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segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Pode-se "cultivar" a capacidade de amar?

Pergunta: Você fala de revolução no inconsciente; mas, uma vez que o inconsciente é uma dimensão desconhecida pelo pensamento, como posso saber que houve uma revolução profunda? Você não está empregando estas palavras para nos hipnotizar, nos fazendo imaginar um estado?

Krishnamurti: O inconsciente não é também o consciente? Isto é, a consciência, como a conhecemos, é luta. Só estou consciente, quando há conflito, quando há desafio, quando sofro, quando me esforço conscientemente para fazer ou deixar de fazer alguma coisa. Mas não existem, atrás desse esforço consciente, muitos "motivos" ocultos, muitas compulsões, impulsos, tradições, que constituem nossa herança secular? Eu sou tanto o consciente como o inconsciente. Um e outro constituem o "processo" do pensamento, não é verdade? Suponhamos que eu costume celebrar rituais, puja; está é uma ação resultante da velha tradição segundo a qual fui educado; essa tradição se baseia no tempo, no desejo de encontrar paz, a esperança, a recompensa, etc.; tal é o "motivo" inconsciente que me leva a executar uma certa ação. Todo o "processo" da consciência não é resultado do pensamento? Posso não pensar na ideia; o inconsciente pode não tê-la elaborado; tudo isso, porém, não constitui o processo do pensar? Eu posso não ter inventado o ritual, mas alguém o inventou e fui condicionado nisso; isso é o inconsciente, meu inconsciente profundo. Fui educado como capitalista, comunista, ou socialista, e dessa base eu ajo e reajo. Os "motivos", os impulsos, as condições inconscientes são o resultado de pensamento criado por mim ou por outro, pela sociedade, pelas circunstâncias. 

Pode o pensamento realizar uma revolução? Prestem atenção a isso. Sendo o condicionado, estando sempre condicionado, pode o pensamento efetuar uma revolução — que se faz tão necessária — revolução radical, e não revolução econômica, parcial? Pode uma revolução profunda, uma revolução fundamental ser realizada pelo pensamento? O pensamento, consciente e inconsciente, é um processo total. Meu inconsciente pode estar encoberto e eu posso não ter me ocupado com ele. Entretanto, nem por isso deixa de estar presente esse inconsciente, e ele é o resultado de pensamentos, pensamentos de meus ancestrais, pensamentos contidos nos livros — saber — experiência. Tudo isso é um produto do pensamento. Reconheço, pois, que todo esse processo é pensamento, e percebo que o pensamento condiciona; como pode, então, o pensamento produzir uma revolução radical? Mas há uma revolução que está além dos limites do pensamento; e é aí, além dos limites do consciente, que se faz necessária a revolução.  

O Amor é coisa cultivável? Sei quando amo? O amor é um "processo" consciente? Se sei que lhe amo, isso é sensação e portanto, não é amor, não acham? Se tenho consciência de ser humilde, se tenho consciência de ser benevolente, isso é humildade, é benevolência? Por conseguinte, o amor, a humildade, não é um estado do qual não tenho consciência, no sentido de "pensamento" — "pensar"?

A revolução de que falo somente é possível quando cessa o pensar, como reação, como estado condicionado. Só então há revolução. Senhores, não afastem isso para o lado, como uma ideia extravagante; procure compreende-lo, investigue-o, sinta-o plenamente. Verá que toda espécie de pensar é condicionada — o pensar comunista, o socialista, o católico, ou o pensar do homem religioso. O pensar é condicionado; e enquanto estivermos operando dentro de um campo condicionado, teremos sempre novos problemas de ações condicionadas; e nisso não há libertação, não há ação criadora. Só há ação criadora, libertação, quando a mente está de todo silenciosa. Esse silêncio não é cultivável conscientemente. Não posso cultivá-lo, porque o esforço consciente feito para produzi-lo é resultado de um pensamento, de um desejo, de um fim condicionado; por esse motivo não há revolução; há apenas uma conclusão, um resultado; e a mente que busca resultado não é revolucionária. 

Assim, pois, só a mente que está tranquila é capaz de receber o que é verdadeiro — não qualquer coisa extraordinária, mas o que é verdadeiro a cada momento, a Verdade daquilo que vemos, a palavra, o pensamento, o sentimento. Só quando a mente está de fato tranquila, sem compulsões e incentivos, se verifica a revolução. Essa revolução é uma revolução de pensamento produzida pela Verdade — não por meio de alguma espécie de cultivo, e sim pelo escutar o que se diz. Não podem escutar, porém, se argumentam comigo — o que não significa que eu queira hipnotizá-los. Em verdade, vocês estão sendo hipnotizados todos os dias, pelos jornais, pelos políticos, pelos "praticantes de boas obras", pela religião de vocês, pelo Bhagavad-Gita, pela Bíblia, pelas pessoas que lhes dominam ou lhes impelem, pela ação dirigida para um fim em vista. Tudo isso não constitui um processo de hipnose? Todo "processo" da propaganda é um sistema de hipnotismo, a que estão submetidos. 

Eu falo de coisa totalmente diferente. As duas coisas não são compatíveis, pertencem a dois mundos totalmente diferentes. Digo tão somente isto: se sabemos escutar, a Verdade libertará uma atividade criadora em entes humanos; e sem esse poder de criar, nós nos tornamos extremamente caóticos, destrutivos; por mais nobre que sejam nossas intenções, todas as nossas ações só produzirão desgraças e malefícios. Essa atividade criadora é Amor. Sem Amor não há revolução, e o amor não é uma ação consciente. O Amor é algo além dos limites do pensamento. Só se pode compreender, sentir, experimentar o amor, quando a mente se acha de todo tranquila; e só então existe a possibilidade de se efetuar uma revolução fundamental no mundo.

Jiddu Krishnamurti em, Autoconhecimento - Base da Sabedoria

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Síndrome do Despertar da Perene Consciência Amorosa Integrativa

A Síndrome do despertar da Perene Consciência Amorosa Integrativa tem sido e continua sendo mal interpretada pelas culturas ocidentais. Você encontra descrições e características de seus sintomas, porém poucos pontos de vista sobre como, o por que de sua ocorrência e como abordá-la. A maioria das recomendações de como trabalhar com esse “processo”, acabam ficando muito na superficialidade do assunto, sem que se chegue numa melhor abordagem de sua natureza exata. 

Devido ao fato de que o processo da síndrome do despertar da Perene Consciência Amorosa e Integrativa ser um desequilíbrio do fluxo energético da Energia Vital Quântica, o modo de abordá-lo recomenda:

Moderação na atividade sexual
Busca de apoio para a necessária base emocional
Busca de ajuda fisiológica
Busca de ajuda psíquica
Controle no uso de álcool e tabaco
Evitar o descontrole mental-emocional
Dietas balanceadas
Respeitar as novas necessidades de sono
Evitar o uso de substâncias químicas
Evitar o uso de estimulantes ou aceleradores
Moderação nas atividades físicas

Como no caso de uma doença grave, em que o paciente é colocado num quarto de UTI (unidade de tratamento intensivo), aqui também se faz necessário um maior enfoque nas necessidades mais sutis do corpo físico, emocional e mental. 

A Síndrome do despertar da Perene Consciência Amorosa Integrativa é o resultado do desalinhamento do fluxo da Energia Vital Quântica, porque suas consequências se manifestam no campo físico, emocional e mental — o que vemos — e são tratados num nível superficial.

Cada vez mais meditadores, yogues, atletas, ou pessoas comuns, se encontram com um excesso de energia atravessando particulares centros do corpo energético que desalinham o controle e a distribuição da Energia Vital Quântica.  

Enquanto nos fixarmos unicamente nos sintomas, e não buscarmos a causa, a qual se expressa somente nos corpos físico, emocional e mental, o tratamento será insuficiente. As pessoas que estão vivenciando este processo podem atestar este fato. Muitas delas passam dias, semanas, meses e inclusive anos nesta condição, provando diferentes enfoques, com pouco êxito.

Os resultados dos diferentes enfoques adotados são a única maneira de avaliar a eficácia de cada tratamento. Seria vantajoso documentar a Síndrome do despertar da Perene Consciência Amorosa Integrativa e os diferentes tratamentos recomendados para estabelecer um caminho claro para a solução. Para modificar qualquer doença e levar o corpo humano de novo ao equilíbrio de saúde, devemos nos enfocar nas causas, e não irmos pelas beiradas.

O nascimento de uma ciência de conscientização

Sou contra todas as assim chamadas religiões porque elas não são de maneira nenhuma religiões. Sou pela religião, mas não pelas religiões.

A religião verdadeira só pode ser uma, exatamente como a ciência. Você não tem um físico Maometano, um físico Hindu, um físico Cristão; isso seria bobagem. Mas foi isso que as religiões fizeram – elas transformaram o mundo inteiro num hospício.

Se a ciência é uma, então porque a ciência do interior não seria uma também?

A ciência explora o mundo objetivo e a religião explora o mundo subjetivo. O trabalho delas é o mesmo, só a direção e a dimensão delas são diferentes.

Numa era mais iluminada não haverá tal coisa como religião, haverá somente duas ciências: a ciência objetiva e a ciência subjetiva. Ciência objetiva lida com as coisas, ciência subjetiva lida com o ser.

É por isso que digo que sou contra as religiões, mas não contra religião. Contudo, essa religião ainda está pra nascer. Todas as antigas religiões farão tudo ao seu alcance para matá-la, para destruí-la – porque o nascimento de uma ciência de conscientização será a morte de todas essas assim chamadas religiões que têm explorado a humanidade por milhares de anos.

O que irá acontecer com suas igrejas, sinagogas, templos? O que irá acontecer com seus sacerdotes, seus papas, seus shankaracharyas, seus rabis? É um grande negócio. E essas pessoas não irão permitir facilmente o nascimento da verdadeira religião.

Mas chegou o momento na história humana quando as garras das antigas religiões estão afrouxando.
O homem está apenas formalmente dando atenção ao Cristianismo, Judaísmo, Hinduísmo, Maometismo, porém basicamente qualquer um que tenha alguma inteligência não está mais interessado em todo esse lixo. Ele pode ir a sinagoga e para a igreja e para a mesquita por outras razões, mas essas razões não são religiosas; essas razões são sociais. Vale a pena ser visto na sinagoga; é respeitável, e não há nenhum dano. Isso é exatamente como se associar ao rotary clube ou ao lions clube. Essas religiões são clubes antigos que têm um jargão religioso em torno delas, mas olhe um pouco mais fundo e você descobrirá que todas elas são pura embromação sem nenhuma substância dentro.

Sou pela religião, mas essa religião não será uma repetição de qualquer religião que você esteja familiarizado.

Essa religião será uma rebelião contra todas essas religiões. Ela não irá levar o trabalho delas adiante; ela irá encerrar completamente o trabalho delas e iniciar um novo trabalho – a real transformação do homem.

Você me pergunta: Qual é o erro fundamental de todas essas religiões? Existem muitos erros e eles são todos importantes, mas primeiro eu gostaria de falar sobre o mais fundamental. O erro mais fundamental de todas as religiões é que nenhuma delas teve coragem suficiente para aceitar que existem coisas que não sabemos. Todas elas fingiram saber de tudo, todas elas fingiram conhecer tudo, que todas elas eram oniscientes.

Porque isso aconteceu? – porque se você aceitar que você é ignorante sobre alguma coisa então dúvidas surgem nas mentes de seus seguidores. Se você é ignorante a respeito de alguma coisa, quem sabe? – você pode ser ignorante também sobre outras coisas. Qual é a garantia? Para torná-la a toda prova, todos eles fingiram, sem exceção, que são oniscientes.

A coisa mais bonita sobre a ciência é que ela não finge ser onisciente."

O S H O

sábado, 4 de abril de 2015

O pensamento é um estágio preliminar de aproximação do Divino

A seguinte passagem pode ser considerada um resumo justo da filosofia de Plotinus, tal como compreendida pelos neoplatonistas:

As almas humanas que desceram à corporalidade são as que se permitiram escravizar pela sensualidade e dominar pela luxúria. Agora, acham-se perdidas do seu verdadeiro ser e, afanando-se pela independência, assumem uma falsa existência. Precisam voltar atrás e como não perderam a sua liberdade, a conversão ainda é possível. 

Aqui, chegamos à filosofia prática. Percorrendo o mesmo caminho que lhe serviu para a descida, a alma deve refazer os degraus que a levam de volta ao Deus supremo. Em primeiro lugar, deve retornar a si mesma. Isso se alcança pela prática da virtude, cujo fim é a semelhança com Deus e que conduz a Deus. Na ética de Plotinus, todos os antigos esquemas de virtude acham-se alterados e reorganizados em séries graduadas. O estado mais baixo é o das virtudes civis, seguido pela purificação e por último por todas as virtudes divinas. As virtudes civis simplesmente enfeitam a vida, sem elevar a alma. Essa tarefa pertence às virtudes purificadoras, pelas quais a alma se liberta da sensualidade, volta a si mesma e então ao "nous"(¹). Por meio de práticas ascetas o homem uma vez mais se converte em um ser espiritual, livre de todos os pecados. Entretanto, ainda há um escalão mais alto: não basta ser sem pecado; é preciso converter-se em "Deus". Isto se alcança pela contemplação do Ser primevo, do Único ou, em outras palavras, por uma aproximação extasiada desse Único. O pensamento não pode chegar a isso, pois atinge apenas o "nous" e é, em si mesmo, uma espécie de movimento. O pensamento é um estágio preliminar de aproximação de Deus. É apenas em estado de perfeita passividade e repouso que a alma pode reconhecer e tocar o Ser primevo. Assim, para atingir este fim mais alto a alma necessita passar por um currículo espiritual. Iniciando na contemplação das coisas corpóreas, em sua multiplicidade e harmonia, retira-se para dentro de si mesma, nas profundezas de seu próprio ser, atingindo, então, o "nous", o mundo das ideias. Mas o Mais Alto, o Único, ainda não termina aí. Ainda há uma voz que diz: "Nós não nos fizemos a nós mesmos". O último estágio é alcançado quando, na mais alta tensão e concentração, no silêncio e no esquecimento de todas as coisas, a alma acha-se apta a perder-se em si mesma. Então, ela pode ver a Deus, a fonte da vida, do ser, a origem de todo bem, a raiz da alma. Nesse momento, ela desfruta a benção mais indescritível; é como se fosse banhada pela divindade, mergulhada na luz da eternidade.

Richard Maurice Bucke em, Consciência Cósmica - estudo da evolução da mente humana

_____________________________
(¹) Nous, termo filosófico grego que não possui uma transcrição direta para a língua portuguesa, e que significa atividade do intelecto ou da razão em oposição aos sentidos materiais. Muitos autores atribuem como sinônimo a Nous os termos "Inteligência" ou "Pensamento".

sábado, 21 de março de 2015

Eu sou o guarda do meu irmão

JK: (...) Pode a humanidade viver sem conflito?... Podemos ter paz nesta terra? As atividades do pensamento nunca resultam em paz.

DB: Do que foi dito, parece claro que a atividade do pensamento não pode produzir a paz: gerar o conflito é algo que lhe é inerente. 

JK: Sim, se nós realmente percebêssemos isso, toda a nossa atividade seria totalmente diferente. 

DB: Mas o senhor está dizendo então que há uma atividade que não é pensamento? Que está além do pensamento?

JK: Sim. 

DB: E que não só está além do pensamento mas que também não requer a cooperação do pensamento? Que é possível que essa atividade continue quando o pensamento está ausente?

JK: Este é o ponto fundamental. Já discutimos isso muitas vezes: se há alguma coisa além do pensamento. Não alguma coisa santa, sagrada — não estamos falando disso. Estamos querendo saber é, existe uma atividade que não seja influenciada pelo pensamento. E dizemos que ela existe. E que essa atividade é a forma suprema da inteligência. 

DB: Sim; introduzimos agora a inteligência. 

JK: Eu sei, eu a introduzi de propósito! A inteligência não é a atividade do pensamento astuto. Existe a inteligência para se construir uma corda...

DB: Bem, a inteligência pode usar o pensamento, como o senhor já disse muitas vezes. Ou seja, o pensamento pode ser a ação da inteligência —  poderíamos nos expressar assim?

JK: Sem dúvida. 

DB: Ou poderia ser a ação da memória? 

JK: Aí é que está. Também pode ser a ação nascida da memória, e como a memória é limitada, o pensamento é limitado e tem sua própria atividade, a qual produz então o conflito...(...) Essa inteligência não tem nada a ver com a memória, com o conhecimento.

DB: Ela pode atuar na memória e no conhecimento mas não tem nada a ver com isso...

JK: Isso mesmo. Eu quero dizer: como o senhor descobre se essa inteligência tem alguma realidade e não é apenas imaginação ou ficção romântica? Para se chegar a isso, é necessário examinar toda a questão do sofrimento, se há um fim para o sofrimento. E enquanto o sofrimento, o medo e a busca de prazer existirem, não pode haver amor

DB: Temos aqui muitas questões. Sofrimento, prazer, medo, raiva, violência e ganância —  tudo isso são respostas da memória. 

JK: Sem dúvida. 

DB: Não tem nada a ver com a inteligência. 

JK: Todos são parte do pensamento e da memória. 

DB: E enquanto isso continuar, parece que a inteligência não pode operar no pensamento, ou através do pensamento. 

JK: Isso mesmo. Precisamos, portanto, nos libertar do sofrimento. 

DB: Bem, esse é o ponto fundamental. 

JK: Essa é uma questão realmente muito séria e profunda: se é possível acabar com o sofrimento, que é o fim do eu.

DB: Sim, pode parecer redundante, mas a sensação é a de que eu estou aqui, e que posso sofrer ou não. Ou desfruto as coisas ou sofro. Contudo, acho que o senhor está dizendo que o sofrimento provém do pensamento; que ele é o pensamento.

JK: Identificação. Apego. 

DB: Então, quem é que sofre? A memória pode produzir prazer e, desse modo, quando ela não é eficaz, produz o oposto do sentimento de prazer — dor e sofrimento. 

JK: E não só isso. O sofrimento é muito mais complexo, não? 

DB: Sim.

JK: O que é o sofrimento? O significado da palavra é ter dor, aflição, sentir-se completamente perdido, só. 

DB: Parece-me que não é apenas dor, mas uma espécie de dor muito penetrante, total... (...) Algumas pessoas acham qe através do sofrimento elas se tornam...

JK: ...Inteligentes?

DB:... Purificadas, como se tivessem passado por um crisol. 

JK: Eu sei. Que através do sofrimento você aprende. Que através do sofrimento o seu ego desaparece, se dissolve.

DB: Sim, se dissolve, aprimora-se. 

JK: Não é verdade. As pessoas sofreram muito, quantas guerras, quantas lágrimas, sem falar na natureza destruidora dos governos. E o desemprego e a ignorância...

DB:... Ignorância da doença, da dor, de tudo. Mas o que é realmente o sofrimento? Por que ele destrói a inteligência, ou a impede? O que acontece?

JK: O sofrimento é um choque; eu sofro, tenho uma dor — eis a essência do "eu". 

DB: A dificuldade em relação ao sofrimento é que o eu é que está ali, que está sofrendo. 

JK: Sim. 

DB: E, de algum modo, esse eu está sentindo realmente pena de si mesmo

JK: O meu sofrimento é diferente do seu. 

DB: Sim, ele se isola. Cria um tipo de ilusão. 

JK: Não percebemos que o sofrimento é compartilhado por toda a humanidade. 

DB: Sim, mas se chegássemos a perceber que ele é compartilhado por toda a humanidade?

JK: Então começo a questionar o que é o sofrimento. Ele não é o meu sofrimento. 

DB: Isso é importante. Para compreender a natureza do sofrimento, preciso me desfazer dessa ideia de que ele é meu sofrimento porque, enquanto acreditar que ele é meu, terei uma noção ilusória do problema como um todo. 

JK: E nunca poderei acabar com ele. 

DB: Se você está lidando com uma ilusão, nada pode ser feito a respeito dela. (...)

JK: O sofrimento é comum a toda a humanidade.

DB: Mas o fato de ser comum não é suficiente para torná-lo o mesmo para todos. 

JK: Ele é real. 

DB: O senhor está dizendo que o sofrimento é único, inseparável?

JK: Sim, é o que eu venho dizendo. 

DB: Assim como a consciência humana?

JK: Sim, isso mesmo. 

DB: De modo que quando alguém sofre, toda a humanidade está sofrendo?

JK: A questão é a seguinte: temos sofrido desde o princípio e nunca encontramos uma solução para isso. Não acabamos com o sofrimento. 

DB: Mas eu acho que o senhor disse que a razão pela qual não encontramos uma solução é porque o consideramos como algo pessoal, ou pertencente a um pequeno grupo... e isso é uma ilusão.

JK: Sim.

DB: E qualquer tentativa de se lidar com uma ilusão não pode resolver coisa alguma. 

JK: O pensamento não pode resolver nada psicologicamente. 

DB: Porque o senhor pode dizer que o próprio pensamento divide. O pensamento é limitado e incapaz de perceber que esse sofrimento é único. Desse modo, ele o divide em meu e seu. 

JK: Isso mesmo. 

DB: E isso cria a ilusão, que só pode multiplicar o sofrimento. Parece-me então que a firmação de que o sofrimento é único, não pode ser separado da afirmação de que a consciência humana é única. 

JK: O mundo sou eu: eu sou o mundo.(...) O mundo da sociedade, principalmente o mundo psicológico. 

DB: Dizemos então que o mundo da sociedade, dos seres humanos, é um só, e o que significa quando digo que eu sou o mundo?

JK: Que o mundo não é diferente de mim.

DB: O mundo e eu somos um. Somos inseparáveis. 

JK: Sim. E essa é a verdadeira meditação; você precisa sentir isso, não apenas como uma afirmação verbal; trata-se de uma realidade. Eu sou o guarda do meu irmão. (...) Assim sendo, essa inteligência é real? Você compreende a minha pergunta? Ou trata-se de alguma espécie de projeção fantasiosa, na esperança de que ela resolverá nossos problemas? Eu não penso assim. Ela é uma realidade. Por que o fim do sofrimento significa amor.

Krishnamurti e David Bohm em, O Futuro da Humanidade

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

O amor está além da limitada consciência

(...) A mente com suas respostas emocionais, com todas as coisas que o pensamento agregou, é nossa consciência. Essa consciência, com todo o seu conteúdo, é a consciência de todos os seres humanos, modificada, não inteiramente similar, diferente em suas nuances  e sutilezas, mas as raízes de sua existência são basicamente comuns a todos nós. Os cientistas e os psicólogos estão examinando essa consciência e os gurus estão brincando com ela para seus próprios fins. Os que são sérios estão examinando a consciência como um conceito, como um processo laboratorial — as respostas do cérebro, ondas alfas, etc. — como algo fora deles próprios. Mas nós não estamos interessados em teorias, conceitos e ideias a respeito da consciência; nós estamos interessados em suas atividades na nossa vida diária. Ao entender essas atividades, as respostas diárias, os conflitos, nós temos um INSIGHT na natureza e estrutura de nossa consciência. Como indicamos, a realidade básica dessa consciência é comum a todos nós. Não é a sua ou a minha consciência particular. Nós a herdamos e a estamos modificando aqui e ali, porém, seu movimento básico é comum a toda a humanidade. 

Essa consciência é a nossa mente com toda a sua complexidade de pensamento — as emoções, as respostas sensoriais, o conhecimento acumulado, o sofrimento, a dor, a ansiedade, a violência. Tudo isso é a nossa consciência. O cérebro é antigo e está condicionado por séculos de evolução, por todo tipo de experiência, pelas acumulações recentes do conhecimento expandido. Tudo isso é a consciência em ação, em todos os momentos de nossa vida — a relação entre os seres humanos com todos os prazeres, dores, confusão dos sentidos contraditórios e a gratificação do desejo com dua dor. Esse é o movimento de nossa vida. Nós estamos perguntando, e isso deve ser enfrentado como um desafio, se esse movimento ancestral pode ter um fim — pois isso se tornou uma atividade mecânica, uma forma tradicional de viver. No fim existe um começo e só então não existirá nem fim nem começo. 

A consciência parece ser um assunto muito complexo, mas essa realidade é muito simples. O pensamento agregou todo o conteúdo de nossa consciência — sua segurança, sua incerteza, suas esperanças e seus medos, a depressão e a euforia, o ideal e a ilusão. Uma vez que isso é apreendido — que o pensamento é responsável por todo o conteúdo da nossa consciência —, a questão inevitável surge: pode o pensamento ser detido? Muitas tentativas, religiosas ou mecânicas, foram feitas no sentido de pôr fim ao pensamento. A própria exigência de acabar com o pensamento é parte do movimento do pensamento. A própria busca por uma superconsciência é ainda a medida do pensamento. os deuses, os rituais, toda a ilusão emocional das igrejas, templos e mesquitas com suas maravilhosas arquiteturas, é ainda o movimento do pensamento. Deus é alçado aos céus pelo pensamento.

O pensamento não criou a natureza. Ela é real. A cadeira é real e feita pelo pensamento; todas as coisas que a tecnologia gerou são reais. Ilusão é tudo aquilo que se afasta da realidade dos fatos (aquilo que está  realmente acontecendo agora), mas podem se tornar uma realidade porque vivemos das ilusões. 

O cachorro não é feito pelo pensamento, mas o que queremos que ele seja é o movimento do pensamento. O pensamento é medida. O pensamento é tempo. A totalidade disso é a nossa consciência. A mente, o cérebro e os sentidos são parte dela. Perguntamos: pode esse movimento chegar a um fim? O pensamento é a raiz de todo nosso sofrimento, de toda a nossa feiura. O que estamos pedindo é o fim disso — as coisas que o pensamento agregou —, não o fim do pensamento em si mesmo, mas o fim de nossa ansiedade, pesar, dor, poder e violência. Com o fim disso, o pensamento encontra seu lugar próprio e limitado — o conhecimento e a memória que precisamos ter no dia-a-dia. Quando os conteúdos da consciência, que foram agregados pelo pensamento, não estão mais ativos, então existe um vasto espaço e assim há a liberação da imensa energia, que estava limitada pela consciência. O amor está além dessa consciência. 

Krishnamurti em, Cartas às escolas

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Só na morte dá-se vida ao amor

(...) O que é o amor? O amor será prazer? Será desejo? O amor será produto do pensamento, como são o prazer e o medo? Poderá o amor ser cultivado, poderá vir com o tempo? E se não sei o que é o amor, serei capaz de o encontrar? 

O amor não é, obviamente, sentimentalismo ou emocionalidade, por isso podemos pô-los imediatamente de lado, porque o sentimentalismo e a emocionalidade são românticos, e o amor não é romantismo. 

O prazer e o medo fazem parte do movimento do pensamento e para a maior parte de nós o prazer é a coisa mais importante na vida — o prazer sexual e a lembrança dele, o pensamento de ter tido esse prazer, pensar nele, tornar a pensar e desejar tê-lo amanhã — a moralidade social está baseada no prazer.

Assim, se o prazer não é amor, então o que é o amor? Reparem nisto, por favor, porque vocês é que têm de dar a resposta a essas questões, não podem esperar apenas que o orador ou qualquer outra pessoa o faça. Trata-se de um problema humano fundamental que tem de ser resolvido por cada um de nós, não por um guru ou filósofo que diga "isto é amor", "aquilo não é amor". 

Amor não é ciúme, não é inveja, ou será? Vocês estão muito silenciosos! Poderemos amar e ao mesmo tempo sermos ávidos, ambiciosos, competitivos? Pode-se amar quando se matam não só os animais, mas também outros seres humanos? 

Pela negação daquilo que o amor não é — não é ciúme, inveja, ódio, não é atividade egocêntrica do "eu", e do "você", a competição tão cheia de falsidade, e desumanidade e a violência da vida quotidiana — saberemos o que é o amor. Quando pusermos de lado todas estas coisas, não intelectualmente mas de maneira real, com o nosso coração, a nossa mente, as nossas... ia a dizer entranhas — porque obviamente tudo isto não é amor — então encontraremos o amor. Quando soubermos o amor, quando tivermos amor, então estaremos livres para fazer o que está certo; e o que quer que façamos estará certo. 

Mas para chegar a este estado, para ter esse sentido da beleza e da compaixão que o amor traz, tem também de haver a morte do ontem. A morte do ontem significa morrer interiormente a todas as coisas — a toda a ambição e a tudo o que se tenha acumulado psicologicamente. Afinal, quando vier a morte, isso é o que de qualquer modo vai acontecer — deixaremos a nossa família, a nossa casa, os nossos valores, todas as coisas que possuímos. Deixaremos todos os livros, donde obtemos tantos conhecimentos, assim como os livros que queríamos escrever e não escrevemos, e os quadros que queríamos pintar. Quando se morre a tudo isso, então a mente está completamente nova, fresca e inocente. Suponho que vão dizer que é impossível. 

Quando se diz que é impossível, começa-se então a inventar teorias: deve haver uma vida depois da morte. Segundo os cristãos há a ressurreição, enquanto toda a Ásia acredita na reencarnação. Os hindus afirmam que é impossível morrer para todas as coisas enquanto ainda se tem vida, saúde e beleza; assim, temendo a morte, dão esperança inventando essa coisa maravilhosa chamada reencarnação, o que significa que a próxima vida será melhor. Contudo, o melhor tem uma condição: para ser melhor na próxima vida, tenho de ser bom nesta, portanto, devo saber comportar-me. Devo viver de maneira reta; não devo fazer mal a ninguém, não deve haver ansiedade, nem violência. Mas infelizmente esses crentes da reencarnação não vivem dessa maneira; pelo contrário, são agressivos, tão cheios de violência como qualquer outro, por isso a sua crença tem tão pouco valor como os dias de ontem já mortos. 

O que é importante é o que se é agora, e não se se acredita ou não acredita, se as experiências que se têm são psicodélicas ou apenas vulgares. O que importa é viver com retidão, com virtude — sei que não se gosta desta palavra. Abusou-se terrivelmente destas duas palavras "virtude" e "retidão", todos os sacerdotes as usam, qualquer moralista ou idealista as emprega. Mas a virtude é completamente diferente de qualquer de qualquer coisa que seja praticada como sendo virtude, e aí reside a sua beleza; se se tenta "praticá-la", deixa de ser virtude. Ela não é do tempo, por isso não pode ser "praticada", e uma conduta reta não depende do ambiente; a conduta que depende do ambiente poderá estar correta à sua maneira, mas não é virtude. Virtude é amor; é não ter medo, é viver no mais alto nível da existência, o que significa morrer interiormente para todas as coisas — morrer para o passado — para que a mente se torne clara e inocente. 

Só uma mente assim pode encontrar aquela imensidão extraordinária que não é invenção da própria pessoa, nem de algum filósofo ou guru.

Krishnamurti em, O mundo somos nós

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Um místico liberando um físico quântico de seu antolho científico

Amit conta, como e quando, ele obteve o esclarecimento final "insight" que o levou a conclusão de seu trabalho (nada existe fora da Consciência).

Conta Amit, que o primeiro esboço de seu trabalho a respeito da Consciência foi escrito no verão de 1982. Conta ele: " Eu sabia, no entanto, que havia profunda incoerência no material. Elas tinham origem no apego muito sutil a um dos dogmas fundamentais da filosofia realista - a consciência tinha que ser um epifenômeno da matéria. O biólogo Roger Sperry falou em consciência emergente - uma consciência causalmente poderosa que emergiu da matéria, do cérebro. De que maneira poderia isso acontecer? Há um círculo vicioso obstinado no argumento de que alguma coisa feita da matéria pode agir sobre ela com novidade causal. Eu poderia ver, nesse caso, a conexão com os paradoxos da física quântica: como poderíamos nós, nossas observações, produzir um efeito sobre o comportamento de objetos, sem postular uma consciência dualista? Eu sabia também que a idéia de uma consciência dualista, separada da matéria, criava seus próprios paradoxos.

Ajuda chegou de uma direção inesperada. Como cientista, sempre acreditei em uma abordagem total do problema. Uma vez que, nessa ocasião, minha pesquisa constituía evidentemente uma exploração da natureza da própria consciência, achei que deveria mergulhar em estudos empíricos e teóricos da consciência. Essa orientação implicava psicologia, embora os modelos psicológicos convencionais - dadas as suas raízes no realismo materialista - evitem experiências conscientes que contestem essa visão do mundo. Outras psicologias menos convencionais, contudo, tais como o trabalho de Carl G. Jung e Abraham Maslow, pressupunham um conjunto diferente de suposições. Essas idéias apresentam maior ressonância com a filosofia dos místicos - uma filosofia que se baseia em enxergar, espiritualmente, através do véu que cria a dualidade. Para remover o véu, os místicos prescrevem que o indivíduo se torne atento ao campo da percepção. (esse estado de atenção é, às vezes, denominado de meditação).

Eventualmente, após anos de esforços, uma combinação de meditação, leitura de filosofias místicas, um sem-número de discussões e simplesmente pensamento concentrado começaram a romper o véu que separava da solução que eu procurava para tais paradoxos. O dogma fundamental do realismo materialista - que tudo é feito de matéria - teve que ser abandonado, e isto sem trazer o dualismo.

Lembro-me ainda do dia em que ocorreu o rompimento final. Estávamos em visita a nossa amiga Frederica, que reside em Ventura, na California.

Cedo, naquele dia, Magie e eu saímos com um amigo, o místico Joel Morwood, para ouvir uma palavra de Krishnamurti na vizinha Ojai. Mesmo aos 89 anos, Krishnamurti dava conta do recado com extraordinária habilidade. Em seguida, conversando com a platéia, ele aprofundou pontos que haviam constituído a essência de seu ensinamento - para mudar, temos que estar cientes agora, e não resolver mudar mais tarde ou, simplesmente, pensar no assunto. A percepção radical, e só ela, leva à transformação que desperta a inteligência radical. Quando alguém perguntou se a percepção radical ocorre a nós, seres humanos comuns, Krishnamurti respondeu gravemente: "Tem que ocorrer".

Mais tarde naquela noite, Joel e eu iniciamos uma conversa sobre Realidade. Eu estava lhe dando um prato cheio de minhas idéias sobre consciência, que havia elaborado a partir da teoria quântica, em termos da teoria da medição quântica. Joel escutava com toda atenção.

- Muito bem, o que é que vai acontecer em seguida?

- Bem, eu não tenho certeza de compreender como a consciência se manifesta no cérebro-mente - respondi, confessando minha luta com a idéia de que, de alguma maneira, a consciência tinha que ser um epifenômeno dos processos cerebrais.

- Acho que compreendo a consciência, mas...

- A consciência pode ser compreendida? - interrompeu-me Joel.

- Claro que pode. Eu lhe disse que nossa observação consciente, a consciência, produz o colapso de onda quântica...

E eu estava pronto para repetir toda a teoria.

Joel, porém, interrompeu-me:

- De modo que o cérebro do observador é anterior à consciência, ou a consciência é anterior ao cérebro?

Percebi a armadilha na pergunta.

- Estou falando em consciência como sujeito de nossas experiências.

- A consciência é anterior às experiências. Ela não tem objeto nem sujeito.

- Certo. Isso é misticismo antigo. Em minha linguagem, porém, você está falando a respeito de algum aspecto não-local da consciência.

Joel, porém, não se deixou desanimar por minha terminologia.

- Você está usando antolhos científicos, que impedem de compreender. No fundo, você acredita que a consciência pode ser compreendida pela ciência, que a consciência emerge do cérebro, que é um epifenômeno. Tente compreender o que os místicos estão dizendo. A consciência é anterior é incondicionada. Ela é tudo o que há. Nada mais existe, senão Deus.

A última frase fez comigo alguma coisa que é impossível descrever em palavras. O melhor que posso dizer é que provocou abrupta mudança de perspectiva - um véu foi levantado. Ali estava a resposta que eu estivera buscando e que conhecera o tempo todo.

Quando todos foram dormir, deixando-me em minha contemplação, saí de casa. O ar da noite estava frio, mas não me importei. Tão enevoado estava o céu que eu mal conseguia ver uma estrela. Mas, na imaginação, o céu tornou-se o mesmo céu radiante de minha infância e, de repente, consegui enxergar a Via-láctea. Um poeta da minha Índia natal concebera a fantasia de que a Via-láctea era a fronteira entre o céu e a terra. Na não-localidade quântica, o céu transcendente - o reino de Deus - está em toda a parte. "Mas o homem não o vê, lamentava-se Jesus."

Bibliografia.
Universo Autoconciente.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

O homem nasce acordado e depois adormece

Cena do filme: A ORIGEM
O homem nasce acordado e depois adormece. O homem nasce uno e depois torna-se muitos. O homem nasce um indivíduo, e depois adormece e sonha que é uma multidão. Aí está todo o problema, toda a missão, todo o desafio da vida. Isso tem que ser entendido. Essa é a busca: estamos buscando aquilo que éramos originalmente. Procuramos aquilo que realmente somos. Procuramos aquilo que nunca perdemos, apenas esquecemos. Talvez por ser tão óbvio, nos tenhamos esquecido. 

Jesus diz: "A menos que você se tornem como crianças, novamente, não entrarão no meu reino de Deus." Sua indicação é clara. A menos que você recupere a originalidade e vá novamente para a fonte original... Uma noite, um discípulo perguntou a Jesus: "Que devo fazer para conhecer Deus?" E Jesus respondeu: "A menos que você renasça, não o conhecerá." Temos que ir para aquele espaço original onde estávamos antes de nascer. 

Conta-se que Jesus, quando criança, recusava-se a aprender o alfabeto. Ele não permitia que os professores falassem sobre o beta — dois — até que pudessem explicar-lhe satisfatoriamente o significado de alfa — um. E é claro que eles não podiam explicar. Um é o número sobre o qual se baseia toda a aritmética; um é o número sobre o qual se baseiam cada indivíduo, todo o universo, o conceito de Deus, da realidade. E Jesus insistia: "A menos que vocês me expliquem qual é o significado do um, não vou mudar para outra letra do alfabeto. Primeiro digam-me o que é o alfa. Só então estarei pronto para ir para o dois — beta." Por não lhe poderem explicar, ele recusou-se a ir à escola. 

Esse fato não ficou registrado nas Escrituras cristãs, pois muita coisa não foi registrada lá. Mas é uma das mais antigas tradições essênias. Ela tem sido contada, por séculos, de Mestre para discípulo. É uma das histórias mais significativas sobre Jesus: sua insistência em que o um deve ser conhecido primeiro, pois o um é a base de tudo. 

Quando você está acordado, você é um. Quando adormece, torna-se muitos. Você já reparou que nos sonhos você assume tantos papéis diferentes simultaneamente? De manhã, quando você acorda, você é um. No sonho você é o que sonha, o que está sendo sonhado, é o diretor do sonho, é o ator, a história, o palco e a platéia. Você se torna muitos, torna-se dividido, uma multidão. Quando você acorda, de repente o diretor, o ator, a história, o palco, a platéia, o sonhado e o sonhador, tudo desaparece numa unidade. Os hindus chamam esse mundo de maya — uma terra de sonhos. Estamos todos dormindo. Por isso, buscar o um, ou buscar a consciência é a mesma coisa, pois tornado-se consciente você se torna um, ou tornando-se um você se torna consciente.

O S H O — A Divina Melodia

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Sobre a experiência sublime e inesquecível

Os primeiros Grandes Sábios, observando o movimento dos pensamentos da sua própria mente, descobriram que "ALGO" estava em ação quando o pensamento cessava. Esse "ALGO" era a primeira insinuação da alma de cuja descoberta nasceu a ciência que os antigos começaram a ensinar aos homens, como um meio de conhecerem a VERDADE SOBRE SI MESMOS.

Tal ciência foi transmitida por métodos diversos em quase todas as civilizações pré-cristãs, na Suméria, Egito, Babilônia, Caldéia, China, Pérsia, Índia, México; entre os índios da América do Norte, maias da América Central e os desventurados astecas, assim como entre os judeus da Fraternidade Essênia e os gnósticos das cidades mediterrâneas.

Contemplando as majestosas ruínas da Grécia antiga, vêem-se de pés as imponentes fachadas esburacadas e colunas esfaceladas pelo tempo, os restos do famoso Templo em que outrora foram celebrados com grande cerimônia sob a égide de Atenas os célebres Mistérios de Elêusis. Poucos, são, todavia, aqueles que hoje entendem o que se passava exatamente atrás das paredes do santuário. A INICIAÇÃO nesses Mistérios era considerada pelos antigos ASSUNTO DE GRANDE IMPORTÂNCIA, enquanto que o homem moderno mal lhe conhece o mero significado da palavra. Grandes homens não vacilaram em submeter-se a essa experiência SUBLIME E INESQUECÍVEL, saindo dela fortalecidos, prestes a desempenhar com ABSOLUTA CONSCIÊNCIA o papel que lhes fora designado pelo destino a cumprir, tal era a grandeza da revelação recebida a portas fechadas e vigiadas.

Ao terminar as solenidades dos Grandes Mistérios, as últimas palavras ouvidas era. VAI EM PAZ! Descrevendo suas experiências, os próprios iniciados diziam que a partir daquele momento seguiriam seu caminho da vida COM A ALMA SERENA E TRANQUILA. A INICIAÇÃO nada mais era realmente do que entrar na PERCEPÇÃO DAQUILO QUE O CANDIDATO DE FATO ERA. Completava sua formação de homem e quem quer que não a tenha experimentado era em verdade meio-homem.

(...) A chave do segredo dessa antiga instituição dos Mistérios nos foi dada por Plutarco quando escreveu: "OS INICIADOS, NO MOMENTO DA INICIAÇÃO NOS GRANDES MISTÉRIOS, SENTEM AS MESMAS IMPRESSÕES DA ALMA NA HORA DA MORTE".

(...) Será esse "EU" oculto uma imaginação louca, vaga quimera de alguns visionários, cuja fama milenar nos foi transmitida através da história? Os elos que ligam essa longa cadeia de tradição espiritual não terão vínculos mais fortes do que uma simples superstição?

(...) Valerá talvez o trabalho de investigar essa questão. Pode ser que o resultado de tal exame ou fortaleça a nossa posição atual e enfraqueça suas doutrinas seculares, ou talvez desmorone nossas crenças tão cuidadosamente sustentadas, confirmando a exatidão dos axiomas dos antigos. E a investigação é a única que realmente interessa.

Eu mesmo me empenhei em averiguar, não sem dificuldade, o que havia de verdadeiro nessas doutrinas. Finalmente, vi-me forçado a testemunhar que a sabedoria dos antigos NÃO É UMA COISA IMAGINÁRIA. Descobri, em vez de quimeras invenções de alguns cérebros doentios, doutrinas tão estupendas que nós que vivemos e trabalhamos no ensurdecedor e impiedoso mundo de hoje lhes devemos dar fé.

A mente contemporânea NÃO ATENDE aos sábios conselhos dos antigos para resolver seus problemas e assim perde verdadeiros tesouros acumulados; e é possível que a meditação desses sábios possa dar ainda muitos frutos aos estudiosos da cultura moderna. Podemos cortar os liames que nos prendem às grandes filosofias de outrora, mas sendo elas baseadas nos princípios eternos em que se apóia todo verdadeiro pensamento, mais cedo ou mais tarde seremos forçados a elas recorrer. A filosofia perde o seu poder quando os DEMASIADAMENTE INTELECTUALIZADOS a reduzem a meras discussões; retomará seus legítimos direitos quando nas almas sofisticadas da nossa época DESPERTAR A NECESSIDADE de alguns pontos de apoio mais seguro do que este que oferecem os ensinamentos confusos de hoje.

Há no homem algo mais do que o revelam as impressões comuns. As descobertas da Psicologia experimental têm levado a interessantes conclusões a este respeito, e confirmado inumeráveis relatos de experiência mística. Que é esse "ALGO MAIS" no homem, que o faz defender esplêndidos ideais e conceber nobres pensamentos? Que PRESENÇA espiritual DENTRO DE SEU CORAÇÃO o instiga a afastar-se da existência banal, puramente terrena, e travar uma luta constante entre o anjo e a besta que habitam no seu corpo?

Quando nos dizem a nós, homens do século XX, que Deus não é apenas uma simples palavra sobre a qual se argumente e discuta, mas UM ESTADO DE CONSCIÊNCIA QUE PODEMOS REALIZAR AGORA, em carne, levantamos os olhos, surpresos. Quando se nos afigura a existência de alguns seres que vivem entre nós e viram Deus — tocamos a cabeça num gesto significativo... e, ademais, se nos asseguram que temos o Divino DENTRO DE NÓS e que a Divindade É O NOSSO VERDADEIRO SER, sorrimos, indulgentes mas desdenhosos, tomando ares de superioridade.

No entanto, isso não é nem teoria, nem sentimentos: é uma certeza inegável, evidente e absoluta pura para aqueles que se adiantaram um pouco no caminho da PERCEPÇÃO espiritual.

(...) Podemos trocar nosso parentesco com o símio, e com requinte detalhes e de provas demonstrarmos essa triste linhagem, porém somos incapazes de nos lembrar de nosso parentesco com o anjo.

PB - O Caminho Secreto


segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Breve relato do despertar do processo de retomada da Consciência

D.D.: Estou sem microfone aqui e meu computador está péssimo, travando toda hora mas, eu queria escrever um pouco... Posso?
out: sim
D.D.: Então, com licença a todos. Boa noite.
out: bn
D.D.: Eu quero dizer antes de mais nada que este grupo vem sendo muito importante pra mim. Na verdade eu escuto mais o canal no Youtube do que este canal.
D.D.: Conheci vocês através do Youtube, pesquisando sobre o K
D.D.: O Krishnamurti eu descobri através de um professor de arquitetura, onde a gente fazia com ele uma entrevista sobre escolas, meios de ensinos...
D.D.: Perguntei à ele qual seria, na opinião dele a escola ideal... e ele respondeu que era a escola de Krishnamurti
D.D.: O tempo passou, e um dia eu estava a assistir um documentário onde aparecia o K falando aquele frase " famosa" dele: Não é nenhum pouco saudável ser normal numa sociedade doente
D.D.: Isso me tocou logo, e me vi buscando coisas sobre esse cara em todos os lugares, tanto em livros como em vídeos
D.D.: E foi ai que conheci a confraria!
D.D.: Eu falo uma coisa pra vocês.
D.D.: Eu entro na internet muito pouco, uso para coisas do trabalho como e-mail e Facebook (egobook)
D.D.: ...além disso vejo, ouço e acompanho a página de vocês no Youtube e aqui.
D.D.: Minha vida mudou depois que conheci o K
D.D.: e a coisa mais importante pra mim, a maior descoberta da minha vida ( hoje estou com 37 anos), foi saber que eu não sou a minha mente.
D.D.: Que tenho muitos condicionamentos e que, por conta deles penso do jeito que penso.
D.D.: Tive um insite (visão de dentro).
D.D.: Eu estava encostado no pilar daqui de casa, próximo à uma árvore e, fui deletando os meus pensamentos... Toda palavra que vinha na minha mente eu retirava o significado dela na mesma hora.
D.D.: Quando de repente, tudo me apareceu tão claro, tão nítido
D.D.: Senti que eu era tudo
D.D.: eu era a árvore que estava perto de mim
D.D.: eu era o meu cachorro
D.D.: eu era o céu azul com todas as estrelas que eu não via
D.D.: eu era tudo que estava em meu entorno, até mesmo as coisas que eu não enxergava naquele momento
D.D.: A sensação que eu tive foi de que, a vida, ou melhor escrevendo, na vida não há absolutamente nenhum problema. Nenhum!
D.D.: Se eu saísse na rua e um carro me atropelasse, isso não seria um problema.
D.D.: Se eu perdesse o meu pai, ou minha mãe em morte, isso também não seria um problema
D.D.: Se eu perdesse tudo o que tenho, trabalho, família, bens qualquer, não seriam problemas
D.D.: Esse raciocínio me veio depois.
D.D.: Na hora tive somente uma leveza, uma luz tamanha e, que durou no máximo 1 segundo
D.D.: 1 segundo!
D.D.: Ou seja, em 37 anos de vida eu ti segundo de realidade!
D.D.: Conversando com um amigo ( hoje só tenho um amigo, pois, os outros, que eram muitos, eu não consigo mais me identificar, e, portanto, não frequento mais os mesmos ambientes que eles), contei o que tinha acontecido comigo.
D.D.: E disse à ele como era triste saber que, talvez aquilo jamais iria se repetir na minha vida
D.D.: Ele me disse que pelo menos eu havia visto, enxergado. Que aquilo era como se fosse uma pessoa que vivera toda uma vida trancafiada num quarto sem janelas e portas, um quarto escuro... e que de repente descobrisse um buraquinho, um vão do tamanho de um alfinete, e que avistasse o mundo exterior
D.D.: Bom, já está travando aqui, o meu computador está muito ruim e, eu gostaria de falar muito mais coisas à vocês, coisas que estão acontecendo comigo depois que conheci o K e toda essa verdade que vocês dizem e procuram saber.
D.D.: E são tantas coisas..., mas enfim. Agradeço de coração à todos vocês, está sala é muito importante pra mim, é a única coisa que tenho real satisfação em estar... boa noite. Vou providenciar um mic. Abraço à todos. Voadora krishnamurtiana, como diz o Out!

Confrade Du Duarte - Reunião Paltak

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Minha nova concepção da Vida

Mouni Sadhu
Uma das tarefas mais difíceis com que me deparei durante minha estada no ashram de Ramana Maharishi, foi a necessidade de encontrar a definição clara da nova concepção de vida como tal. Parece-me que há em mim um ponto central ao redor do qual tudo gravita em minha consciência, o meu "EU". Esta concepção deve ser definitiva e absoluta, pois nenhuma outra será aceitável pelo meu "Eu".

Entre as centenas de definições que encontrei, nenhuma delas pareceu-me dar uma síntese perfeita. As definições condicionadas devem ser abandonadas como falsas. As que são demasiadamente abstratas, uma terminologia impossível de ser posta em prática, parecem-me simples acrobacias mentais, boas para os professores aposentados de filosofia teórica, mas não para um homem que se esforça pela realização espiritual. Mas sei que deve existir uma definição que harmonize com as profundezas de meu ser e que não provoque nem dúvida nem ceticismo, pois estará de acordo com minha própria experiência interna. 

Todos os que realizaram a verdade na vida falam dela com maior entusiasmo, COMO SENDO A ÚNICA META, para cujo alcance tudo o mais deveria ser sacrificado, UMA VEZ QUE É PURA ILUSÃO. No entanto, todas as suas palavras não aprecem ser outra coisa senão belas e encantadoras melodias produzidas por um instrumento desconhecido. Em minha busca tive de abandonar tudo o que é limitado, condicionado por nome e forma. Aquilo que sobra, sem forma nem véu, isso deve ser necessariamente a própria vida. 

O processo da investigação — principalmente através da meditação — demonstrou-me que quanto mais eu abandono a ideia de ser realista o que é visível, mais próximo me sinto da minha meta. Quais são, na prática, os estágios desse processo? Naturalmente é impossível descrevê-los em detalhes, mas as linhas gerais são muito simples. Começando a meditar em completa paz e serenidade sobre a relação que os objetos externos têm com o Eu, muitas vezes me parece que atinjo a verdade: eles não significam nada para o "Eu". Nesse momento desponta uma espécie de visão da possibilidade de uma EXISTÊNCIA independente de quaisquer condições. Essa "visão" — a palavra não é exata nem muito própria — dura mais ou menos tempo, dependendo do grau de concentração alcançada, mas seu resultado permanece como a memória de uma coisa duradoura e certa, sem qualquer sombra de dúvida. Ela encontra expressão no pensamento: "Unicamente a CONSCIÊNCIA é VIDA". A Consciência desapegada, independente de tudo, a simples afirmação "EU SOU". 

Mas esse "EU" não é o pequeno eu contido na transitória forma corpórea com seus sentidos, que é, na verdade, a antítese do EU REAL. Esse "EU"-Consciência está mais próximo do termo usado, muitas vezes, na literatura filosófica moderna, a "Consciência Cósmica" ou "Eu Cósmico". Essa Consciência é também FELICIDADE ABSOLUTA. 

Mouni Sadhu - Dias de Grande Paz


segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Breve relato de retomada da Consciência Integrativa Amorosa

A história de meu coração começa há dezessete anos atrás. Tinha apenas dezoito anos quando um sentido muito íntimo e esotérico começou a surgir em mim através de todo o universo visível e aspirações indefiníveis se apossaram de minha alma. 

Em última instancia, senti-me só com o sol e a terra. Deitado sobre a relva, falei com a alma à terra, ao sol, ao ar, e ao mar distante, longe de meus olhos. Pensei sobre a firmeza da terra, e senti que era envolvido por ela; através da capa de relva, apossou-se de mim uma influência que me fazia sentir como se a terra falasse comigo. Pensei no ar e em sua pureza, que constitui a sua grande beleza. O ar tocou-me e legou-me algo de si mesmo. Orei por todas essas coisas; senti na alma uma emoção que ultrapassa a capacidade de ser definida. 

Pensei em minha existência mais íntima, naquela consciência que se chama alma. Estas, ou seja, eu mesmo, pus na balança para pesar a oração celestial. Aí tirei a força de meu corpo, de minha mente, de minha alma. A oração, essa emoção da alma, existia em si mesma, não em qualquer objeto. Era uma paixão. Escondi meu rosto na relva, senti-me completamente prostrado, perdi-me na luta, fui arrebatado e levado para longe. 

Se algum pastor me tivesse por acaso visto deitado na relva, teria pensado que eu descansava por alguns instantes. Não demonstrei, exteriormente, o que sucedia em meu interior. Poderia ele imaginar que dentro de mim se agitava um verdadeiro vendaval, enquanto aí estava reclinado? Senti-me exausto, quando afinal retornei a casa. 

Tendo bebido abundantemente do céu que tinha sobre mim e sentido a mais gloriosa beleza do dia, e relembrando o mar, imensamente velho, que, como me parecia, estava em alguma parte muito distante, perdi-me então e senti-me absorvido no ser ou existência do universo. Senti a profundeza do que existe debaixo da terra e acima do céu, mais longe ainda do que o sol e as estrelas. Ainda mais longe, além das estrelas, no imenso espaço, e então a separação do meu ser pareceu-me parte do todo. 

Orei com todo esse tempo e poder que posso reunir em minha alma, em sua parte intelectual, a ideia, o pensamento. Agora, esse momento me dá o pensamento por inteiro, a ideia total, a alma completa expressa no Cosmo que me rodeia. Dá-me a noção ilimitada da vida, tal como do mar e do sol, da terra e do ar. Brinda-me com a compreensão da vida física, da mente, iguale além de sua complexidade. Faz-me perceber que a alma é maior e mais perfeita que todas as coisas. Atende ao meu desejo inexprimível que me ata como um nó, que existe em mim como a força do mar. Percebo uma alma-vida ilimitada. Percebo a existência de um pensamento do Cosmo. Creio na forma humana. Deixe-me encontrar alguma coisa, algum método pelo qual essa forma possa alcançar a beleza máxima. Sua beleza assemelha-se à de uma flecha, que pode ser lançada a distância, de acordo com a força do arco. Assim, a ideia que surge na mente humana pode expandir-se indefinidamente e elevar-se à beleza. Quanto à mente, à consciência mais íntima, a alma, minha oração desejou que eu pudesse descobrir um sistema de vida para ela, de tal forma que não apenas pudesse conceber essa vida, mas efetivamente dela desfrutar na terra. Desejei descobrir um conjunto de ideias novo e mais elevado, sobre o qual a mente pudesse trabalhar. O que mais se aproxima desse significado seria um novo livro da alma, um livro esboçado a partir do presente e do futuro, sem contemplar o passado. Em lugar de ideias baseadas na tradição, deixe-me dar à mente um novo pensamento saído do presente, do momento atual. 

Reconhecendo minha própria consciência mais íntima, a psique, tão claramente, não me pareceu que a morte afetasse a personalidade. Não havia, na dissolução, um carisma de separação. O espírito não se fazia imediatamente inacessível, distanciado de forma incomensurável. 

Para mim, tudo é sobrenatural. Não é possível submeter o espírito às leis da matéria. 

Quando penso que percebi esse momento do eterno Agora, que sempre foi e será, que estou em meio às coisas imortais nesse momento, que provavelmente há almas infinitamente superiores à minha, assim como a minha é infinitamente superior a um pedaço de madeira, o que será, então, um milagre? 

Sinto-me à beira de uma vida desconhecida, que se encontra muito perto, que quase posso tocar, no limiar de poderes que, se eu pudesse alcançar, me dariam um imenso alento de existência. Algumas vezes sinto-me invadido por um êxtase de alegria pelo universo inteiro. Desejo maiores noções sobre a alma-vida. Estou certo de que ainda há mais para ser descoberto. Uma grande vida, uma civilização inteira está às portas do pensamento comum. 

Há uma Entidade, uma Alma-Entidade, embora ainda não possa ser reconhecida. 

O homem possui uma alma, embora me pareça que ela permanece em expectativa, pela qual ele ainda pode descobrir coisas que agora lhe parecem sobrenaturais.

Creio, de todo o coração, no corpo e na carne, e creio que eles deveriam ser estimulados e tornados mais belos por todos os meios; creio que os órgãos do corpo podem fazer-me mais fortes em sua ação, perfeitos e duradouros. Creio que a carne exterior pode ser ainda mais bela, que os contornos podem ser mais delicados, que os movimentos podem ser mais graciosos. Creio que todo tipo de ascetismo é vil, é uma blasfêmia contra a raça humana como um todo. 

Como exprimir, adequadamente, minha certeza de que todas as coisas sucedem para o melhor, para um fim mais sábio e benéfico e que estão ordenadas por uma inteligência humana? É um crime contra a raça humana. 

Nada evolui. Não há evolução, assim como não há intenções na natureza. Por haver estado face a face com a natureza, e não com livros, convenci-me de que não há nem intenções, nem evolução. O que é, qual é, qual foi a causa, como e por que, ainda não o sabemos. Mas, certamente, não são aquelas as respostas. Nada há de humano em qualquer das vidas animais. A natureza toda, o universo, até onde posso ver, é ante ou ultra-humano. Nada tem a ver com o homem. Nada havendo de humano na natureza do universo, e sendo todas as coisas ultra-humanas, e sem qualquer intenção ou propósito, concluo que nenhuma deidade tem algo que ver com a natureza. Em seguida, nos assuntos humanos, nas relações do homem com o homem, no comportamento diante da vida, nos acontecimentos que ocorrem nos assuntos humanos em geral, tudo acontece por acaso. E como todas as coisas, nos assuntos humanos, acontecem por acaso, nenhuma deidade pode ser responsabilizada. 

Um impulso irresistível levou-me a escrever essas coisas e esse impulso obrou em mim desde muito jovem. Não a escrevi pelo prazer da discussão, e ainda menos visando a algum proveito. É, na verdade, todo o contrário. Foram-me impostas pela seriedade de coração, e exprimem minhas mais sérias convicções. Uma das maiores dificuldades que encontrei é a falta de palavras para expressar as ideias.

Richard Fefferies - 1848-1887

Extraído do livro "Consciência Cósmica - Estudo da evolução da mente humana", de R.M Bucke


segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O estado de Integrativa Consciência Amorosa - por Richard M. Bucke

— Breve relato do recuperado estado de Integrativa Consciência Amorosa - por Richard Maurice Bucke

... Foi no começo da primavera, mo início do seu trigésimo sexto ano de vida. Ele e dois amigos haviam passado a noite lendo Wordsworth, Shelley, Keats, Browning e especialmente Whitman. Separaram-se à meia-noite e ele eprcorreu um longo caminho em trole. Isso ocorreu em uma cidade inglesa. Sua mente, profundamente influenciada pelas ideias, imagens e emoções despertadas pela leitura e conversas da noite, achava-se em estado de calma e paz. Ele desfrutava de UM MOMENTO QUE QUIETUDE, quase de ALEGRIA PASSIVA. De repente, sem aviso de nenhuma espécie, viu-se envolvido por uma nuvem avermelhada. No primeiro momento, pensou em um incêndio subitamente deflagrado na grande cidade. Logo em seguida, porém, percebeu que a luz estava dentro dele mesmo. Imediatamente apoderou-se dele um sentimento de exaltação, de imensa alegria, acompanhado ou logo seguido por uma iluminação intelectual quase impossível de ser descrita. Em seu cérebro explodiu uma momentânea fagulha do Esplendor Brâmico, que antes jamais lhe havia iluminado a vida. Sobre seu coração caiu uma gota da Felicidade Brâmica, deixando-lhe para sempre um sabor de paraíso. Entre outras coisas nas quais não chegava a acreditar, viu e soube que o Cosmo não é matéria morta, mas uma PRESENÇA VIVA; que a alma do homem é imortal; que o universo é tão bem construído e ordenado que sem nenhuma casualidade todas as coisas funcionam juntas para o bem de cada uma delas e do todo; que o fundamento do mundo é o que denominamos amor e que a felicidade de cada um é, a longo prazo, absolutamente certa. Ele declara que aprendeu mais durante os poucos minutos de permanência da Iluminação do que nos meses, nos anos de estudos anteriores e que aprendeu mais do que poderia aprender com qualquer professor ou qualquer escola. 

A iluminação, enquanto tal, não durou mais do que uns poucos instantes, mas seus efeitos demonstraram ser permanentes. Foi-lhe impossível esquecer o que havia visto e aprendido naquela ocasião. Tampouco pode ou quis duvidar da verdade do que então foi apresentado à sua mente. Foi uma experiência sem retorno.(...) O mais importante acontecimento daquela noite foi a sua real iniciação na nova e mais elevada ordem de ideias. Mas foi apenas uma iniciação. Ele viu a luz, mas não soube de onde ela vinha ou o que significava; era como se fosse igual ao primeiro indivíduo que viu a luz do sol.

Consciência Cósmica - Estudo da Evolução da Mente Humana

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill