O
pensamento é o denominador comum de toda a humanidade. Seja qual for o tipo de
conflito humano, compulsão ou obsessão, independente da nacionalidade, cor,
raça, classe social, o pensamento é o denominador comum à todos nós.
Independente do modo como fomos "educados", independente do modo como
fomos condicionados, independente do acumulo de conhecimento adquirido por meio
de nossas vivências e experiências, todos nós pensamos e, portanto, somos todos
prisioneiros de uma ampla e emaranhada rede de pensamentos.
Se você observar, verá que o cérebro está ocupado todo o dia com uma
coisa ou outra, tagarelando, falando interminavelmente, como uma máquina que
nunca para. E, assim, o cérebro gradualmente vai se desgastando.
Desde a mais tenra idade fomos "programados" através de símbolos e
imagens, quer fisicamente, religiosamente, mentalmente, intelectualmente,
nacionalmente e, por meio dessa sistemática programação, acabamos nos
conformando à um modo mecânico e vazio de ser, onde o tédio, a rotina e a
solidão, são apenas algumas das dolorosas e consequentes manifestações. Fomos
programados para produzir resultados sociais pre-estabelecidos, independente do
desenvolvimento e integridade de nossa psique, de nossa sensibilidade e de
nossa energia vital. Como resultado dessa sistemática programação, nosso
potencial humano, nosso potencial interno, nosso talento, quase sempre, se
mostraram extremamente limitados.
Não fomos educados para perceber o que é a nossa consciência, para perceber o
pensamento e todo seu processo divisor, em vista disso, estamos todos
fragmentados, portanto, não somos indivíduos. Fomos concionados para pensar que
somos indivíduos, que estamos separados, para pensar que temos almas
separadas, mas isso é mera ilusão.
Fomos programados para dar excessiva importância às nossas atividades
externas, sem que houvesse a formação da consciência da grande importância de
dar a devida atenção às nossas atividades internas, psicológicas, emocionais,
em desenvolver observação e a compreensão de nossos motivos, desejos,
tendências, ansiedades e torturantes medos que nos impelem à participar da
louca, competitiva e inconsequente busca por segurança e privilegiado
conforto. Em vista disso, muitos de nós conseguimos através de inconfessáveis
esforços, aparentar ordem em nosso exterior, enquanto tentávamos disfarçar
nossa realidade interior. Não fomos incentivados à observação de nossa
consciência; ao contrário, fomos sistematicamente moldados para darmos vazão às
descabidas e separatistas exigências de nosso ego. Vivemos de modo tão
acelerado, tão estressado, que raramente estamos de fato cônscios de nossos
motivos e atividades. Não fomos incentivados ao fundamental
auto-questionamento: "O que e por que buscamos?" Quase sempre
funcionamos de forma mecânica e reativa, fundamentados na velha carga de nosso
passado para fazer frente aos constantes desafios do presente.
Fomos excessivamente expostos à um padrão cultural comportamental e à um
sistema de educação que nunca nos preparou para o levantamento de
questionamentos quanto à tudo que de nós nos era exigido como sendo o politica
e socialmente correto. Não fomos incentivados ao exercício do olhar livre, da
percepção pura, os quais se traduzem num modo criativo de ser. Ao contrário, fomos
incentivados ao ajustamento e a imitação, o que em última análise, se apresenta
como a natureza de toda forma de corrupção geradora de um contínuo estado de
ansiedade, conflito, separação, sofrimento, angústia, incerteza, desespero e
solidão. Esse ajustado e imitativo modo de ser é que nos colocou num compulsivo
ciclo de insegurança, medo, ciúme, inveja, ganância, confusão e sofrimento.
Fomos educados para nos ajustarmos à um padrão cultural que alimenta o
individualismo auto-centrado, que alimenta o "eu", o "ego"
e seus pronomes possessivos, os quais obscurecem a visão de uma consciência
voltada para a criativa e responsável participação social. Esse resultante modo
de estar na vida de relação, parece ser a natureza exata da consequente ilusão
de separatividade que impede a consciência de que não estamos sós, de que não
estamos isolados, de que todos fazemos parte de uma única consciência, de que
estamos todos interligados.
Não fomos educados para "olhar a natureza do pensamento", para
perceber que o pensamento não é algo individual, mas sim coletivo, grupal. O
pensamento não é o nosso pensamento: é pensamento. Temos que aprender a ver as
coisas como realmente são e não do modo como fomos condicionados para olhar. No
entanto, como é possível ver com clareza, quando se está condicionado,
influenciado por algum grupo, pela tradição, por conceitos, literaturas,
crenças e achismos? Como é possível ver sem nenhuma distorção a natureza exata
de toda forma de caos e sofrimento que se manifesta na consciência?
Se queremos saber se é possível ou não a manifestação de um estado de
unidade interna e bem-estar comum entre mente e coração, precisamos inventariar
todo o movimento do pensamento condicionado, porque o pensamento condicionado é
responsável por todo o conteúdo da consciência, tanto das camadas mais
profundas quanto das superficiais. Se você não possuísse nenhum pensamento
condicionado, não haveria nenhum medo, nenhuma busca de prazer imediato, nenhum
conflito no tempo, nenhuma culpa, nenhuma vergonha tóxica. É o pensamento
condicionado o grande responsável por isso tudo. Portanto, o pensamento condicionado
é o denominador comum de todo tipo de conflito humano.
Qual é a origem do pensar?
Qual é a origem do pensar? Esta é uma questão sobremodo complexa (…) No
momento em que se descobre realmente a origem do pensar, o pensamento recebe o
lugar que lhe compete e não transbordará para outra esfera, outra dimensão,
onde não há lugar para ele. Só nessa dimensão pode operar-se a transformação
radical; só nela pode nascer uma coisa nova, não produzida pelo
pensamento.(1)
Que é pensar? (…) Quando há “desafio” e “reação”, se a reação é
imediata, não há “processo de pensar”. Se lhe perguntam seu nome, você responde
prontamente (…) Mas se lhe fazem uma pergunta mais complicada, você precisa de
tempo para responder; há um intervalo de tempo entre o desafio e a reação.
Nesse intervalo, a mente fica em busca de uma resposta, a pesquisar, a indagar,
a esperar, a questionar. Esse intervalo é o que chamamos pensar.(2)
E esse pensar depende da sua raça, (…) família, do conhecimento, da
memória, das marcas do tempo, de suas experiências, (…) dores e sofrimentos,
das inumeráveis pressões e agonias da vida, ou seja, do seu background. De
acordo com ele, você “reage” ou responde. Por conseguinte, a reação ao desafio
é sempre inadequada. (…) E essa insuficiência da reação gera contradição.(3)
Por conseguinte, temos de compreender, não só o mecanismo do pensar, mas
também esse depósito de conhecimentos acumulados, com os quais “respondemos” a
um desafio, que é sempre novo. Sempre respondemos ao novo com o “velho”: com a
tradição hinduísta, se somos hinduístas; (…) com nossos conhecimentos, se somos
cientistas, etc. Essa resposta nunca é total, porém sempre fragmentária; por
conseguinte, apresenta-se uma contradição, um conflito, uma dor ou um prazer
(…) Tal é o ciclo de nossa vida.(4)
O pensamento é condicionado. A mente, que é o depósito de experiências,
lembranças, das quais se origina o pensamento, é, ela própria, condicionada; e
todo movimento da mente (…) produz resultados peculiares e limitados.(5)
Ora, todo pensar é mecânico, porquanto todo pensar constitui uma reação
de nosso background de experiência (…) de memória. E, sendo mecânico, o pensar
nunca pode ser livre. Poderá ser razoável, sensato, lógico, conforme o seu
background, sua educação, seu condicionamento.(6)
Quando não me conheço a mim mesmo, e não sei que fazer ou que pensar,
naturalmente estou envolvido no torvelinho da confusão. Mas quando me conheço a
mim mesmo (…) então, dessa compreensão, nasce a claridade, resulta a conduta
correta. A compreensão de si mesmo traz amor (…) ordem.(7)
Sobre o pensar correto
Antes de agir, precisamos saber pensar. Não há ação sem pensamento. A
maioria de nós, porém, age sem pensar, e o agir sem pensar nos trouxe a esta
confusão. Por conseguinte, precisamos descobrir como pensar antes de saber como
agir. Você e eu precisamos encontrar a maneira correta de pensar. Se nos
limitamos a citar o Bhagavad Gita, a Bíblia ou o Alcorão, isso não tem
significação; citar o que outra pessoa disse não tem valor algum.(8)
Para compreendermos a confusão e as misérias que nos atribulam, e
compreendermos, assim, o mundo, cumpre acharmos, em primeiro lugar, dentro de
nós mesmos, a clareza que se origina do correto pensar. (…) O correto pensar
não é produto do simples cultivo do intelecto, tampouco é submissão a padrões,
por mais dignos e nobres que se afigurem. O correto pensar nasce com o
autoconhecimento.(9)
Só quando você e eu descobrirmos a maneira de pensar corretamente,
estaremos aptos a resolver os formidáveis problemas que nos desafiam. Se
esperarmos que outros façam esse trabalho para nós, esses outros se tornarão
nossos chefes e nos levarão, como sempre, ao desastre.(10)
Ora, como começar a pensar corretamente? Para pensar corretamente, vocês
precisam conhecer a si mesmos (…) Se não se conhecem, não tem base para pensar
corretamente e, portanto, o que pensarem não terá valor.(11)
Assim, só nas relações podemos descobrir o que é pensar. Isto é, (…)
descobrir como pensamos, momento a momento, quais são as nossas reações, e
proceder assim, passo a passo, ao desenvolvimento do pensar correto. Isso não é
uma coisa abstrata ou difícil, o observar com exatidão o que está ocorrendo em
nossas relações, quais são as nossas reações, e assim descobrir a verdade
contida em cada pensamento, em cada sentimento.(12)
O reto pensar só pode ocorrer quando a mente não está escravizada pela
tradição ou pela memória. É a atenção que permite que o silêncio sobrevenha à
mente, o que representa a abertura da porta para a criação. Eis por que a
atenção é da mais alta importância.(13)
Devemos nos tornar cônscios desse complexo problema da dualidade
mediante contínua vigilância, não para corrigir, mas para compreender; porque,
se não souberem cultivar o correto pensar, origem do esforço verdadeiro,
estaremos sempre a desenvolver opostos com seus conflitos infindáveis.(14)
Só o pensar correto pode nos fazer compreender e transcender o composto
causa-efeito e o processo dualista. Quando integrados o pensador e o
pensamento, pela meditação correta, existe o êxtase do Real.(15)
O pensar correto é um processo contínuo, nascido do descobrimento de nós
mesmos, da percepção de nós próprios. Não há começo nem fim nesse processo e,
assim, o correto pensar é eterno. O pensar correto transcende o tempo; não o
limita o passado, (…) a memória, nem tampouco as fórmulas. Nasce da libertação
do temor e da esperança. Sem a qualidade vivente do conhecimento de nós mesmos,
não é possível pensar com exatidão. Constituindo um constante processo de
auto-revelação, o correto pensar torna-se criador.(16)
O pensamento correto é o pensamento condicionado; é um resultado, um
artifício, um composto; geram-no os padrões, a memória, o hábito, a prática. É
limitador, cumulativo, tradicional. Forma-se mediante o temor e a esperança, a
cupidez e o desejo de vir-a-ser, a autoridade e a limitação. (…) O pensar e o
sentir verdadeiros situam-se acima e além dos opostos, ao passo que o
pensamento correto ou condicionado é por eles oprimido.(17)
O pensar justo vem no fluir constante da autovigilância, vigilância
tanto das ações mundanas como das atividades meditativas. A potência de criar e
o êxtase que a acompanha surgem na liberdade, no estar livre do anseio. E isso
é virtude.(18)
Acho que é importante compreender que só há “ser” quando não existe mais
o pensador, e que no “ser” pode haver radical transformação. (…) Só pode haver
revolução radical quando o pensador chega a uma pausa, quando o pensador deixa
de existir. Quando é que você tem momentos criadores, um sentimento de alegria,
um sentimento de beleza? Certamente, apenas quando o pensador está ausente,
quando o processo do pensamento se suspende por um segundo, por um minuto, por
um período de tempo; então, nesse espaço, há alegria criadora.(19)
Para se descobrir alguma coisa totalmente diferente, não só é necessário
compreender a origem do pensamento, o começo do pensamento, mas também
descobrir se é possível o pensamento cessar, a fim de que se ponha em movimento
um novo processo. Esta é uma questão importantíssima.(20)
O problema, por conseguinte, é este: “Conhecendo-se a função da mente,
tal como é, pode essa mente renovar-se?” (…) Pode essa mente inquieta, volúvel,
essa mente que vagueia em todas as direções, que acumula, que rejeita (…) pode
essa mente findar instantaneamente e tornar-se silenciosa?(21)
O pensamento cessa, não como resultado da transformação do pensamento,
mas tão só pela compreensão dos movimentos do pensador. Quando o pensador está
cônscio dos próprios movimentos, quando a mente está cônscia de si mesma em
ação (…) você verá, então, que ocorre um período em que a mente fica absolutamente
tranqüila, em que ela fica em estado de meditação, em que nada a distrai ou
agita. Então, no momento em que o pensamento está em silêncio, surge o ser
criador.(22)
Para fazer cessar o pensamento, cabe-me primeiro penetrar no mecanismo
do pensar. (…) Impende-me examinar cada pensamento, não deixando escapar um só
sem tê-lo compreendido totalmente (…) Se eu acompanhar cada pensamento até a
raiz, (…) verei que ele se desfaz por si. Nada tenho de fazer, nesse sentido,
pois o pensamento é memória. A memória é a marca deixada pela experiência.(23)
Entretanto, se você perceber a verdade de que só com o findar do
pensamento pode o problema ser resolvido, (…) descobrirá então o significado de
todo o “o processo” do pensar. O pensar, com efeito, fortalece o “eu”. O “eu”,
que é o fator de perturbações, o fator de malefícios e sofrimentos (…) O pensar
é produto do “eu”, acumulando durante séculos; por conseguinte, o pensar não
nos resolverá os problemas e, sim, pelo contrário, os multiplicará e causará mais
sofrimentos.(24)
Se percebemos a verdade desse asserto; se, pelo autoconhecimento,
percebemos a verdade sobre como a mente funciona, tanto a mente consciente como
a inconsciente - se estamos cônscios do “processo” total, então esse próprio
percebimento acarretará a cessação do pensamento, e, portanto, a tranqüilidade
da mente.(25)
O findar do pensamento, pois, é essencial; porque a mente precisa estar
de todo tranqüila, sem nenhum movimento para trás ou para diante, porque o
movimento supõe o tempo e, conseqüentemente, temor e desejo. Assim, quando a
mente se acha de todo tranqüila (…) é possível vir à existência aquilo a que se
não pode dar nome.(26)
Se eu lhe dissesse que se pode fazer cessar o pensamento, você
perguntaria: “Como posso alcançar esse findar do pensamento?” (…) O importante
é descobrir a natureza do centro, penetrá-lo e descobrir todo o processo do
pensar, por você mesmo (…); e nessa viagem você não pode levar nenhum
companheiro. Nem esposa, nem marido, nem guru, nem livro algum pode lhe ajudar.
Essa viagem deve ser empreendida completamente a sós.(27)
Já lhe sucedeu alguma vez você se encontrar naturalmente num estado de
total ausência de pensamento? Nesse estado, você esta cônscio de si mesmo como
pensador, observador, e experimentador? O pensamento é reação da memória, e o
feixe de lembranças é o pensador. Quando não há pensamento, existe o “eu” (…)?
Não nos referimos a uma pessoa em estado de amnésia, ou a sonhar acordada, ou a
controlar o pensamento a fim de silenciá-lo, mas sim à mente que está totalmente
desperta, atenta. Quando não há pensamento nem palavra, não está a mente numa
dimensão de todo diferente?(28)
Só há percebimento do todo quando a mente está completamente tranqüila.
Mas esse silêncio, essa serenidade não é provocada ou produzida por meio de
disciplina ou controle. Vem a serenidade só quando cessam as distrações, isto
é, quando a mente toma conhecimento de todas as distrações.(29)
Assim, uma mente tranqüila é essencial para a percepção do todo; e só
está tranqüila a mente quando compreende cada pensamento e cada sentimento que
surge. (…) Resistir, levantar uma muralha de isolamento e viver nesse
isolamento, isso não é tranqüilidade. A tranqüilidade que é cultivada,
disciplinada, forçada,(…) é ilusória.(30)
Agora, para um homem que deseja encontrar a Realidade ou a compreensão
que lhe revelará a Realidade, para esse homem o pensamento deve cessar -
pensamento no sentido de totalidade do tempo. E como pode cessar o pensamento?
- mas não por meio de nenhuma espécie de exercício, disciplina, controle,
repressão.(31)
Vê-se, pois, que o pensador e o pensamento são um só todo; sem
pensamento não há pensador. E quando não há pensador e só há pensamento, há
então um estado de percebimento sem pensamento; o pensamento desaparece.(32)
O relevante, pois, é que a mente (…) comece a investigar a si mesma (…)
Se você compreender bem isso, verá que a mente se torna sobremodo tranqüila,
não apenas a mente consciente, mas também a mente inconsciente (…) Mas só se
verifica essa tranqüilidade total da mente quando há a tremenda energia do
autoconhecimento. É o conhecimento que traz essa energia.(33)
Conhecer o processo integral da mente - todas as suas inclinações,
“motivos”, propósitos, seus talentos e suas exigências, seus temores,
frustrações e sucessos - conhecer todas essas coisas significa estar tranqüilo
e não permitir que elas atuem. Só então pode manifestar-se o que se acha além
da mente. (…) Só a mente que compreende o processo total, pode receber as
bênçãos do Real.(34)
Parece-me assaz evidente que, para compreender um problema complexo, e
principalmente um problema psicológico, seja necessária uma mente muito quieta,
(…) tranqüila, mas não com uma tranqüilidade forçada.(35)
O que impede essa tranqüilidade é, sem dúvida, o conflito. Quase todos
vivemos cheios de agitação (…) E é essencial (…), para a perfeita compreensão
de um problema, que se tenha uma mente silenciosa, sem preconceito, capaz de
libertação, tranqüila e que permita ao problema revelar-se, desdobrar-se. E uma
mente assim quieta (…) é impossível quando há conflito.(36)
Mas, uma mente que está tranqüila, que não é posta tranqüila, que não é
forçada ao silêncio; uma mente que está tranqüila porque tem verdadeiro
interesse, porque divisou a verdade, porque a verdade veio a ela, é inteligente
e se liberta do conflito.(37)
O conflito se dissolve pela percepção de cada movimento do pensamento e
do sentimento, e pela percepção da verdade relativa a tais movimentos. A
verdade só é perceptível, ou só pode vir à existência, quando não existe
condenação, justificação e comparação; só então está a mente tranqüila, só
então se acaba a memória.(38)
A simplicidade, portanto, só vem a existir no processo da compreensão de
nosso complexo “eu”, (…) Quanto mais compreendo “o que é”, (…) tanto mais me
liberto de conflitos e de sofrimentos. (…) E assim como é tranqüila a
superfície de um lago, assim também fica a mente tranqüila depois de
compreender todo o processo do esforço. E, na tranqüilidade da mente,
manifesta-se o atemporal.(39)
Só quando ausente o “eu”, existe a possibilidade de a mente estar
quieta, e, portanto, apta a compreender, apta a receber aquilo que é eterno.
(…) Mas, para que o eterno seja, torna-se necessário, evidentemente, que as
atividades, as fabricações, as projeções do “eu” cessem inteiramente. E o
cessar dessa projeção é o começo da meditação (…) Porque a compreensão de si
mesmo é o começo da meditação; e sem meditação não há possibilidade de
compreender-se o “eu”.(40)
Em momentos de intensa criação, de grande beleza, há uma tranqüilidade
absoluta; em tais momentos, verifica-se uma ausência completa do “ego” e de
todos os seus conflitos; é essa negação - a forma suprema do pensar-sentir -
que é essencial para alcançarmos o estado de potência criadora. (…) Depois de
experimentar uma vez essa tranqüilidade viva, o pensamento-sentimento prende-se
à sua lembrança, impedindo assim a continuidade da experiência da
realidade.(41)
Textos de Krishnamurti, extraídos de: Seleta de Krishnamurti
Fontes das citações:
(1) Encontro com o Eterno, pág. 85
(2) A Suprema Realização, pág. 46
(3) A Suprema Realização, pág. 46
(4) A Suprema Realização, pág. 47
5) Diálogos sobre a Vida, pág. 59
(6) O Passo Decisivo, pág. 174
(7) A Arte da Libertação, pág. 78
(8) A Arte da Libertação, pág. 13)
(9) O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 7
(10) A Arte da Libertação, pág. 13
(7) A Arte da Libertação, pág. 78
(8) A Arte da Libertação, pág. 13)
(9) O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 7
(10) A Arte da Libertação, pág. 13
(11) A Arte da Libertação, pág. 13
(12) Nosso Único Problema, pág. 18
(13) O Verdadeiro Objetivo da Vida, pág. 17
(14) Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 36
(15) O Egoísmo e o Problema da Paz, 1ª ed., pág. 25
(16) Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág. 49-50
(17) Autoconhecimento, Correto Pensar, Felicidade, pág.50
(18) O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 53
(19) Da Insatisfação à Felicidade, pág. 65
(20) Encontro com o Eterno, pág. 75
(21) Poder e Realização, pág. 84
(22) Da Insatisfação à Felicidade, pág. 65-66
(23) Visão da Realidade, pág. 105
(24) Viver sem Temor, pág. 68-69
(25) Viver sem Temor, pág. 69
(26) A Renovação da Mente, pág. 45
(27) O Homem Livre, pág. 96
(28) A Outra Margem do Caminho, pág. 32
(29) A Arte da Libertação, pág. 46
(30) A Arte da Libertação, pág. 47
(31) O Homem Livre, pág. 149
(32) Viagem por um Mar Desconhecido, pág. 119
(33) O Homem Livre, pág.151
(34) As Ilusões da Mente, pág. 116
(35) Nós somos o Problema, pág. 44
(36) Nós somos o Problema, pág. 44
(37) O que te fará Feliz?, pág. 96
(38) O que te fará Feliz?, pág. 96-97
(39) Nós Somos o Problema, pág. 98
(40) Nós Somos o Problema, pág. 60
Não pensamos - o pensamento acontece em nós.
No caso da maioria das pessoas, quase todos os pensamentos costumam ser
involuntários, automáticos e repetitivos. Não são mais do que uma espécie de
estática mental e não satisfazem nenhum propósito verdadeiro. Num sentido
estrito, não pensamos - o pensamento acontece em nós. A afirmação "Eu
penso" implica volição. Ou seja, podemos nos pronunciar sobre o assunto,
podemos fazer uma escolha. Mas isso ainda não é percebido pela maior parte das
pessoas. "Eu penso" é uma afirmação simplesmente tão falsa quanto
"eu faço a digestão" ou "eu faço meu sangue circular". A
digestão acontece, a circulação acontece, o pensamento acontece.
A voz na nossa cabeça tem vida própria. A maioria de nós está à mercê dela; as pessoas vivem possuídas pelo pensamento, pela mente. E, uma vez que a mente é condicionada pelo passado, então somos forçados a reinterpretá-lo sem parar. O termo oriental para isso é carma. Quando nos identificamos com essa voz, ignoramos isso. Se soubéssemos, não seríamos mais possuídos por ela, porque a possessão só acontece de verdade quando confundimos a entidade que nos domina com quem nós somos, isto é, quando nos tornamos essa entidade.
Ao longo de milhares de anos, a mente vem intensificando seu domínio sobre a humanidade, que deixou de ser capaz de reconhecer a entidade que se apossa de nós como o "não-eu". Por causa dessa completa identificação com a mente, uma falsa percepção do eu passa a existir - o ego. A densidade dele depende do grau em que nós - a consciência - nos identificamos com a mente, com o pensamento. Pensar não é mais do que um minúsculo aspecto da totalidade da consciência, de quem somos.
O grau de identificação com a mente difere de indivíduo para indivíduo. Algumas pessoas desfrutam de períodos em que se encontram libertas do domínio da mente, ainda que brevemente. A paz, a alegria e o ânimo que elas experimentam nesses momentos fazem a vida valer a pena. Essas também são as ocasiões em que a criatividade, o amor e a compaixão se manifestam. Outras pessoas se mantêm presas ao estado egóico de modo contínuo. Permanecem alienadas de si mesmas, assim como dos demais e do mundo ao redor. Quando as observamos, conseguimos ver a tensão na sua face, talvez a testa franzida ou um olhar vago e distante. A maior parte da sua atenção está sendo absorvida pelo pensamento, por isso não nos vêem nem nos escutam. Elas não estão presentes em nenhuma situação - sua atenção está ou no passado ou no futuro, que, é claro, são formas de pensamento que existem apenas na mente. Ou, se estabelecem um relacionamento conosco, fazem isso por meio de algum tipo de papel que interpretam e, assim, não são elas mesmas. As pessoas, em sua maioria, vivem alienadas de quem elas são. Às vezes esse estado chega a tal ponto que a maneira como se comportam e se relacionam é reconhecida como "falsa" por quase todo mundo, a não ser por aqueles que também são falsos e igualmente alienados de quem são.
Alienação quer dizer que não nos sentimos à vontade em nenhuma situação, em nenhum lugar nem com ninguém, nem mesmo conosco. Estamos sempre tentando nos sentir "em casa", mas isso nunca acontece. Alguns dos maiores escritores do século XX, como Franz Kafka, Albert Carnus, T. S. Eliot e James Joyce, não só reconheceram a alienação como o dilema universal da existência humana como é provável que a tenham sentido em si mesmos de modo profundo e, assim, foram capazes de expressá-la excepcionalmente em suas obras. Eles não ofereceram uma solução. Sua contribuição foi nos proporcionar uma reflexão sobre essa dificuldade humana, para que pudéssemos vê-la com mais clareza. Ter uma visão mais nítida de uma situação complicada em que nos encontramos é o primeiro passo no sentido de superá-la.
Eckhart Tolle - Um Novo Mundo - O Despertar de uma Nova Consciência - Ed. Sextante
A voz na nossa cabeça tem vida própria. A maioria de nós está à mercê dela; as pessoas vivem possuídas pelo pensamento, pela mente. E, uma vez que a mente é condicionada pelo passado, então somos forçados a reinterpretá-lo sem parar. O termo oriental para isso é carma. Quando nos identificamos com essa voz, ignoramos isso. Se soubéssemos, não seríamos mais possuídos por ela, porque a possessão só acontece de verdade quando confundimos a entidade que nos domina com quem nós somos, isto é, quando nos tornamos essa entidade.
Ao longo de milhares de anos, a mente vem intensificando seu domínio sobre a humanidade, que deixou de ser capaz de reconhecer a entidade que se apossa de nós como o "não-eu". Por causa dessa completa identificação com a mente, uma falsa percepção do eu passa a existir - o ego. A densidade dele depende do grau em que nós - a consciência - nos identificamos com a mente, com o pensamento. Pensar não é mais do que um minúsculo aspecto da totalidade da consciência, de quem somos.
O grau de identificação com a mente difere de indivíduo para indivíduo. Algumas pessoas desfrutam de períodos em que se encontram libertas do domínio da mente, ainda que brevemente. A paz, a alegria e o ânimo que elas experimentam nesses momentos fazem a vida valer a pena. Essas também são as ocasiões em que a criatividade, o amor e a compaixão se manifestam. Outras pessoas se mantêm presas ao estado egóico de modo contínuo. Permanecem alienadas de si mesmas, assim como dos demais e do mundo ao redor. Quando as observamos, conseguimos ver a tensão na sua face, talvez a testa franzida ou um olhar vago e distante. A maior parte da sua atenção está sendo absorvida pelo pensamento, por isso não nos vêem nem nos escutam. Elas não estão presentes em nenhuma situação - sua atenção está ou no passado ou no futuro, que, é claro, são formas de pensamento que existem apenas na mente. Ou, se estabelecem um relacionamento conosco, fazem isso por meio de algum tipo de papel que interpretam e, assim, não são elas mesmas. As pessoas, em sua maioria, vivem alienadas de quem elas são. Às vezes esse estado chega a tal ponto que a maneira como se comportam e se relacionam é reconhecida como "falsa" por quase todo mundo, a não ser por aqueles que também são falsos e igualmente alienados de quem são.
Alienação quer dizer que não nos sentimos à vontade em nenhuma situação, em nenhum lugar nem com ninguém, nem mesmo conosco. Estamos sempre tentando nos sentir "em casa", mas isso nunca acontece. Alguns dos maiores escritores do século XX, como Franz Kafka, Albert Carnus, T. S. Eliot e James Joyce, não só reconheceram a alienação como o dilema universal da existência humana como é provável que a tenham sentido em si mesmos de modo profundo e, assim, foram capazes de expressá-la excepcionalmente em suas obras. Eles não ofereceram uma solução. Sua contribuição foi nos proporcionar uma reflexão sobre essa dificuldade humana, para que pudéssemos vê-la com mais clareza. Ter uma visão mais nítida de uma situação complicada em que nos encontramos é o primeiro passo no sentido de superá-la.
Eckhart Tolle - Um Novo Mundo - O Despertar de uma Nova Consciência - Ed. Sextante