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sexta-feira, 20 de abril de 2018

Só o choque da crise nos força ao silêncio

Só o choque da crise nos força ao silêncio

[...] Senhor, quando dispensais toda a vossa atenção ao que se está dizendo, não estais apenas escutando palavras e os respectivos significados, mas também, além das palavras, o seu significado essencial; e o próprio ato de dispensardes vossa atenção total é um ato em que se transforma a natureza de vossa ação. Por conseguinte, depois de sairdes daqui, haverá uma ação total e não mera ação intelectual em contradição com vosso inconsciente.

Direis, agora: "Como irei escutar com atenção total? Não sei escutar dessa maneira e, em verdade, não escuto realmente coisa alguma; assim sendo, peço-vos um método, uma maneira, um sistema que me ajude a pensar com todo o meu ser". Ora, que aconteceria, se eu vos desse um tal sistema? Vosso esforço para escutar criaria uma contradição com o vosso hábito de não escutar, e, por conseguinte, de novo estaríeis na mesma situação de antes.

Senhor, quando tendes subitamente um grande pesar, que fazeis? Nesse momento, vos achais num estado de choque total, não é verdade? A crise vos forçou ao silêncio; vede-vos, realmente, desafiado por algo que não compreendeis, e momentaneamente ficais paralisado, emudecido. Nesse estado de choque — se não tentais encontrar uma saída dele, ou afastá-lo com explicações — estais olhando, observando, escutando com atenção total. Ora, podeis escutar de igual maneira a vós mesmo? Todo o vosso ser se encontra num estado de constante fluidez, está sempre ativo, e jamais quieto: desejando isto, não desejando aquilo, contradizendo-se, preenchendo-se, em incessante agitação. E podeis escutar essa agitação sem vos tornardes neurótico? É muito fácil um indivíduo tornar-se neurótico, ligeiramente desequilibrado. É o que acontece com a maioria das pessoas. Mas, se fordes capaz de escutar a vós mesmo, sem fugir, nem procurar modificar o que escutaisescutar simplesmente o "silencioso barulho" existente dentro em vós — esse ato de escutar produz uma transformação vital na própria natureza da ação, e não há, então, na ação, nenhuma contradição.

Krishnamurti, Saanen, 16 de julho de 1963,
Experimente um novo caminho

quinta-feira, 12 de abril de 2018

A dificuldade da atenção total


A dificuldade da atenção total

PERGUNTA: A plena atenção é tão essencial em relação às coisas agradáveis, como em relação às coisas desagradáveis e dolorosas?

KRISHNAMURTI: Vede, desejamos dar continuidade às coisas agradáveis. Volvemos com a memória às alegrias da meninice, a prazeres outrora fruídos, ou nos apegamos àquilo que no momento estamos fruindo; e desejamos pôr fim às coisas não agradáveis. Mas, quando damos nossa atenção total, damo-la tanto ao agradável como ao doloroso. O desejo de continuidade do prazer é o começo do sofrimento. Por que não deve terminar o prazer? Desejais que a dor termine, mas que continue o prazer; e o depender do prazer embota a mente, torna-a insensível, exatamente como o faz a dor. Evitar o que chamamos sofrimento e buscar o prazer — tanto uma como a outra coisa acarretam aquela peculiar desatenção da mente indolente. A mente que conheceu muitos prazeres, que busca o prazer e “vive no prazer”, é uma mente entorpecida, e também o é aquela que evita o sofrimento ou continua a sofrer. Mas, vede, compreender a atenção total não é nada fácil.

Ser atento é entrar numa sala e ver as pessoas, as dimensões da sala, a cor do tapete, os quadros na parede — tudo. Mas não podeis fazê-lo, se dizeis: “não gosto daquele quadro”, “Ali está meu amigo fulano”, “Não gosto da cor do tapete”, “As dimensões da sala não são bem proporcionadas”, etc. etc. Se vossa mente está a “tagarelar”, dividindo-se entre o “de que gosta” e o “de que não gosta”, então não estais atento.

Vede, pode-se considerar uma flor botanicamente ou não botanicamente. Se a consideramos botanicamente, ainda assim há uma certa qualidade de atenção. Mas podemos também considerar a flor diferentemente, quer dizer, “sem conhecimento”. Não interpreteis “sem conhecimento” como um estado de ignorância. Ser “sem conhecimento” é possuir a sabedoria; porque o conhecimento tem continuidade, e a sabedoria não tem. “Estar atento” implica um estado de atenção isento de fronteira, limite, linha divisória. Observamos tudo, absorvemos tudo. Mas isso não se pode fazer quando há um motivo a inspirar a vossa atenção, por mais valioso que seja esse motivo. Se dizeis: “Vou estar atento, a fim de pôr fim ao meu sofrer” — nesse caso não ficais atento.

Tentai uma vez, se o desejardes, considerar totalmente uma flor, uma árvore, um ente humano. Considerar sem conhecimento, sem pensamento — o que não significa um estado de amnésia, i.e., ter a mente “em branco”. Vereis que, ao considerardes assim uma coisa, há um extraordinário estado de atenção que não é concentração. Concentração é exclusão. A mente que está atenta pode concentrar-se sem esforço, sem exclusão. Mas a mente que adquiriu a faculdade de concentrar-se por meio de esforço, treino, disciplina — essa mente jamais poderá estar atenta.

PERGUNTA: Vê-se que a mente só pode estar verdadeiramente tranquila por uns trinta segundos. Que entendeis, pois, por “tranquilidade mental”?

KRISHNAMURTI: Em primeiro lugar, a tranquilidade da mente não é um estado para ser alcançado. A pessoa não tem de dar vários passos para chegar a ele, não pode praticar um sistema a fim de se tornar tranquila, porque essa ação disciplinar só pode tornar a mente embotada. A mente que se ajusta é mente morta. Esta é a primeira coisa que cumpre perceber. A mente que se submete seja aos ditames da sociedade, seja à opinião de um vizinho, aos dogmas da igreja ou outra qualquer estrutura autoritária, nunca pode ser sensível — mas isso não significa que podeis desobedecer ao policial. Estamos tratando de coisa muito diferente. Estamos tratando da submissão no sentido de obedecer à autoridade da tradição, de um livro, um sistema, uma crença. A mente que se submete a um padrão — e isso é uma forma de disciplina — essa mente não é tranquila, porém, apenas, insensível. Esta a primeira coisa que se precisa compreender profundamente. Atrás de nossa submissão, encontra-se o desejo de segurança psicológica. A mente que busca segurança nunca pode ser livre; e é só em liberdade, completa liberdade psicológica, que pode existir a quietude mental.

Como vemos, não há passos para dar a fim de se alcançar a mente tranquila. De mais a mais, não sabeis realmente o que é “tranquilidade da mente”. O que vos interessa é, tão só, experimentar esse estado e retê-lo; daí, dizerdes que ele não dura mais de trinta segundos. Por que durar! Vede, o importante para vós não é a coisa em si, porém o que ela vos dá. Por isso, desejais saber como alcançá-la e se ela é durável, introduzindo assim o elemento tempo: ela deve ter continuidade, durar mais de trinta segundos. O silêncio que tem continuidade não é silêncio. Se o alcançais por meio do tempo, não se trata de serenidade mental.

E temos, em seguida, a questão do “observador e coisa observada”. Se há um experimentador do silêncio, não há silêncio. No momento em que dizeis: “Encontro-me num extraordinário estado de humildade”, acabou-se a humildade. Para vós, o silêncio é um estado que vós experimentais, assim como se experimenta a fome, e desejais reter essa experiência, desejais que ela continue. Por isso, há dualidade: vós e a coisa que desejais experimentar. Se examinardes isso profundamente, descobrireis que o silêncio que tendes experimentado e desejais continue, é meramente o reconhecimento de uma coisa já acabada; portanto, já não é silêncio.

Isto é talvez um pouco complicado, e requer atenção de vossa parte. O que estou dizendo é: o silêncio não pode ser “experimentado”. “Experimentar o silêncio” é uma coisa terrível. Que sugere essa experiência? Reconhecimento da coisa que experimentastes como silêncio e que é reação de vossa memória. O pensamento reconhece o silêncio. E no momento em que o pensamento reconhece o silêncio, isso já não é silêncio; é algo pertencente ao passado, a que destes no presente o nome de “silêncio”.

Assim, para compreenderdes o que é o silêncio, deveis estar livre da submissão e da limitação, livre da autoridade, livre das experiências de ontem, que acumulastes. Porque todas as experiências que acumulastes são condicionadas e ao mesmo tempo condicionantes; elas pertencem ao passado e fortalecem o passado. Também, é necessária a terminação do pensador e do pensamento como duas entidades separadas, porque esta divisão faz surgir o conflito da dualidade. Então, se não estais a buscar o silêncio, se nenhuma experiência estais a exigir, porque compreendestes o inteiro significado da experiência — então, talvez, sem o perceberdes, o silêncio poderá vir. Só a mente “inocente” é silenciosa. Alcançado esse estado, há, então, nesse silêncio, um movimento extraordinário, sem nenhum observador a observar o movimento; há só movimento, não há experimentador e, por conseguinte, não há experimentar. O tempo se tornou inexistente.

Para a maioria de nós, isso é apenas informação e, portanto, sem valor. O que tem valor é perceber o fato de que a autoridade, de qualquer espécie que seja, é destrutiva, seja autoridade da tradição, seja a do Salvador, do Mestre ou deste orador. Nós buscamos a autoridade porque desejamos certeza, não desejamos errar, queremos fazer o que é correto, seguro, respeitável. E uma mente respeitável não é apenas uma mente “burguesa”, medíocre, mas também uma mente insensível e incapaz de estar de todo atenta. Quando há atenção completa, há virtude — não uma imitação de virtude, conforme a pratica a sociedade respeitável. A virtude é então algo novo, que se encontra todos os dias, ao virar de cada esquina. Vereis que há então um silêncio e, nesse silêncio, imensurável criação.

PERGUNTA: Se vemos as coisas como são, com atenção total, com percebimento sem escolha, que acontece em relação às várias formas de arte, principalmente aquelas que se relacionam com a palavra?

KRISHNAMURTI: A beleza é coisa construída pelo homem? A beleza é questão de capacidade ou gosto pessoal? Ou é a beleza algo que transcende o pensamento e o sentimento, algo que nada tem que ver com capacidade, inclinação, simpatia e antipatia pessoal?

E que necessidade há de expressão? Podeis expressar uma dada coisa em palavras, na forma de uma poesia; podeis expressá-la na tela ou no mármore; podeis expressá-la na cozinha, ou no segurar a mão de outra pessoa. Mas, que necessidade há de expressão? Não estou dizendo que não deveis expressar-vos. Podeis expressar uma coisa qualquer, pô-la em palavras; mas a palavra não é a coisa. O símbolo nunca é o real. Mas vós expressastes a coisa e, porque sois dotado de capacidade ou talento, essa expressão se torna significativa; tem um valor, proporciona lucro, aplausos, popularidade.

Ora, como dizia, na atenção total há uma criação que não se pode exprimir em palavras, símbolos, ideias. Ela é energia total. Eu posso ter o dom de escrever poesias; mas, como posso definir essa energia total, essa coisa extraordinária chamada criação? Se não gostais da palavra “criação”, escolhei outro nome: “Deus”, “cachorro”, qualquer nome serve. Uma pessoa sente, talvez, que existe essa coisa — um movimento de criação, uma imensidade, uma atemporalidade. Entretanto, como expressar em palavras o imensurável? E, mesmo, quando o expressamos, a expressão não é a própria coisa. Assim, que valor, que importância, que significação tem a poesia para o homem ou a mulher que compreendeu essa atenção completa? Tem essa poesia necessidade de sair de casa para contemplar obras de arte, visitar museus, assistir a concertos? Entendeis? Quem bebeu na fonte da criação, de que mais necessita?

Mas, para a maioria de nós a arte, a poesia, ou a música se tornou muito importante. Somos como os assistentes de uma partida de futebol a observar os jogadores. Poucos estão jogando, e milhares assistindo. Porém, depois de vos desembaraçardes completamente da estrutura psicológica da sociedade, que importância tem a palavra, a forma, o som, o símbolo?

Receio que estejais escutando o orador na esperança de que ele vos ponha milagrosamente naquele estado ou a ele vos conduza. Mas tal não é possível. Para isso tendes de trabalhar intensamente. Requer-se uma energia imensa para ouvir corretamente. Impõe-se toda a vossa atenção, para destruir a vossa desatenção, e não há, então, distração de espécie alguma. Não existe distração, em tempo algum, para o homem atento. Já para o homem concentrado há sempre distração.

A arte, é claro, tem seu lugar próprio; mas a coisa não acaba aí. Só quando sois capaz de ultrapassar a arte, de superar a beleza criada pelo homem, só então conhecereis diretamente aquela beleza inexprimível. E, estando presente essa beleza, nada mais necessitais buscar.

Krishnamurti, Londres, 7 de junho de 1962,
O homem e seus desejos em conflito


sexta-feira, 6 de abril de 2018

Na atenção completa conhece-se o amor


Na atenção completa conhece-se o amor

INTERPELANTE: Em geral, achamo-nos tão estreitamente identificados com o nosso condicionamento, que não temos consciência dele.

INTERPELANTE: Existe um movimento incessante, com o qual nos achamos totalmente identificados e do qual estamos constantemente tentando fugir, e o esgotamento nervoso resultante desse conflito, produz o embotamento do corpo e do espírito. Seria correto dizer que um certo alertamento, tanto do corpo como da mente, é absolutamente necessário, para que possamos levar a efeito a investigação que nos propusestes.

KRISHNAMURTI: Isto é óbvio, senhor. Se desejo tomar parte numa corrida, tenho de submeter-me ao regime alimentar necessário; se desejo executar qualquer coisa com toda a eficiência, tenho de tomar alimentação conveniente, não devo sobrecarregar o estômago, tenho de exercitar-me adequadamente, etc. Minha mente e meu corpo têm de estar alertados no mais alto grau possível.

INTERPELANTE: Esse alertamento não nos vem, a menos que tenhamos vivido refletidamente o dia anterior. No momento em que nos sentamos para meditar seriamente, temos de assumir a postura adequada, porque, do contrário, a mente se tornará errática e não nos será possível pensar intensamente. Quando dizeis que o percebimento direto não pode vir por nenhuma espécie de disciplina, porém unicamente quando há liberdade completa, nossa mente tende logo a resvalar para uma dada forma de indolência. Vejo que isso se dá comigo. Conquanto seja óbvio que tais coisas — a disciplina, a postura correta, a respiração regulada — não podem dar-nos nenhuma experiência direta, entretanto elas produzem um certo alertamento do corpo, com o que a mente nem se torna indolente, nem se põe a buscar sem saber o que está buscando. A menos que possamos viver nesse estado de alertamento, que é uma condição normal da mente, o que quer que digais é "grego".

KRISHNAMURTI: Compreendo, senhor, mas acho que o problema é um pouco diferente. Uma pessoa pode assumir a postura correta do corpo, respirar corretamente, e tudo o mais, mas isso tem relativamente pouca significação em relação àquilo de que estamos falando.

Deixai-me expressá-lo de outra maneira. Se percebo que odeio, é-me possível amar imediatamente, ou o ódio tem de ser removido a pouco e pouco, a fim de que, eventualmente, eu seja capaz de amar? Este é o problema. Estais entendendo? É possível a mente transformar-se imediatamente e ficar num "estado de amor"?

INTERPELANTE: Se me é permitido referir-me às vossas palestras anteriores, a respeito da memória, admite-se que uma boa parte de nossas funções mentais é uma reação puramente mecânica da memória; e, pela identificação, quase todos nos deixamos constantemente absorver pelas nossas afeições e rancores, sem nos darmos conta disso. Mesmo quando estamos conscientes de tal coisa, não e essa certeza também mecânica como resultado do esforço? Isso tem alguma relação com o que estais dizendo, ou não?

KRISHNAMURTI: Não estou nada certo disso. O problema é este: percebo que sou ambicioso e, se estou suficientemente alertado, se sou inteligente e me conservo vigilante, percebo também quanto é absurdo e destrutivo esse estado. A ambição, inclusive a ambição espiritual, implica um estado em que não existe amor. O desejo de ser alguém, espiritualmente, o desejo de ser não-violento, é sempre ambição. Percebendo-se bem isso, é possível apagar instantaneamente a ambição, abandonando essa luta perene, de inquirição, análise, disciplina, "idealização", e tudo o mais? Pode a mente apagar de pronto a ambição e ver-se no "outro estado"? É possível isso? Não concordeis, senhores, pois isso não é questão de concordar ou discordar. Já pensastes nisso?

INTERPELANTE: Nossa mente está sempre tentando modificar o nosso condicionamento.

KRISHNAMURTI: Atende-vos ao ponto de que estamos tratando, se ele representa um problema para vós. Ou sou eu que estou fazendo dele um problema e portanto não se trata de problema vosso? Qual é a vossa reação?

INTERPELANTE: Gostaríamos de saber como se pode fazer isso.

KRISHNAMURTI: Este cavalheiro pergunta como se pode fazer isso; é justamente nisso que consiste a questão. Considerai primeiramente a própria questão: o como. Sou ambicioso e desejo ver-me num estado de amor; cumpre-me, por conseguinte, afastar a ambição, e como fazer isso? Acompanhai o que estou dizendo. A questão, em si mesma, envolve tempo, não? No momento em que perguntais "como?", está criado o problema do tempo — tempo para lançar uma ponte sobre o intervalo, tempo para atingir o estado chamado "amor"; por essa razão, nunca podeis atingi-lo. Compreendeis, senhores?

INTERPELANTE: Falastes sobre o estado de percebimento direto. Não é licito investigar esse estado? O percebimento implica três fatores: o sujeito que vê, o ato de ver, e o objeto que se vê. É assim que entendemos o percebimento. Quereis referir-vos a uma faculdade independente?

KRISHNAMURTI: Eu também entendo bem desta matéria! Que é o sujeito que percebe, e o sujeito que percebe está separado do objeto da percepção? O pensador está separado do pensamento? É isto que estais dizendo, não é verdade? Mas não é este, por ora, o nosso problema. Não me interpreteis erroneamente, não estou tentando...

INTERPELANTE: Empregastes as palavras "percebimento direto".

 KRISHNAMURTI: Podemos modificaras palavras — elas não têm importância. Expressemo-nos diferentemente.

Estou apercebido de ser ambicioso, cruel, estúpido, ou o que seja, e em geral se admite, com apoio nos livros sagrados, nos rituais, na crença nos Mestres, na evolução e outras coisas que tais, que mediante um lento e gradual processo de esforço, poderei transcender o que sou e alcançar algo transcendental. Percebo o que isso implica: o sujeito que faz esforço, o esforço, e o objeto para o qual está fazendo esforço — sendo tudo isso um processo mental. Percebendo-o, digo de mim para mim: "É-me possível abandonar completamente a ambição e achar-me naquele estado que se pode chamar "amor"? Não vou descrever o que é aquele estado. O problema é que sou violento; e, tenho alguma possibilidade de abandonar completamente, imediatamente, a violência?

INTERPELANTE: A possibilidade é unia questão de acaso ou de esforço?

KRISHNAMURTI: Considerai bem isso, senhor. Se há esforço, estais de novo no velho terreno da "gradualidade". Se se trata de mero acaso, questão de "boa sorte" — isso não tem sentido algum. Se me permitis dizê-lo, não estais realmente fazendo esta pergunta a vós mesmo.

Eu sou agressivo, ambicioso, e vejo que toda a sociedade corrupta que me circunda é também ambiciosa e agressiva em diferentes graus. Tudo nela é aparatoso, estúpido, vão e, no entanto, me vejo preso nas suas malhas; é-me possível largar completamente a ambição, abandoná-la e nunca mais ter contacto com ela? Compreendeis minha pergunta, senhor? Mas não se trata de uma pergunta minha, e sim de uma pergunta que vos deveis fazer, se tendes vontade de resolver este problema. Ou preferis dizer: "Sou ambicioso e me libertarei da ambição aos poucos, amanhã ou na próxima vida, à força de disciplina, pela prática do mantra adequado, da adequada vigilância — enfim, toda a lista de absurdos? Este problema vos toca, senhor? Se não, nenhuma intenção tenho de vo-lo inculcar. Mas se é um problema vosso, que ides fazer?

Vede, senhor, os mais de nós não temos amor, o que quer que seja essa qualidade. Podemos ter um temporário sentimento que chamamos "amor", o qual, entretanto, é muito aparentado com o ódio, e não pode ser aquela coisa extraordinária. É possível que uns poucos possuam essa florescência, essa coisa alentadora, criadora, mas em geral nos achamos num estado de confusão e aflição. Ora, pode uma pessoa abandonar, simplesmente, tudo isso e tornar-se "a outra coisa", sem passar pelas tremendas complicações inerentes ao "tentar vir a ser alguma coisa", sem discussões sobre se o sujeito que percebe está separado do objeto percebido, etc.?

INTERPELANTE: Mas isso também exigirá tempo.

 KRISHNAMURTI: Que fareis, senhor?

INTERPELANTE: Nada.

KRISHNAMURTI: Senhor, que se está passando realmente convosco, neste momento? Ou ficamos falando de maneira teórica, abstrata, para passarmos a tarde num interessante debate; ou, pelo contrário, estamos realmente desejosos de investigar, experimentar e não nos interessa manter-nos numa interminável "verbalização". Qual é a reação de cada um de nós, em face desse problema? Se pudermos discutir, "verbalizar" o que realmente está ocorrendo em nós, em reação ao problema, isso terá significação; mas, se ficamos meramente a produzir palavras e teorias, isso nenhum valor tem.

INTERPELANTE: Toda esta discussão é puramente verbal.

KRISHNAMURTI: Mas que significação tem para vós? Deixai de parte os outros. Vede, senhor, eu não vos estou atacando, não tenciono embaraçar-vos. Mas quando se vos apresenta este problema, qual é vossa reação?

INTERPELANTE: Ser é ser. Não pode ser descrito por palavras.

KRISHNAMURTI: Compreendo, senhor. Mas estamos em presença de um problema muito grave e que envolve uma completa revolução no pensar; dele decorre que temos de livrar-nos de todos os guias, todos os gurus, todos os métodos, não é verdade? E que acontece, quando se nos propõe um problema desta natureza?

Isto é, quando estamos apercebidos de que odiamos, e desejamos ficar livres do ódio, que fazemos, em geral? Procuramos um método de nos livrarmos dele, e esperamos achar esse método num livro, num guru, etc. Ora, percebemos que a prática de qualquer método é uma ilusão ou dizemos que o método é necessário? Esta é a primeira questão, evidentemente. Que sentis vós, senhor? Não desejo forçar-vos a dizer que não há necessidade de método; isso seria uma nova ilusão, mera repetição de palavras, uma atitude artificial, inteiramente destituída de significação. Mas se percebeis realmente que a prática de qualquer método para nos libertarmos do ódio é uma ilusão e portanto sem validade alguma, neste caso vossa maneira de considerar o ódio terá sofrido uma transformação total, não?

Presentemente, ao considerarmos o ódio, dizemos: "Como livrar-me dele?" Mas, se sabemos considerar o ódio sem o "como", teremos então uma reação completamente diferente, diante daquilo que percebemos. E, assim sendo, precisamos saber qual é a nossa reação, em face desta questão. Compreendeis, senhor?

Por favor, tende primeiramente a bondade de escutar, a fim de descobrirdes, e não pergunteis como ficareis livres do ódio. Não me interessa saber como ficar livre dele. Esta é uma questão muito trivial. O problema é este: estando apercebidos de que odiamos, dizemos, agora: "Como livrar-me do ódio? Que devo fazer para me livrar deste veneno?" — No momento em que nos surge esta reação — como ficar livre? — pusemos em ação vários fatores sem validade alguma. Um desses fatores é o processo de gradual desbastamento do ódio, através de um certo período de tempo; outro é o fazer esforço para conseguir um resultado; e outro, ainda, é o dependermos de alguém, para nos ensinar como proceder. Tudo isso são atividades egocêntricas, e também uma forma de ódio. Não sei se estais percebendo bem.

Ora, estamos ainda pensando em como nos livrarmos do ódio? Esta é a questão, e não "como ficarmos livres", ou o que acontece quando estamos livres, mas, sim: estamos ainda pensando em termos de "como"?

INTERPELANTE: O "como" não é então muito importante.

KRISHNAMURTI: Que se está passando convosco, realmente, senhor? Que se passa realmente, quando vos vedes em presença desta questão? Se sois verdadeiramente franco para com vós mesmo, vereis que estais ainda pensando em termos de "como", e isto revela que a mente deseja ainda alcançar um certo estado, não é verdade? E a realização de algo significa processo de tempo. Um cientista, por exemplo, que faz experimentos para descobrir uma coisa, necessita evidentemente de tempo; mas o ódio pode ser dissolvido por meio do tempo? Os iogues, os swamis, o Gita, os Mahatmas — todos dizem que o ódio tem de ser dissolvido com o tempo; mas talvez eles não tenham razão, e provavelmente não a têm. E porque haviam de tê-la? Mas eu desejo averiguar se há uma maneira diferente de considerar este problema, em vez de aceitar a maneira tradicional, a qual vejo que invariavelmente degenera em mediocridade. A simples aceitação da tradição é uma coisa estúpida. Ainda que dez mil pessoas afirmem que uma coisa é verdadeira, isso não significa que elas têm razão. Meu problema, pois, é este: é possível ficarmos livres do ódio agora, e não no futuro?

INTERPELANTE: Se permitas fazer uma pergunta direta: Que finalidade têm vossas palestras?

KRISHNAMURTI: Qual a finalidade do falar? Comunicar alguma coisa, não é verdade? Se assim não fosse, não precisaríamos falar. Pois bem. Que é que estou tentando comunicar-vos? Estou procurando comunicar-vos o fato de que uma certa maneira de pensar geralmente aceita é ilusória e inteiramente destituída de base. Mas, para comunicarmos uma coisa, precisamos de um ouvinte, uma pessoa que diga: "estou realmente a escutar-vos". Vós, senhor, estais-me escutando? E que entendeis por "escutar"? Não é minha intenção embaraçar-vos. Escutais de fato qualquer coisa, ou apenas escutais parcialmente? Se à vossa mente ainda interessa o "como", não estais escutando. Só se pode escutar, quando se dá atenção completa, e não estais dando atenção completa quando pensais que deve haver um método, porque vossa mente não está então livre para considerar o que se está dizendo. Só há atenção completa quando dizemos: "Ele pode não ter razão, pode estar dizendo tolices, mas, pelo menos, quero descobrir o que é que ele está tentando transmitir-me". Estais fazendo isso? Isso, em si, é muito difícil, não achais? Porque dar atenção completa significa conhecer o amor, é sentir totalmente a disposição de descobrir o que outro está dizendo, sem aceitação ou rejeição — o que não significa que me vou tornar uma autoridade para vós. Prestais atenção dessa maneira?

INTERPELANTE: É possível isso, senhor?

KRISHNAMURTI: Se não é possível, não pode haver comunicação. A dificuldade é esta: Vede, senhor, se me estais dizendo uma coisa e eu desejo descobrir o que estais procurando comunicar, tenho de dar-vos atenção, não é verdade? Não posso estar pensando, comigo mesmo, que estais falando sobre "as mesmas velharias", que sois isso ou aquilo, ou que são horas de ir para casa. Tenho de dar atenção completa ao que estais dizendo, sem opor nenhuma barreira, mental ou de outra espécie. Escutamos dessa maneira?

INTERPELANTE: A atenção completa é um estado mental diferente do estado comum de atenção?

KRISHNAMURTI: Senhor, não estais dando nenhuma atenção ao que estou dizendo. Desejais saber o que é "atenção completa". Eu posso descrevê-lo, mas que importância tem isso? O que é de primacial importância é isto: estais escutando? Sabeis como é difícil, para a maioria de nós, o investigar, o descobrir, o escutar. Não estou dizendo que devais escutar a mim, em especial, por que a mim próprio não importa se escutais ou não; mas, visto que vos destes ao trabalho de vir aqui, peço-vos, pelo amor de Deus, que escuteis, não apenas a mim mesmo, mas ao funcionar do maquinismo de vossa própria mente, posta agora em presença de um problema. Este problema é: o ódio pode ser dissolvido imediatamente? O descobrirmos de que modo reagimos em face desta questão tem validade. Se dizeis: "Sim, estou escutando", mas vossa intenção é de descobrir um método de vos livrardes do ódio, não estais então olhando o problema, porque só vos interessa o "como". Mas, em questões psicológicas, pode existir "como"? Entendeis, senhores? Este é um problema muito complexo; portanto, não digais, simplesmente, "sim" ou "não". Nas atividades técnicas, no construir, no cozinhar, no montar um avião a jato, no lavar pratos eficientemente, etc., há um "como"; e quanto mais alertados estamos, mais eficiente se torna o "como"; mas, existe algum "como", em questões psicológicas? Existe algum processo gradual de evolução, transformação, ou só há a transformação imediata?

INTERPELANTE: Que cumpre então fazer em relação ao problema psicológico?

KRISHNAMURTI: Senhor, considerai o problema. Tenho de parar aqui. Não podeis absorver por mais de uma hora este gênero de palestra.

Temos o problema do morrer. Todos estamos a morrer; e pode a mente achar-se num estado em que não haja morte? Este é essencialmente o mesmo problema, e só estou empregando uma série diferente de palavras. A mente está cônscia de que vai morrer, de modo que apela para várias doutrinas, o saber, o experimentar, crê na reencarnação, lê o Upanishads etc., e tudo isso se baseia no desejo de continuidade. Mas posso descobrir diretamente, por mim mesmo, se existe um estado em que não há morte, em vez de ficar na dependência de um certo senhor barbudo, para me informar sobre o que existe após a morte? Este problema é o mesmo que ser ambicioso, violento, ávido, invejoso, e procurar saber se é possível abandonar tudo isso completamente — o que realmente significa que precisamos verificar se estamos em busca de algum método. Estais em busca de um método para ajudar-vos a dissolver o ódio? Os mais de vós aceitastes como um fato a necessidade de método, e como estou agora pondo em dúvida a natureza "factual" disso que tendes aceito, estais resistindo ao que estou dizendo. Mas, se pelo indagar, pelo considerar o problema, vós mesmo estais apercebido de que a prática de um método é uma total ilusão, então, nesse caso, vossa maneira de considerar o ódio terá sofrido uma tremenda modificação; e esse percebimento da ilusão não resulta de esforço algum.

Senhores, ainda vamos reunir-nos não sei quantas vezes e, em lugar de ser eu só a falar, não podemos, para variar, entrar nesta questão como dois entes humanos, como amigos que estão realmente a escutar o problema e procurando descobrir o que é verdadeiro? Não nos estamos opondo um ao outro, nem vós estais aceitando o que digo, porque nesta nossa busca não há autoridade alguma, não há mestre nem sishya, não há guru, nenhuma dessas futilidades. Aqui todos somos iguais, porque no tentar descobrir o que é verdadeiro existe a verdadeira igualdade. Por favor, senhores, escutai o que vos estou dizendo. É só quando não estais em busca da realidade, que há essa falsa separação do mestre e do discípulo. Certo, onde existe o amor, não existe desigualdade. Tem de haver amor, quando buscamos; e não estamos buscando quando consideramos um outro como discípulo ou como guru. Para a investigação da verdade, é necessária a cessação de todo o conhecimento. Onde há amor, há igualdade; não existe o homem que está no alto e o homem que está em baixo.

Krishnamurti, Primeira Conferência em Benares, 11 de dezembro de 1955
Da Solidão à Plenitude Humana



sábado, 18 de março de 2017

Por que exercitar a arte da escuta atenta?


Vá a um templo JAINA e você verá vinte e quatro estátuas dos TIRTÂNKARAS JAINAS — as pessoas que são como Jesus, Buda, Zarathustra — e você se surpreenderá: eles parecem ser exatamente o mesmo. Não é possível: você não pode encontrar vinte e quatro pessoas exatamente iguais. Nem JAINAS podem fazer a distinção de quem é quem. Eles não podem dizer quem é Mahavira e quem é Neminath e quem é Parshwanath e quem é o primeiro e quem é o último, porque eles parecem absolutamente iguais — os mesmos rostos, os mesmos narizes, os mesmos olhos, os mesmos corpos, a mesma posição. Para distinguir que eles são pessoas diferentes, os JAINAS descobriram os símbolos: o símbolo mostra um leão ou algo assim, que mostra de quem é a estátua. 

Por que eles a fizeram iguais? Certamente elas não são históricas. Elas são iguais porque os escultores jainas não estavam interessados na História, eles estavam interessados no FENÔMENO INTERIOR. Aqueles homens tinham atingido à MESMA EXPERIÊNCIA... — como representar isso? E como representá-lo em mármore? Eles atingiram à mesma IMOBILIDADE, ao mesmo CENTRAMENTO, ao mesmo FUNDAMENTO, à mesma CRISTALIZAÇÃO. Daí, as estátuas iguais — a mesma posição, o mesmo corpo representando algo do MUNDO INTERIOR — o mesmo estado espiritual, o mesmo SAMADHI. 

Você se surpreenderá sobre muitas coisas, ao olhar aquelas vinte e quatro tirtânkaras e suas estátuas. Você verá que suas orelhas são muito grandes, seus lóbulos encostam-se nos ombros. Você não encontrará orelhas assim. Isso representa algo: diz que aquelas pessoas atingiram seu supremo estado de consciência PELO OUVIR ABSOLUTO — ouvir as canções dos pássaros, ouvir o vento passando entre os pinheiros, ouvir o som das águas, ouvir silenciosamente TUDO QUE VAI ACONTECENDO AO SEU REDOR. 

Ouvir era o método deles. Assim como o método budista é o de observar a respiração, o método JAINA é o de ouvir os sons. Ouvir corretamente é o suficiente. Se a pessoa puder ouvir SEM O TAGARELAR INTERIOR DA MENTE, se a mente tornar-se completamente calma... este cão latindo lá longe, ou o pássaro piando. Se você puder apenas ouvir SEM PENSAR, sem pensar nem que "o cão está latindo", "os passarinhos estão piando", APENAS OUVIR SEM NENHUM PENSAMENTO, SEM QUALQUER INTERPRETAÇÃO, você atingirá cada vez mais e mais profundos reinos de silêncio: atingirá à suprema consciência. 

Qualquer espécie de consciência alerta conduz ao Supremo. Ora, a consciência alerta pode vir dos sentidos, de qualquer um dos cinco. Você poderá ouvir música e funcionará... pode ouvir qualquer coisa e funcionará. Pode olhar as nuvens e o pôr-do-sol e os pássaros voando no espaço e, ao ver, funcionará. O único ponto a ser lembrado é este: SUA MENTE NÃO PODE FUNCIONAR — seus sentidos não podem ficar anuviados pela mente. 

Para representar isso, as longas orelhas. Ora, como representar em mármore o método de ouvir? Esta é uma bela representação. Mas há tolos eruditos jainas, tão tolos quanto os cristãos, que pensam que todo tirtânkara tem aquelas longas orelhas — sem as tais longas orelhas, não pode ser um tirtânkara. Tirtânkara quer dizer exatamente o mesmo que Buda, ou Cristo — essa é a terminologia jaina. Isso é estupidez, falta de compreensão, abordagem nada compreensiva. E depois, isso pode ser cristalizado muito facilmente. 

OSHO
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill