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sexta-feira, 23 de março de 2018

O despertar da energia


O DESPERTAR DA ENERGIA

Interlocutor P: Quando estávamos discutindo o Tantra, você disse que há um modo de despertar a energia. Os tântricos se concentram e certos centros físicos, com o qual liberam a energia latente em nossos centros. Você diria que isto tem certa validade? Qual é o modo de despertar a energia?

KRISHNAMURTI: Concentrar-se em vários centros psicofísicos implica um processo de tempo, não é assim? De modo que gostaria de perguntar o seguinte: pode essa energia despertar-se sem um processo de tempo?

P: Em todo este processo, o método tradicional existe uma postura correta e um equilíbrio na respiração. Se o corpo não sabe como se sentar direito e como respirar corretamente, não pode haver um cessar para o pensamento. A fim de levar o corpo e a respiração a um estado de equilíbrio, se torna inevitável um processo de tempo.

KRISHNAMURTI: Pode haver uma forma completamente diferente de abordar este problema. A tradição começa com o psicossomático; a postura, o controle respiratório, e gradualmente passa por diversas formas de concentração até o pleno despertar da energia. Este é o método aceito. Não existe um modo de despertar esta energia sem passar por todas estas práticas?

P: Isso é como o que dizem os mestres do Zen: que o verdadeiro mestre é aquele que descarta o esforço. Sem dúvida no Zen, para chegar ao total domínio do arco, é necessária uma tremenda destreza técnica. Somente quando existe a completa maestria, desaparece o esforço.

KRISHNAMURTI: Você começa por este extremo antes que pelo outro — sendo este extremo tempo, controle, energia, perfeição, perfeito balanço.

Tudo isto me parece como tratar com uma parte muito pequena de um campo muito vasto. A tradição concede grande importância ao passado, à respiração, à postura correta. Todas estas coisas estão limitadas a um abrigo do campo, e através desse abrigo você espera obter a iluminação. O abrigo então se torna um truque. Por meio de algum tipo de acrobacias psicossomáticas se espera que se agarre a luz, a totalidade do universo. Eu não creio que aí esteja a iluminação — não é através de um abrigo. Isso é como ver o céu por uma pequena janela e não sair jamais para olhá-lo diretamente. Sinto que esse modo é um modo absurdo de abordar algo que é absolutamente imenso, atemporal.

P: Você ainda admitiria que a postura correta e a respiração apropriada fortalecem a estrutura da mente?

KRISHNAMURTI: Quero abordar tudo isto de uma maneira completamente diferente. Para fazê-lo é necessário descartar tudo quanto se tem dito a respeito. Vejo que o abrigo é como uma vela à luz solar. A lida da vela se mantém muito cuidadosamente acesa enquanto brilha o sol. Você não se interessa na luz do sol senão que se ocupa em acender a vela.

Há outras coisas envolvidas nisto; há o despertar da energia que até agora tem sido desperdiçada.

Na ação de centralizar a energia, de acumulá-la em sua totalidade, estão envolvidas a atenção e a completa eliminação do tempo. Penso que estes são os principais fatores — o tempo, uma atenção não forçada que não é concentração, que não está centrada em torno de uma parte, e a acumulação de energia. Penso que estas são as coisas fundamentais que se há de compreender, porque a iluminação deve consistir e consiste em abarcar e compreender esta vida imensa — sendo a vida o viver, morrer, o amar, é toda esta ansiedade, e o ri mais além dele.

Os mestres tradicionais também estão de acordo em que se deve ter a atenção para ir mais além do tempo. Mas eles são os adoradores do abrigo. Eles utilizam o tempo para ir mais além do tempo.

P: Como, senhor? Eu adoto uma postura e dirijo minha atenção. De que modo está envolvido o tempo nisto?

KRISHNAMURTI: É a atenção um produto do tempo?

P: Não. Você faz uma pergunta e há uma atenção imediata. É esta atenção produto do tempo?

KRISHNAMURTI: Não, certamente não.

P: Estando aí sua pergunta e minha atenção, nisso o tempos está envolvido? Se você o considera desse modo, o processo de autoconhecimento que prossegue constantemente, também envolve tempo. Vinte anos atrás minha mente não haveria conhecido a qualidade atual. Este estado não existia então.

KRISHNAMURTI: Vamos devagar. Estamos tratando de compreender algo que está fora do tempo.

P: A tradição diz que é necessário preparar o corpo e a mente.

KRISHNAMURTI: Eu pergunto: você diz que através do tempo aperfeiçoa o instrumento, não é assim? Eu questiono isso. Você pode aperfeiçoar o instrumento através do tempo? Bem, vejamos antes de tudo quem é o que aperfeiçoa o instrumento. É o pensamento?

P: Não teria validade dizer que é só o pensamento. Há muitos outros fatores envolvidos.

KRISHNAMURTI: O pensamento, o conhecimento que lhe pertence, a inteligência, todos estão sustentados pelo pensamento. Dizer que o pensamento deve cessar e que deve surgir a inteligência, constitui outra vez uma ação do pensamento. A declaração de que o pensamento e o pensador são uma só coisa é também uma ação do pensamento.

Você diz que o instrumento se aperfeiçoa por meio do pensamento. Para mim o enfoque tradicional de aperfeiçoar ao instrumento através do ato de pensar e assim ir mais além do pensamento, e o ato de cultivar a inteligência e ir mais além do tempo, tudo isso segue estando na área do pensamento. É assim. Portanto, nesse mesmo pensamento está o pensador. Esse pensador diz: isto deve ocorrer, isto não deve ocorrer. Esse pensador converteu-se no desejo de realização. O desejo de aperfeiçoar o instrumento é parte do processo de pensar, é parte do pensamento.

P: Neste círculo que você acaba de descrever também está envolvido o ato de questionar o instrumento mesmo, vale dizer, o pensamento.

KRISHNAMURTI: Mas o questionador é parte do pensamento. Você pode dividir, subdividir, mudar, mas tudo isso está dentro do campo do pensamento e isso é tempo. O pensamento é memória, o pensamento é de natureza material; o material é memória. Ainda seguimos funcionando dentro da área do conhecido, e o homem que cultiva o pensamento diz que ele chegará ao desconhecido através do conhecido, que aperfeiçoando o conhecido alcançará a iluminação. Tudo isto é assim mesmo o pensamento.

P: Se tudo é pensamento, então se faz necessário criar um instrumento novo.

KRISHNAMURTI: Quando o pensamento diz que deve tornar-se silencioso e se torna silencioso, isso é ainda pensamento. O que fazem os tradicionalistas é trabalhar dentro da área do pensamento que é o abrigo do vasto campo vida. Mas isso é ainda o resultado do pensamento. O atman é resultado do pensamento. O brahman que o homem tanto respeita, é o resultado do pensamento. Aquele que o experimentou nada tem que ver com o pensamento. Isso ocorreu, simplesmente, mas vieram seus discípulos e disseram: “Faça isto, faça aquilo”. Tudo isto está dentro do campo do pensamento.

P: Então não há modo de proceder.

KRISHNAMURTI: Veja como o pensamento aplica truques a si mesmo — eu devo ter equilíbrio, eu devo adotar a postura correta a fim de que a energia vital possa fluir livremente — não é verdade? O pensamento é do passado. O pensamento pode criar o mais maravilhoso dos instrumentos — por ir a Lua, a Venus mas o pensamento jamais poderá alcançar “o outro”, porque o pensamento nunca é livre; é velho, está condicionado. O pensamento é a estrutura total do conhecido.

P: O que você quer significar por “o outro”?

KRISHNAMURTI: O que não é isso.

P: O que não é isso?

KRISHNAMURTI: Isto está dentro do campo do tempo; o pensamento, que é tempo. Aquilo está no campo do silêncio. Portanto, averigue se a dor pode terminar. Salte do abrigo. Descubra o que é a vida, o que significa a morte, o que significa terminar com a dor. Se não se der com isto, aplicar truques com o pensamento não tem sentido algum. Você poderá despertar todas as Kundalinis, mas com que propósito?

Portanto, aqueles que ensinam como despertar as Kundalinis, ou como tornar-se um especialista no manejo do arco segundo o método Zen, ou como adquirir pericia na prática de diversas formas de Tantra, estão todos presos ao tempo, que é pensamento. Vejo isso e vejo que isso está sempre girando em círculos. O círculo pode ser mais amplo, mas segue sendo um círculo, significa escravidão, a qual é tempo.

Em consequência, eu não tocaria nisso. Não o tocaria porque vejo a natureza, a estrutura, o caráter deste abrigo. O abrigo carece de sentido para mim. Quando existe este sol maravilhoso, todos os siddhis e poderes são como muitas luzes de vela.

Ao escutar isto, pode a mente eliminá-lo? O mesmo escutar é o eliminar. Então você tem aquela. Então há atenção, amor; tudo está aí. Como vê, isto é válido enquanto que o outro não o é. O exercício do cérebro é para poder descobrir a verdade e o falso, para ver o falso como falso. Veja, quando o menino Krishnamurti viu a verdade, isso se encerrou; renunciou a todas as organizações, etc. Não teve que treinar-se para “ver”.

P: Mas você teve uma preparação, foi submetido a um vigoroso treinamento do corpo.

KRISHNAMURTI: Assim dizem. Por causa de que o corpo havia sido descuidado, eles disseram que se a ele não se lhe cuidava, adoeceria.

P: Mas senhor, separado da disciplina física, teve instruções de como devia educar-se a esse menino.

KRISHNAMURTI: Coisas como pentear o cabelo, fazer asanas, pranayama;  tudo estava nesse nível.

B: É algo muito sutil. Eu não digo que o que ocorreu estivesse de algum modo relacionado com a iluminação, mas é necessário atender ao corpo.

KRISHNAMURTI: Sim, é necessário conservar o corpo saudável.

P: Senhor, se posso assinalá-lo, você tem as maneiras de um iogue, tem a aparência de um iogue, seu corpo adota a postura de um iogue. Você tem estado praticando asanas, pranayama todos os dias, durante anos. Por que?

KRISHNAMURTI: Isso não é importante. É como manter limpas minhas unhas. Estou dizendo que o outro é infantil; gastar anos em aperfeiçoar o instrumento. Tudo o que você tem que fazer é “observar”.

P: Mas se você nasceu cego, só quando uma pessoa como você, vem e diz “observem” ocorre algo. A maior parte das pessoas entenderá aquilo de que você fala.

KRISHNAMURTI: A maior parte das pessoas não escutaria tudo isto. O deixaria de lado.

B: O outro é mais fácil; dá algo, enquanto que isto não dá nada.

KRISHNAMURTI: Veja, eu estou terrivelmente interessado nisto: como se manteve a mente de Krishnamurti neste estado de inocência?

P: O que você está dizendo não é pertinente. Você pode ser uma exceção. Como deu com isso o menino Krishnamurti? Teve dinheiro, organização, teve tudo e sem dúvida abandonou tudo. Se eu tomasse a minha neta e a deixasse com você, e ela não tivesse outra companhia que a sua, ainda assim ela não teria isso.

KRISHNAMURTI: Não, não a teria. (Pausa). Descarte tudo isto.   

P: Quando você diz isso, é como o koan do Zen; o ganso que está fora da garrafa. Você teve um centro ao que necessitou eliminar?

KRISHNAMURTI: Não.

P: Assim que você não teve um centro que eliminar? Você é o único e, portanto você é um fenômeno; de modo que não pode dizer-nos que você faz isto e então isso ocorreu. Você só pode dizer-nos “não é isto e se nos afogarmos ou não, nenhum outro pode dizer-nos. Isto o vemos. Poderemos não estar iluminados, mas não estamos “desiluminados”.

KRISHNAMURTI: Penso que é tremendamente interessante ver que qualquer coisa que o pensamento toca, não é o real. O pensamento é tempo. O pensamento não pode tocar o real.

Nova Delhi
16 de dezembro de 1970
Tradição e Religião
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill