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domingo, 1 de fevereiro de 2015

Há momentos em que a linguagem é impotente

Buda estava sentado embaixo de uma árvore falando aos seus discípulos. Um homem se aproximou e deu-lhe um tapa no rosto.

Buda esfregou o local e perguntou ao homem:

— E agora? O que vai querer dizer?

O homem ficou um tanto confuso, porque ele próprio não esperava que, depois de dar um tapa no rosto de alguém, essa pessoa perguntasse: "E agora?" Ele não passara por essa experiência antes. Ele insultava as pessoas e elas ficavam com raiva e reagiam. Ou, se fossem covardes, sorriam, tentando suborná-lo. Mas Buda não era num uma coisa nem outra; ele não ficara com raiva nem ofendido, nem tampouco fora covarde. Apenas fora sincero e perguntara: "E agora?" Não houve reação da sua parte.

Os discípulos de Buda ficaram com raiva, reagiram. O discípulo mais próximo, Ananda, disse:

— Isso foi demais: não podemos tolerar. Buda, guarde os seus ensinamentos para o senhor e nós vamos mostrar a este homem que ele não pode fazer o que fez. Ele tem de ser punido por isso. Ou então todo mundo vai começar a fazer dessas coisas.

— Fique quieto — interveio Buda — Ele não me ofendeu, mas você está me ofendendo. Ele é novo, um estranho. E pode ter ouvido alguma coisa sobre mim de alguém, pode ter formado uma ideia, uma noção a meu respeito. Ele não bateu em mim; ele bateu nessa noção, nessa ideia a meu respeito; porque ele não me conhece, como ele pode me ofender? As pessoas devem ter falado alguma coisa a meu respeito, que "aquele homem é um ateu, um homem perigoso, que tira as pessoas do bom caminho, um revolucionário, um corruptor". Ele deve ter ouvido algo sobre mim e formou um conceito, uma ideia. Ele bateu nessa ideia.

Se vocês refletirem profundamente, continuou Buda, ele bateu na própria mente. Eu não faço parte dela, e vejo que este pobre homem tem alguma coisa a dizer, porque essa é uma maneira de dizer alguma coisa: ofender é uma maneira de dizer alguma coisa. Há momentos em que você sente que a linguagem é insuficiente: no amor profundo, na raiva extrema, no ódio, na oração.

Há momentos de grande intensidade em que a linguagem é impotente; então você precisa fazer alguma coisa. Quando vocês estão apaixonados e beijam ou abraçam a pessoa amada, o que estão fazendo? Estão dizendo algo. Quando vocês estão com raiva, uma raiva intensa, vocês batem na pessoa, cospem nela, estão dizendo algo. Eu entendo esse homem. Ele deve ter mais alguma coisa a dizer; por isso pergunto: "E agora?"

O homem ficou ainda mais confuso! E buda disse aos seus discípulos:

— Estou mais ofendido com vocês porque vocês me conhecem, viveram anos comigo e ainda reagem.

Atordoado, confuso, o homem voltou para casa. Naquela noite não conseguiu dormir.

Na manhã seguinte, o homem voltou lá e atirou-se aos pés de Buda. De novo, Buda lhe perguntou:

— E agora? Esse seu gesto também é uma maneira de dizer alguma coisa que não pode ser dita com a linguagem. Voltando-se para os discípulos, Buda falou:

— Olhe, Ananda, este homem aqui de novo. Ele está dizendo alguma coisa. Este homem é uma pessoa de emoções profundas.

O homem olhou para Buda e disse:

— Perdoe-me pelo que fiz ontem.

— Perdoar? — exclamou Buda. — Mas eu não sou o mesmo homem a quem você fez aquilo. O Ganges continua correndo, nunca é o mesmo Ganges de novo. Todo homem é um rio. O homem em quem você bateu não está mais aqui: eu apenas me pareço com ele, mas não sou mais o mesmo; aconteceu muita coisa nestas vinte e quatro horas! O rio correu bastante. Portanto, não posso perdoar você porque não tenho rancor contra você.

E você também é outro, continuou Buda. Posso ver que você não é o mesmo homem que veio aqui ontem, porque aquele homem estava com raiva; ele estava indignado. Ele me bateu e você está inclinado aos meus pés, tocando os meus pés; como pode ser o mesmo homem? Você não é o mesmo homem; portanto, vamos esquecer tudo. Essas duas pessoas: o homem que bateu e o homem em quem ele bateu não estão mais aqui. Venha cá. Vamos conversar.

Osho; Intimidade Como Confiar em Si Mesmo e nos Outros

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

O autoconhecimento é a maior das rebeldias

Algumas coisas antes de introduzirmos estes sutras de Heráclito.

Primeiro: conhecer a si mesmo é a coisa mais difícil. Não deveria ser assim. Deveria ser exatamente o oposto — a coisa mais simples. Mas não é — por muitas razões. Tornou-se tão complicado, pois você investiu tanto na auto-ignorância que parece quase impossível retornar, voltar à fonte, encontrar a si mesmo.

Toda a sua vida, tal como ela é, como é aprovada pela sociedade, pelo Estado, pela Igreja, está baseada na auto-ignorância. Você vive sem se conhecer, porque a sociedade não quer que você se conheça. É perigoso para a sociedade. Um homem que conhece a si mesmo está destinado a ser rebelde.

O conhecimento é a maior das rebeldias — quer dizer, o autoconhecimento, não o conhecimento acumulado através de escrituras, não o conhecimento encontrado nas universidades, mas o conhecimento que acontece quando você encontra o seu próprio ser, quando chega a si mesmo na sua nudez total; quando você se vê como Deus o vê, não como a sociedade gostaria de vê-lo; quando você vê o seu ser natural, no seu florescimento total e selvagem — não o fenômeno civilizado, condicionado, educado, polido.

A sociedade está interessada em fazer de você um robô, não um revolucionário, porque o robô é mais útil. É fácil dominar um robô; é quase impossível dominar um homem de autoconhecimento. Como se pode dominar um Jesus? Como se pode dominar um Buda ou um Heráclito?

Ele não cederá, não obedecerá ordens. Ele se moverá. através de seu próprio ser. Será como o vento, como as nuvens; ele se moverá como os rios. Será selvagem — naturalmente belo, natural, mas perigoso para a falsa sociedade. Ele não se ajustará. A menos que criemos no mundo uma sociedade natural, um Buda continuará sendo sempre um desajustado, um Jesus certamente será crucificado.

A sociedade quer dominar; as classes privilegiadas querem dominar, oprimir, explorar. Gostaria que você permanecesse completamente inconsciente de si mesmo. Esta é a primeira dificuldade. E a pessoa tem de nascer numa sociedade. Os pais fazem parte da sociedade, os professores fazem parte da sociedade, os padres fazem parte da sociedade. A sociedade está em toda parte, à sua volta. Parece realmente impossível — como escapar? Como encontrar a porta que leva de volta à natureza? Você está cercado por todos os lados.

A segunda dificuldade vem do seu próprio ser — porque você também gostaria de oprimir, de dominar; você também gostaria de possuir, de ser poderoso. Um homem de autoconhecimento não pode ser escravizado, e também não pode escravizar ninguém. Não se pode oprimir um homem de conhecimento e um homem de conhecimento não pode oprimir ninguém. Ele não pode ser dominado e não domina. A dominação simplesmente desaparece nessa dimensão. Você não pode possuí-lo e ele não possui ninguém.

Ele é livre e ajuda os outros a serem livres.

Esta é uma dificuldade ainda maior do que a primeira. Você pode evitar a sociedade, mas como evitar o seu próprio ego? Você sente medo — porque um homem de conhecimento simplesmente não pensa em termos de posse, de domínio, de poder. É inocente como uma criança. Ele gostaria de viver totalmente livre, e gostaria que os outros também vivessem livres.

Esse homem será uma liberdade aqui neste seu mundo de escravidão. Você gostaria de não ser explorado? Sim, você responderá, você gostaria de não ser explorado. Gostaria de não ser um prisioneiro? Sim, você gostaria de não ser um prisioneiro. Mas gostaria também da outra coisa? — de não prender ninguém? Não dominar, não oprimir e explorar? Não matar o espírito, não transformar o outro num objeto? Isso é difícil.

E lembre-se: se você quiser dominar, você será dominado. Se você quiser explorar, você será explorado. Se você quiser que alguém seja seu escravo, você será escravizado. Os dois lados pertencem à mesma moeda. Esta é a dificuldade do autoconhecimento. Senão, o autoconhecimento
seria a coisa mais simples, a mais fácil. Não haveria nenhuma necessidade de se fazer qualquer esforço.

Os esforços são necessários para essas duas coisas, elas são as barreiras. Observe e veja essas duas barreiras, e comece abandonando a sua. Primeiro, pare de dominar, de possuir e explorar, e de repente será capaz de escapar da armadilha da sociedade.

Osho, em "A Harmonia Oculta - Discursos Sobre os Fragmentos de Heráclito"

Com a mente não pode haver nenhum encontro

(...)Os professores Zen estiveram dizendo continuamente que este mundo é nirvana, este mundo mesmo é moksha, liberação. É só uma questão de olhos. Com olhos falsos tudo fica falsificado; com olhos reais tudo é real. Sua entidade falsa cria um mundo falso em torno de ti. E não pense que todos vós vivem em um só mundo. Não podem! Cada um vive em seu próprio mundo, e há tantos mundos como mente, porque cada mente cria seu próprio mundo, seu próprio âmbito. Inclusive se está vivendo em uma família, o marido vive em seu próprio mundo e a mulher em seu próprio mundo, e há choques todos os dias entre estes dois mundos. Nunca se encontram; chocam. O encontro é impossível.

Com a mente não pode haver nenhum encontro; só choque, conflito. Quando não há mente, pode haver um encontro. A esposa vive em seu próprio mundo, em suas próprias expectativas. Para ela, o marido não é o marido real que há no mundo, a não ser só sua própria imagem. O marido vive em seu próprio mundo, e a esposa real não é sua esposa. Ele tem uma imagem de uma esposa, e cada vez que esta esposa não está à altura de sua imagem, há luta, conflito, ira, ódio. Ele ama a sua própria imagem de uma esposa, e a esposa ama a sua própria imagem de um marido, e ambas são ilusórias; não existem em nenhuma parte. Esta esposa real existe e este marido real existe, mas não se podem encontrar porque entre estas duas pessoas reais estão a esposa irreal e o marido irreal. Sempre estão aí; não permitirão um encontro das pessoas reais.

Todo mundo está vivendo em seu próprio mundo, em seus próprios sonhos, expectativas, projeções. Há tantos mundos como mente. Esses mundos são ilusórios, maia. Quando seu centro falso desaparece, o mundo inteiro troca. Então é um mundo real. Então vê pela primeira vez as coisas como são. Então não há desdita, porque com a ilusão desaparecem as expectativas, e com a realidade não pode haver desdita. Então a gente chega a perceber: «É assim! Os fatos são os fatos!». Com ficções há problemas, e as ficções nunca lhe permitem conhecer os fatos. Estas ficções da mente são maia.

OSHO em, O LIVRO DOS SEGREDOS

domingo, 21 de setembro de 2014

Vivemos a base de imagens criadas pela mente

PERGUNTA: Para que termine a formação de imagens, também deve cessar o pensamento? Um não implica necessariamente o outro? O final da formação das imagens é realmente a base sobre a qual se pode descobrir o que são o amor e a verdade? Ou esse final é a essência mesma da verdade e do amor?

KRISHNAMURTI: Vivemos a base de imagens criadas pela mente, pelo pensamento. Continuamente ajuntamos e eliminamos imagens. Você tem sua própria imagem a respeito de si mesmo; se você é um escritor, tem uma imagem de si mesmo como escritor, se é marido ou esposa, cada qual tem criado uma imagem de si mesmo ou de si mesma. Isto começa desde a infância, por causa da comparação, da sugestão, quando lhe dizem que você não é tão bom como o outro menino, ou que deve fazer tal coisa, ou que não deve fazê-la; assim, gradualmente, este processo se acumula. E, em nossas relações, pessoais ou de outro tipo, sempre há uma imagem. E esta imagem impede completamente que haja uma relação verdadeira com o outro.

Bem, agora, o interlocutor

PERGUNTA: Isto pode terminar alguma vez, ou é algo com o que temos que viver perpetuamente? E também pergunta: No termino mesmo dessa imagem, chega ao seu fim o pensamento? Ambas as coisas estão, a imagem e o pensamento, relacionadas entre si? Quando cessa o mecanismo pelo qual se forma a imagem, é isso a essência mesma do amor e da verdade?

Alguma vez terminaram de verdade com uma imagem, fazendo-o espontaneamente, facilmente, sem nenhuma compulsão, sem nenhum motivo? Não dizendo: “Devo terminar com a imagem que tenho de mim mesmo, assim não serei lastimado”. Tome uma imagem e examine-a; ao examiná-la descobre todo o movimento da formação de imagens. Nessa imagem começa a descobrir que existe temor, ansiedade, uma sensação de isolamento; e se sente temor, diz: “É muito melhor ficar com algo que conheço e não em algo que não conheço”. Porém, se a examina a fundo e com total seriedade, investiga quem é o fazedor da imagem, não de uma imagem, em particular, senão, de toda formação de imagens. É ele o pensamento? É essa a resposta, a reação natural para proteger-se a si mesmo física e psicologicamente? Pode-se entender que haja uma resposta natural para a proteção física: como ter alimento, roupas, um lugar onde viver, como evitar ser atropelado por um ônibus, etc. Essa é uma resposta natural, sadia, inteligente. Nela não há imagem; porém, psicologicamente, internamente temos criado esta imagem que é a conseqüência de uma série de incidentes, acidentes, ofensas, injúrias.

É esta formação psicológica de imagens o movimento do pensar? Sabemos que o pensamento não intervem, quem sabe para nada, na reação física auto-protetora. Porém, a formação psicológica das imagens é o resultado da constante falta de atenção, falta que é a essência mesma do pensamento. O pensamento é, em si mesmo, desatento. A atenção não tem um centro, não tem um ponto a partir do qual ir a outro ponto, como ocorre na concentração. Quando há atenção completa, não há movimento do pensar. Somente na mente que não está atenta surge o pensamento.

O pensamento é matéria; o pensamento é o resultado da memória; a memória é o resultado da experiência, a qual deve ser sempre limitada, parcial. A memória, o conhecimento, nunca podem ser completos, sempre parciais; portanto, neles não há atenção.

Assim pois, quando há atenção não há a formação de imagens, não há conflito; isso é um fato, veja-o. Se quando você me insulta ou me bajula, estou completamente atento, então, o insulto ou essa bajulação nada significam. Porém, no instante em que não presto atenção, o pensamento, que em si mesmo é desatento, toma a direção e cria a imagem.

O interlocutor também PERGUNTA: o final da formação de imagens, é a essência da verdade e do amor? De nenhum modo. O amor é desejo? O amor é prazer? Quase toda nossa vida tende ao prazer em diferentes formas, e quando tem lugar esse movimento de prazer, de sexo, etc., a isso chamamos amor. Pode haver amor quando há conflito, quando a mente está debilitada por problemas, o problema de Deus, o problema da meditação, dos problemas entre o homem e a mulher? Quando a mente vive submergida em problemas, como o está a maioria de nossas mentes, pode haver amor?

Pode haver amor quando há um grande sofrimento, seja fisiológico ou psicológico? É a verdade uma questão de conclusões, de opiniões, um assunto de filósofos, de teólogos, dessas pessoas que crêem tão profundamente em dogmas e rituais, que são toda criação do homem? Pode uma mente tão condicionada saber o que é a verdade? A verdade pode manifestar-se tão somente quando a mente está completamente livre de toda esta mistura. Os filósofos e outros nunca olham suas próprias vidas, se perdem em algum mundo metafísico ou psicológico a respeito do qual se colocar a escrever e publicar, e chegam a ser famosos. A verdade é algo que exige uma extraordinária claridade da mente, requer uma mente absolutamente livre de problemas físicos ou psicológicos, uma mente que não conheça o conflito. Ainda assim a recordação do conflito tem que terminar. Com a carga das recordações não podemos dar com a verdade. É impossível. A verdade somente pode manifestar-se para uma mente livre, assombrosamente livre de tudo o que tenha sido feito pelo homem.

Para mim, essas não são palavras, compreende? Se não fosse algo real, não falaria disso porque seria desonesto para comigo mesmo. Se não se tratasse de um fato, eu seria então um terrível hipócrita. Isto requer uma integridade tremenda.

PERGUNTAS E RESPOSTAS
Ojai, Califórnia, 13 de maio de 1980

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Que é que se sente ferido, magoado?

Enquanto alguém tiver uma imagem de si próprio, ficará magoado. Essa é uma das infelicidades na vida; (…) E que é isso que se sente ofendido? É a imagem de si mesmo, que cada um há construído. Se a pessoa estivesse totalmente livre de imagens, não seria afetado nem pelas ofensas nem pela adulação. (...) Agora quase todos encontram segurança na imagem que hão construído de si mesmos, que é a imagem criada pelo pensamento. De modo que, observando isso, perguntamo-nos se essa imagem, construída desde a infância (…), pode terminar completamente. Porque só então poderemos ter algum tipo de relação com os outros. Na relação, quando não há imagem, não há conflito. (…) Ao inquirir desse modo, como temos de reconhecer as confusões, as contradições, o movimento total da consciência? Temos de reconhecê-lo pouco a pouco? 

Tomem, por exemplo, o estigma psicológico que cada ser humano experimenta desde a infância. Ele é ferido psicologicamente pelos pais, depois (…) na escola, na universidade, por causa da comparação, da competência, (…) que ele tem que ser superior aos outros (…) Durante toda a vida, existe esse constante processo de ser reprimido. (…) Sabemos disto, (…) que todos os seres humanos se acham profundamente recalcados, ainda que possam não ser conscientes disso e que, por causa dessas marcas psicológicas, surgem todas as formas de ação neurótica. Tudo isso é parte da consciência de cada um de nós; a parte oculta e a parte que se revela 

(…) Pois bem, seria possível nunca ficarmos ofendidos? Porque, em conseqüência dessas marcas psicológicas, construímos um muro ao redor de nós mesmos e nos afastamos de nossa relação com os demais, para que não voltem a nos reprimir. E nisso há temor e um paulatino isolamento. Perguntamo-nos, pois: seria possível não só ficarmos livres dos estigmas passados, mas também jamais nos ferirmos de novo? - porém não mediante a insensibilidade, a indiferença ou o descuido de nossas relações.(...) Deve o indivíduo investigar por que se sente complexado e que é sentir-se magoado. Essas marcas psicológicas fazem parte da consciência de cada um de nós, e delas emanam diversas ações neuróticas e contraditórias. (…) Não é algo que está fora de nós, senão que é parte de nós mesmos. 

(…) Que é que se sente ferido? Um indivíduo diz: “Sou eu que estou magoado” Que é esse “eu”? Desde a infância tem construído uma imagem de si mesmo. Tem muitas, muitas imagens; não só as imagens que as pessoas lhe fornecem, senão as que ele próprio fabrica; como americano - essa é uma imagem - ou como hindu, ou como especialista. Portanto, o “eu” é a imagem que ele tem produziu de si mesmo como uma grande pessoa ou como uma pessoa muito boa; e essa imagem é que fica recalcada. (…) Pode o indivíduo ter de si mesmo a imagem de um grande orador, um escritor, um ser espiritual, um líder. Essas imagens são a essência do “si mesmo”; quando ele diz que se sente magoado, quer dizer que as imagens estão ofendidas. Se tem uma imagem de si mesmo, e vem outro e diz: “Não seja néscio!”, fica ele magoado. A imagem própria que há fabricado é o “eu”, e essa imagem fica recalcada. Carrega-se essa imagem e essa ferida psicológica pelo resto da vida. (…) As conseqüências de nos sentirmos magoados são muito complexas. 

(…) Seria, então, possível não se ter nenhuma imagem de si mesmo? Por que tem ele uma imagem de si próprio? Pode um indivíduo ter boa aparência, ser brilhante, inteligente, perspicaz, e um outro deseja ser como ele, e, se não é, se sente magoado. A comparação pode ser um dos fatores que contribuem para que fiquemos psicologicamente recalcados. (…) Existe, pois, uma maneira de encarar o fato sem que intervenha um só motivo? Ou seja, você não tem um motivo, e pode ser que sua esposa, sim, tenha um motivo. Então, se você não tem motivo, como está olhando o fato? O fato não é diferente de você, você é o fato. Você é a ambição, é o ódio. (…) Há uma observação do fato que é você mesmo, na qual não intervém nenhuma explicação, nenhum motivo. É isso possível? Porém, quando você vê o absurdo de uma acepção semelhante, então está obrigado a ver que todo esse tormento é você mesmo; o inimigo é você, não sua esposa.

Você se encontrou com o inimigo e descobriu que o inimigo é você mesmo. Pode, pois, observar todo esse movimento do “eu”, do “si mesmo” (…)? (…) Quando o indivíduo olha para si mesmo sem um motivo, há o “eu”? O “eu” como a causa e o efeito,o “eu” como resultado do tempo, que é o movimento da causa ao efeito. Quando você se olha a si mesmo, (…) sem uma causa, há algo que termina e há algo totalmente novo que começa.

Krishnamurti em, (La Llama de la Atención, pág 88 a 125)

domingo, 15 de setembro de 2013

A imagem é diferente de seu criador?

(...) Não nos interessam opiniões. Elas só podem servir para dissertações dialéticas. E nós estamos tratando de coisa inteiramente diferente. Estamos interessados no processo total do viver; esse processo, como se pode observar, está sempre criando imagens a respeito de nós mesmos e de outros — imagens que se formam através da experiência, através do conflito. A essa imagem ora se adiciona, ora se subtrai algo, mas o fator central daquela energia criadora das imagens é constante. Temos alguma possibilidade de superá-lo? Estamos conscientes da existência, dentro de cada um de nós, de uma imagem de nós mesmos, consciente ou inconsciente? Quer dizer, uma pessoa pode ter de si a imagem de uma entidade superior ou de um ente sem capacidade, ou de uma entidade agressiva, orgulhosa — enfim, todas as nuanças e sutilezas de que pode constituir-se tal imagem. Sem dúvida nenhuma, cada um possui essa imagem de si próprio. Nós a temos mesmo em plena juventude (pois a idade nada tem a ver com isso) e, com o passar dos anos, ela se vai consolidando e cristalizando cada vez mais... até não haver mais remédio.

Estamos conscientes dessa imagem? Se estamos, QUEM é a entidade que se torna consciente da imagem? Compreendem? A imagem é diferente de seu criador? (...) Entendem? Posso ver que tenho uma imagem de mim mesmo: sou isto e sou aquilo; um grande homem ou um homem insignificante; meu nome é conhecido ou desconhecido, enfim toda a estrutura verbal e não verbal que se ergue em torno de mim, consciente ou inconscientemente. Percebo que essa imagem existe, se presto atenção, se me ponho vigilante. E observador que a percebe sente-se diferente dela. Não é isso o que está ocorrendo? (...) E o observador começa então a dizer, de si para si, que a imagem é o fator responsável pela deterioração e que, portanto, terá de destruí-la a fim de alcançar um resultado superior — rejuvenescer a mente, etc. — Compreendendo que essa imagem é o fator de deterioração, faz um grande esforço para libertar-se dela.(...) Ele (o observador) luta, explica, justifica, acrescenta; esforça-se para transformá-la numa imagem melhor; transfere-a para uma dimensão diferente, uma diferente parte do campo a que chama "vida". O observador, pois, ou se empenha em destruir a imagem, ou em acrescentá-la, ou ultrapassá-la. É o que estamos fazendo a todas as horas. E nunca nos detemos para investigar se o observador não é o criador da imagem e, por conseguinte, ele próprio a imagem. Assim, uma vez compreendido esse fato, — não verbal porém realmente —isto é, que o observador é o criador da imagem e, com sua ação, não só destrói a imagem que então tem de si próprio, mas também cria outra imagem e continua a criar imagens, indefinidamente, lutando, esforçando-se, controlando, alterando, ajustando; uma vez claramente compreendido que o observador é a coisa observada, cessam todos os esforços para alterar ou transcender a imagem.

(...) Assim, ao perceber-se que o observador é o criador de imagens, todo o nosso processo de pensar passa por uma enorme mudança. E, portanto, a imagem é o conhecido, não? Podem não estar conscientes dela; podem não estar conscientes de seu conteúdo, de sua forma, de suas peculiares nuanças, sutilezas — mas essa imagem, quer dela estejamos conscientes, quer não, se encontra no campo do conhecido.

(...) Enquanto a mente, em seu todo — ou seja, a mente, o cérebro e o corpo — estiver funcionando no campo da imagem, que é o conhecido — do qual podemos estar conscientes ou não — nesse campo estará sempre o fator de deterioração.

(...) O problema é se a mente — que é o resultado do tempo, psicológico e cronológico, resultado de milhares de experiências, de inúmeras tensões e pressões, do conhecimento técnico, da esperança, do desespero, de tudo o que passa o ente humano, das inúmeras formas de medo — o problema é se a mente funciona sempre dentro desse campo, desse campo do conhecido. Emprego a palavra "conhecido" compreendendo, inclusivamente, o que pode existir dentro daquele campo e que ainda não observaram; isso também é conhecido. É esse o campo em que a mente funciona: sempre o campo do conhecido. O conhecido é a imagem criada pelo intelecto ou por pensamentos sentimentais, emocionais, românticos — pensamentos de toda espécie. Enquanto suas atividades, seus pensamentos, seus movimentos estiverem confinados no campo do conhecido (onde se processa a criação das imagens), é inevitável a deterioração, não importa o que se faça. Temos, assim, a questão: É possível esvaziar a mente do conhecido? (...) Essa pergunta — se é possível livrar-nos do conhecido — já deve ter sido feita, vagamente ou com um propósito definido, porque todos sofremos, temos ansiedades e vagos pressentimentos dessa possibilidade. Estamos agora a fazê-la como uma pergunta que tem de ser respondida, como um desafio a que se tem de reagir — não a um desafio exterior, porém um desafio interior, psicológico.

(...) pode-se ver muito claramente que só há compreensão, ação, quando a mente está totalmente quieta. Isto é, digo que compreendo ou que vejo uma coisa com muita clareza quando a mente está de todo silenciosa. Você diz-me algo que me agrada ou desagrada. Se me agrada, presto alguma atenção; se não, nenhuma atenção lhe dou. Ou eu ouço o que você está dizendo e traduzo-o de acordo com minha idiossincrasia, minha inclinação, justificando, etc. etc. Não o escuto, absolutamente. Ou me oponho ao que você diz, porque tenho uma imagem de mim mesmo, e essa imagem reage.(...) Desse modo, eu não ouço nem escuto. Oponho objeções; discordo; torno-me agressivo. Mas tudo isso, evidentemente, me impede de compreender. Eu desejo compreender-lhe. Entretanto, só posso compreender-lhe se nenhuma imagem tenho de você. E, se me é completamente desconhecido, um estranho, nenhum interesse tenho no que você diz; não quero, sequer, compreender-lhe, porquanto você está completamente fora da órbita de minha imagem: não estou em relação com você. Mas, se você é um amigo, um parente, meu marido, minha mulher, etc., tenho a respectiva imagem; e a imagem que de mim você tem e a que tenho de você — essas imagens estão em relação entre si. Todas as nossas relações se baseiam nisso. Vê-se muito claramente que é só quando a imagem não interfere — imagem na forma de conhecimento, pensamento, emoção, etc. — que posso olhar, que posso ouvir, que posso compreender. Isso ocorre com todos nós. Quando, após discutir, argumentar, demonstrar, etc., a sua mente se torna de súbito quieta e você percebe o fato, diz: "Agora sim, compreendi!" — Essa compreensão é ação, e não ideia.

(...) Quando o observador é a imagem e, por conseguinte, nenhum esforço faz para alterar ou aceitar a imagem, e só existe o fato — O QUE É —, então, a observação desse fato opera radical transformação do próprio fato. Isso só pode verificar-se quando o observador é a coisa observada. Não há nada de misterioso nisso. O mistério da vida está acima de tudo isso — da imagem, do esforço, da atividade centralizada, egocêntrica, subjetiva. Existe um imenso campo e, nele, uma certa coisa que jamais pode ser encontrada através do conhecido. E o "esvaziar" da mente só pode verificar-se não verbalmente, quando não há observador nem coisa observada. Tudo isso exige imensa atenção e percebimento, que não é concentração.

(...) Há percebimento quando a pessoa observa (e isso qualquer um pode fazer) não só as coisas exteriores, a árvore, o que os outros dizem, o que ela própria pensa, etc., mas também quando observa interiormente, sem escolha. Quando observa simplesmente, sem escolha alguma. Porque a pessoa só escolhe quando há confusão, e não quando há clareza.

Só há percebimento quando não há escolha; ou ao estarmos conscientes de todas as escolhas e desejos contraditórios e da tensão respectiva: no observarmos todos os movimentos da contradição. Quando se sabe que o observador é a coisa observada, não há nesse processo escolha alguma, porém, tão-só, observação do que É, e isso difere inteiramente da concentração. Esse percebimento produz uma atenção de tal qualidade que não há observador nem coisa observada... Nesse estado de atenção há silêncio. Produz essa atenção um extraordinário estado de renovação, de juvenilidade, estado em que a mente se torna vigorosa, completamente nova. Esse "esvaziar" da mente de todas as experiências que teve é meditação.

(...) A meditação é um processo que exige muita energia; não é simples ocupação para gente velha, que nada tem que fazer. Requer intensa e continuada atenção. Acharão então, por vocês mesmos... não, não acharão nada: não se está procurando nenhuma experiência, não há nada para achar. Quando a mente está totalmente quieta, não por qualquer espécie de sugestão, de hipnotismo ou qualquer outro método — nessa total quietação há um estado, uma dimensão diferente, que o pensamento jamais tem possibilidade de imaginar ou de experimentar. Ela se encontra acima de toda busca. Já não há buscar. A mente toda iluminada não busca. Só aquela que está na obscuridade, confusa, busca permanentemente e espera achar alguma coisa. E o que acha é sempre resultado de sua confusão.


Jiddu Krishnamurti — A importância da Transformação

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Sobre o processo de imagens que impede o claro observar

(...)Nossas relações com os entes humanos se baseiam no mecanismo defensivo, formador de imagens. Em todas as nossas relações, formamos imagens uns dos outros, e são essas imagens que ficam em relação, e não os entes humanos... cada um tem uma imagem de sua pátria e uma imagem de si próprio. A essas imagens vamos fazendo mais e mais acréscimos, a fim de fortalecê-las. E, com profunda observação, pode-se ver que essas imagens têm relação umas com as outras. E, dessa maneira, por causa da formação das imagens, o verdadeiro estado de relação entre dois ou muitos entes humanos cessa completamente.

Cada um pode observar esse fato em si próprio; e, evidentemente, as relações baseadas em tais imagens jamais serão pacíficas, porquanto as imagens são fictícias e não se pode viver abstratamente. Todavia, é isso o que estamos fazendo: vivendo na esfera das ideias, das teorias, dos símbolos — tais como a nação, as imagens que criamos a respeito de nós mesmos e de outros, as quais são puros devaneios, irrealidades. Todas as nossas relações — com a propriedade, com as ideias, com pessoas — se baseiam essencialmente nessa formação de imagens e, por isso, há sempre conflito.

(...) Pode-se olhar sem nenhuma interferência do passado, do pensamento? Pode-se olhar o todo da consciência humana — que constitui a pessoa, o "eu" — sem interferência, juízo, avaliação, tudo isso essencialmente baseado no passado? Porque o importante é o ato de olhar e não aquilo que olhamos. Se sabemos olhar, então aquilo que olhamos muda completamente de natureza. Isso se pode observar em nossa vida de cada dia.

(...) O tempo é o intervalo entre o observador e a coisa observada... Pode-se enfrentar a chamada "morte" (ou o que quer que seja) sem esse intervalo de  espaço-tempo? Só é possível quando há atenta e profunda observação, na qual o observador não tem continuidade — o observador que é o criador de imagens, o observador que é a coleção de memórias, ideias, um feixe de devaneios. É possível enfrentar qualquer fato sem esse intervalo de tempo e, portanto, sem nenhuma contradição, vale dizer, sem conflito?

(...) Vários métodos já se experimentaram para eliminar o espaço entre o observador e a coisa observada: drogas, identificação, meditação, observância de sistemas e outros mais — tudo isso na esperança de eliminar esse intervalo de espaço entre o observador e a coisa observada e, desse modo, libertar-se da contradição e do conflito, criando-se assim a paz.

Não creio que algum sistema ou droga, alguma identificação, alguma forma de sublimação tenha o poder de eliminar o espaço. Mas, que é que pode eliminar o espaço e o tempo? É a maneira de olhar, de observar. A meu ver, esta é a chave: observar, realmente, sem nenhuma imagem. Eis porque cumpre haver muita simplicidade: observar uma flor sem nenhuma atividade mental, sem nenhuma interferência do pensamento; porque pensamento é tempo, e tempo é aflição. (...) Observar simplesmente!  

(...) se uma pessoa observa tudo isso dentro de si, e se penetrou suficientemente, junto comigo, nesta manhã — descobre ser possível viver sem conflito e sem contradição. Existe contradição quando há comparação, não apenas com alguma coisa, mas também a comparação com o que eu era  ontem. É assim que surge o conflito entre o que foi e o que é. Não havendo comparação, só há o que é. E viver completamente com o que é é ser pacífico. Porque então se pode dispensar toda atenção ao que é, sem distração alguma — a realidade interior, não importa o que seja: desespero, malevolência, brutalidade, medo, ansiedade, solidão — e viver plenamente com essa realidade. Não há então contradição e, por conseguinte, não existe conflito.
Essa compreensão que só pode nascer da observação de o que é — é paz. Isso não significa aceitar o que é; ao contrário, não se pode aceitar esta sociedade monstruosa e corrupta em que estamos vivendo, a qual entretanto é o que é. Significa, sim, observá-la, observar toda a sua estrutura psicológica, que sou eu — observá-la sem julgamento nem avaliação — observar realmente o que é e, observando-o, transformar-se completamente. Pode assim uma pessoa viver em paz com a esposa ou o marido, com o próximo, com a sociedade, porque ela própria está vivendo, dia a dia, uma vida pacifica.

(...) Pois bem; que é o sofrimento? E porque razão o homem jamais conseguiu livrar-se dele, acabar com ele, dentro em si mesmo? É possível colocar fim ao sofrimento, completamente, não teórica, porém realmente? Ele só pode cessar com a perfeita compreensão de nós mesmos. O autoconhecimento é o fim do sofrimento. Não queremos dar-nos ao trabalho de estudar-nos e ficamos inventando maneiras de fugir do sofrimento.

Enquanto existir o observador com todas as suas memórias, essa entidade separada criadora de um intervalo de tempo entre si e o que é, tem de haver sofrimento, que é conflito. E colocar fim ao sofrimento, de fato e não verbalmente, colocar-lhe fim todos os dias, é estar cônscio (o indivíduo) do movimento total da própria existência, a todas as horas.

(...) Só existe confusão quando não estou olhando diretamente o que é. E quando um homem está confuso, quanto mais tenta livrar-se da confusão, tanto mais confuso se torna. Assim, em primeiro lugar, que faz uma pessoa quando se vê confusa?

Eu estou confuso. Não sei o que fazer; há várias possibilidades de escolha. E compreendo que, havendo escolha, tem de haver confusão. E eu estou confuso; portanto, que devo fazer? Primeiro, tenho de parar, não? Detenho-me; não fico a procurar, a pedir, a perguntar, a olhar, a observar. Ao se perder numa floresta, você não se põe a correr a esmo; primeiro para e olha para todos os lados. Mas, quanto mais uma pessoa está confusa, tanto mais se põe a correr, a buscar, a interrogar, a exigir, a rogar. Portanto, a primeira coisa — se posso sugerir-lhe — é deter-se completamente em seu interior. E quando, interiormente, psicologicamente, você detém todo movimento de busca, de escolha, de indagação, a sua mente se torna muito plácida, muito clara. Pode então olhar. E só na claridade que se pode olhar, e não na confusão.  
   
(...) Eu lhe olho. Não lhe conheço e, por conseguinte, não tenho nenhuma imagem a seu respeito. Mas, se lhe conheço, olho-lhe com a imagem que tenho de você. Essa imagem foi formada, constituída pelo que você disse — insultando-me ou elogiando-me — e com essa imagem eu lhe olho. A imagem é uma distração que não me deixa olhá-lo. Só posso olhá-lo quando nenhuma imagem tenho de você; estou então em relação com você. É-me possível morrer para a imagem que construí, para as imagens que tenho de você que venho formando há tantos anos, vivendo com você como marido ou esposa ou vizinho — ou a imagem que tenho acerca dessas relações? Posso morrer para todas elas? Se não morro para elas, e visto que essas imagens constituem uma distração ou devaneio, não tenho a possibilidade de olhar.   Se tenho uma imagem relativa à arvore, não posso olhar a árvore.

(...) Assim, é possível morrer para tudo o que é conhecido, inclusive a imagem deste orador? De outro modo, a imagem se torna a autoridade, quer dizer, o devaneio se torna uma autoridade, em lugar do estado real. Estamos sempre fazendo isso, não?  

Jiddu krishnamurti — A essência da maturidade


quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Imagem do dia

Tem certeza que seu ponto de vista está correto?


quarta-feira, 24 de julho de 2013

Não existe divisão entre vida mundana e espiritual

Cada um de nós tem uma certa imagem de si próprio, em geral uma imagem algo lisonjeira, e dessa base é que olhamos a coisa que nos causa dor ou prazer.

(...)Você tem, pois, uma imagem de si mesmo — de como você é ou como deveria ser ou deve ser — e dessa imagem você olha a coisa a qual chama de “um problema”. Há, pois, a imagem e o problema; e você procura então comparar o problema com a imagem ou o interpreta em conformidade com o padrão estabelecido pela imagem. Não é assim? Tendo uma certa imagem a respeito de si mesmo, com essa imagem é que você olha o problema; há por isso uma divisão, uma contradição entre o problema e o que você pensa ser ou o que pensa que deveria ser; há um constante conflito entre aquilo que sua imagem representa, e o problema que contradiz a imagem.

(...)O problema nunca será resolvido enquanto a imagem existir — a imagem do que você deveria ser, ou a imagem de si própria que a mente criou por efeito do saber, da história, da tradição familiar, de todas as formas de experiência. Você está cônscio, não da imagem, porém, do problema, enquanto o que aqui estamos tentando não é resolver o problema, porém, sim, compreender a estrutura da imagem; porque, se nenhuma imagem temos de nós, poderemos resolver o problema.

O indivíduo, em geral, tem de si próprio a imagem de que é um ser humano extraordinário, ou um homem mal sucedido na vida, um infeliz que precisa preencher-se, ou um homem vaidoso, ambicioso — você bem sabe que imagens a maioria das pessoas têm de si próprias. Pensam ser Deus, ou pensam mão ser Deus, porém, apenas ambiente, que são isto ou aquilo. Têm uma dúzia de imagens de si próprias, ou apenas uma imagem predominante. Ora, se eu tenho uma imagem de mim mesmo, essa imagem terá de contradizer os fatos da existência diária, e só sou capaz de olhar esses fatos com os olhos dessa imagem. Por conseguinte, o problema é criado pela imagem e não pelo próprio fato.

(...)Ora, por que formo essa imagem de mim mesmo? Vejo que enquanto eu tiver qualquer conceito, imagem, conclusão a meu respeito, os problemas continuarão existentes. Assim, já não estou interessado no problema, na dificuldade; apenas me interesso em compreender por que tenho essas imagens, conceitos e conclusões sobre a minha pessoa. No Oriente, muita gente tem a ideia de que é Deus, têm uma infinidade de conceitos; e aqui, no Ocidente, você tem também seus conceitos, suas imagens. Se você for ao mundo comunista, verá que também lá eles têm suas imagens. Ora, por que formamos imagens, conceitos?

(...) Por que razão eu, que vivo há quarenta, cinquenta, sessenta ou não importa quantos anos — por que razão mantenho esse depósito repleto das coisas que penso, que sinto, que sou, que deveria ser, essa enorme acumulação de conhecimento e experiência? E, se eu não o fizesse, o que aconteceria? Compreende? Se nenhum conceito eu tivesse a respeito de mim mesmo, que me aconteceria? Ver-me-ia como que perdido numa floresta, não é verdade? Sentir-me-ia incerto, aterrorizado com a vida. Por isso, formo uma imagem, um mito, um conceito, uma conclusão a meu respeito, porque, sem essa estrutura, minha vida se tornaria, para mim, sem significação, incerta, medonha. Não haveria segurança. Exteriormente, posso estar em segurança, ter emprego, casa, etc., porém, desejo estar também em perfeita segurança interiormente; e é esse desejo de segurança que me impele a formar essa imagem de mim próprio — imagem puramente verbal, isto é, não tem realidade nenhuma, é um mero conceito, uma memória, uma ideia, uma conclusão.

Vejo isso agora como um fato. Dele estou consciente.(...) Sei como formei a própria imagem, quer por esforço consciente, quer inconscientemente, através das inumeráveis influências da sociedade, da religião organizada, dos livros. Agora o sei. Eu a formei, e vejo por que a formei. A sociedade o exige; e, também, independente da sociedade, desejo estar em segurança. A sociedade me ajuda e eu também me ajudo a ser essa imagem, essa ideia, essa conclusão; de todo esse processo estou bem consciente.

(...) Ora, o que acontece quando percebo o fato de que formei uma imagem de mim próprio — quando dele estou tão consciente como da fome? Estamos acostumados a fazer esforços. Desde a infância estimulam-nos a nos esforçar, a lutar, para termos mais êxito do que outro qualquer. Mas aqui não há necessidades de esforço algum, porque não há nada a exigir-nos esforço. Entende? Estou simplesmente a observar o fato de que tenho uma imagem de mim próprio. Todo esforço que faço para alterar, melhorar ou desfazer essa imagem consiste em ajustar-me a outra imagem que tenho de mim mesmo. Está claro? Se faço um esforço para dissipar ou destruir a imagem atual, esse esforço se origina de uma outra imagem que formei de mim, a qual diz que a imagem atual deve deixar de existir.

Como disse no começo(...) o problema é absolutamente sem importância, pois o que importa é a imagem que você tem de se mesmo. Se nenhuma imagem você tem, se amente está completamente livre de todas as imagens, você está então apto a resolver qualquer caso que se apresente, e ele não constitui problema algum.

A mente, pois, está cônscia de ter criado uma imagem de si própria, e que todo esforço para dissipar, dissolver ou fazer alguma cosia a respeito dessa imagem nasce de uma outra imagem, existente num nível muito mais profundo e me diz: “Não devo criar nenhuma imagem”. Todo esforço no sentido de alterar a imagem atual procede de outra imagem, mais profunda, de uma conclusão mais profunda. Vejo que isso é um fato e, por conseguinte, minha mente não está fazendo esforço algum para dissipar a imagem.(...) A mente está totalmente cônscia da imagem, sem ter nenhum desejo, sem fazer nenhum esforço, sem sofrer nenhuma alteração; está simplesmente cônscia da dela, simplesmente a olhá-la. Olho para este microfone, e não posso fazer coisa alguma a respeito dele. Ele existe, foi feito. De modo idêntico, a mente olha a imagem, a conclusão que tem a respeito de si mesma, sem fazer nenhuma espécie de esforço; esta é a atenção real. Nessa observação você descobrirá que existe uma tremenda disciplina — não a estúpida disciplina do ajustamento. Visto que não faz nenhum esforço para alterar a imagem, a própria mente é essa imagem. Não existem separadas a mente e a imagem, porém a mente é a imagem. Todo movimento por parte da mente para identificar-se com essa imagem ou destruí-la é criado ou impulsionado por outra imagem. A mente, por conseguinte, percebe que ela própria é a criadora da imagem.

Se você percebe esse fato, realmente, a imagem perde então toda a importância. A mente está então apta a resolver qualquer problema, qualquer crise que surja, sem o auxílio de nenhuma conclusão prévia, emanada da imagem. A mente está agora livre de todas as imagens e, por conseguinte, não se acha numa posição estática, sobre um pedestal — uma crença, um dogma, uma experiência na forma de conhecimento — de onde observa o problema. A mente, por conseguinte, pode agora “estar completamente” com qualquer dificuldade que se apresenta, sem considera-la um problema. Só existem problemas quando há contradição. Mas, aqui não há contradição alguma. Não tenho nenhuma imagem, nenhum centro, nenhuma conclusão, de onde estou olhando; deste modo, não há contradição e, portanto, não há problema.

Como disse de início, a vida é um movimento de relações, não só com pessoas, porém com tudo — a natureza, o dinheiro, ideias. A vida é um movimento, e quando nos movemos com a vida, ela não apresenta nenhum problema. É só quando se apresenta uma situação estática, da qual estamos tentando compreender, que a vida se torna um problema. A vida mundana é a única vida que você tem de compreender, e não a vida espiritual. Quando já não estamos sendo impelidos pela ambição, pela avidez, pela inveja, quando já não buscamos a fama, e quando todas as coisas que constituem isso que chamamos “vida mundana” estão em perfeita ordem, há então um movimento totalmente diferente, que a mente não pode prever, nem nele crer ou a seu respeito chegar a uma conclusão. Só existe o movimento da vida, mas nós o dividimos em movimento mundano e movimento espiritual, em vida exterior e vida interior.  Fizemos da vida interior uma cosia separada. Cansados da nossa vida mundana, com seus horrores e brutalidades — você bem sabe tudo o que se passa — tratamos de evadir-nos, de estabelecer dentro de nós uma “vida espiritual” — o que é um grande disparate. Você não pode estabelecer para si mesmo uma vida espiritual sem ter, primeiramente, perfeita ordem; e ordem significa liberdade. Você verá, então, que há uma vida sem causa, sem fim, sem começo — um movimento. Mas, o que quer que você faça — sentar-se em qualquer posição, escutar todos os truques que quiser — nenhuma possibilidade você terá de alcançar ou de compreender aquele movimento, se não existe completa ordem, quer dizer, se você não está livre da luta exterior de cada dia — da dor, do sofrimento, da avidez, da ambição.

Krishnamurti — O descobrimento do amor 

quarta-feira, 17 de julho de 2013

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Osho, em "The Heart Sutra"

terça-feira, 16 de julho de 2013

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domingo, 10 de fevereiro de 2013

Sobre a solução dos problemas


quarta-feira, 10 de outubro de 2012

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill