. Ela nos vem súbita, às escuras, e por isso a mente não a pode reter. Como um ladrão, nas sombras da noite, ela vem às escuras, e não quando preparamos para recebê-la. A recepção de vocês não é mais do que um convite da avidez. Assim, pois, uma mente que está presa na rede das palavras, não pode compreender a Verdade.

A segunda questão é a seguinte: Não é possível comunicar a experiência no momento do experimentar? Para a comunicação, necessita-se da memória “factual”. Quando falo a vocês, emprego palavras, as quais vocês e eu compreendemos. A memória é resultado do cultivo da faculdade de aprender e armazenar palavras.

Deseja saber o interrogante como é possível haver uma mente que não expresse ou comunique simplesmente um fato depois de passado, depois da experiência, mas, sim, que seja capaz de experimentar e ao mesmo tempo comunicar a experiência. Isto é, uma mente nova, uma mente fresca, uma mente que experimenta  sem a interferência da memória, da memória do passado. Vejamos, pois, primeiro, a dificuldade aqui existente.

Como já disse, em geral, nós comunicamos depois da experiência; por conseguinte, a comunicação se torna um obstáculo a novas experiências; porque a comunicação, a verbalização, só tem o efeito de fortalecer a lembrança daquela experiência. E esse fortalecer da lembrança de uma experiência impede-nos de receber livremente a próxima experiência. Comunicamos uma experiência, ou para fortalecê-la ou para a retermos. Nós a verbalizamos, a fim de fixa-la como lembrança, ou para comunica-la. O próprio fixar de uma experiência pela verbalização representa o fortalecimento de uma experiência já terminada. O que se fortifica, por conseguinte, é a memória; e, por isso, é a memória que faz frente ao desafio. Em tal estado, no qual a resposta ao desafio é puramente verbal, a experiência do passado se torna um obstáculo. Nessas condições, a nossa dificuldade consiste em experimentar e comunicar, sem que a verbalização constitua um obstáculo a novas experiências.

Se em todas estas discussões e palestras, eu me limitasse a repetir a experiência do passado isso não somente seria terrivelmente enfadonho para vocês e para mim, mas também iria fortalecer o passado e, portanto, impedir o “experimentar” no presente. O que, com efeito, se dá é que a “experiência” se processa simultaneamente com a sua comunicação. A comunicação não é verbalização, não é o vestir a experiência. Se vestimos a experiência, se lhe colocamos uma vestimenta, se a moldamos, perder-se-á o seu perfume e a sua profundeza. Só pode haver, portanto, uma mente fresca, uma mente nova, quando o experimentar não é revestido de palavras. E no expressar verbalmente a experiência existe o perigo de a vestir, dar-lhe forma e figura e, portanto, de carregar a mente com a imagem, com o símbolo. Só é possível ter-se uma mente nova, uma mente fresca, quando não é a palavra que importa, mas a experiência. Esse experimentar, se dá momento por momento. Não pode haver “experimentar”, se isso se torna um processo acumulativo, porquanto, em tal caso, é a acumulação que experimenta, e não existe o experimentar. Só há experimentar, momento por momento, quando há acumulação. A verbalização é acumulação. É extremamente difícil e árduo expressar e ao mesmo tempo não nos deixarmos prender na rede das palavras.

A mente é, afinal, de contas, o resultado do passado, de ontem. E aquilo que não está subordinado ao tempo não pode ser seguido pelo tempo. A mente não pode seguir aquilo que é extraordinariamente veloz, que não está no espaço, nem no tempo, mas naquele estado da mente em que há o experimentar, em que não há “vir a ser”, em que tudo é novo. É a palavra que faz velho “o que é”. É a memória de ontem que veste o presente. E para se compreender o presente, é necessário o experimentar. Mas o experimentar é impedido quando a palavra se torna de suma importância. Nessas condições, só há uma mente nova, uma mente que está a experimentar continuamente, sem moldar nem ser moldada pela experiência, quando a palavra, o passado não é utilizado como meio de “vir a ser”.

Jiddu Krishnamurti — O que te fará feliz?

quinta-feira, 18 de julho de 2013

É dificílimo ter a mente desocupada

Você sabe o que é a mente? Grandes filósofos consumiram anos e investigar a natureza da mente, e sobre ela se têm escrito vários volumes; mas, prestando-se toda a atenção, acho que é bastante simples descobrir o que é a mente. Você já observou a sua própria mente? Tudo o que até hoje você aprendeu, a lembrança de todas as suas pequenas experiências, tudo o que seus pais e mestres lhe ensinaram, tudo o que você leu em livros e observou no mundo circundante — tudo isso é a mente. É a mente que observa, que discerne, que aprende, que cultiva as chamadas virtudes, que comunica ideias, que tem desejos e temores. Ela é, não só o que você vê à superfície, mas também as profundezas do inconsciente, onde estão ocultas as raciais ambições, motivos, impulsos, conflitos. Tudo isso constitui a mente. Pois bem; a mente quer estar sempre ocupada com alguma coisa, assim como a mãe que se preocupa com os filhos, ou a dona de casa com sua cozinha, ou o político com sua popularidade, sua posição no Parlamento; e a mente que se mantém ocupada é incapaz de resolver um problema. Percebe isso? Só a mente que não está ocupada, está fresca e pode compreender um problema.

Observe sua própria mente para ver como é inquieta, uma vez que está sempre ocupada com alguma coisa: com o que alguém disse ontem, com alguma notícia recebida neste instante, com o que você fará amanhã, etc. Nunca se encontra desocupada — o que não significa estar “estagnada” ou num estado de vacuidade. Enquanto está ocupada com o que quer que seja — as coisas mais elevadas ou as mais insignificantes — a mente é sempre limitada, medíocre. E a mente medíocre é incapaz de resolver qualquer problema; só sabe manter-se ocupada com ele. Por mais importante que seja o problema, a mente mantendo-se ocupada com ele, o torna insignificante: só a mente que está desocupada e, por conseguinte, fresca, pode considerar e resolver um problema.

Mas, é dificílimo ter a mente desocupada. Quando alguma vez você estiver sentado tranquilamente à beira do rio, ou em seu quarto, observe a si mesmo, para ver como aquele pequeno espaço de que você está consciente e que você chama “a mente”, está repleto de pensamentos que nele se precipitam. Enquanto a mente está “cheia”, ocupada com alguma coisa — seja a mente de uma dona de casa, seja a do maior dos cientistas, ela é pequena, medíocre, e nunca será capaz de resolver qualquer problema a que se aplique. Mas, ao contrário, a mente que está desocupada, que tem espaço, pode aplicar-se ao problema e resolvê-lo, porque essa mente é fresca, e, portanto, se aplica ao problema de maneira nova e não com a velha herança de suas próprias lembranças e tradições.   

Krishnamurti – A cultura e o problema humano

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Uma mente tagarela pode ser silenciada?


M: Quero falar sobre o problema da mente tagarela. O que faz a nossa mente tagarelar? De onde a mente consegue energia e qual é o propósito dessa tagarelice? É uma atividade constante. A todo momento, ela está murmurando.
P: Não é essa a verdadeira natureza da mente?
M: Não se trata de um “dever”. Não há “dever” algum. A mente põe-se a tagarelar o tempo todo e a energia dedicada a esse propósito preenche a maior parte da nossa vida.
K: Por que a mente põe-se a tagarelar? Qual p seu propósito?
M: Não há propósito. À medida que observo o cérebro, vejo que a tagarelice acontece só no cérebro, é uma atividade cerebral; uma corrente flui para baixo e para cima, mas é caótica, inexpressiva e inconsequente. O cérebro se desgasta com sua própria atividade. Pode-se ver que essa atividade é cansativa para o cérebro, mas ela não para.
K: Vale a pena levar adiante esse processo?
P: Se o senhor considerar o processo do pensamento como algo contínuo, sem princípio nem fim, então por que deveria fazer distinção entre a tagarelice e o processo do pensamento em si?
M: Nossa percepção ou atenção é totalmente desperdiçada nisso. Estamos cientes de algo que não tem absolutamente nenhuma significado. Trata-se de uma função neurótica do cérebro, produto do nosso tempo; nossa percepção, nossa atenção e nossos melhores esforços são desperdiçados nisso.
P: O senhor diria que há uma atividade significativa do pensamento e da tagarelice?
K: Por que a mente tagarela?
M: Porque não posso controla-la.
K: Por hábito ou por medo de não ficar ocupada com alguma coisa?
A: Trata-se de um ato que não depende da vontade.
M: Parece uma simples atividade automática. Ela apenas existe; não há nisso sentimento, não há nada.
K: Vocês não entenderam o que eu quis dizer. Aparentemente, a mente precisa estar ocupada com alguma coisa.
M: A mente está ocupada o tempo todo.
K: A mente precisa estar ocupada com alguma coisa e, caso não esteja, ela se sente ociosa, vazia e, portanto, recorre à tagarelice. Estou apenas perguntando isso: trata-se de um hábito ou é medo de não ficar ocupada?
M: É um hábito, um hábito arraigado.
K: Eu gostaria de saber se é um hábito... Por que ela está tagarelando?
P: Ela se põe a tagarelar; não há “razão” para isso.
K: Ele quer descobrir por que ela faz isso. É apenas como água correndo, como água escorrendo da torneira?
M: É um escoamento mental.
K: Por que vocês desaprovam a mente tagarela?
M: Porque é perda de energia, perda de tempo; o bom senso diz que o que está acontecendo é inútil.
(...)
K: Eu estou apenas lhe perguntando por que a mente tagarela? Trata-se de um hábito ou a mente precisa estar ocupada com alguma coisa? E quando ela não está ocupada com aquilo que ela acredita que deveria ser a sua ocupação, chamamos isso de tagarelice. Por que a ocupação não deveria ser tagarelice também? Estou ocupado com minha casa. Você está ocupado com o seu Deus, com o seu trabalho, com o seu negócio, com a sua mulher, com o seu sexo, com as suas crianças, com a sua propriedade. A mente precisa estar ocupada com alguma coisa; portanto, quando não está ocupada, ela pode ter uma sensação de vazio e, portanto, tagarelar. Não vejo nenhum problema nisso. Não vejo um grande problema nisso, a não ser que você queira que ela pare de tagarelar.
M: Se a tagarelice não fosse opressora, não haveria nenhum problema nisso.
K: Você quer contê-la, quer dar-lhe um fim. Portanto, a pergunta não é “por que”, mas para que?
M: Pode se dar um fim a uma mente tagarela?
K: Uma mente tagarela pode ser calada? Não sei o que vocês chamam de tagarela. Estou questionando. Quando você está ocupado com seu negócio, isso também é tagarelice. Quero descobrir o que vocês chama tagarelice. Eu digo que qualquer ocupação, comigo mesmo, com o meu Deus, com a minha mulher, com o meu marido, com os meus filhos, com a minha propriedade ou posição, tudo isso é tagarelice. Por que excluir tudo isso e dizer que a mente está tagarelando?
P: Porque a tagarelice sobre a qual estamos falando é irracional.
K: Não tem nenhuma relação com a sua atividade diária. Não há racionalidade nisso. Ela não está relacionada com a vida do dia-a-dia. Não tem nada que ver com as suas necessidades de todos os dias; é isso que você chama de tagarelice. Todos sabemos disso. (...)
A: Senhor, o pensamento normal é coerente em relação a determinado contexto. A tagarelice é uma atividade da mente que não tem nenhuma coerência com nenhum contexto. Portanto, nós dizemos que ela não tem sentido, pois não faz parte de nenhum contexto; e se a atividade da mente é desconexa, ela não tem coerência.
K: A tagarelice é um descanso para a mente?
A: Não, senhor.
K: espere, um caro; não vá tão depressa! Ouça; quero fazer-lhe uma pergunta: Você está ocupado com o seu trabalho diário, consciente, racional, irracional; a tagarelice pode ser uma libertação em relação a tudo isso?... A tagarelice, dizem vocês, é um desperdício de energia e vocês querem dar-lhe um fim... A sua mente pararia de tagarelar se estivesse totalmente ocupada? Apenas ouça; se não há nenhum espaço vazio, se não há nenhum espaço ou se toda a mente está cheia de espaço, a mente tagarela?... Ou a tagarelice só acontece quando há um pequeno espaço em que não está sendo ocupado?... Se a mente está completamente ocupada e não há nenhum espaço vazio, há, de alguma forma, alguma atividade que você chama de tagarelice?
(...) Eu não me importo que ela tagarele, mas você são contra a tagarelice da mente. Não sei se se trata mesmo de um desperdício de energia. Trata-se de um hábito?... A tagarelice cessa quando você a observa atentamente?
M: Essa é a maravilha, ela não para.
K: Não estou certo de que não pare. Se observo atentamente o hábito de fumar, prestando atenção a todo o movimento do fumar, ele desaparece. Assim, por que a tagarelice não pode desaparecer?... Não se trata de uma ação condicionada? Ela tornou-se condicionada. (...) Como você põe fim à tagarelice?... Isso é tudo o que nos interessa aqui. Minha mente tagarela. Eu quero recorrer a qualquer coisa para faze-la parar de tagarelar. Quero calá-la, porque percebo que a tagarelice é irracional, espalhafatosa. Como ela pode ter fim?
M: Tudo o que posso fazer é observa-la. Enquanto eu puder fazer isso, ela está parada.
K: Mas ela voltará mais tarde. Quero pará-la para sempre. No entanto, como faze-lo?... Por que me oponho à tagarelice? Você diz que está desperdiçando energia, mas está desperdiçando energia em dez direções diferentes. Veja: eu não me oponho a que minha mente tagarele. Eu não me importo de desperdiçar um pouco de energia, porque eu estou desperdiçando energia em muitas direções. Por que, então, me opor à tagarelice?
(...) Eu sei que a mente é tagarela, sei que há desperdício de energia em muitas direções, intencional ou não-intencionalmente, consciente ou inconsciente. E eu digo para deixa-la sozinha, que não haja tanto interesse por ela; encare-a de uma forma diferente... Eu acho que o problema da tagarelice não pode ser resolvido de outro modo... A mente não atingiu as raízes profundas da firmeza interior, e por isso é tagarela. É assim que costuma ser. A partir da observação “daquilo que é”... É dessa forma que eu agiria, se a minha mente estivesse tagarelando. Eu sei que é um desperdício de energia. Observo isso e um outro fator se lhe acrescenta — o fato de minha mente não ser de modo algum constante. Então, eu cuidaria mais desse fato do que da tagarelice.... Meu interesse recairia sobre isso, e não sobre a tagarelice. Vejo que, enquanto a mente não estiver firme, tem de haver tagarelice. Portanto, eu não estou interessado na tagarelice. Assim, vou descobrir qual é o sentimento e a qualidade de uma mente que está completamente firme. Isso é tudo. Deixei a tagarelice de lado... A mente não estando firme, tagarela. Minha pergunta é: Qual é a natureza e a estrutura dessa firmeza?… A atenção se aplica num sentido diferente. Em vez de ser dirigida para conter o desperdício, ela é, agora, dirigida à compreensão do que significa ser firme… Toda vez que vejo algo, o negativo instantaneamente se torna positivo. O falso se torna instantaneamente verdadeiro. O ver é a rocha; o escutar ou o ouvir é a rocha.  
Krishnamurti — Diálogos sobre a visão intuitiva








































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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill