Se você se sente grato por este conteúdo e quiser materializar essa gratidão, em vista de manter a continuidade do mesmo, apoie-nos: https://apoia.se/outsider - informações: outsider44@outlook.com - Visite> Blog: https://observacaopassiva.blogspot.com

sexta-feira, 6 de abril de 2018

Meditação e a percepção do mecanismo do "eu"

Meditação é a percepção 
do mecanismo do "eu"

PERGUNTA: Pareceis rejeitar a ioga, e concordo convosco em que a ioga é muitas vezes praticada como método de fugir a 'o que é'. Mas, se evitamos a fixação artificial da mente num objeto escolhido e permitimos que a nossa chamada meditação assuma o caráter de investigação, abrangendo todo o campo de 'o que é', sem esperar resposta, isso, sem dúvida, é o que costumais recomendar. Não achais, também, que poderíamos executar mais facilmente essa coisa difícil se tivéssemos aprendido a quietar o corpo e a respiração?

KRISHNAMURTI: O interrogante, com efeito, deseja saber "como meditar": se o quietar o corpo e controlar a respiração não facilitará a meditação, que é o processo de investigação de todo o campo de 'o que é', sem fugir dele. Vejamos, pois, se podemos descobrir "como meditar". Ora, se tiverdes a bondade de escutar sem focar a atenção numa determinada sentença, numa determinada frase da resposta, poderíamos investigar, juntos, toda a questão de "como meditar". Para mim, o "como" não constitui, em absoluto, o problema. O problema é: que é meditação? Se não sei o que é meditação, a mera pergunta sobre como meditar nada significa. O que investigo, pois, não é "como meditar", que método seguir, como estar apercebido de 'o que é', sem fugir, como quedar-me tranquilo, como repetir certas palavras, etc. Não estamos tratando de nada disso. Se sei o que é meditação, então a questão de "como meditar" não constituirá problema algum, naturalmente.

Ora, que é meditação? Como não sabemos o que é meditação, não temos nenhuma ideia sobre como começar. Devemos, pois, abeirar-nos do problema com a mente aberta, não é verdade? Compreendeis? Deveis abeirar-vos dele com uma mente livre, dizendo "Não sei", e não com uma mente ocupada, perguntando "Como meditar?" Vede: se verdadeiramente prestardes atenção a este problema — o que não significa aderir ao que estou dizendo, mas, sim, experimentar realmente a coisa, ao mesmo tempo que vamos falando — descobrireis por vós mesmo o significado da meditação. Até agora nos temos abeirado do problema com uma atitude de indagação sobre "como meditar", que sistemas seguir, como respirar, quais as práticas da ioga que convém adotar, etc., etc.; porque, pensando que sabemos o que é meditação, achamos que o "como" nos levará a algo. Mas sabemos de fato o que é meditação? Eu não sei, e penso que vós também não sabeis. Portanto, nós dois temos de abeirar-nos da questão com uma mente que diz "Não sei", ainda que tenhamos lido centenas de livros e praticado muitas disciplinas da ioga. Vós não sabeis, realmente. Só estais esperando, só estais desejando, querendo chegar, através de determinado padrão de ação, de disciplina, a certo estado. E tal estado pode ser completamente ilusório; pode ser apenas o vosso próprio desejo. E, sem dúvida o é; é a vossa própria "projeção", como reação à vossa aflitiva existência diária.

Assim, a primeira coisa, a coisa essencial, não é "Como meditar?", mas, sim, descobrir o que é meditação. Portanto, a mente deve chegar-se a esse problema sem nada saber; e isso é dificílimo. Estamos muito acostumados a pensar que a meditação requer necessariamente um determinado sistema — repetição de palavras, na oração, adoção de uma determinada postura, fixação da mente em certa frase ou imagem, respirar de maneira regular, manter o corpo num estado muito tranquilo, controle completo da mente; estamos bem familiarizados com tudo isso. E pensamos que nos levará a alguma coisa que se acha além da mente, além do mecanismo transitório do pensamento. Pensamos que já sabemos o que desejamos, e agora estamos comparando os diferentes métodos para saber qual é o melhor de todos. A questão relativa a "como meditar" é completamente falsa. Mas posso descobrir o que é meditação? Esta é a questão real. É uma coisa extraordinária o meditar, o saber o que é meditação e, portanto, investiguemo-la. Sem dúvida, a meditação não é a prática de qualquer sistema, achais que é? Pode a minha mente eliminar de todo esta tradição de disciplina, de método? Tradição existente não só aqui, mas também na Índia? Essa eliminação é necessária — não achais? —, visto que não sabemos o que é meditação. Sei como concentrar-me, como controlar, disciplinar, sei o que devo fazer; mas não sei o fim a que se chega com isso. Disseram-me, apenas: "Se fizerdes estas coisas, alcançareis algo", e, como sou ávido, ponho-me a praticar tais exercícios. Assim, pois, a fim de descobrir o que é meditação, posso eliminar a exigência do método?

A própria investigação desta questão é meditação, não é? Estou meditando no momento em que começo a indagar o que é meditação, em vez de "como meditar?" No momento em que começo a descobrir, por mim mesmo, o que é meditação, a minha mente, como não o sabe, tem de rejeitar tudo o que sabe, o que significa que tenho de pôr à margem o meu desejo de alcançar um estado. Porque o desejo de alcançar é a raiz, é a base da minha busca de método. Tenho conhecido momentos de paz, de serenidade, e o sentimento de um "outro estado"; e desejo alcançá-lo de novo, torná-lo um estado permanente; e por esta razão ponho-me a procurar o "como". Penso que já sei o que é aquele outro estado, e que um método me conduzirá a ele. Mas, se já sei o que é essa outra coisa, ela então não é a coisa verdadeira, porém, sim, meramente uma projeção de meu próprio desejo. Minha mente, quando está deveras investigando o que é meditação, compreende o desejo de realização, obtenção de resultado e, portanto, está livre dele, do desejo. Por conseguinte, ela se livrou completamente de toda e qualquer autoridade; pois não sabemos o que é meditação, e ninguém pode dizer-nos o que ela é. Minha mente está, toda ela, num estado de "não saber"; não recorre a nenhum método, oração, repetição de palavras, concentração, porquanto percebe que a concentração é simplesmente outra forma de realização. A concentração da mente numa dada ideia, esperando que assim se exercitará para ir mais além, mediante "exclusão", essa concentração implica também um "estado de saber". Assim, se eu "não sei", então todas estas coisas terão de desaparecer; não estou mais pensando em termos de realizar algo, de chegar a um fim. Já não há a ideia de que a acumulação me ajudará a alcançar a outra margem.

Assim, depois de fazer isso, já não descobri o que é meditação? Não há conflito, não há luta; há compreensão da desnecessidade de acumular, compreensão, a todas as horas, e não em dado momento. Meditação, pois, é o processo de completo desnudamento da mente, depuração de toda tendência de acumulação e realização, que constitui a própria natureza do "eu". A prática de métodos variados só poderá tornar mais forte o "eu". Podeis disfarçar o "eu", embelecê-lo, requintá-lo; mas ele é sempre o "eu". A meditação, pois, é o descobrimento das atividades do "eu".

Vereis, se vos aprofundardes bastante nisso, que nunca há um momento em que a meditação se torna hábito. Porque o hábito implica acumulação, e, onde há acumulação, há o mecanismo do "eu" a pedir mais, a exigir mais acumulação. Tal meditação está dentro da esfera do conhecido, e nenhuma significação tem, a não ser como método de auto-hipnotismo. A mente só pode dizer "Não sei" — realmente e não apenas verbalmente - depois de haver eliminado, pelo percebimento, pelo autoconhecimento, toda ideia de acumulação. A meditação, pois, significa, "morrermos para nossas acumulações", e não o alcançar de um estado de silêncio, de tranquilidade. Enquanto a mente for capaz de acumular existirá sempre a ânsia de mais. E o mais exige o sistema, o método, o estabelecimento da autoridade, coisas essas que representam, verdadeiramente, a própria tática do "eu". Depois de perceber a falácia de tudo isso, a mente se vê num estado de "não saber". Esta mente pode perceber aquilo que não é mensurável e que só pode manifestar-se momento por momento.

Krishnamurti, Sexta Conferência em Londres, 26 de junho de 1955

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill