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sexta-feira, 22 de junho de 2012

Relato de Derrame de Lucidez, por Jiddu Krishnamurti

KRISHNAMURTI

Surgindo por detrás das colinas, a lua rodeada por uma nuvem serpentina transformou-se em uma forma fantástica. Ela projetava uma claridade luminosa sobre as colinas, a terra e as pastagens verdejantes, desaparecendo imediatamente por entre espessas nuvens escuras que anunciavam chuva.

Durante o passeio, a meditação surgia em plena conversação e no meio da beleza noturna. De uma profundidade incrível, ela circulava interior e exteriormente; ela explodia em expansão.

Estávamos conscientes; aquilo chegava; não se pode dizer que estávamos fazendo a experiência, pois toda experiência é limitada; aquilo simplesmente surgia. Não havia nenhuma participação nisso; o pensamento não podia aí tomar parte, pois o pensamento é tão fútil e mecânico que a emoção não podia estar a isso associada; era verdadeiramente muito vivo e ao mesmo tempo perturbador para os dois. Aquilo surgiu de uma profundidade de tal modo desconhecida que não havia nenhum meio de medi-la. Mas havia um grande silêncio. Era absolutamente surpreendente e completamente incomum.

As folhas brilhavam intensamente sob a ação da lua que, em seu movimento em direção do oeste, inundava de luz o quarto. Até mesmo os latidos altos dos cães não perturbavam o silêncio absoluto da noite. Ao acordar, aquilo se encontrava lá, de uma maneira clara e precisa, e era o despertar que se revelava necessário e não o sono; estava bem decidido que era preciso estar consciente do que se passava, atento com plena consciência de todos os acontecimentos. Adormecido, poder-se-ia confundir tudo aquilo com um sonho, uma ilusão do inconsciente, um ardil do cérebro; mas completamente desperto, essa alteração estranha e desconhecida era uma realidade palpável, um fato e não uma ilusão ou um sonho. Aquilo tinha a qualidade, se é que podemos nos exprimir assim, de imponderabilidade e de força impenetrável.

E no repentino despertar, aquilo lá estava. E juntamente com aquilo surgiu um êxtase inesperado, uma alegria irracional; não havia nenhuma causa para isso, pois isso jamais fora objeto de uma pesquisa ou de uma busca. Aquele êxtase estava presente no novo despertar à hora habitual; ele estava lá e continuou durante um tempo bastante longo.

Krishnamurti’s Notebook, Victor Gollanez, Londres, 1976

(Embora seja originário da Índia, o caráter universal de seu ensinamento não permite classificá-lo em nenhuma das tradições espirituais, o que explica o porquê de o situarmos entre os ocidentais contemporâneos.)

Extraído do Livro: Antologia do Êxtase - Editora Palas Athena
Para baixar arquivo deste livro em PDF, clique aqui

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Uma experiência do primeiro passo



sábado, 9 de junho de 2012

Você não precisa de conhecimento: você só precisa esvaziar.


baixar áudio

Uma mente brilhante é uma mente silenciosa

"É somente nas misteriosas equações do amor, que alguma lógica real pode ser encontrada...
Nem sempre foi fácil ter uma mente brilhante, mas isso me deu um presente...
que foi descobrir um brilhante coração. - Fala do Filme: Uma Mente Brilhante,"
Nossa mente, tal qual "pensamos" vivenciá-la agora, é como um mecânico, acelerado e desgastado aparelho "3D", processador de minuciosas imagens e conflituosa soronidade, as quais são sempre projetadas em forma de conjecturas, de modo contínuo e inconsciente, na ilusória tela de plasma do "tempo psicológico", tendo por repetido enredo e elenco a carga das experiências de nosso passado morto, estas, armazenadas na memória, a qual foi convencionada como fundo psicológico, background ou se preferir, "quarto escuro de projeção". O interessante é notar que, este mecânico e desgastado aparelho — "natureza exata" e fator "X" de intermináveis, dolorososos e separatistas conflitos —, aparelho este que para facilitar a comunicação e compreensão de seu funcionamento, por agora chamaremos de "MP3" — um modo cômico de simbolizar a ilusória "mente parasita trifásica, passado/presente/futuro" — que, na turva tela do tempo psicológico, projeta seu infectuoso conteúdo, sem ao menos solicitar a participação da "Consciência que somos", tornando assim impossível o uso inteligente, amoroso e criativamente responsável de suas teclas "play" e "Off"; teclas estas que só passamos a usá-las, quando desperta na Consciência que somos, pela prática consciente da reparação e meditação, momento à momento, na vida de relação, aquilo que convencionamos chamar de "observador e coisa observada".

Para que possa cessar o conflito natural das falas e imagens de nosso "MP3 mental", há que ocorrer a absolvição, tanto do observador como da coisa observada, e em última análise, tal absolvição só pode se manifestar quando ocorre a luz instântanea da observação sem escolhas — acontecimento esse fora da ação do desejo e da disfuncional tridimensionalidade temporal —, o qual convencionamos chamar de "Percepção Pura", "Despertar da Inteligência Amorosa Criativa" e "Insight".  Só por meio da percepção pura é que a mente passa a ser puro espaço, vazio fecundo, imaculado silêncio, passando assim a cunprir seu devido papel que é a de ser uma servidora de confiança da Consciência Amorosa que somos, não tendo assim, mais poderes para nos governar e, como resultado, a revelação de um estado de ser dotado de unidade interna, bem estar comum, autonomia, autosuficiência psicológica/ emocional, o que em outras palavras, podemos chamar de amor/compaixão. Esse brilhante estado de silêncio mental é o que chamamos de "Mente Religiosa".

Outsider44


Sugestão de filme para estudo:

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Confraria do Ser: um desprograma pirata buscando o é que é nosso!


32 - a importância da arte musical no descondicionamento mental.mp3


Olha tô saindo fora do "programa";
não, não quero ser um pocotó!
A mesmice operante já não me engana;
não, não quero ser um pocotó!
 A dança dos dois passos não mais me ancanta;
não, não quero ser um pocotó!
A fala do guru "parecia bacana"!
Não, não quero ser um pocotó!
Só o poder da verdade é que agora me espanta;
não, não quero ser um pocotó!
Descobri: ficar comigo é legal pra xuxu!
não, não quero ser um pocotó!
Lancei um obrigado, despedi meus gurus!
Não, não quero ser um pocotó!
Coleção de "Tudo Bem!" corrompe o coração!
Não, não quero ser um pocotó!
Ser sincero é que desperta a intuição!
Não, não quero ser um pocotó!

Sociedade Alternativa - Raul Seixas

Viva! Viva!
Viva A Sociedade Alternativa
(Viva! Viva!)
Viva! Viva!
Viva A Sociedade Alternativa
(Viva O Novo Aeon!)
Viva! Viva!
Viva A Sociedade Alternativa
(Viva! Viva! Viva!)
Viva! Viva!
Viva A Sociedade Alternativa...

Se eu quero e você quer
Tomar banho de chapéu
Ou esperar Papai Noel
Ou discutir Carlos Gardel
Então vá!
Faz o que tu queres
Pois é tudo
Da Lei! Da Lei!
Viva! Viva!
Viva A Sociedade Alternativa...

"-Faz o que tu queres
Há de ser tudo da Lei"
Viva! Viva!
Viva A Sociedade Alternativa
"-Todo homem, toda mulher
É uma estrêla"
Viva! Viva!
Viva A Sociedade Alternativa
(Viva! Viva!)
Viva! Viva!
Viva A Sociedade Alternativa
Han!...

Mas se eu quero e você quer
Tomar banho de chapéu
Ou discutir Carlos Gardel
Ou esperar Papai Noel
Então vá!
Faz o que tu queres
Pois é tudo
Da Lei! Da Lei!
Viva! Viva!
Viva A Sociedade Alternativa
Viva! Viva!
Viva A Sociedade Alternativa...

"-O número 666
Chama-se Aleister Crowley"
Viva! Viva!
Viva! A Sociedade Alternativa
"-Faz o que tu queres
Há de ser tudo da lei"
Viva! Viva!
Viva! A Sociedade Alternativa
"-A Lei de Thelema"
Viva! Viva!
Viva A Sociedade Alternativa
"-A Lei do forte
Essa é a nossa lei
E a alegria do mundo"
Viva! Viva!
Viva A Sociedade Alternativa
(Viva! Viva! Viva!)...


Tente Outra Vez — Raul Seixas

Veja!
Não diga que a canção
Está perdida
Tenha fé em Deus
Tenha fé na vida
Tente outra vez!...

Beba! (Beba!)
Pois a água viva
Ainda tá na fonte
(Tente outra vez!)
Você tem dois pés
Para cruzar a ponte
Nada acabou!
Não! Não! Não!...

Oh! Oh! Oh! Oh!
Tente!
Levante sua mão sedenta
E recomece a andar
Não pense
Que a cabeça agüenta
Se você parar
Não! Não! Não!
Não! Não! Não!...

Há uma voz que canta
Uma voz que dança
Uma voz que gira
(Gira!)
Bailando no ar
Uh! Uh! Uh!...

Queira! (Queira!)
Basta ser sincero
E desejar profundo
Você será capaz
De sacudir o mundo
Vai!
Tente outra vez!
Humrum!...

Tente! (Tente!)
E não diga
Que a vitória está perdida
Se é de batalhas
Que se vive a vida
Han!
Tente outra vez!...

Rádio Pirata - RPM

Abordar navios mercantes
Invadir, pilhar, tomar o que é nosso
Pirataria nas ondas do rádio
Havia alguma coisa errada com o rei.
Preparar a nossa invasão
E fazer justiça com as próprias mãos
Dinamitar um paiol de bobagens
E navegar o mar da tranquilidade.
Toquem o meu coração
Façam a revolução
Que está no ar
Nas ondas do rádio
No submundo repousa o repúdio
E deve despertar.
Disputar em cada frequência
O espaço nosso nessa decadência
Canções de guerra
Quem sabe canções do mar
Canções de amor ao que vai vingar.
Toquem o meu coração
Façam a revolução
Que está no ar
Nas ondas do rádio
No underground repousa o repúdio
E deve despertar!


Metamorfose Ambulante
Raul Seixas

Prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo

Eu quero dizer
Agora, o oposto do que eu disse antes
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo

Sobre o que é o amor
Sobre o que eu nem sei quem sou

Se hoje eu sou estrela
Amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio
Amanhã lhe tenho amor

Lhe tenho amor
Lhe tenho horror
Lhe faço amor
Eu sou um ator

É chato chegar
A um objetivo num instante
Eu quero viver
Nessa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo

Sobre o que é o amor
Sobre o que eu nem sei quem sou

Se hoje eu sou estrela
Amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio
Amanhã lhe tenho amor

Lhe tenho amor
Lhe tenho horror
Lhe faço amor
Eu sou um ator

Eu vou lhe desdizer
Aquilo tudo que eu lhe disse antes
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo

Serra Do Luar
Leila Pinheiro

Amor, vim te buscar
Em pensamento
Cheguei agora no vento
Amor, não chora de sofrimento
Cheguei agora no vento
Eu só voltei prá te contar
Viajei...Fui prá Serra do Luar
Eu mergulhei...Ah!!!Eu quis voar
Agora vem, vem prá terra descansar

Viver é afinar o instrumento
De dentro prá fora
De fora prá dentro
A toda hora, todo momento
De dentro prá fora
De fora prá dentro
A toda hora, todo momento
De dentro prá fora
De fora prá dentro

Amor, vim te buscar
Em pensamento
Cheguei agora no vento
Amor, não chora de sofrimento
Cheguei agora no vento
Eu só voltei prá te contar
Viajei...Fui prá Serra do Luar
Eu mergulhei...Ah!!!Eu quis voar
Agora vem, vem prá terra descançar

Viver é afinar o instrumento (de dentro)
De dentro prá fora
De fora prá dentro
A toda hora, todo momento
De dentro prá fora
De fora prá dentro
A toda hora, todo momento
De dentro prá fora
De fora prá dentro

Tudo é uma questão de manter
A mente quieta
A espinha ereta
E o coração tranquilo
Tudo é uma questão de manter
A mente quieta
A espinha ereta
E o coração tranquilo
A toda hora, todo momento
De dentro prá fora
De fora prá dentro
A toda hora, todo momento
De dentro prá fora
De fora prá dentro



A Cruz E A Espada - Renato Russo

Havia um tempo em que eu vivia
Um sentimento quase infantil
Havia o medo e a timidez
Todo um lado que você nunca viu

Agora eu vejo,
Aquele beijo era mesmo o fim
Era o começo
E o meu desejo se perdeu de mim

E agora eu ando correndo tanto
Procurando aquele novo lugar
Aquela festa o que me resta
Encontrar alguém legal pra ficar

Agora eu vejo,
Aquele beijo era mesmo o fim
Era o começo
E o meu desejo se perdeu de mim

E agora é tarde, acordo tarde
Do meu lado alguém que eu nem conhecia
Outra criança adulterada
Pelos anos que a pintura escondia

Agora eu vejo,
Aquele beijo era o mesmo fim, ah era o fim
Era o começo
E o meu desejo se perdeu de mim
E nunca mais, nunca mais, ou...


Maluco Beleza - Raul Seixas

Enquanto você
Se esforça pra ser
Um sujeito normal
E fazer tudo igual...

Eu do meu lado
Aprendendo a ser louco
Maluco total
Na loucura real...

Controlando
A minha maluquez
Misturada
Com minha lucidez...

Vou ficar
Ficar com certeza
Maluco beleza
Eu vou ficar
Ficar com certeza
Maluco beleza...

E esse caminho
Que eu mesmo escolhi
É tão fácil seguir
Por não ter onde ir...

Controlando
A minha maluquez
Misturada
Com minha lucidez
Eeeeeeeeuu!...
Controlando
A minha maluquez
Misturada
Com minha lucidez

Vou ficar
Ficar com certeza
Maluco beleza
Eu vou ficar
Ficar com certeza
Maluco beleza
Eu vou ficar
Ficar com toda certeza
Maluco, maluco beleza.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Somos todos EducaDores

Caminhando juntos, sempre, lado a lado!

Prática da Calorosa e Amorosa Presença

E.R.: Fala, véio... Está ocupado?
N.J.: Fala irmão, beleza?
E.R.: Na paz. Está ocupado aí?
N.J.: Isso é ótimo. Não, estou Deusocupado.
E.R.: Legal! E o satsang* presencial, foi legal?
N.J.: 10 x 10 x 1000
E.R.: Legal! Muito bom! Me fala uma coisa...
N.J.: Diga!
E.R.: Antes e depois desse encontro com o M. mudou alguma coisa? Aconteceu algo que você não previa? Algo novo? Ou está tudo normal como antes?
N.J.: Antes de mais nada: M. foi só um instrumento; isso precisa ficar claro. O importante é a mensagem e não o carteiro que a trás. Está claro?
E.R.: Sim! Concordo.
N.J.: Ok! Acho que muito antes do contato com ele, algo já estava em andamento dentro de mim. O encontro com o Ser através de um organismo "prontificado" (M.) foi a precipitação, o fermento que possibilitou a bem-aventurança. Tudo mudou e nada mudou!
E.R.: Entendi!
N.J.: O mundo continua o mesmo, mas meu olhar mudou, meu sentir se instalou. Eu vivia na mente, agora, estou no coração. Sinto que uma Presença se instalou.
E.R.: Legal! Isso é maravilhoso!
N.J.: Creio que todo trabalho anterior visando o estado de prontificação para a ocorrência do terreno propício para a ação descondicionante, preparou o ambiente interno para este evento. Sinto que não estou pronto, estou vivenciando um processo, sinto as coisas ocorrendo, mas, na paz.
E.R.: Daqui pra frente, então, só tranquilidade e paz... Que bom isso!
N.J.: Na tranqüilidade, sempre em estado conscinte.
E.R.: Legal!
N.J.: Agora, há um trabalho de vigia, de manutenção deste estado, numa atenção quanto as tentativas da mente assumir o domínio novamente.
E.R.: Legal.
N.J.: É preciso atenção, pois os impulsos para isso vêm de todos os lados; iscas é que não falta; só que agora, há algo aqui no centro do peito, algo que não sentia antes. Agora há um centro onde posso repousar a mente, os sentidos, o olhar... Há uma Presença Calorosa, Amorosa, Presença que acarreta um estado de Unidade Interna, algo nunca sentido antes. Há uma dedicação nova em manter uma atenção, manter um contato consciente, momento a momento, com esta Presença. O interessante, é que a necessidade de ler, sumiu; posso até ler por gosto, mas não mais como fuga diante do desespero. A necessidade de assistir filmes, procurando por respostas, sumiu. A necessidade de pesquisar sites e blogs, sumiu. A necessidade de evitar pessoas e lugares, sumiu. Tudo parece absurdamente novo.
E.R.: Legal!
N.J.: A pressa, sumiu, a resistência, sumiu, a necessidade de dar a última palavra, sumiu, a necessidade de estar sempre com a razão, sumiu... Aquela seriedade ácida, sumiu; a disputa por conhecimento, sumiu...
E.R.: Eita! Muito bom. Então, você está na paz! Está tranqüilo!
N.J.: Sinto que tudo isso só pode ser mantido, se mantido for este contato consciente com esta Presença. Quando esta consciência desta Presença se torna fraca, forte se torna as investidas mentais para a re-identificação com o passado modo de ser. Mas, há agora, um "despertador interno", tipo um splinker da alma, que dispara quando percebe que o contato está ficando fraco. Instala-se de modo natural uma profunda necessidade de silêncio. Há uma visão imediata e muito mais criativa.
E.R.: Sim.
N.J.: Há um Espaço entre os pensamentos; eles não sumiram, mas estão espaçados e sem a antiga violência. Os pensamentos agora são mais referentes a isto que está acontecendo, em como compartilhar... A criatividade explodiu feito milho em óleo quente... É pipoca cósmica para todo lado... Uns se deliciam com elas, outros satirizam, outros rejeitam, poucos hostilizam; menor ainda é a quantidade de pessoas que estão prontos para "intuir em si" isso que estou tentando compartilhar. Mas, não me importo se aceitem ou não; o lance, a alegria, está no ato de tornar disponível ao outro, numa espécie de "pegue e faça você mesmo". Sinta-se à vontade para desfrutar, ou então, seguir com sua vida presa nas garras deste John Mclane, o ego duro de matar... A escolha é do freguês, não sou mais responsável por consertar o mundo. No entanto, posso compartilhar do que vejo agora, sempre aberto para novos olhares mais aprofundados, com a mão aberta, sem me agarrar a nada... É isso que está rolando... Isso e mais um pouco que as palavras não alcançam.
E.R.: hum...
N.J.: Outro fator importantíssimo... Estou muito sensível a energia do outro, mesmo pela tela do computador... Isso parece loucura, mas, bastam duas ou três palavras e já pesco logo o espírito que movimento sua fala.
E.R.: rsrs... Que legal! Isso é fantástico, é maravilhoso!
N.J.: Sim! Se vejo que ali tem espaço para troca nutritiva, vamos juntos... Caso contrário, vou para o silêncio, não o silêncio rancoroso de outrora... Isso é muito simples, muito simples... Nada de desperdiçar a lenha... A lenha, agora, é para acender este Fogo, este Fogo do Ser e não para atacar o outro... Você não bate em sonambulo, bate?... Também não impeço seus tropeços; quem sabe, acorde! Pescou? Minha responsabilidade agora é a de levar a lenha, e o Ser traz o fogo que está queimando todas as impurezas da mente... Sinto isso como um processo de cura... Também sinto que se instalou, uma nova capacidade de exercitar um "olhar relâmpago", um "desidentidicado inventariar relâmpago" diante dos pensamentos, sentimentos e emoções"... Nesse olhar, não sobra tempo e espaço para a identificação. Isso é uma benção, uma benção qualitativa. Textos, poemas, idéias de arte e fotografia, explodem sem o mínimo esforço... A criatividade me tira da cama de madrugada, por várias vezes, sempre por volta das 4:00h da manhã.
E.R.: Entendi!
N.J.: Sem querer ser místico, mas é a única forma que acho para falar sobre isso... parece que abriu-se um Portal, podemos dizer assim... Sinto que o fator primordial para que isso acontecesse foi estar me sentindo totalmente impotente diante da solução do meu tédio, da minha insatisfação, mediante a ação do pensamento condicionado, mediante a ação da mente. Cheguei num instante em que senti que não tinha mais onde ir, o que ler, ou o que assistir. Estava me sentido totalmente impotente para conseguir uma mudança em minha vida que a tornasse significativa através da observação da mente. Sentia no mais fundo de meu ser, a necessidade de algo além mente.
E.R.: hum.
N.J.: Na observação, me sentia como um cachorro correndo atrás do próprio rabo... Eu perseguia um pensamento, quando ele estava quase findando, vinha com outros sete pela porta dos fundos e pelas janelas laterais... Pescou?
E.R.: Sim!
N.J.: Cheguei num ponto de exaustão. Foi quando encontrei o M., e, com poucas palavras suas, ou com poucas palavras manifestas através dele, me rendi. Quando me rendi, quando soltei o controle, algo aconteceu... E dai pra frente, você pode conferir nos textos do blog.
E.R.: Legal, muito bom, maravilhoso!
N.J.: É como se a visão, o estado de ser, passasse da digital para o 6D...
E.R.: Quero te agradecer também pelo seu trabalho e pela força que você tem dado. Você anda conosco nisso e eu fico muito grato pelo seu trabalho aí junto com o M.
N.J.: Cara, como não posso fazer isso? Como não tentar facilitar que outros bebam disso? De que jeito? Isso não pode ser retido! Isso precisa ser manifesto, compartilhado!
E.R.: É verdade, concordo com você!
N.J.: Estou dando de graça, o que me foi dado pela ação da Graça! Sinto que quanto mais faço, mais me abro para que isto me derreta por inteiro... Para que isto dissolva qualquer achismo, qualquer ranso mental, qualquer ranso de resistência, qualquer entrave de disputas egóicas, de disputas imaturas de conhecimento livresco, ou de conhecimento institucionalizado... Quanto mais faço, mais observo,  mais absorvo; quanto mais observo, mais me absolvo e me dissolvo... Isso está me levando a um processo de dissolver e, nesse dissolver, isso está me deixando muito leve, leve, livre e solto.
E.R.: Muito bom!
N.J.: Não há preocupações... Isso é fantástico... Nada de mundo da lua, tudo muito pé no chão, pé no chão e a mente no coração. Bem, agora preciso ir buscar a Deca no Metrô. Você vai para o Satsang de hoje a noite?
E.R.: Estarei sim.
N.J.: Nem preciso dizer que nosso bate-papo vai pro Blog...
E.R.: Abraços, irmão! É isso aí, valeu!
N.J.: Um abração e um chute búdico nas canelas!
E.R.: rsrs, legal! Valeu
N.J.: Fui

Conversa com um Confrade Desperto pelo MSN

Ressentimento é pensamento condicionado

A liberdade do SI mesmo

Deixando de ler o livro alheio para ler o livro que sou

Bom dia Priscilla, espero que você esteja vivendo bons momentos!

Fico feliz por saber que você encontrou eco nos textos provindos das palestras proferidas por Krishnamurti. Eu costumo brincar com alguns amigos que a minha vida está dividida em AK e DK (antes e depois de K).

Antes de conhecer seus pensamentos, eu levava uma existência sem vida e hoje, posso lhe afirmar que tenho vida em abundância em minha existência.

Quanto aos meus textos, fico feliz por saber que de algum modo estavam servindo de espelho para suas questões.

Estou num momento de profunda reflexão, revendo valores, questões, mudanças de paradigmas profissionais, o que tem exigido muito esforço, dedicação e estudo.

Sei muito bem o que é correr a net em busca de textos para “remediar” as minhas angústias, tédio e insatisfação. Mas, descobri a duras penas, - ainda bem que a tempo -, que a palavra “remediar” não tem o poder de mutação. Esta só pode ocorrer quando deixo de ler o livro do outro e começo a ler o livro que sou. Como nas palavras de Krishnamurti, "Temos que ser uma luz para nós mesmos". Se formos sérios, destemidos nesta profunda leitura de nossos pensamentos e sentimentos, quem sabe, num momento inesperado, possamos nos deparar com o autor do livro que somos nós.

Saiba que não deixei o gosto pela escrita. Estou somente dando um tempo de amadurecimento para novas situações (um solo depois de semeado precisa de descanso para poder dar fruto com abundância e qualidade).

Saiba que durante muitos anos, incentivado pela linha de pensamento dos membros dos grupos anônimos, me apoiei no "chororo" de ter nascido numa família disfuncional. Agora lhe pergunto: qual família não é? Hoje vejo que algumas são mais que outras e, pelo que me parece, sorte dos que nasceram numa mais disfuncional pois estes, são mais alérgicos ao conformismo aos padrões socialmente aceitos.

Hoje, de coração lhe digo que sou profundamente agradecido por ter tido um pai alcoólatra e uma mãe codependente, emocionalmente perturbada por querer vestir as calças de seu marido. Tenho consciência de que não sou responsável por ter nascido numa família disfuncional e muito menos pelo que fizeram comigo em seu meio: sou responsável pelo que sou e por aquilo que quero hoje sinto como Verdade.

Sei que tenho tudo que me é necessário para fazer as modificações para uma vida com qualidade: o poder de DECISÃO. Sou o único RESPONSÁVEL por ser feliz e, sei que a felicidade, não depende de NENHUM FATOR EXTERNO A MIM. A Grande Vida me proveu com as minhas digitais e a minha coluna vertebral, não bastando isso, a sociedade providenciou meu CIC e meu RG. Ninguém tem igual. Sou o único responsável por eles. Ninguém tem o poder de ficar no meu lugar caso eu venha a ter uma depressão. Do mesmo modo, não tenho como ficar no lugar do outro, quando o mesmo sofre por causa de suas escolhas e atitudes imaturas. Tenho somente o poder de compreender a mim mesmo.

Descobri que posso amar os meus vizinhos, mas, infelizmente, por razão de nossos condicionamentos de segurança, ainda preciso construir as minhas cercas. São escolhas minhas estabelecer limites saudáveis em meus relacionamentos e estar com pessoas nutritivas... Quem colhe os frutos ou os espinhos destas escolhas sou eu. Não sou vítima do destino. Tudo está certo. Basta olhar a vida por prismas diferentes e ousar... Ousar, essa me parece ser a grande palavra para uma vida qualitativa.

Sabe, nestes anos tive a oportunidade de trabalhar por um período com dependentes químicos e seus familiares. Uma das coisas que mais ouvia era uma frase muito semelhante a sua, explicíta em seu texto:

- “Acredito que serei feliz quando meu pai fizer seu ingresso em AA, bem como ele se reformar. Se meu pai ingressasse no AA e se reformasse, minha vida seria muito melhor e minha depressão curada.”

O que víamos é que muitas vezes, quando o dependente químico iniciava sua recuperação, deixando de ser o centro de atenção da casa (e também o bode expiatório), as pessoas ao seu redor começavam a passar mal, pois começavam a se deparar com as próprias neuroses, conflitos, ansiedades e outros sintomas mais. Não tinha mais o alcoólico para culpar pela incapacidade de gerar a própria existência com maestria. Desculpe-me pela franqueza, mas, posso lhe afirmar que sua “cura” não depende da sobriedade de seu pai, ou então de qualquer fator externo a você. Sugiro que experimente parar diante de um espelho e olhar bem para ele... Você estará diante da causadora de seus problemas e também da única pessoa responsável pela solução dos mesmos. E essa parece ser a nossa maior benção.

Também fico feliz por você estar começando a pagar a prestação da sua casa própria via consórcio. No entanto, ficarei ainda mais feliz se souber que você começou AGORA a prestar atenção na casa própria que é você, casa esta que não precisa de nenhum tipo de sócio, ligação ou união externa, para a execução deste projeto de grande porte tão negligenciado por muitos. Adquirir esta casa própria interior é o melhor autofinanciamento para a aquisição de um real bem durável, o qual não precisa da participação ou contribuição de nenhum grupo, muito menos de um número de meses previamente combinados. Posso lhe garantir que, diferente de um consórcio, cuja alegria transitória só vem com a contemplação final, o investimento que fazemos em nossa casa própria interna traz a alegria contemplativa no eterno AGORA. Não pense que um montinho de tijolos cobertos por uma argamassa colorida, registrada num cartório qualquer possa lhe trazer paz de espírito. Conheço muitos, com muitas, que nem sequer conseguem dormir direito, quanto mais desfrutar da vida em sua plenitude.

Pode até parecer frase de livro de auto-ajuda, desses que em nada ajudam mas, tudo o que você precisa encontra-se dentro de você!

Respire fundo.... Convide seu mal-estar, suas angústias e ansiedades para um chá ao fim da tarde. Aventure-se na descoberta do ser que lhe faz ser e Bem Seja! Você e o mundo merecem isso!

Um abraço fraterno e um chute nas canelas!

Quem mexeu no meu cérebro?

 Desde que me conheço por gente, sempre me vi prisioneiro de uma infindável manifestação de ansiedade, medo, conflito, frustração e depressão. 

Sou o primeiro de quatro filhos de um lar disfuncional, cuja atmosfera girava sempre em torno de muito medo, angústia, ansiedade, raiva e vergonha. Meu pai, durante décadas, tentou solucionar seus conflitos interiores através do alcoolismo, enquanto que minha mãe, embriagada emocionalmente pelo convívio com o meu pai, tentava manter em pé a frágil estrutura de um ansioso lar alcoólico. Eu era uma criança perdida entre outras duas crianças perdidas em seus corpos de adultos. Quando hoje, me perguntam quanto a minha formação, costumo responder em tom de brincadeira de que sou o resultado de um espermatozóide alcoolizado com um óvulo emocionalmente perturbado. Não estou querendo com isso encontrar culpados para a série de conflitos que vivenciei ao longo destas quatro décadas. Seria profundamente injusto da minha parte, afinal de contas, éramos sobreviventes de uma estrutura familiar/social disfuncional; vítimas de vítimas, perpetuando uma seqüência de inconscientes abusos seculares. 

No entanto, acredito no poder do reconhecimento e validação dos abusos e condicionamentos que lentamente foram abafando a originalidade e autenticidade do Ser que somos nós. Não somos tudo isso com o que, de modo totalmente inconsciente nos identificamos com o passar dos anos e que, apesar do enorme peso, insistimos em apresentar para os demais. Somos totalmente ignorantes quanto a nossa verdadeira realidade. Alguns de nós se orgulham da graduação cultural, do conhecimento e especialização que conquistaram com o decorrer dos anos, no entanto, se olharmos bem, muitos deles, não passam de verdadeiros analfabetos de si mesmos. Essa dualidade entre o que pensamos ser e o que realmente somos é que nos mantém vitimas de uma infinidade de dolorosas manifestações psíquicas, físicas e emocionais. Isso me faz recordar uma frase que ouvi num dos vários (e caros) workshops que participei, na tentativa de facilitar a compreensão de mim mesmo; ela veio de um poeta-educador por excelência, Roberto Crema: 

"Leva-se apenas alguns minutos para se tirar a roupa que nos ajuda esconder nossas intimidades físicas dos demais. No entanto, de quanto tempo precisamos para nos despir das diversas capas de condicionamentos que escondem dos outros e de nós mesmos, nossa verdadeira intimidade?" 

Olhar para a base da minha "deformação psíquica", com todos os seus abusos, que erroneamente chamam de "educação", foi para mim um dos primeiros degraus para o inicio da compreensão do meu condicionado modo de pensar e reagir. Posso afirmar de forma livre e espontânea que durante a maior parte da minha existência, nunca pensei por mim mesmo, fui como que um ser "pensado". Deixei-me hipnotizar pelo canto da sereia do pensamento coletivo condicionado. Fui um cego, surdo e mudo, uma vez que desconhecia minha própria, única e especial mensagem. Como um papagaio, limitei-me por anos e anos a repetir aquilo que ouvira de terceiros, sem a menor consciência do que fazia. É por essas e outras que hoje afirmo ser a depressão uma das maiores bênçãos que o "homo demens" possa receber. Ela é uma espécie de aviso de que em algum lugar do passado (e se não estivermos atentos ainda hoje), permitimos que alguém mexesse em nosso cérebro. Permitimos que roubassem de nós a sensibilidade, a capacidade de inquirir que nos dá a capacidade de sermos "homo sapiens" e passamos de forma inconsciente a nos identificar com esse estranho e insano modo de vida perpetuado pela sociedade formada por um grande clã de homo demens. Não existe a mínima possibilidade de se ter "sapiência" em meio do exercício de tamanha demência. E, a meu ver, uma das maiores manifestações da demência coletiva está em se manter no estágio infantil da crença. Como homo demens que fui, prisioneiro do sistema de crença coletiva, acreditei por anos e anos na idéia de um Deus externo capaz de me "salvar" dos males e conflitos criados pelo meu modo de ser, fundamentado numa série de comportamentos e reações condicionadas. Nenhum deus externo pode libertar o homo demens da influência continua da demência coletiva, por que essa própria "imagem" de deus, criada pelo pensamento coletivo condicionado, é uma mera ficção, ou seja, uma invenção imaginária, pura fantasia. A demência que me refiro aqui é um estado velado de deterioração mental, que produz procedimentos insensatos, que não revelam bom senso, cuja característica fundamental é a dissociação e a fragmentação da personalidade e a perda de contato com a realidade, que por sua vez, gera graves distúrbios de afetividade. O Homo demens não consegue vivenciar um estado de verdadeira intimidade consigo mesmo e conseqüentemente com outro ser humano. É um eterno fugitivo do encontro consigo mesmo. É incapaz de usar o cérebro, o pensamento de modo inteligente. Desde a mais tenra idade estive sendo fortemente influenciado e essa influência toda, acabou limitando o desenvolvimento do cérebro. A ciência já comprovou o fato de que o "homo demens" usa uma ínfima parte do potencial de seu cérebro. O cérebro, continua sendo um grande desconhecido de nós mesmos e é por causa disso que levamos uma vida medíocre, sem sentido e, portanto, disfuncional. Recuso-me aceitar que a função da existência seja esse medíocre movimento de correr atrás de cédulas impressas para o pagamento de carnês, boletos, contratos e ostentação de poder. Não creio que estamos vivendo a excelência de nosso ser, não fomos influenciados para isso, mas sim, para sermos meras máquinas de imitação em série. Por mexerem em nossos cérebros é que falta-nos a inteligência criativa e amorosa, que nada tem a ver com a sagacidade que erroneamente chamamos de inteligência. Se você acha que isso pode ser chamado de inteligência, lhe convido para dar uma boa olhada, de olhos bem abertos para o que está acontecendo fora dos seus aposentos, e quem sabe até, dentro dos mesmos... O que hoje se convencionou chamar de inteligência, não passa de interesse próprio, ou seja, puro egoísmo; uma manifestação egocêntrica que busca pela própria segurança mesmo que à custa da segurança alheia. A inteligência a que me refiro, não visa segurança própria, mas sim, o bem-estar comum. Essa inteligência é incapaz de se manifestar enquanto não olhamos com propriedade para o modo como nossos cérebros foram condicionados, limitados, atrofiados. Enquanto mantemos esses inúmeros condicionamentos, logicamente que nosso cérebro não pode funcionar de forma integral, mas tão somente, nos limites criados por tais condicionamentos. Fica então a questão: como se libertar de tais condicionamentos?

Abrindo mão das "Iscas Reativas"

As várias faces do Mister Ego

terça-feira, 5 de junho de 2012

A verdade de si, não é democrática

Reunião pelo Paltalk na tarde de 04/06/2012

A fecunda vivência do deserto do real

Quando nos sentimos incapazes de encontrar
tranquilidade dentro de nós mesmos, será
inútil procurá-la fora de nós mesmos.
La Rochefoucauld

Por que é tão difícil a vivência da experiência do deserto existencial? Porque nesse fecundo momento, estamos sós, desprotegidos física e psicologicamente. Não temos onde nos segurar, onde nos apoiar, onde buscar por abrigo e proteção. Não há como buscar por identificação e isso, para o ego, que vive em busca de segurança psicológica, é um sentimento mortal. É por isso que muitos não conseguem atravessar esse paradoxal período fecundo e, num momento de desespero, recorrem a atitudes potencialmente trágicas. Isso ocorre porque estas pessoas se identificam com o desesperante clamor do ego que pensam ser. Em vista disso, a experiência da vivência do deserto serve tanto como um portal para a sanidade do Ser, como para o limbo da psicopatia do não-ser.

Na vivência do deserto é que toda estrutura do ego, trabalhosamente construída por anos, tem suas bases implodidas, colocando ao chão toda forma de identificação. Para o ego, de fato, este é um período de profundo terror e confusão. Não se trata aqui da demolição de uma laje específica, mas sim, da demolição completa de sua estrutura, de modo que nada de sua estrutura possa ser reaproveitado.

No deserto, a crença não serve para nada; no deserto, o simples fato de acreditar na água, não traz o saciar da sede, não traz o seu frescor. No deserto, a experiência passada do frescor da água, também não traz o saciar da sede. No deserto, a projeção da idéia da água, também não sacia a sede. Crença, experiência, projeções de nada servem quando nos encontramos assolados pelo deserto.

No deserto, a crença na possibilidade de uma mente silenciosa, de uma mente em que o pensamento cessa, de que vale? No deserto, o que vale é a vivência, a observação, o testemunhar daquilo que se apresenta, passo a passo, momento a momento, ainda que de forma vacilante. No deserto, a coisa fica difícil porque ali, já não há para onde fugir, já não há onde se pisar com segurança; o deserto é o ego-enfrentamento, é a solidão que dessolidifica, apontando sempre, para a original construção, onde enfim, conhecemos a bem aventurada realidade do ser que somos. 

Outsider44

segunda-feira, 4 de junho de 2012

A condicionante droga da respeitabilidade


Conversa pelo Paltalk com Xamanxaman

O poder de observar sem qualquer tipo de reação

Bafo de boca não cozinha ovo cósmico


Para poder receber o frescor e a vitalidade fecunda do novo, é preciso haver espaço, é preciso haver silêncio, é preciso ter uma “mente que escuta e um coração que pensa”. Quando estamos no exercício pleno de uma mente fechada pela coleção de antigas e enigmáticas “chaves de ego-conhecimento”, chaves essas que não descobrimos em nosso interior, mas que de outros tomamos por emprestado, não nos damos a oportunidade para a escuta do novo, que, se em si trazer algo que seja verdade, cumprirá seu devido papel de apontar para o entulho que carregamos em nosso interior, o qual nos impede de descobrir a verdadeira chave que já trazemos conosco, desde tempos imemoriáveis. Se essa chave não for — por nós mesmos descoberta —, de forma alguma poderemos descobrir a mensagem única, pessoal e intransferível que se manifesta em nós, por meio do Sopro que nos habita, a qual só se revela quando temos a capacidade de fazer frente ao silêncio, que em última análise só se apresenta quando alcançamos o portal da maturidade, o qual se expressa após termos colocado em seu devido lugar nossas birrentas, infantis e adolescentes “necessidades umbigóides”, as quais frustram a possibilidade de saber por experiência direta a realidade do que seja a genuína expressão do amor. O que pensamos ser amor, não tem nada de genuíno, não tem nada de original; o que pensamos ser amor é apenas uma coleção de imagens envelhecidas pela ação do tempo. A imagem de um morango, não é o morango e, portanto, não tem como nos brindar com a originalidade de seu sabor e com a delícia de seu frescor. 

Parte de nossa tristeza é que não percebemos o modo como fomos condicionados para prestar indevido culto ao passado morto, carregado de imagens, símbolos e tradições que limitam a expressão da autenticidade do Ser que somos. Para boa parte de nós, não se deu a consciência de que, desde a infância fomos programados para o colecionar um enorme pacote de ideias, símbolos, dogmas, antigos conhecimentos, memorizar histórias que não apontam para o desenvolvimento interior que possa nos brindar com a “excelência do Ser que somos”. Por não termos desenvolvido até então, a capacidade de fazer uso da lógica e da razão, as quais nos trazem a capacidade de questionamentos fundamentais, aceitamos como algo inteligente, uma educação cartesiana, mecânica, exata e científica, destituída de um amoroso, sensível e responsável senso humano, sem o qual a verdadeira liberdade criativa e amorosa não encontra o solo fértil para, em seu devido tempo, produzir os tão necessários frutos pelo qual em acelerado sofrimento, em estado dormente espera nossa grande e única família humana. Essa é boa parte de nosso silencioso e incompreendido sofrimento: compactuar através do nosso conformismo e ajustamento para permanecermos como fechadas sementes de amor, sedentas para trazer ao mundo o alimento e o frescor de nosso fruto. Nossa tristeza está no compartilhar da imitação de amargos frutos colhidos nas incontáveis fazendas do conformismo, do maneirismo, do ajustamento, do nivelamento inferior ao que nosso íntimo intui poder alcançar. Parte de nossa grande tristeza está em ter nascido águia e ter se permitido acreditar na programação das palavras vindas de pessoas significativas, palavras estas que ao aceitá-las nos forçaram a acreditar que somos galinhas, cujo único sentido existencial é extrair de nosso interior, a alto custo, de modo acelerado e estressado, nossos ovos criativos para colocá-los nas mãos de mentes que conhecem o poder e o sentido da palavra, — e com o qual nos controlam  —  assim como o nosso total desconhecimento das mesmas. Por causa dessa inicial falta de consciência das palavras é que nos mantemos programados, é que nos mantemos numa silenciosa servidão mercantilista, a qual faz de nosso irmão um acirrado concorrente. Se não chegamos sequer a tomar conhecimento da limitação que temos em compreender e fazer bom uso da palavra, a qual foi criada para tentar expressar, tentar simbolizar aquilo que intuímos em nosso coração, como poderemos alcançar então o poderoso insight, a poderosa experiência que transcende todo entendimento, a liberdade que se expressa quando somos tocados por aquele “Isso!” que está muito além e que transcende os limites da palavra?

Talvez, um dos nossos maiores entraves para a ocorrência direta desta inenarrável experiência, vivida por aqueles que aprendemos a chamar de místicos, mestres e iluminados, e que de forma infantil nos conformamos em cultuar e imitar, esteja no constante e mecânico exercício de mente fechada, a qual nos mantém com a boca aberta, falando demais sobre o velho por não ter nada de novo a dizer. Quando nos mantemos prisioneiros desse limitante modo de vida sustentado por nossa verborrágica mania de proferir nossa coleção de certezas incertas, não há a menor possibilidade de receber o frescor do novo. Para receber o novo, é preciso ter em nós instalada a consciência de que falar é prata e escutar é ouro; a consciência de que a boca deve saber permanecer fechada para dar o devido espaço para a abertura de mente e coração. Isso não significa de modo algum o exercício de uma aceitação servil. Ao contrário, quando mantemos uma escuta atenta, isenta de qualquer forma de escolha, achismo ou julgamento precipitado, nessa escuta, sem a necessidade de esforço, nos é apresentado uma capacidade de visão a qual de imediato nos mostra o falso e o verdadeiro, nos separa o joio do trigo.

Para receber o novo, precisamos despertar um coração que pensa e uma mente que sente,  uma boca que cala e um coração que fala. Para que isso aconteça é preciso estar nesta sala, é preciso chegar neste portal que nos apresenta um novo paradigma existencial, não com a velha mente com suas pegadinhas, maneirismos, achismos, com seu vício por disputas intelectuais, sua coleção de certezas incertas copiadas da experiência de outros homens, com suas verdades que não convencem nem a si mesma, pois, se essa capacidade a mente tivesse, estaria ela ainda correndo, buscando por tantos cantos, tantos blogs, tantos sites, tantas instituições e tantos livros? Estaria ela ainda depositando esperanças na busca de alguém que lhe traga a palavra mágica, o estado de presença mágica? Não seria ela capaz de fazer frente aos possíveis “barulhos” que se apresentam somente quando estamos em silêncio? 

Para receber o novo é preciso aqui chegar trazendo consigo a consciência de que tudo que penso saber não foi capaz de me brindar com a verdadeira liberdade do espírito humano; não foi capaz de me fazer saber por experiência direta o que é o amor e sua energia, o qual nada pede para si e que é só doação incondicionada, só um movimento em direção ao outro que, em última percepção intuitiva  — a qual ultrapassa em muito os limites da lógica, da razão e do intelecto  —, nos traz a benfazeja consciência de que o “outro” também sou “eu”. Para conhecer essa realidade do amor, ao qual os místicos num esforço amoroso — sem querer nada para si — tentaram traduzir com a maior da boa vontade através dos limites impostos pela palavra, é preciso aqui chegar, totalmente exausto de pensar e fazer uso dos pronomes possessivos “meu, minha, meus, minhas” e dedicar-se, de mente e coração, dedicar-se de modo holístico, com toda a energia do Sopro que nos habita para o poder da energia qualitativa e criativa do “nosso”, sem a qual, não há possibilidade de nossa existência apresentar Vida com qualidade. 

Para receber o novo é preciso já ter observado que, por mais prestígio e respeitabilidade adquirida, por mais conhecimento que possamos trazer na pesada mochila que sustentamos em nossos ombros, conhecimento esse que trazemos da coleção de livros, que talvez agora se encontrem empoeirados em nossa velha estante, isso não pode nos brindar com a qualidade criativa de uma mente que traz em si uma poderosa capacidade de silêncio, o qual se manifesta sem o menor esforço de nossa parte. Para que o poder dessa mente silenciosa se apresente, precisamos ter conosco a consciência e a inquietude daquele que se sente como ansiosa semente por tornar-se broto; ter o estado de “prontificação” para se permitir ser lançado ao solo úmido da humildade, prontificação essa expressa pela capacidade de se permitir uma escuta atenta, sem a qual os frutos da capacidade de uma nova visão de mundo, contida em estado latente no interior da semente que somos, não tem a menor possibilidade de florescer e crescer em direção à Luz do discernimento e da Percepção Pura. 

Para receber o novo é preciso ter a consciência de que a adolescente mania de vomitar emprestadas “certezas incertas” não tem o poder de produzir a maturada completude da Inteireza e Excelência de Ser, as quais só se manifestam através do Silêncio adquirido quando somos capazes de nos abrir para o adubo do tédio e da insatisfação que trazemos conosco, quando temos a capacidade de não mais despejá-los nos ouvidos de terceiros, aceitando pagar caro para poder usá-los. Para receber o novo é preciso ter a consciência de que mesmo a melhor capacidade de oratória — a qual muitas vezes é produto de uma imitação levemente modificada — não produz a necessária energia criativa capaz de causar uma profunda mutação em nossas células cerebrais; é preciso já ter consigo a consciência de que, ao fim do melhor discurso, quando deitamos nossa cabeça na maciez de nosso travesseiro, lá estão as incessantes falas do vazio, do tédio e da insatisfação, nos forçando a voltar ainda mais vazios para o estado do qual tentamos fugir através da inconsciente "nova droga de escolha", expressa pela vaidade de tal capacidade de oratória.

Para receber o novo é preciso ter vivenciado o deserto do real e nele ter observado que, aquilo que chamam de “inferno” é a estagnação causada pela repetição. É preciso ter adquirido a consciência da insuficiência de se permitir continuar correndo atrás das “boas vindas de terceiros”, da “aceitação de terceiros”, com as quais, quase sempre de modo inconsciente, tentamos aplacar a dor resultante de nossa própria incapacidade de darmos às boas vindas ao Ser que somos e de não saber o porquê de neste espaço tempo, aqui ter vindo; ter a consciência de que por melhores que sejam as boas vindas de terceiros, as mesmas não tem o poder de produzir as boas vindas de nossa autonomia psíquica, emocional, espiritual e, o mais importante de tudo, de nossa autonomia vocacional.

Para receber o novo, os instintos naturais que nos foram dados para a manutenção de nosso organismo e que foram desequilibrados pela aceitação passiva à excessiva exposição da imensa rede de condicionamentos, já devem ter sido, há muito, colocados em seu devido lugar e proporção de atuação através da participação responsável em outras especializadas e por vezes anônimas “Oficinas do Ser”. Se a necessidade de aceitação, de reconhecimento, de prestígio, de expressar emprestados conhecimentos, de buscar incessantemente por incontáveis formas de obter prazer imediato destituído de responsabilidade, se tudo isso não foi devidamente trabalhado, não há a mínima possibilidade de se aventurar no portal de um novo paradigma. Isso é que significa “prontificação”; isso que significa “meditação”; isso que significa “forças para realizar a vontade do Ser que sou e não a vontade do ser que penso ser”.

Um fraterabraço e um beijo no coração!

Outsider44

domingo, 3 de junho de 2012

O problema está no eu que penso ser

Eu desconfio que a única pessoa livre, realmente livre,
é a que não tem medo do ridículo.
Érico Veríssimo

Por vezes é um tanto difícil acreditar numa máxima espiritual que, anos atrás, conheci num grupo de anônimos: “O problema não está em nenhuma circunstância externa, o problema, está em nós”. No entanto, observar essa máxima espiritual, tem me poupado de uma série de antigos conflitos com aqueles com os quais mantenho contato. De fato, para se perceber como parte de um grupo, uma das exigências veladas é não fazer qualquer tipo de questionamento quanto à qualidade ou a validade de seus encontros, bem como quanto a superficialidade das abordagens que neles acontecem. Qualquer questionamento, a julgar pelas experiências vividas, sempre causa melindres, choques de instintos inflados pela ação do ego, choques estes que quando acontecem, por vezes, quase sempre se mostram irreparáveis.

Mas, parece-me ser um fato que, uma vida sem profundos questionamentos só pode gerar embotamento, bitolação, preconceitos e uma ignorância sem fim que tem como resultado a enfadonha, rotineira e mecânica domesticação servil. No entanto, pergunto-me: como se ajustar a superficialidade, a trivialidade e a mecanicidade reinante, sustentada pela imensa parafernália resultante do avanço tecnológico, quando, no mais fundo do ser, algo clama por intimidade, verdade e comprometimento pela descoberta de sua realidade? Quando estou farto de carregar minhas máscaras sociais, diante do deserto do real, torna-se difícil esconder o resultante olhar mal humorado. A questão é que, as demais pessoas não podem ser responsabilizadas por essa necessidade pessoal, necessidade essa que não é fruto da escolha, mas que é um fato operante e que não pode ser negligenciado através de qualquer tipo de fuga, entretenimento de baixo nível ou distração momentânea. Ela está aqui e clama por conteúdo emocional nutritivo.

O problema parece ser que, para a grande maioria da população nunca houve um profundo e impactante chacoalhar causado pela Vida. É esse chacoalhar que dá início ao processo de questionamentos e que, uma vez acolhidos com seriedade e paixão, tiram o homem do sonambulismo coletivo que mantém a ajustada, mediana e ilusória forma de existência sem vida em abundância, pautada sempre num otimismo pollyanico superficial e na ansiosa perseguição de finalidades e metas, dentro de um imenso e influenciante universo que lhe rodeia, mas que, aos olhos daqueles que sofreram a dolorosa bem-aventurança do chacoalhar da vida, soam como trivialidades distanciadas de qualquer valor, sentido ou propósito real. Esse bem-aventurado chacoalhar da Vida apresenta um novo paradigma existencial, onde falar a respeito dos autênticos sentimentos e dos possíveis conflitos, ao contrário do modo de existir passado, podem ser abertamente discutidos. Este novo paradigma existencial, permite a capacidade de “fazer uso da capacidade de pensar em voz alta, para expressar o que foi intuído”, por meio da observação, contrariando assim o antigo e enclausurante abuso social, alimentado pela imensa massa de contentes, adulterados adultos adulterantes, que desde a mais tenra idade nos condicionaram, abafando o desenvolvimento de expressão, com programas do tipo “roupa suja se lava em casa”.

Seja na fase infantil, ou na fase adolescente do "observador", muitas vezes se mostra profundamente desgastante ficar com aquela cara de paisagem, apenas no estado de observação, no estado de testemunha, prestando atenção em como afeta a situação externa em que estamos diretamente envolvidos. Nesse período, não é raro a instalação de um "observador ácido", de um "observador ranzinza ou amargurado", para o qual a carência de argumentos para expressar aquilo que observa, acaba se mostrando fonte dos mais variados tipos de conflitos em seus diversos relacionamentos. De fato, neste momento, não é fácil observar tantos preconceitos herdados e alimentados pela cultura parental/social, com tantas palavrórias repetições de crenças — destituídas de um mínimo senso de reflexão iluminada pela lógica e pela razão —, sem poder se deparar com um mínimo de solo fértil onde sementes da reflexão possam ser compartilhadas. Nesse período, não é raro nos sentirmos inadequados e até culpados pelos sentimentos que esse observador nos apresenta; isso, devido ao condicionamento manifesto nas velhas frases arquivadas na memória, as quais insistem em abortar a possibilidade de um estado de percepção, onde não surge espaço para conflitos diante da constatação com relação ao falso.  

Em meio de tudo isso, solitariamente, em silêncio surge a pergunta: por que tudo isso causa afetação? Por que a constatação do presente estado de sonambulismo, da superficialidade e dos discursos de assuntos triviais que não levam a nada ainda afetam? Fácil: porque ainda não estou pronto, ainda existem traves na visão e, é por isso que tenho que me manter nesses ambientes com um olho na missa e o outro no interno padre do ego que quer bancar o antigo Deus punidor. Até o presente momento, a única opção que se apresenta, parece ser apenas, observar... Estar nos ambientes sem me ambientar — sei que soa como prepotência, arrogância e soberba espiritual — trazendo à mente e ao coração a questão: por que a escuta de assuntos triviais, na maioria das vezes repetitivos e que não levam a nada ainda causam tédio e insatisfação? Quem é esse que sente o tédio, a insatisfação e o conflito?... Fazer a pergunta e não se desfocar, entender o fragmento que critica o assunto que julga pra lá de fragmentado... Se questionar para compreender o conflito, sua causa e o porquê de ter sido causado, porque, se não existir essa compreensão, parece que sempre haverá essa forma de conflito. Então, partindo dessa afirmativa, surge a pergunta: o que é que alimenta a continuidade desse organismo "ego"? Sinto ser o "vicio" da desatenção mental, durante as constantes ocorrências a que sou exposto. Esse vicio é que causa a automática identificação, que por sua vez, rotula, julga, critica, tece a solução correta para o modo de vida do outro, tece o comportamento correto para o outro, condiciona o outro. É a falta de atenção aos movimentos internos que sempre me coloca diante do novo, com o velho olhar que impede o conhecimento da verdadeira compaixão ou do amor incondicionado. Uma vez que tenho em vista que é esse vicio da desatenção mental que causa o conflito, surge a pergunta: é possível levar esse vicio da desatenção mental ao seu termino? É possível viver num estado de atenção plena não reativa? Se é possível, o que está causando o impedimento?

Apesar de ainda não ter respostas para estas perguntas, cada vez mais percebo que a prática do silêncio é a melhor resposta, que através da prática do silêncio, melhor a percepção dos fatos, dos acontecimentos, sejam eles externos ou internos. É interessante ter, através do silêncio, a percepção de que, mesmo sem se expressar externamente, o ego adora tagarelar, ser sempre aquele que tem a última palavra, ser o dono da razão. Percebo que, a facilidade maior, bem como a atenção está sempre mais fora do que dentro; há uma profunda rapidez em perceber o externo, mas, uma negligência na percepção dos acelerados e incontáveis movimentos do “John Macclane” — o ego duro de matar. Quanto mais faço silêncio, mais percebo que toda forma de conflito parte desse “vício” da desatenção interna.

Parece-me ser um fato que o ser humano necessita de troca emocional nutricional e que, para que essa troca possa ocorrer se faz necessário um mínimo de afinidade, caso contrário, qual o sentido de nos agruparmos? Se não há a menor afinidade, que troca pode se apresentar, do que se pode comungar? A própria palavra “comungar” implica na necessidade de “um ar comum”. Se eu e você vivemos ares totalmente diferentes, se temos aspirações opostas, de que modo então, podemos juntos comungar? Se permanecermos no mundo das aparências é claro que não encontraremos nada de comum. No entanto, o que mais pode haver de comum entre nós, do que o próprio ar, o próprio Sopro? Quem é esse que tudo observa com um olhar ácido e que não consegue perceber Aquele todo amoroso que nos habita e no qual somos?

O fato é que não há o interesse em conhecer ou discutir nada disso, aliás, a maior parte parece nem ao menos estar consciente disso — as novelas que os distraem de suas novelas diárias, cuja calmaria do final feliz nunca se apresenta — parecem para eles, serem muito mais atrativas. Em vista disso me pergunto: por que então insisto tanto em manter contato com situações onde não há a menor possibilidade de comunhão, de haver um contato que aponte para um Real Encontro? Será que tenho que me conformar a pagar por um encontro semanal — durante anos — com um psicólogo qualquer para realmente ouvir e ser ouvido? Se não posso ser autêntico, o que me impele a manter a continuidade dessas situações destituídas de real encontro?... O vínculo familiar que não consigo quebrar. Mas, porque não consigo rompê-lo? Não seria a incapacidade de fazer frente à solidão que me coloca diante da própria insuficiência? Não seria o medo de me ver em total situação de abandono e desamparo emocional? Por que insisto em manter o vínculo com pessoas que hoje não tem nada de emocionalmente e mentalmente familiar? Por que insisto em manter contatos com situações que me apresentam sempre os mesmos assuntos referentes a pessoas que não conheço e que fazem parte sempre do passado? Por que insisto em manter esse laço que mais se parece com um amarrotado nó? Por que alimento essa hipocrisia que, em última análise, parte de mim mesmo? Parece ser o medo de ficar só, uma vez que por anos fui condicionado — de forma bastante egoísta — que no futuro, só a família é que cuida de nós. Se vejo isso com clareza, porque não abro mão?... O medo... É o medo da solidão, o medo do desamparo é que impede a postura de abrir mão de vez desses contatos onde não há a menor possibilidade de trocar aquilo que sinto ser necessário. É o medo que impede a coragem de fazer exatamente como pede o interior. É o medo que impede o rompimento do apego parental e é também o medo que impede o surgimento das perguntas que apontem para a natureza exata desse apego parental. É o medo que impede de ver o porquê de dar tanta importância ao que as pessoas que não comungam em nada da minha maneira de ver, de estar e se relacionar com o mundo, pensam a meu respeito, ou possam pensar com relação a minha escolha de não mais manter contato.

O fato é que, só por agora, sinto que a intimidade nutritiva não tem como ocorrer (pelo menos até aqui, ela não se manifestou). A relação fica sempre no nível do socialmente polido e aceitável. As posturas se limitam a conversação do passado, ou as especialidades, as trivialidades do cotidiano e, como não vejo sentido em alimentar esse tipo de abordagem, só assisto. Isso causa vazio, o qual tento aplacar com um copo a mais de refrigentante ou um petisco qualquer (bebida alcoólica nem pensar: poderia facilitar manifestações inconvenientes). Não vejo sentido e nem tenho a menor habilidade para manter piadinhas infantis para tentar trazer vida graciosa numa relação que, por si só, não tem vida, muito menos graça. No entanto, em meu intimo, gostaria profundamente de que, com essas pessoas, realmente pudesse haver intimidade profunda, mas, no entanto, as repetidas experiências me mostram que não há como. É dito que, insanidade, é fazer a mesma coisa esperando resultados diferentes... Se os resultado se mostram sempre superficiais e insatisfatórios, porque devo continuar a dizer sim, quando meu coração pede para dizer não?... A razão diz: isso é o que eles podem dar, para eles, isso é se relacionar... Ok! Mas, se o que recebo deles não me alimenta, então, porque devo continuar? Se estou com fome e procuro um restaurante que em seu cardápio insiste em só apresentar Coca-Cola, quando sua dispensa está cheia de alimento nutritivo (ainda que disso seus donos se mostrem inconscientes), o que devo fazer? Insistir em frequentar o mesmo restaurante e, desse modo, me manter desnutrido, ou buscar por um local realmente nutritivo? A lógica e a razão dizem ser a segunda opção. Se isso está claro, o que impede de escolher pela segunda opção, formada pelo ato de abrir mão da ilusão de segurança do conhecido e me lançar na realidade da insegurança do desconhecido? Mais uma vez, a lógica e a razão, sobre a ação do medo, afirmam que, para fazer isso seria necessário abrir mão de tudo. Então, se não é possível abrir mão de tudo, o que seria necessário para poder estar em tudo, de modo sereno, equilibrado e feliz? A razão e a lógica respondem rapidamente: só pela Graça. No agora, nada sei disso, o que sei disso é memória — essa coisa que condicionamos chamar de graça — uma idealização de bem-estar — um achismo de que com isso, num futuro, posso viver um bem estar. Creio ser mais inteligente compreender ESSE que sente a insatisfação, uma vez que, até mesmo com os mais íntimos, só consigo manter intimidade até a página dois; essa intimidade não é total, há sempre os limites, pois há sempre o temor de ser mal compreendido, de ser julgado e novamente ser deixado ao ostracismo.

Observar isso causa uma desolação... Então, olhando para esse sentimento de "desolação" vem a pergunta: onde diabos, fica a autêntica intimidade, a verdade e a troca? Pode haver verdadeira intimidade e troca se há esse medo de ser colocado ao ostracismo? É possível ficar livre desse medo que gera todo tipo de dependência de pessoas se não há a coragem de se abrir para a possibilidade de ostracismo? Será possível não tropeçar no medo da opinião dos outros? Em última análise, será possível encontrar intimidade externa, não sendo capaz de manter um intimidade com o conteúdo encontrado no próprio interior? É possível o encontro de um estado de ser que não seja afetado pela dualidade “bem e mal”?... Estas perguntas trazem consigo um sentimento de urgência de transformação interna. A transformação parece não ocorrer porque não há a seriedade de aprofundamento na solidão e no tédio, a qual talvez possa levar a uma auto-compreensão, sem a qual me parece impossível o conhecimento de uma realidade totalmente livre desse fragmento, desse fragmento pelo qual pensamos ser. Em vista disso, silêncio é a minha atual opção.

Outsider44
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill