Se você se sente grato por este conteúdo e quiser materializar essa gratidão, em vista de manter a continuidade do mesmo, apoie-nos: https://apoia.se/outsider - informações: outsider44@outlook.com - Visite> Blog: https://observacaopassiva.blogspot.com

Mostrando postagens com marcador consciência. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador consciência. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 9 de abril de 2018

A totalidade da consciência é medo

A totalidade da consciência é medo

[...] Sem dúvida, o medo surge quando buscamos a segurança, exterior ou interiormente; quando se aspira a um estado permanente, duradouro, nas relações, nas coisas mundanas, na confiança, que o saber proporciona, na experiência emocional. E, finalmente, dizemos que existe Deus, absoluta e eternamente permanente, em cujo seio encontraremos imperturbável paz e segurança para todo o sempre. Cada um está a buscar segurança nesta ou naquela forma, e sabemos como cada um atua — buscando a segurança no amor, na propriedade, na virtude, jurando a si mesmo ser bom, casto. Todos conhecemos os horrores inerentes à busca, secreta ou aberta, da segurança. E isso é medo, porquanto nunca averiguastes se existe segurança. Não o sabeis. Emprego estas palavras para denotar que se trata de um fato que desconheceis absoluta e completamente. Vós não sabeis se Deus existe ou não existe. Não sabeis se haverá ou não outra guerra. Não sabeis o que irá acontecer amanhã. Não sabeis se existe, interiormente, alguma coisa permanente. Ignorais o que irá suceder em vossas relações, com vossa esposa, vosso marido, vossos filhos. Não sabeis; mas deveis verificar isso, não achais? Deveis descobrir por vós mesmo que ignorais. E esse estado de não saber, esse estado de completa incerteza, não é medo; é a atenção plena, na qual podeis descobrir.

Vê-se, pois, que a totalidade da consciência — a qual inclui o superficial, o consciente, o oculto, e as extremas profundezas dos resíduos raciais, os “motivos”, tudo o que constitui pensamento — vê-se que a totalidade da consciência é, essencialmente, medo. A consciência é tempo, resultado de muitos dias, meses, anos e séculos. Vossa consciência de serdes francês se formou, historicamente, através de muitas gerações de propaganda. O fato de serdes cristão, católico, o que quer que seja, representa dois mil anos de propaganda durante os quais fostes obrigado a crer, a pensar, a funcionar e atuar segundo um certo padrão chamado “cristão”. E não ter crença alguma, ser o mesmo que nada parece coisa temível. Assim, a totalidade da consciência é medo. Isto é um fato, e não há concordar ou discordar sobre um fato.

Agora, que acontece quando vos vedes em presença de um fato? Ou tendes opiniões a respeito do fato, ou simplesmente o observais. Se tendes opiniões, juízos, avaliações do fato, então não o estais vendo. E não o vedes porque entra em cena o tempo, pois vossa opinião é produto do tempo, do ontem, de vossos conhecimentos anteriores. O ver realmente está no presente ativo, e nesse ver não existe medo. Isso é um fato real. O experimentar de um fato real é que liberta do medo a consciência total. Espero que não estejais muito cansados e possais experimentar isto, pois não podeis levá-lo para casa para lá refletir a seu respeito. Porque então não tem valor. O que tem valor é enfrentar o fato diretamente, e penetrá-lo. Vereis então que o todo de nosso mecanismo pensante, com seus conhecimentos, suas sutilezas, suas defesas e renúncias — que esse todo constitui o pensamento e é a causa real do temor. E vemos também que, quando há atenção total, não há pensamento; há, só, percepção, o ato de ver.

Havendo atenção, há completa tranquilidade; porque nessa atenção não há exclusão. Quando o intelecto pode estar completamente sereno — não adormecido, porém ativo, sensível, vivo, — nesse estado de atenta serenidade não existe medo. Há então uma qualidade de movimento que não é pensamento, absolutamente, que não é sentimento, emoção ou sentimento. Não é uma visão, nem uma ilusão; é um movimento de qualidade toda diferente, que conduz ao Indenominável, ao Imensurável, à Verdade.

Mas, infelizmente, não estais escutando, experimentando deveras, pois não examinastes isto realmente, não investigastes até este ponto. Por conseguinte, o medo não tardará a precipitar-se novamente sobre vós, qual uma vaga, submergindo-vos. Tendes, portanto, de examinar isto; e no examiná-lo está a solução. Esta é a base; e uma vez lançada a base, nunca mais buscareis, porque toda busca da Realidade se baseia no medo. Libertada do medo a mente, o intelecto, então podereis descobrir.[...]

PERGUNTA: Por que temem as crianças?

KRISHNAMURTI: Não é mais certo perguntar: “Por que temos medo?” É bastante óbvio por que as crianças temem. Estão rodeadas por uma sociedade baseada no temor. Os pais temem; e a criança necessita essencialmente de segurança e, quando se vê privada dela, sente medo. Vede, não estais enfrentando o fato de que há temor em vós.

PERGUNTA: É possível estar sempre no estado de atenção plena que excluí o medo?

KRISHNAMURTI: Na atenção não há exclusão; ela não é um mecanismo de resistência. Examinamos a questão do medo e vimos que não existe medo quando estamos atentos. Na atenção não há processo de pensamento “exclusivo”. Pode-se fazer uso do pensamento, mas não há então exclusão. Não sei se percebeis. Eu estou atento; neste momento sou todo atenção. Mas tenho de empregar palavras para comunicar-me convosco. As palavras só servem para a comunicação, e não para se experimentar o fato real.

E apresenta-se aí a questão de como manter a atenção plena. Ora, “manter” implica tempo e, portanto, a destruição da atenção. Se a atenção cessa, é deixá-la ir-se, e esperar que volte. Nunca digais: “preciso mantê-la”; porque isso significa esforço, tempo, pensamento e tudo o mais.

PERGUNTA: A memória está inteiramente associada ao conhecimento, ou é “aquele silêncio” uma memória de diferente qualidade?

KRISHNAMURTI: De todo o processo de conhecer, acumular experiência, resulta a memória, que é tempo. Conhecemos o mecanismo da acumulação das lembranças. Toda experiência incompreendida, incompleta, deixa sua marca, que chamamos memória.

E “aquela tranquilidade” é uma memória de qualidade diferente? A memória, por certo, implica continuidade: o passado, o presente e o futuro. A tranquilidade não tem continuidade, e é importante compreender isto. Pode-se induzir, disciplinar o intelecto para se tornar tranquilo, e esse disciplinar tem uma continuidade; mas a tranquilidade resultante da disciplina, da memória, não é tranquilidade nenhuma.

Nós nos referimos a uma tranquilidade que vem sem ser chamada, quando não existe medo de espécie alguma, declarado ou secreto. E quando existe essa tranquilidade, que é uma necessidade absoluta, independente da memória, verifica-se então um movimento de qualidade totalmente diferente.

Krishnamurti, Paris, 14 de setembro de 1961, O Passo Decisivo

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

O amor está além da limitada consciência

(...) A mente com suas respostas emocionais, com todas as coisas que o pensamento agregou, é nossa consciência. Essa consciência, com todo o seu conteúdo, é a consciência de todos os seres humanos, modificada, não inteiramente similar, diferente em suas nuances  e sutilezas, mas as raízes de sua existência são basicamente comuns a todos nós. Os cientistas e os psicólogos estão examinando essa consciência e os gurus estão brincando com ela para seus próprios fins. Os que são sérios estão examinando a consciência como um conceito, como um processo laboratorial — as respostas do cérebro, ondas alfas, etc. — como algo fora deles próprios. Mas nós não estamos interessados em teorias, conceitos e ideias a respeito da consciência; nós estamos interessados em suas atividades na nossa vida diária. Ao entender essas atividades, as respostas diárias, os conflitos, nós temos um INSIGHT na natureza e estrutura de nossa consciência. Como indicamos, a realidade básica dessa consciência é comum a todos nós. Não é a sua ou a minha consciência particular. Nós a herdamos e a estamos modificando aqui e ali, porém, seu movimento básico é comum a toda a humanidade. 

Essa consciência é a nossa mente com toda a sua complexidade de pensamento — as emoções, as respostas sensoriais, o conhecimento acumulado, o sofrimento, a dor, a ansiedade, a violência. Tudo isso é a nossa consciência. O cérebro é antigo e está condicionado por séculos de evolução, por todo tipo de experiência, pelas acumulações recentes do conhecimento expandido. Tudo isso é a consciência em ação, em todos os momentos de nossa vida — a relação entre os seres humanos com todos os prazeres, dores, confusão dos sentidos contraditórios e a gratificação do desejo com dua dor. Esse é o movimento de nossa vida. Nós estamos perguntando, e isso deve ser enfrentado como um desafio, se esse movimento ancestral pode ter um fim — pois isso se tornou uma atividade mecânica, uma forma tradicional de viver. No fim existe um começo e só então não existirá nem fim nem começo. 

A consciência parece ser um assunto muito complexo, mas essa realidade é muito simples. O pensamento agregou todo o conteúdo de nossa consciência — sua segurança, sua incerteza, suas esperanças e seus medos, a depressão e a euforia, o ideal e a ilusão. Uma vez que isso é apreendido — que o pensamento é responsável por todo o conteúdo da nossa consciência —, a questão inevitável surge: pode o pensamento ser detido? Muitas tentativas, religiosas ou mecânicas, foram feitas no sentido de pôr fim ao pensamento. A própria exigência de acabar com o pensamento é parte do movimento do pensamento. A própria busca por uma superconsciência é ainda a medida do pensamento. os deuses, os rituais, toda a ilusão emocional das igrejas, templos e mesquitas com suas maravilhosas arquiteturas, é ainda o movimento do pensamento. Deus é alçado aos céus pelo pensamento.

O pensamento não criou a natureza. Ela é real. A cadeira é real e feita pelo pensamento; todas as coisas que a tecnologia gerou são reais. Ilusão é tudo aquilo que se afasta da realidade dos fatos (aquilo que está  realmente acontecendo agora), mas podem se tornar uma realidade porque vivemos das ilusões. 

O cachorro não é feito pelo pensamento, mas o que queremos que ele seja é o movimento do pensamento. O pensamento é medida. O pensamento é tempo. A totalidade disso é a nossa consciência. A mente, o cérebro e os sentidos são parte dela. Perguntamos: pode esse movimento chegar a um fim? O pensamento é a raiz de todo nosso sofrimento, de toda a nossa feiura. O que estamos pedindo é o fim disso — as coisas que o pensamento agregou —, não o fim do pensamento em si mesmo, mas o fim de nossa ansiedade, pesar, dor, poder e violência. Com o fim disso, o pensamento encontra seu lugar próprio e limitado — o conhecimento e a memória que precisamos ter no dia-a-dia. Quando os conteúdos da consciência, que foram agregados pelo pensamento, não estão mais ativos, então existe um vasto espaço e assim há a liberação da imensa energia, que estava limitada pela consciência. O amor está além dessa consciência. 

Krishnamurti em, Cartas às escolas

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

O homem necessita de uma nova consciência

Estou aqui para seduzi-lo a um amor pela vida; para ajudá-lo a tornar-se um pouco mais poético; para ajudá-lo a morrer para o mundano e para o ordinário, de modo que o extraordinário exploda em sua vida.

Eu não sou um lógico, sou um existencialista.

Acredito nesse belo caos da existência e estou pronto para ir aonde quer que ela vá. Não tenho uma meta, porque a existência não possui uma meta. Ela simplesmente é, florescendo, brotando, dançando - mas não pergunte porque. Apenas um transbordamento de energia, sem motivo algum. Estou com a existência. Eu não sou um messias e não sou um missionário. E não estou aqui para estabelecer uma igreja ou para dar uma doutrina para o mundo, uma nova religião, não.

Meu esforço é totalmente diferente: uma nova consciência, não uma nova religião, uma nova consciência, não uma nova doutrina. Chega de doutrinas e chega de religiões!

O homem necessita de uma nova consciência.

E a única maneira de trazer uma nova consciência é continuar martelando por todos os lados para que lenta, lentamente nacos de sua mente se desprendam. A estátua de um Buda está oculta em você. Nesse momento você é uma rocha. Se eu continuar martelando, cortando fora pedaços de você, lenta, lentamente o buda surgirá.

Osho

sábado, 6 de dezembro de 2014

Qual é a diferença entre testemunho e consciência sem escolha?

Qual é a diferença entre testemunho e consciência sem escolha? Testemunho é consciência sem escolha. Se você escolhe, você não está testemunhando; você gostou ou desgostou. Você escolheu, ficou identificado. 

Por exemplo, na sua mente existem alguns pensamentos se movendo. Testemunhar significa que você simplesmente fica ali percebendo que eles estão se movendo, como nuvens se movendo no céu ou o tráfego da estrada. Você não tem escolha alguma e não diz: "Isso é bom, deixe-me mantê-lo, e isso é mau, deixe que se vá."Se você falar dessa maneira, você não está testemunhando. Você está se envolvendo, se identificando, criando relacionamentos amor-ódio, e quando você se relaciona você não pode ser uma testemunha. Testemunho significa consciência sem escolha!

E o que é o estado de ser? Quando você não escolhe, as coisas são como elas são. A raiva passa por ali... então existe raiva. Há uma testemunha e a a raiva. Você não está com raiva; se escolher você está com raiva. Se você escolhe contra ela, você fica repressivo a ela. Você simplesmente observa. A raiva vem, a ambição vem, e elas passam por ali. Elas vê e vão e você observa e não escolhe. Assim, as coisas são como elas são! Você não dá valor, não diz que isso é superior e aquilo é inferior, isso é espiritual e aquilo é material, isso é pecado e aquilo é um ato muito sagrado. Você não faz qualquer avaliação; você abandona qualquer avaliação e simplesmente vê como um espelho, um espelho vazio. Seja lá o que passar, o espelho reflete. Isso é testemunhar. 

E o espelho nunca escolhe, pois ele não é uma chapa fotográfica. A chapa fotográfica simplesmente escolhe; ela é pega e capturada. O espelho permanece limpo: você passou e o espelho está novamente limpo e vazio. Na verdade, quando você estava passando, então também havia somente reflexo, mas o espelho não estava tendo nenhum conteúdo nele; era sempre um sombra, uma sombra passando. 

Quando você não escolhe, as coisas são como ela são. Esse é o estado de ser — isto é tathata

"Testemunhar" vem dos Upanixades — sakshi. Essa é a palavra usada pelos videntes dos Upanixades. "Consciência sem escolha" vem de Jiddu Krishnamurti — uma nova palavra para a mesma velha coisa. "estado de ser" é uma palavra budista, tathata; ela vem de Buda. Mas todas significam a mesma coisa! Não seja pego pelas palavras e não comece a ficar erudito através delas. 

Contudo, esses problemas surgem porque você nunca penetra em nenhuma prática, em nenhuma experiência. Tudo permanece teórico.

O S H O 


sábado, 8 de novembro de 2014

A mente é um subproduto social; não é você!

Para mim, a mente é aquilo que foi dado a você. Não é sua. Mente significa o emprestado, significa o cultivado, aquilo que a sociedade inoculou em você. Não é você. Consciência é a sua natureza; a mente é apenas o círculo criado em torno de você pela sociedade; é a cultura, a sua educação. 

Mente significa o condicionamento. Você pode ter uma mente hindu, mas não pode ter uma consciência hindu. Você pode ter uma mente cristão, mas não pode ter uma consciência cristã. A consciência é una; não é divisível. As mentes são muitas porque as sociedades são muitas, as culturas, as religiões são muitas. Cada sociedade, cada cultura cria uma mente diferente. A mente é um subproduto social. E, a menos que essa mente seja dissolvida, você não pode ir para dentro, não pode conhecer a sua natureza real, o que é autenticamente a sua existência, a sua consciência. 

O esforço em direção à meditação é um combate à mente. A mente nunca é meditativa, nunca é silenciosa. Portanto, dizer 'mente silenciosa' não tem sentido, é um absurdo. É como dizer "doença saudável!" Não faz sentido. Como pode existir uma doença saudável? Doença é doença, e saúde é ausência de doença. 

Não existe nada semelhante a uma mente silenciosa, Quando há silêncio, não há mente. Quando há mente, não há silêncio. A mente, como tal, é o distúrbio, a doença. Meditação é o estado de não-mente. Não de uma mente silenciosa, não de uma mente sã, não de uma mente concentrada, não. Meditação é o estado de não-mente: nenhuma sociedade dentro de você, nenhum condicionamento. Só você, com a sua consciência pura. 

No Zen dizem: Descubra a sua face original. A face que você usa não é original; é cultivada. Não é a sua face; é somente uma fachada, um estratagema. Você tem muitas caras, a cada momento você muda de cara. Está sempre mudando. A mudança já se tornou tão automática, que você nem nota, nem observa. 

Quando você encontra o seu empregado, você usa um rosto diferente daquele que usa quando encontra o seu patrão. Se o seu empregado está sentado à sua esquerda e o seu patrão à direita, você tem duas faces. A face esquerda é para o empregado, a face direita é para o patrão. Você é duas pessoas simultaneamente. Como poderia mostrar a mesma face para o empregado e para o patrão? Um dos seus olhos possui certa qualidade, um olhar determinado. Seu outro olho possui uma qualidade diferente, um olhar diferente. Um está dirigido para o patrão e o outro está dirigido para o empregado. Isso se tornou tão automático, tão mecânico, tão robotizado que você está sempre mudando a sua face; você tem múltiplas faces e nenhuma delas é original. 

No Zen se diz: Descubra seu rosto original, o rosto que você possuía antes de nascer, ou o rosto que terá depois de morto. Qual é esse rosto original? O rosto original é a sua consciência. Todos os outros são frutos da sua mente. 

Lembre-se bem de que você não tem apenas uma mente; você possui multimentes. Esqueça o conceito de que todo mundo possui uma única mente. Você não tem, você tem muitas: uma multidão, uma multiplicidade; você é polipsíquico. Pela manhã você tem uma mente, à tarde, outra e, à noite, ainda outra. A cada instante você tem uma mente diferente. 

A mente é um fluxo: fluvial, flutuante, cambiante. A consciência é eterna, uma. Não é diferente de manhã, não é diferente à noite. Não é uma quando você nasce e outra quando você morre. É sempre a mesma, eterna. mente é fluxo. Uma criança possui uma mente infantil, um velho possui uma mente velha; mas uma criança ou um velho possuem a mesma consciência, que não é infantil, nem velha. Ela não pode ser diferente. 

A mente se move no tempo e a consciência vive na atemporalidade. Não são uma coisa só. Mas estamos identificados com a mente. Continuamos dizendo, insistindo: "minha mente. Eu penso desse jeito. Esse é o meu pensamento. Esta é a minha ideologia." Você perde o que realmente é por causa dessa identificação com a mente. 

Dissolva esses vínculos com a mente. Lembre-se de que suas mentes não são verdadeiramente suas. Foram dadas a você por outros: seus pais, sua sociedade, sua universidade. Foram dadas a você. Jogue-as fora, fique com a consciência única que é você — pura consciência, inocência. É assim que passamos da mente para a meditação. É assim que saímos da sociedade, do exterior para o interior. É assim que se passa do mundo feito pelo homem, de maia, para a verdade universal, a existência. 

É isto que estamos fazendo aqui: jogando a mente fora. Quando insisto: "Fique louco" — estou lhe dizendo: "Jogue a mente fora". Quando digo: "Passe por uma catarse" — estou dizendo, "Jogue fora tudo o que a sociedade lhe deu e fique apenas com o que você é. Não com o que lhe tem sido dado, mas com o que você nasceu — sua natureza". 

Jogue fora as ambições, as repressões, as idéias, as atitudes, os conceitos. Seja simples, como uma criança, inocente, e então você penetrará numa dimensão diferente. Então você pode penetrar no desconhecido. Eis por que a verdade não pode ser conhecida através da mente. A mente significa o passado e a verdade significa o eterno presente; portanto, você não pode aproximar-se da verdade através da mente. A mente é a barreira, o único obstáculo. 

Osho em, A Nova Alquimia 

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Um místico liberando um físico quântico de seu antolho científico

Amit conta, como e quando, ele obteve o esclarecimento final "insight" que o levou a conclusão de seu trabalho (nada existe fora da Consciência).

Conta Amit, que o primeiro esboço de seu trabalho a respeito da Consciência foi escrito no verão de 1982. Conta ele: " Eu sabia, no entanto, que havia profunda incoerência no material. Elas tinham origem no apego muito sutil a um dos dogmas fundamentais da filosofia realista - a consciência tinha que ser um epifenômeno da matéria. O biólogo Roger Sperry falou em consciência emergente - uma consciência causalmente poderosa que emergiu da matéria, do cérebro. De que maneira poderia isso acontecer? Há um círculo vicioso obstinado no argumento de que alguma coisa feita da matéria pode agir sobre ela com novidade causal. Eu poderia ver, nesse caso, a conexão com os paradoxos da física quântica: como poderíamos nós, nossas observações, produzir um efeito sobre o comportamento de objetos, sem postular uma consciência dualista? Eu sabia também que a idéia de uma consciência dualista, separada da matéria, criava seus próprios paradoxos.

Ajuda chegou de uma direção inesperada. Como cientista, sempre acreditei em uma abordagem total do problema. Uma vez que, nessa ocasião, minha pesquisa constituía evidentemente uma exploração da natureza da própria consciência, achei que deveria mergulhar em estudos empíricos e teóricos da consciência. Essa orientação implicava psicologia, embora os modelos psicológicos convencionais - dadas as suas raízes no realismo materialista - evitem experiências conscientes que contestem essa visão do mundo. Outras psicologias menos convencionais, contudo, tais como o trabalho de Carl G. Jung e Abraham Maslow, pressupunham um conjunto diferente de suposições. Essas idéias apresentam maior ressonância com a filosofia dos místicos - uma filosofia que se baseia em enxergar, espiritualmente, através do véu que cria a dualidade. Para remover o véu, os místicos prescrevem que o indivíduo se torne atento ao campo da percepção. (esse estado de atenção é, às vezes, denominado de meditação).

Eventualmente, após anos de esforços, uma combinação de meditação, leitura de filosofias místicas, um sem-número de discussões e simplesmente pensamento concentrado começaram a romper o véu que separava da solução que eu procurava para tais paradoxos. O dogma fundamental do realismo materialista - que tudo é feito de matéria - teve que ser abandonado, e isto sem trazer o dualismo.

Lembro-me ainda do dia em que ocorreu o rompimento final. Estávamos em visita a nossa amiga Frederica, que reside em Ventura, na California.

Cedo, naquele dia, Magie e eu saímos com um amigo, o místico Joel Morwood, para ouvir uma palavra de Krishnamurti na vizinha Ojai. Mesmo aos 89 anos, Krishnamurti dava conta do recado com extraordinária habilidade. Em seguida, conversando com a platéia, ele aprofundou pontos que haviam constituído a essência de seu ensinamento - para mudar, temos que estar cientes agora, e não resolver mudar mais tarde ou, simplesmente, pensar no assunto. A percepção radical, e só ela, leva à transformação que desperta a inteligência radical. Quando alguém perguntou se a percepção radical ocorre a nós, seres humanos comuns, Krishnamurti respondeu gravemente: "Tem que ocorrer".

Mais tarde naquela noite, Joel e eu iniciamos uma conversa sobre Realidade. Eu estava lhe dando um prato cheio de minhas idéias sobre consciência, que havia elaborado a partir da teoria quântica, em termos da teoria da medição quântica. Joel escutava com toda atenção.

- Muito bem, o que é que vai acontecer em seguida?

- Bem, eu não tenho certeza de compreender como a consciência se manifesta no cérebro-mente - respondi, confessando minha luta com a idéia de que, de alguma maneira, a consciência tinha que ser um epifenômeno dos processos cerebrais.

- Acho que compreendo a consciência, mas...

- A consciência pode ser compreendida? - interrompeu-me Joel.

- Claro que pode. Eu lhe disse que nossa observação consciente, a consciência, produz o colapso de onda quântica...

E eu estava pronto para repetir toda a teoria.

Joel, porém, interrompeu-me:

- De modo que o cérebro do observador é anterior à consciência, ou a consciência é anterior ao cérebro?

Percebi a armadilha na pergunta.

- Estou falando em consciência como sujeito de nossas experiências.

- A consciência é anterior às experiências. Ela não tem objeto nem sujeito.

- Certo. Isso é misticismo antigo. Em minha linguagem, porém, você está falando a respeito de algum aspecto não-local da consciência.

Joel, porém, não se deixou desanimar por minha terminologia.

- Você está usando antolhos científicos, que impedem de compreender. No fundo, você acredita que a consciência pode ser compreendida pela ciência, que a consciência emerge do cérebro, que é um epifenômeno. Tente compreender o que os místicos estão dizendo. A consciência é anterior é incondicionada. Ela é tudo o que há. Nada mais existe, senão Deus.

A última frase fez comigo alguma coisa que é impossível descrever em palavras. O melhor que posso dizer é que provocou abrupta mudança de perspectiva - um véu foi levantado. Ali estava a resposta que eu estivera buscando e que conhecera o tempo todo.

Quando todos foram dormir, deixando-me em minha contemplação, saí de casa. O ar da noite estava frio, mas não me importei. Tão enevoado estava o céu que eu mal conseguia ver uma estrela. Mas, na imaginação, o céu tornou-se o mesmo céu radiante de minha infância e, de repente, consegui enxergar a Via-láctea. Um poeta da minha Índia natal concebera a fantasia de que a Via-láctea era a fronteira entre o céu e a terra. Na não-localidade quântica, o céu transcendente - o reino de Deus - está em toda a parte. "Mas o homem não o vê, lamentava-se Jesus."

Bibliografia.
Universo Autoconciente.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Pode haver consciência sem observador?

Pergunta: Pode haver consciência sem observador?

Chögyam Trungpa: Sim, porque o observador é apenas paranoia. Podemos ter abertura completa, uma situação panorâmica, sem precisar discriminar entre dois lados, "eu" e "outro". 

P: Esta consciência implicaria em sentimento de felicidade completa?

Chögyam Trungpa: Creio que não, porque essa felicidade é uma experiência muito individual. Você é independente e vive a sua felicidade. Quando o observador se vai, não há avaliação da experiência em termos de prazer ou dor. Quando você tem consciência panorâmica sem a avaliação do observador, a bem-aventurança se torna irrelevante pelo simples fato de não haver ninguém que a esteja experimentando.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Sobre a experiência sublime e inesquecível

Os primeiros Grandes Sábios, observando o movimento dos pensamentos da sua própria mente, descobriram que "ALGO" estava em ação quando o pensamento cessava. Esse "ALGO" era a primeira insinuação da alma de cuja descoberta nasceu a ciência que os antigos começaram a ensinar aos homens, como um meio de conhecerem a VERDADE SOBRE SI MESMOS.

Tal ciência foi transmitida por métodos diversos em quase todas as civilizações pré-cristãs, na Suméria, Egito, Babilônia, Caldéia, China, Pérsia, Índia, México; entre os índios da América do Norte, maias da América Central e os desventurados astecas, assim como entre os judeus da Fraternidade Essênia e os gnósticos das cidades mediterrâneas.

Contemplando as majestosas ruínas da Grécia antiga, vêem-se de pés as imponentes fachadas esburacadas e colunas esfaceladas pelo tempo, os restos do famoso Templo em que outrora foram celebrados com grande cerimônia sob a égide de Atenas os célebres Mistérios de Elêusis. Poucos, são, todavia, aqueles que hoje entendem o que se passava exatamente atrás das paredes do santuário. A INICIAÇÃO nesses Mistérios era considerada pelos antigos ASSUNTO DE GRANDE IMPORTÂNCIA, enquanto que o homem moderno mal lhe conhece o mero significado da palavra. Grandes homens não vacilaram em submeter-se a essa experiência SUBLIME E INESQUECÍVEL, saindo dela fortalecidos, prestes a desempenhar com ABSOLUTA CONSCIÊNCIA o papel que lhes fora designado pelo destino a cumprir, tal era a grandeza da revelação recebida a portas fechadas e vigiadas.

Ao terminar as solenidades dos Grandes Mistérios, as últimas palavras ouvidas era. VAI EM PAZ! Descrevendo suas experiências, os próprios iniciados diziam que a partir daquele momento seguiriam seu caminho da vida COM A ALMA SERENA E TRANQUILA. A INICIAÇÃO nada mais era realmente do que entrar na PERCEPÇÃO DAQUILO QUE O CANDIDATO DE FATO ERA. Completava sua formação de homem e quem quer que não a tenha experimentado era em verdade meio-homem.

(...) A chave do segredo dessa antiga instituição dos Mistérios nos foi dada por Plutarco quando escreveu: "OS INICIADOS, NO MOMENTO DA INICIAÇÃO NOS GRANDES MISTÉRIOS, SENTEM AS MESMAS IMPRESSÕES DA ALMA NA HORA DA MORTE".

(...) Será esse "EU" oculto uma imaginação louca, vaga quimera de alguns visionários, cuja fama milenar nos foi transmitida através da história? Os elos que ligam essa longa cadeia de tradição espiritual não terão vínculos mais fortes do que uma simples superstição?

(...) Valerá talvez o trabalho de investigar essa questão. Pode ser que o resultado de tal exame ou fortaleça a nossa posição atual e enfraqueça suas doutrinas seculares, ou talvez desmorone nossas crenças tão cuidadosamente sustentadas, confirmando a exatidão dos axiomas dos antigos. E a investigação é a única que realmente interessa.

Eu mesmo me empenhei em averiguar, não sem dificuldade, o que havia de verdadeiro nessas doutrinas. Finalmente, vi-me forçado a testemunhar que a sabedoria dos antigos NÃO É UMA COISA IMAGINÁRIA. Descobri, em vez de quimeras invenções de alguns cérebros doentios, doutrinas tão estupendas que nós que vivemos e trabalhamos no ensurdecedor e impiedoso mundo de hoje lhes devemos dar fé.

A mente contemporânea NÃO ATENDE aos sábios conselhos dos antigos para resolver seus problemas e assim perde verdadeiros tesouros acumulados; e é possível que a meditação desses sábios possa dar ainda muitos frutos aos estudiosos da cultura moderna. Podemos cortar os liames que nos prendem às grandes filosofias de outrora, mas sendo elas baseadas nos princípios eternos em que se apóia todo verdadeiro pensamento, mais cedo ou mais tarde seremos forçados a elas recorrer. A filosofia perde o seu poder quando os DEMASIADAMENTE INTELECTUALIZADOS a reduzem a meras discussões; retomará seus legítimos direitos quando nas almas sofisticadas da nossa época DESPERTAR A NECESSIDADE de alguns pontos de apoio mais seguro do que este que oferecem os ensinamentos confusos de hoje.

Há no homem algo mais do que o revelam as impressões comuns. As descobertas da Psicologia experimental têm levado a interessantes conclusões a este respeito, e confirmado inumeráveis relatos de experiência mística. Que é esse "ALGO MAIS" no homem, que o faz defender esplêndidos ideais e conceber nobres pensamentos? Que PRESENÇA espiritual DENTRO DE SEU CORAÇÃO o instiga a afastar-se da existência banal, puramente terrena, e travar uma luta constante entre o anjo e a besta que habitam no seu corpo?

Quando nos dizem a nós, homens do século XX, que Deus não é apenas uma simples palavra sobre a qual se argumente e discuta, mas UM ESTADO DE CONSCIÊNCIA QUE PODEMOS REALIZAR AGORA, em carne, levantamos os olhos, surpresos. Quando se nos afigura a existência de alguns seres que vivem entre nós e viram Deus — tocamos a cabeça num gesto significativo... e, ademais, se nos asseguram que temos o Divino DENTRO DE NÓS e que a Divindade É O NOSSO VERDADEIRO SER, sorrimos, indulgentes mas desdenhosos, tomando ares de superioridade.

No entanto, isso não é nem teoria, nem sentimentos: é uma certeza inegável, evidente e absoluta pura para aqueles que se adiantaram um pouco no caminho da PERCEPÇÃO espiritual.

(...) Podemos trocar nosso parentesco com o símio, e com requinte detalhes e de provas demonstrarmos essa triste linhagem, porém somos incapazes de nos lembrar de nosso parentesco com o anjo.

PB - O Caminho Secreto


quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Minha nova concepção da Vida

Mouni Sadhu
Uma das tarefas mais difíceis com que me deparei durante minha estada no ashram de Ramana Maharishi, foi a necessidade de encontrar a definição clara da nova concepção de vida como tal. Parece-me que há em mim um ponto central ao redor do qual tudo gravita em minha consciência, o meu "EU". Esta concepção deve ser definitiva e absoluta, pois nenhuma outra será aceitável pelo meu "Eu".

Entre as centenas de definições que encontrei, nenhuma delas pareceu-me dar uma síntese perfeita. As definições condicionadas devem ser abandonadas como falsas. As que são demasiadamente abstratas, uma terminologia impossível de ser posta em prática, parecem-me simples acrobacias mentais, boas para os professores aposentados de filosofia teórica, mas não para um homem que se esforça pela realização espiritual. Mas sei que deve existir uma definição que harmonize com as profundezas de meu ser e que não provoque nem dúvida nem ceticismo, pois estará de acordo com minha própria experiência interna. 

Todos os que realizaram a verdade na vida falam dela com maior entusiasmo, COMO SENDO A ÚNICA META, para cujo alcance tudo o mais deveria ser sacrificado, UMA VEZ QUE É PURA ILUSÃO. No entanto, todas as suas palavras não aprecem ser outra coisa senão belas e encantadoras melodias produzidas por um instrumento desconhecido. Em minha busca tive de abandonar tudo o que é limitado, condicionado por nome e forma. Aquilo que sobra, sem forma nem véu, isso deve ser necessariamente a própria vida. 

O processo da investigação — principalmente através da meditação — demonstrou-me que quanto mais eu abandono a ideia de ser realista o que é visível, mais próximo me sinto da minha meta. Quais são, na prática, os estágios desse processo? Naturalmente é impossível descrevê-los em detalhes, mas as linhas gerais são muito simples. Começando a meditar em completa paz e serenidade sobre a relação que os objetos externos têm com o Eu, muitas vezes me parece que atinjo a verdade: eles não significam nada para o "Eu". Nesse momento desponta uma espécie de visão da possibilidade de uma EXISTÊNCIA independente de quaisquer condições. Essa "visão" — a palavra não é exata nem muito própria — dura mais ou menos tempo, dependendo do grau de concentração alcançada, mas seu resultado permanece como a memória de uma coisa duradoura e certa, sem qualquer sombra de dúvida. Ela encontra expressão no pensamento: "Unicamente a CONSCIÊNCIA é VIDA". A Consciência desapegada, independente de tudo, a simples afirmação "EU SOU". 

Mas esse "EU" não é o pequeno eu contido na transitória forma corpórea com seus sentidos, que é, na verdade, a antítese do EU REAL. Esse "EU"-Consciência está mais próximo do termo usado, muitas vezes, na literatura filosófica moderna, a "Consciência Cósmica" ou "Eu Cósmico". Essa Consciência é também FELICIDADE ABSOLUTA. 

Mouni Sadhu - Dias de Grande Paz


Como entrar no estado de meditação Supra-mental?

Mouni Sadhu
"A mente tem sua função na evolução do homem, mas essa função é limitada e pode guiar somente até certo nível. Além desse ponto começa outro novo".
— Ramana Maharshi


* * *
Analisando o processo em mim mesmo, acho que primeiro devem ser sustados todos os pensamentos. A Auto-inquirição  amadurece a mente para que o interesse no processo do pensamento desapareça, a fim de que a tranquilidade da mente, tão difícil até então, se torne fácil. 

Segundo, quando a mente está tranquila, surge forte insistência para a unidade com o TODO. Mas o que é esse TODO ainda não pode ser concebido e sinto que nunca pude obtê-lo sozinho. A melhor comparação é "fundir-se e dissolver-se NAQUILO que unicamente É". Diferente é deixar o corpo ou o ego, pois não há movimento. Permanecemos onde estamos, mas não somos o que éramos antes. 

Tudo o que poderia ser visto ou sentido antes, está separado de mim agora. Nada mais pode ser dito. 

Terceiro, o estado de unidade com o TODO traz inabalável certeza de que somente esse estado é o real e permanente; e que é esse o último refúgio que sempre buscamos, e o qual jamais perderemos. Nada há mais além disso, pois — ISSO É TUDO. 

A concepção de como a "morte" é destruída não significa que estamos nesse estado de pensamento de uma "vida depois da morte". O único fato que sabemos é que essa vida continuará para sempre. 

Nesse estado de Ser não há a falta distinção do tempo como passado, presente e futuro. 

É possível força a linguagem para transmitir à mente algo daquilo que trazemos de tal meditação, mas é provável que isto SEJA INÚTIL OU MAL COMPREENDIDO. E não há certeza de que outros cheguem a essa meditação silenciosa do mesmo modo que nós. Assim, qualquer descrição pode ser apenas uma sugestão e pode até não ser o caminho apropriado para outrem. 

Há uma experiência misteriosa que prova o poder de Auto-inquirição. Ramana Maharshi insistia que não devemos usar a Auto-inquirição como se fosse um mantra, isto é, como palavras apenas, mas que cada pergunta esteja PENETRADA do desejo de conhecer "Quem sou eu?". Pelo uso da Auto-inquirição dessa forma, após tranquilizar a mente, a resposta vem por si mesma, sem palavras, nem pensamentos — TU SABES QUEM ÉS. E o que se segue é INEXPRIMÍVEL. 

Esse é o grande serviço que Ramana Maharshi prestou à Humanidade — ter forjado este infalível instrumento de alcance — a inspiradora Auto-inquirição

Mouni Sadhu - Dias de Grande Paz


segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Breve relato de retomada da Consciência Integrativa Amorosa

A história de meu coração começa há dezessete anos atrás. Tinha apenas dezoito anos quando um sentido muito íntimo e esotérico começou a surgir em mim através de todo o universo visível e aspirações indefiníveis se apossaram de minha alma. 

Em última instancia, senti-me só com o sol e a terra. Deitado sobre a relva, falei com a alma à terra, ao sol, ao ar, e ao mar distante, longe de meus olhos. Pensei sobre a firmeza da terra, e senti que era envolvido por ela; através da capa de relva, apossou-se de mim uma influência que me fazia sentir como se a terra falasse comigo. Pensei no ar e em sua pureza, que constitui a sua grande beleza. O ar tocou-me e legou-me algo de si mesmo. Orei por todas essas coisas; senti na alma uma emoção que ultrapassa a capacidade de ser definida. 

Pensei em minha existência mais íntima, naquela consciência que se chama alma. Estas, ou seja, eu mesmo, pus na balança para pesar a oração celestial. Aí tirei a força de meu corpo, de minha mente, de minha alma. A oração, essa emoção da alma, existia em si mesma, não em qualquer objeto. Era uma paixão. Escondi meu rosto na relva, senti-me completamente prostrado, perdi-me na luta, fui arrebatado e levado para longe. 

Se algum pastor me tivesse por acaso visto deitado na relva, teria pensado que eu descansava por alguns instantes. Não demonstrei, exteriormente, o que sucedia em meu interior. Poderia ele imaginar que dentro de mim se agitava um verdadeiro vendaval, enquanto aí estava reclinado? Senti-me exausto, quando afinal retornei a casa. 

Tendo bebido abundantemente do céu que tinha sobre mim e sentido a mais gloriosa beleza do dia, e relembrando o mar, imensamente velho, que, como me parecia, estava em alguma parte muito distante, perdi-me então e senti-me absorvido no ser ou existência do universo. Senti a profundeza do que existe debaixo da terra e acima do céu, mais longe ainda do que o sol e as estrelas. Ainda mais longe, além das estrelas, no imenso espaço, e então a separação do meu ser pareceu-me parte do todo. 

Orei com todo esse tempo e poder que posso reunir em minha alma, em sua parte intelectual, a ideia, o pensamento. Agora, esse momento me dá o pensamento por inteiro, a ideia total, a alma completa expressa no Cosmo que me rodeia. Dá-me a noção ilimitada da vida, tal como do mar e do sol, da terra e do ar. Brinda-me com a compreensão da vida física, da mente, iguale além de sua complexidade. Faz-me perceber que a alma é maior e mais perfeita que todas as coisas. Atende ao meu desejo inexprimível que me ata como um nó, que existe em mim como a força do mar. Percebo uma alma-vida ilimitada. Percebo a existência de um pensamento do Cosmo. Creio na forma humana. Deixe-me encontrar alguma coisa, algum método pelo qual essa forma possa alcançar a beleza máxima. Sua beleza assemelha-se à de uma flecha, que pode ser lançada a distância, de acordo com a força do arco. Assim, a ideia que surge na mente humana pode expandir-se indefinidamente e elevar-se à beleza. Quanto à mente, à consciência mais íntima, a alma, minha oração desejou que eu pudesse descobrir um sistema de vida para ela, de tal forma que não apenas pudesse conceber essa vida, mas efetivamente dela desfrutar na terra. Desejei descobrir um conjunto de ideias novo e mais elevado, sobre o qual a mente pudesse trabalhar. O que mais se aproxima desse significado seria um novo livro da alma, um livro esboçado a partir do presente e do futuro, sem contemplar o passado. Em lugar de ideias baseadas na tradição, deixe-me dar à mente um novo pensamento saído do presente, do momento atual. 

Reconhecendo minha própria consciência mais íntima, a psique, tão claramente, não me pareceu que a morte afetasse a personalidade. Não havia, na dissolução, um carisma de separação. O espírito não se fazia imediatamente inacessível, distanciado de forma incomensurável. 

Para mim, tudo é sobrenatural. Não é possível submeter o espírito às leis da matéria. 

Quando penso que percebi esse momento do eterno Agora, que sempre foi e será, que estou em meio às coisas imortais nesse momento, que provavelmente há almas infinitamente superiores à minha, assim como a minha é infinitamente superior a um pedaço de madeira, o que será, então, um milagre? 

Sinto-me à beira de uma vida desconhecida, que se encontra muito perto, que quase posso tocar, no limiar de poderes que, se eu pudesse alcançar, me dariam um imenso alento de existência. Algumas vezes sinto-me invadido por um êxtase de alegria pelo universo inteiro. Desejo maiores noções sobre a alma-vida. Estou certo de que ainda há mais para ser descoberto. Uma grande vida, uma civilização inteira está às portas do pensamento comum. 

Há uma Entidade, uma Alma-Entidade, embora ainda não possa ser reconhecida. 

O homem possui uma alma, embora me pareça que ela permanece em expectativa, pela qual ele ainda pode descobrir coisas que agora lhe parecem sobrenaturais.

Creio, de todo o coração, no corpo e na carne, e creio que eles deveriam ser estimulados e tornados mais belos por todos os meios; creio que os órgãos do corpo podem fazer-me mais fortes em sua ação, perfeitos e duradouros. Creio que a carne exterior pode ser ainda mais bela, que os contornos podem ser mais delicados, que os movimentos podem ser mais graciosos. Creio que todo tipo de ascetismo é vil, é uma blasfêmia contra a raça humana como um todo. 

Como exprimir, adequadamente, minha certeza de que todas as coisas sucedem para o melhor, para um fim mais sábio e benéfico e que estão ordenadas por uma inteligência humana? É um crime contra a raça humana. 

Nada evolui. Não há evolução, assim como não há intenções na natureza. Por haver estado face a face com a natureza, e não com livros, convenci-me de que não há nem intenções, nem evolução. O que é, qual é, qual foi a causa, como e por que, ainda não o sabemos. Mas, certamente, não são aquelas as respostas. Nada há de humano em qualquer das vidas animais. A natureza toda, o universo, até onde posso ver, é ante ou ultra-humano. Nada tem a ver com o homem. Nada havendo de humano na natureza do universo, e sendo todas as coisas ultra-humanas, e sem qualquer intenção ou propósito, concluo que nenhuma deidade tem algo que ver com a natureza. Em seguida, nos assuntos humanos, nas relações do homem com o homem, no comportamento diante da vida, nos acontecimentos que ocorrem nos assuntos humanos em geral, tudo acontece por acaso. E como todas as coisas, nos assuntos humanos, acontecem por acaso, nenhuma deidade pode ser responsabilizada. 

Um impulso irresistível levou-me a escrever essas coisas e esse impulso obrou em mim desde muito jovem. Não a escrevi pelo prazer da discussão, e ainda menos visando a algum proveito. É, na verdade, todo o contrário. Foram-me impostas pela seriedade de coração, e exprimem minhas mais sérias convicções. Uma das maiores dificuldades que encontrei é a falta de palavras para expressar as ideias.

Richard Fefferies - 1848-1887

Extraído do livro "Consciência Cósmica - Estudo da evolução da mente humana", de R.M Bucke


domingo, 1 de dezembro de 2013

O que é o estado supremo de Consciência?

O que é o estado supremo de Consciência? São Paulo chamou-o de "a paz que está além do entendimento" e R.M. Bucke designou-o de "consciência cósmica". No Zen-Budismo, emprega-se o termo satori ou kensho; no yoga, samadhi ou moksha e, no taoísmo, o "Tao Absoluto". Thomas Merton utilizou, para descrevê-lo, a expressão "inconsciente transcendental; Abraham Maslow criou o termo "experiência máxima"; os sufis falam de fana. Gurdjieff qualificou-o de "consciência objetiva", ao passo que os quacres chamam-no de "a Luz Interior". Jung referiu-se à individuação e Buber falava da conexão Eu-Tu. Quaisquer que sejam, porém, os nomes dados a esse fenômeno antigo e bem conhecido — luz, iluminação, libertação, experiência mística —, todos eles dizem respeito a um estado de percepção radicalmente diferente de nossa compreensão comum, de nossa habitual consciência desperta, de nossa mente diária. 

Além disso, todos concordam em qualificá-lo como o estado supremo da consciência: uma percepção autotransformada de nossa total união com o infinito. Está além do tempo e do espaço. Trata-se de uma experiência da infinitude que é a eternidade, da unidade ilimitada com toda a criação. Nossa percepção sensorial do "eu", socialmente condicionada, despedaça-se e destrói-se devido a uma nova definição de pessoa em si, do eu. Nesta redefinição de pessoa em si, torno-me idêntico a toda a humanidade, a toda a vida e ao universo. As habituais fronteiras do ego esboroam-se à medida que o ego ultrapassa os limites do corpo e, de súbito, torna-se um com tudo aquilo que existe. O eu torna-se integrado à Alma Superior, tal como Emerson a denominou (e talvez integrado ao que Arthur Clarke, em Fim da Infância, chamou de Mente Superior). O eu torna-se abnegado, o ego surge como uma ilusão e o jogo do ego chega ao fim. O Maitrayana Upanishad expressa-se deste modo: "Após perceber seu próprio eu como o EU, um homem torna-se abnegado. (...) Este é o mistério Supremo.

John White (org.) - O mais elevado estado de Consciência


sábado, 30 de novembro de 2013

Breve relato de retomada da Consciência Integrativa Amorosa

Profundamente agradecido pelo privilégio da "santificação" pela fé", realizada com INESPERADA PLENITUDE, juntei-me, nos bosques, a alguns cristãos que havia conhecido, para juntos esperarmos, diante de Deus, pelo batismo no Espírito. O tempo de espera foi passado em PROFUNDO SILÊNCIO, quebrado apenas por alguns hinos e breves orações. Finalmente, "Veio do céu um ruído semelhante a um vento impetuoso que soprasse e encheu a casa onde estávamos reunidos. Essas são as mais inspiradas palavras que encontro para descrever a minha impressão. Entretanto, a natureza permaneceu imobilizada, sem que se mexesse uma única folha das árvores ou da relva. O Senhor revelou-se pelo Espírito às nossas almas e não aos nossos sentidos. Meu ser por inteiro parecia indescritivelmente cheio por Deus, em quem sempre acreditara. A percepção dos meus sentidos seria impotente para transmitir-me a CONSCIÊNCIA que agora possuía. Compreendi as visões extra-sensoriais de Isaías, Ezequiel e Paulo. Dentre todas as coisas criadas, nada era mais real para a minha alma do que o próprio Criador. A experiência foi terrível, embora não infundisse medo. Conservei total domínio dos meus sentidos e ainda assim percebi que eles haviam sido envolvidos pela sublime manifestação. Cada pergunta era respondida de forma o mais breve possível, a fim de que minha alma não se perdesse, nem por um instante, a PRESENÇA Celestial que a ENVOLVIA e SACIAVA. Não me recordo de haver confidenciado a ninguém essa experiência; porém, alguns dias depois, ao reencontrar minha esposa, ela caiu de lágrimas ao ver-me, antes mesmo de pronunciar uma só palavra, tal a MUDANÇA HAVIDA EM MEUS ASPECTO. Com a CONSCIÊNCIA DO DESPERTAR, as águas vivificantes manaram do meu espírito. Fui invadido por grande medo, mas ele era doce e, não, opressivo. Era a mesma sensação que me havia invadido na presença de Deus e essa impressão ACOMPANHOU-ME SEMPRE, mesmo quando dedicado às mais absorventes atividades. Para mim, a vida converteu-se em um salmo de louvor. 

É evidente que, passado certo tempo, houve um decréscimo nessa exaltação de sentimentos. Entretanto, em meu íntimo permaneci CONSCIENTE DE DEUS, tal como fora dito: Habitarei neles e com eles caminharei"; "Viremos a Ele e faremos nossa morada com Ele"... Não é fácil abordar essas coisas. Minhas palavras parecem pobres e o seu resultado é mais de encobrimento do que de revelação. Fosse a minha linguagem capaz, e a gloriosa realidade seria transmitida a outros corações!"

R.P.S - 1830-1898

A Consciência Integrativa Amorosa em Baruch Spinoza

Pára de ficar rezando e batendo o peito! O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida.

Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti.

Pára de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa.

Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.

Pára de me culpar da tua vida miserável: Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade fosse algo mau.

O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria. Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer.

Pára de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo. Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem,no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho... Não me encontrarás em nenhum livro!

Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu trabalho?

Pára de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.

Pára de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz... Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio. Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti?

Como posso te castigar por seres como és, se Eu sou quem te fez? Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade? Que tipo de Deus pode fazer isso?

Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti.

Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti. A única coisa que te peço é que prestes atenção a tua vida, que teu estado de alerta seja teu guia.

Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso.

Esta vida é o único que há aqui e agora, e o único que precisas.

Eu te fiz absolutamente livre. Não há prêmios nem castigos. Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar.

Ninguém leva um registro.

Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno.

Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um conselho. Vive como se não o houvesse.

Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir. Assim, se não há nada, terás aproveitado da oportunidade que te dei.

E se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste comportado ou não. Eu vou te perguntar se tu gostaste, se te divertiste... Do que mais gostaste? O que aprendeste?

Pára de crer em mim - crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti.

Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no mar.

Pára de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja? Me aborrece que me louvem. Me cansa que agradeçam.

Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo.

Te sentes olhado, surpreendido?... Expressa tua alegria! Esse é o jeito de me louvar.

Pára de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim. A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas. Para que precisas de mais milagres?

Para que tantas explicações?

Não me procures fora! Não me acharás. Procura-me dentro... aí é que estou, batendo em ti. 

Baruch Spinoza

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Consciência sem pensamento – Parte 1


A questão é a seguinte: O que é essa experiência? Ou melhor, já que uma experiência só pode ser realmente conhecida por uma pessoa que por ela tenha passado, podemos perguntar: Qual é a natureza dessa experiência? E, tentando indicar uma resposta de algum tipo para essa pergunta, acho que isso é extremamente difícil, pela simples razão já mencionada, ou seja, porque é difícil ou mesmo impossível que uma pessoa preste um testemunho verdadeiro e confiável sobre uma experiência que ocorreu a outrem.

Se eu pudesse usar as palavras exatas do mestre, sem nenhuma influência derivada seja de mim mesmo, seja da interpretação de um amigo, as coisas poderiam ser diferentes. Mas eu não pretendo fazer isso. Ainda que eu pudesse fazê-lo, a forma científica do velho mundo, na qual seus pensamentos se manifestaram, provavelmente seria como um obstáculo e fonte de confusão, em lugar de ser uma ajuda para o leitor. Na ver­dade, no caso dos livros sagrados, onde encontramos grande quantidade de informação acessível e autorizada, os críticos do Ocidente, embora em sua maioria concordem em que aí jazem experiências reais, não che­gam a uma conclusão única sobre o significado dessas experiências.

Por essas razões, prefiro não tentar ou pretender dar o ensinamento exato, sem preconceitos, sobre os Gurus hindus e suas experiências, mas apenas indicar, com minhas próprias palavras, tanto quanto possível, e empregando minha forma de pensamento moderna, o que considerei ser a direção na qual devemos olhar para esse mundo de conhecimentos an­tigos, que influenciaram de forma notável e estupenda o Oriente, e que ainda hoje é a sua principal característica que o diferencia do mundo ocidental.

Em primeiro lugar, quero prevenir-me contra um erro extremamente fácil de se cometer. É fácil concluir, e muitas vezes assim ocorreu, em todos os casos em que se atribui a uma pessoa a possessão de uma faculdade fora do comum, que essa pessoa subiu de nossa esfera à região sobrenatural e possui, portanto, todas as faculdades próprias dessa região. Por exemplo, se ele ou ela são considerados possuidores da clarividência, supõe-se que conheçam ou devam conhecer todas as coisas. Caso uma pessoa tenha demonstrado o que parece ser um poder milagroso, em qualquer circunstância ou tempo, pergunta-se, até mesmo de forma depreciativa, por que ele ou ela não demonstraram tal poder em outras ocasiões e em outros casos.

Devemos precatar-nos contra todas essas generalizações banais. Se existe uma forma de consciência mais elevada, que pode ser obtida pelo homem, acima daquela atualmente por ele possuída, é provável, embora não certo, que ela se esteja desenvolvendo lentamente e com inúmeras pausas em seu caminho. No passado remoto do homem e dos animais, a consciência da sensação e a consciência do eu desenvolveram-se sucessivamente, cada uma delas dando origem a inúmeros ramos que se espalharam continuamente. Em algum momento da vasta experiência desse novo crescimento, uma nova forma de consciência deve ter parecido milagrosa, comparada à anterior. Imaginemos a maravilha que deve ter sido a revelação primeira do sentido da visão e como deveria ser inconcebível para aqueles que ainda não o possuíam, embora certamente os primeiros empregos dessa faculdade devam ter sido carregados de desilusão e erro. E pode ser que haja uma visão interior, que transcende a vista, tanto quanto a vista transcende o tato. É mais do que provável que nos ocultos nascimentos do tempo espreite uma consciência que não é aquela dos sentidos ou a do eu, ou que, pelo menos, inclui e ultrapassa totalmente a essas duas; uma consciência na qual o contraste entre o eu e o mundo exterior, a distinção entre sujeito e objeto desaparecerá. Aquela porção do mundo onde somos admitidos através dessa consciência (chame-o de sobrenatural ou como quer que queira), provavelmente é, pelo menos, tão vasta e complexa como a parte que já conhecemos e o progresso nessa região deve ser pelo menos tão lento, trabalhoso, fundado em tentativas várias, descontínuo e incerto, como na já conhecida. Não há um súbito ascender do corredor ao Olimpo e os caminhos que levam de um ao outro, quando os encontramos, são longos e se confundem em sua variedade.

Não devemos supor que aquelas pessoas que atingiram uma porção dessa região sejam semideuses ou infalíveis. Na realidade, em muitos casos, a extrema novidade e estranheza da experiência dão origem a sequências fantasmagóricas de especulação ilusória. A essas pessoas deveríamos considerá-las como os tipos mais elevados da humanidade, sendo aquelas que adquiriram algumas novas faculdades que já estão no ar, embora nem sempre assim ocorra, e há casos, que podem ser facilmente reconhecidos, nos quais pessoas decididamente deficientes ou de baixa natureza moral adquirem poderes que deveriam pertencer aos graus mais elevados da evolução, e que, em função disso, tornam-se extremamente perigosas.

Os mestres hindus insistem sobre tudo isso. Eles dizem — e eu acho que isso exprime a realidade da sua experiência — que nada existe de anormal ou milagroso sobre o assunto. Afirmam que a aquisição das faculdades é, em resumo, o resultado de uma longa evolução e treinamento e que há distintas leis que as dirigem e uma ordem que prevalece entre elas. Reconhecem a existência de pessoas com um poder demoníaco, que adquiriram certos poderes sem que a eles corresponda uma determinada evolução moral. Admitem que as fases mais elevadas de consciência são raras e que até hoje poucos foram os que as atingiram. Tendo estabelecido, pois, esses poucos princípios, penso que podemos prosseguir, dizendo que o que os Gnani procuram e obtêm é uma nova ordem de consciência, à qual podemos chamar pelo nome universal de Consciência Cósmica, em oposição à consciência corpórea especial e individual que nos é familiar. Não posso afirmar que na filosofia hindu seja usada a precisa correspondência a essa expressão "consciência universal". Entretanto, o Sat-chit-ánanda-Brahm, meta de todos os iogas, indica essa mesma ideia. "Sat" significa a realidade; "chit", o conhecimento, a percepção; "ánanda", a bênção; a unidade de todos é a manifestação do Brahma.

O Ocidente procura pela consciência individual, pela mente enriquecida, por percepções instantâneas e por memórias, pelas esperanças e medos individuais, ambição, amores, conquistas; pelo eu, o eu localizado em todas as suas fases e formas e sequer desconfia que exista uma consciência universal. O Oriente busca a consciência universal e nos casos em que essa busca é satisfeita, o eu individual e a vida transformam-se em um mero filme e são apenas sombras, veladas pela glória que lhes é revelada do outro lado.

A consciência individual assume a forma do Pensamento, que é fluido e móvel, em estado permanente de mudança, em luta constante com o sofrimento e os esforços. A outra Consciência não se manifesta sob a forma de pensamento. Ela toca, ouve, vê e é aquilo que percebe, sem movimento, sem mudanças, sem esforços, sem distinção entre sujeito e objeto, mas com uma Felicidade profunda e indescritível.

A consciência individual está estreitamente ligada ao corpo. De certa forma, os órgãos do corpo são os seus órgãos. Mas o corpo inteiro é como um só órgão da Consciência Cósmica. Para chegar a essa última, devemos ter o poder de nos conhecer como ente separado do corpo, entrar, de fato, em um estado de êxtase. Sem isso, a Consciência Cósmica não pode manifestar-se.

Diz-se que há quatro principais experiências na iniciação: (1) o encontro com um Guru; (2) a consciência da Graça, ou Arul, que pode ser interpretada como a consciência de uma mudança, até mesmo fisiológica, trabalhando dentro do indivíduo; (3) a visão de Shiva (Deus), com a qual o conhecimento do próprio eu, como distinto do corpo, está intimamente relacionado; (4) o encontro com o universo interior. Também se diz que "o sábio, quando seus pensamentos se tornam fixos, percebe dentro de si mesmo a consciência Absoluta, que é Sarva Sakshi, Juiz de todas as coisas".

Entre os eruditos, houve grandes disputas quanto ao significado da palavra Nirvana, para saber se ela indicava um estado de não consciência ou um estado de consciência profundo, total. É provável que ambas as opiniões tenham fortes justificativas, pois esse é um assunto que não admite definição em termos da linguagem comum. O que é importante ver e admitir é que sob esse e outros termos similares existe realmente um fato concreto e reconhecível, ou seja, um estado de consciência, que já foi experimentado inúmeras vezes e que, para os que por ele passaram, ainda que em leve grau, pareceu superior a toda uma vida de devoção. É claro que é fácil representar a coisa por uma simples palavra, uma teoria, uma especulação do hindu sonhador. Mas as pessoas não sacrificam suas vidas por palavras vazias, nem transformam o destino de continentes com uma simples regra filosófica abstrata. Não, a palavra representa uma realidade, algo básico e inerente à natureza humana. Não se trata, em realidade, de definir o fato, pois não podemos fazê-lo, mas de atingi-lo e passar pela experiência. Nesse ponto, é interessante observar que a moderna ciência ocidental, que até aqui se ocupou, sem grandes resultados, com teorias mecânicas sobre o universo, começa a aproximar-se dessa ideia de existência de outra forma de consciência. O extraordinário fenômeno do hipnotismo, que sem dúvida alguma até certo ponto se relaciona com o assunto que estamos discutindo, e que há séculos foi reconhecido no Oriente, está obrigando os cientistas ocidentais a aceitarem a existência da chamada segunda consciência do corpo. Os fenômenos realmente parecem inexplicáveis sem a aceitação de alguma espécie de segunda agência e a cada dia torna-se mais difícil não usar a palavra consciência para descrevê-la. Quero deixar claro que em nenhum instante estou admitindo que essa consciência secundária dos hipnotistas seja em todos os aspectos idêntica à Consciência Cósmica dos ocultistas orientais. Pode ser que sim, pode ser que não. As duas espécies de consciência podem cobrir o mesmo campo ou podem apenas prolongar-se até certa extensão. Eis uma questão que não ponho em discussão. O ponto sobre o qual desejo chamar a atenção é que a ciência ocidental está analisando a possibilidade da existência, no homem, de um outro tipo de consciência, além dessa que nos é familiar. A. Moll cita o caso de Barkworth, que "pode ordenar extensas séries de figuras, enquanto discute vivamente outros assuntos, sem permitir que sua atenção seja totalmente desviada pela discussão", e nos pergunta como Barkworth poderia fazer isso, sem a presença de uma segunda consciência, que se ocupe das figuras enquanto a primeira está envolvida com a argumentação. F. Myers é um leitor que permite que sua mente, por um minuto completo, abandone inteiramente o assunto do livro que lê e se imagine sentado ao lado de um amigo, conversando com ele. Subitamente, ele desperta e vê que continua à mesa, lendo com perfeita coerência. O que podemos dizer em um caso assim? Citamos, também, o caso de um pianista que interpreta uma peça de memória e verifica que seu recital está sendo de fato perturbado por consentir que sua mente (sua consciência primária) se desvie do que ele está fazendo. Algumas vezes já foi dito que a verdadeira perfeição da interpretação musical demonstra ser ela mecânica ou inconsciente, mas podemos considerar justa essa afirmação? Não seria uma simples contradição o falar em termos de leitura inconsciente ou ordenamento inconsciente de séries de figuras?

Muitas das ações e processos do corpo, como, por exemplo, o ato de tragar, são efetuados por diferentes consciências pessoais; pela mesma razão, muitas outras ações e processos passam quase que despercebidos e parece razoável supor que esses últimos eram exclusivamente mecânicos e prescindiam de qualquer operação mental. Mas, no Ocidente, as últimas descobertas sobre a hipnose demonstraram algo que já era bem co­nhecido pelos faquires hindus — que sob certas condições podemos tornar-nos conscientes das ações e processos interiores de nosso corpo. Além disso, podemos, também, ter consciência de acontecimentos que estão ocorrendo a distância de nosso corpo e sem empregar os meios de comunicação comuns.

Daí a ideia de uma outra consciência, em alguns aspectos de escala mais ampla que a consciência comum, possuindo seus próprios métodos de percepção. Essa ideia tem ganho espaço na mente ocidental.

Há outra ideia, que a ciência moderna nos vem apresentando e que nos chega através do mesmo conceito: a ideia da quarta dimensão. Mui­tas coisas tornam-se concebíveis, se aceitarmos que o mundo tem na realidade quatro dimensões de espaço, em lugar de apenas três. Torna-se possível conceber que objetos aparentemente separados, como, por exem­plo, diferentes pessoas, na realidade estão fisicamente unidos; que coisas aparentemente separadas por enormes distâncias de espaço, na realidade estão praticamente juntas; que uma pessoa ou qualquer outro objeto pode entrar e sair de um quarto fechado, sem encontrar obstáculos nas pa­redes, portas, janelas etc.; e caso essa quarta dimensão deva converter-se em fator de nossa consciência, é evidente que deveríamos ter meios de conhecimento que para os sentidos comuns pareceriam milagrosos. Muitos fatos sugerem que a consciência alcançada pelos gnanis hindus, em seu grau, e pelos sujeitos hipnotizados, no deles, pertence a essa quarta di­mensão.

A Consciência Cósmica estaria relacionada à consciência comum, assim como o sólido está relacionado à sua superfície. As fases da consciência pessoal são apenas fatos diferentes da outra consciência. E ex­periências que, no indivíduo, parecem distantes umas das outras, talvez na consciência universal estejam igualmente próximas. O próprio espaço, como o conhecemos, pode ser praticamente aniquilado pela consciência de um espaço maior, do qual ele não é senão a superfície. Assim, tam­bém, uma pessoa que viva em Londres pode de repente descobrir que sua porta dos fundos se abre simplesmente e sem cerimônias em Bombaim.

"A verdadeira qualidade da alma", disse o Guru, um dia, "é a do espaço, pelo qual de resto ela está em toda parte. Mas esse espaço (Akasa) dentro da alma está muito acima do espaço material. Ele inclui todos os sóis e estrelas, aparecendo como se fosse um átomo do primeiro", e aqui ele levantava seus dedos, como se detivesse um pouco de pó entre eles.(*1)

(*1) Cf. com Whltman: "Deslumbrante e tremendo, como o nascer do sol me ma­taria rapidamente, se eu não pudesse, agora e sempre, expulsar de mim o nascer do sol. Também nós nos levantamos deslumbrantes e tremendos como o sol".

"Pelo qual está em toda parte". "Indiferença", "Igualdade". Eis um dos mais importantes pontos do ensinamento do Guru. Pois (por razões familiares), embora mantendo muitos dos regulamentos de casta ele pró­prio, e embora ensinando isso à massa do povo, ou seja, que as regras de casta eram necessárias, nunca se cansava de afirmar que quando chegasse o tempo de o homem e a mulher se emanciparem, todas essas regras deveriam ser abandonadas, como se não tivessem importância: todas as distinções de castas, classes, todos os sentimentos de superio­ridade ou de bem-estar próprio, até mesmo de certo e errado, e deveria prevalecer o mais absoluto sentimento de igualdade para com todas as pessoas e determinação em sua manifestação. Foi certamente notável (embora eu soubesse que os livros sagrados o continham) encontrar esse princípio da Democracia Ocidental tão vividamente ativo e operando sob os inumeráveis costumes da vida social oriental. Mas, assim é e nada pode demonstrar melhor a relação existente entre Oriente e Ocidente.

Esse sentimento de igualdade, de liberdade dos regulamentos e confinamentos, de ausência de exclusividade, e da vida "que está em toda parte" pertence, evidentemente, mais à parte Cósmica ou universal do homem do que à sua parte individual. Para essa, esse sentimento é sempre um obstáculo e uma ofensa. É fácil demonstrar que os homens não são iguais, que não podem ser livres, e assinalar o absurdo de uma vida que seja indiferente a todas essas condições. Entretanto, para a consciência maior, estes são fatos básicos, que jazem na raiz de toda a vida comum da humanidade e alimentam o verdadeiro indivíduo que os nega.

Repetindo, pois, a nossa afirmação, de que usando tais termos, como Consciência Cósmica e Universal, não queremos dizer que no instante em que o homem abandona sua parte pessoal imediatamente surge o conhe­cimento universal e ilimitado, mas apenas que aparece uma ordem mais elevada de percepção, e admitindo a complexidade da região assim por nós denominada, e o caráter absolutamente microscópico de nosso conheci­mento sobre ela, podemos dizer, uma vez mais, também como generali­zação, que o Oriente tem buscado a consciência universal e que o ocidente investiga a consciência pessoal ou individual. Como sabemos bem, o Orien­te tem várias seitas e escolas filosóficas, com sutis discriminações de qualidades, essências, deuses, demônios etc., que não pretendo abordar e onde me sentiria bastante incompetente. Deixando tudo isso de lado, con­servarei apenas dois termos ocidentais e tentarei analisar a questão mais a fundo, chegando aos métodos utilizados pelos estudantes do Oriente para obter a Consciência Cósmica ou essa ordem mais elevada de consciência que lhe é característica.

Edward Carpenter – Do Pomo-de-Adão à Elefanta


sexta-feira, 13 de setembro de 2013

É possível uma total mudança na consciência humana?

(...) Os problemas humanos, o problema de nossa confusão, de nossa total falta de afeição, o sentimento de solidão, as contradições, a perpétua ânsia de preenchimento e as intermináveis frustrações que a acompanham — todos eles foram criados pelo pensamento. Edificamos uma sociedade, uma estrutura, um estado sócio-psicológico que é o resultado de nossa avidez, inveja, comparação, competição, ambição, desejo de poder, posição, prestígio, fama. Tudo isso foi construído pelo pensamento, e nós somos o resultado desse pensamento e nos vemos aprisionados nessa estrutura, na estrutura psicológica da sociedade, da qual somos uma parte. Isso também é muito óbvio; nós não somos diferentes da sociedade. A sociedade somos nós — você e eu — a sociedade que criamos com o pensamento, consciente ou inconscientemente, a qual aceitamos ou contra a qual nos revoltamos — revolta que, todavia, permanece dentro da estrutura de uma dada sociedade. O pensamento construiu, através dos séculos, esta sociedade, com seus deuses, seus instrutores, suas religiões, suas nacionalidades, e toda esta confusão medonha em que estamos vivendo. O pensamento não pode livrar-se daquilo que ele próprio construiu. Se o faz, ou se pensa que o faz, isso será ainda uma reação, uma continuidade “modificada” do que foi.

O pensamento é para nós de desmedida importância — o pensamento que é a palavra, a ideia, o passado, o presente e o futuro; o pensamento que cria extravagantes ideologias que com tanta facilidade aceitamos. Não importa se tais ideologias são nobres ou ignóbeis. O homem vive pelo pensamento, como o fazem certos animais, e, percebendo a confusão, a aflição em que nos encontramos, exercemos o pensamento a fim de operarmos uma mudança, à força de determinação, através do tempo, pela asserção da vontade: “Sou isto e devo ser aquilo”. O que o futuro será foi criado pelo pensamento, pela ideologia, pelo ideal, pelo exemplo. Embora desejemos mudar — e todo ente humano inteligente deseja promover uma mudança no mundo e em si próprio — utilizamos o instrumento do pensamento para efetuar a modificação, crendo que o pensamento resolverá todos esses problemas. Não é assim? Não estão aqui escutando, com o pensamento funcionando? Natural e evidentemente! E, não percebemos claramente que o pensamento não tem possibilidade de criar um mundo novo, de promover uma revolução total na consciência humana. O que fazer? O pensamento criou esta confusão e ele — assim esperamos — produzirá a clareza. Estamos muito certos de que o pensamento o fará, o pensamento que é brilhante, sutil, criador de ideologias; o pensamento que é egotista e não egotista; o pensamento que não funciona egocentricamente, devotado à reforma social, à revolução, a novos sistemas de ideias, a utopias.

Se percebemos o seu verdadeiro significado, se percebemos, mesmo verbal ou intelectualmente, que o pensamento é incapaz de promover uma mudança radical, e que a revolução radical da consciência humana é de essencial necessidade, vemos então quanto é insensato continuarmos pelo caminho que estamos seguindo, a lutar, dia por dia, cheios de aflição e confusão, à espera da desolação e da morte. Temos recorrido ao pensamento, para resolver esta situação, entretanto o pensamento nada resolveu. Se compreendermos isso, mesmo verbalmente, que iremos fazer?

Quando fazemos esta pergunta, desejamos que nos digam o que cumpre fazer — peço-lhes toda a atenção! — e, por conseguinte, estamos reagindo com o pensamento, queremos descobrir a resposta por meio do pensamento. Não é exato isso? O problema está claro, e agora estamos esperando, enquanto procuramos a resposta. O que é isso que está esperando? Que entidade é essa que está esperando a resposta? É ainda o pensamento! O pensamento quer agora descobrir se o que está dizendo é verdadeiro ou falso, está a concordar ou a discordar, a reverter ao seu condicionamento, e a dizer: “Como se pode viver neste mundo sem pensar?” Não estamos dizendo que não devemos pensar; seria infantil dizê-lo.

Vocês sabem qual é o problema. Por conseguinte, ao perguntarem “O que devo fazer?” —precisam descobrir quem é que está fazendo essa pergunta... É ainda o pensamento? Se é, podemos agora investigar a questão da origem do pensamento.

Não dizemos que o pensamento deve cessar, pois o pensamento tem uma função definida. Sem ele, não poderíamos nos dirigir ao escritório, não saberíamos nosso próprio endereço, nenhum possibilidade teríamos de funcionar. Mas, se desejamos efetuar uma revolução radical em toda a consciência, na própria estrutura do pensar, devemos compreender que o pensamento, que criou esta sociedade, com toda a confusão nela existente, não pode em absoluto dissolvê-la.

(...)O pensamento é essencialmente conservador. O pensamento quer ocupado com o futuro, quer com o presente, funciona sempre com base no passado, em suas memórias, seu condicionamento, seu conhecimento. O pensamento é a essência mesma da segurança, e é isso o que a mente, conservadora por excelência, também quer — segurança, sempre segurança, em todos os níveis! Para se efetuar uma total mudança na consciência humana, deve o pensamento funcionar num certo nível que lhe compete, mas não deve transbordar para outra esfera em que o pensamento não tem realidade alguma. Se eu não pensasse, não poderia falar. Mas, não é possível efetuar-se nenhuma transformação radical em mim mesmo, como ente humano, por meio de uma ideia, de um pensamento, porque o pensamento só é capaz de funcionar em conjunção com o conflito. O pensamento só pode criar conflito.

Dito isto, se, como espero, tenham muito interesse, devem perguntar a si mesmos qual é a origem do pensar.(...) Esta é uma pergunta sobremodo complexa, cuja compreensão requer uma mente muito sutil e destemida. No momento em que se descobre realmente a origem do pensar, o pensamento recebe o lugar que lhe compete e não transbordará para outra esfera, outra dimensão onde não há lugar para ele. Só nessa dimensão pode-se operar a transformação radical; só nela pode nascer uma coisa nova, não produzida pelo pensamento.(...)

Jiddu Krishnamurti – Encontro com o eterno

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill