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sexta-feira, 23 de março de 2018

Energia e Transformação


ENERGIA E TRANSFORMAÇÃO

Interlocutor P: Tanto a ciência como o ioga sustentam que quando um organismo vivo é exposto a uma energia tremenda, tem lugar uma mutação. Isso ocorre quando há uma exposição excessiva às radiações — que podem levar a uma mutação nos genes. Segundo o ioga, isso ocorre também quando o pensamento é exposto, na consciência, ao fogo da energia. Você pensa que isso tem algum sentido em termos do que você ensina?

B: A radiação pode ocasionar deformidade. Pode haver uma mutação destrutiva. Um raio laser atravessa o aço e a carne, tem tanto poder de destruir como o de curar.

KRISHNAMURTI: O que você diria que é a energia humana? O que é a energia nos seres humanos? Façamo-lo muito simples.

P: A energia é o que faz possível o movimento.

B:  A energia está a diferentes níveis. Existe a energia ao nível físico. Logo, o cérebro mesmo é uma fonte de energia; emite impulsos elétricos.

KRISHNAMURTI: Todo movimento, radiação, qualquer movimento do pensar, qualquer ação, é energia. Quando se torna intensa a energia? Quando pode fazer as coisas mais surpreendentes? Quando pode ser dirigida para que faça coisas incríveis?

P: Uma energia semelhante cristaliza e se torna estática.

KRISHNAMURTI: Conhecemos esta forma de energia. Mas a energia que conhecemos não produz uma transformação na mente humana. Por quê? Esta energia se torna intensa quando está atuando o desejo de realização. Quando ela se move em uma direção diferente? Um artista ou um cientista, usando seu talento, intensificam a energia e lhe dão uma expressão. Mas a qualidade da mente, a qualidade do ser não se transforma por meio desta energia.

P: Há algo errado em tudo isto.

KRISHNAMURTI: Você pergunta se existe uma qualidade de energia que transforme a mente humana. Essa é a pergunta. Bem, agora, por quê não ocorre no artista, no músico no escritor?

P: Penso que é porque a energia deles é unidimensional.

KRISHNAMURTI: O artista segue sendo cobiçoso, ambicioso, um burguês.

S: Por que você diz que a cobiça atrapalha a ação da energia? O homem pode ser ambicioso, mas também é bom. São estes os elementos que constituem a personalidade.

KRISHNAMURTI: Nós perguntamos por que, quando o homem tem essa energia, essa energia não produz uma transformação radical.

P: O homem tem energia para operar em seu meio. Mas existem grandes áreas de seu ser , onde não há movimento de energia.

KRISHNAMURTI: O homem usa a energia e opera plenamente em uma direção, enquanto que em outra permanece inativo. A energia está inativa em uma parte de sua existência, e na outra está ativa.  

P: Ainda os elementos sensoriais do homem são parcialmente utilizados.

KRISHNAMURTI: O homem é um ser fragmentário, Por que tem lugar esta divisão? Um fragmento se acha tremendamente ativo, o outro não funciona absolutamente. Um fragmento é vulgar, burguês, mesquinho. Quando se unem estes dois fragmentos para tornarem-se uma energia harmônica, uma energia não dividida?

P: Quando os instrumentos sensoriais operam em toda a sua plenitude.

KRISHNAMURTI: Quando ocorre isto? Operam completamente quando há uma tremenda crise?

P: Não sempre, senhor. A ação da crise também pode ser parcial; você pode saltar quando vê uma víbora, mas pode cair em um arbusto espinhoso.

KRISHNAMURTI: Quando cessa o fragmento de ser um fragmento? Não pensamos em termos de movimento, em termos de ação, de mudança? Temos aceitado o movimento do vir a ser. Temos aceitado a fragmentação. O movimento do vir a ser, de chegar a ser, é sempre um movimento fragmentado. Existe um movimento que não pertença a estas categorias? Veja o que ocorre se não há movimento em absoluto.

P: Eu sempre tenho encontrado dificuldade em compreender esta proposição sua. A mesma natureza da formulação sugere o outro, o oposto.

S: Na realidade não se conhece o estado de movimento inativo.

KRISHNAMURTI: No começo dissemos que havia fragmentação. Um fragmento está muito ativo e outro está inativo.

B: A energia do artista, a totalidade de seu ser, opera em uma só dimensão. Há falta de sensível percepção.

KRISHNAMURTI: Não estou d todo seguro. Um fragmento é sensível. Você disse que o outro fragmento não se percebe em absoluto a si mesmo.

P: O artista pinta e também tem um lance amoroso com uma mulher. Ele não vê estas ações como fragmentos.

KRISHNAMURTI: Temos ido mais além disso. Vemos que ele está fragmentado. Opera em fragmentos  um está ativo e o outro está inativo. Nesta letargia há uma ação em marcha. Um é muito ativo, e o outro é uma ação em um tom menor. Vemos isto.

Agora a pergunta é: pode esta energia intensificar-se para produzir uma mutação nas células cerebrais?

P: Pode essa energia tomar parte prazerosa e alterar sua mesma estrutura de modo que haja uma transformação em ambas as partes?

KRISHNAMURTI: Eu posso ser um grande escultor. Uma parte de mim está inativa. Você pergunta se pode haver uma mutação não só na parte inativa senão também nessa energia que participa na formação do escultor?

A pergunta é: aceitaria o fato de que posso deixar de ser um escultor? Porque isso pode ocorrer. Quando encaro este problema de uma transformação nas mesmas células cerebrais, cabe a possibilidade de que não seja mais um escultor. Mas para mim é muito importante ser um escultor. Não quero desprender-me disso.

P: Deixemos ao escultor. Aqui estamos frente a você, que diz: olhem, esta transformação na estrutura das células cerebrais pode significar o cessar de todo talento, de toda ação significativa. Nós aceitamos o que você disse.

KRISHNAMURTI: Correto. Se você está preparado para desprender-se dessas coisas, o que ocorre então? Isso significa que você se desprende do talento, da realização, da perpetuação do “eu”. Bem, agora; quanto tem lugar esta mutação que a energia produz nas células do cérebro?

Veja, onde a energia se dissipa através do talento e de outros canais, ela não pode ser completamente retida. Quando esta energia não se move em absoluto, então penso que algo ocorre, então essa energia tem que explodir. Penso que então transforma a qualidade da própria célula cerebral. É por isso que perguntava por que sempre pensamos em termos de movimento.

Quando não há movimento nem interno nem externamente, quando não há desejo de experimentar, nem de despertar, nem de ver, nem movimento de nenhum tipo, então a energia se acha em seu nível máximo. O que significa que se deve negar todo movimento. Quando isso ocorre, a energia está completamente quieta, e isso é silêncio.

Como dizíamos outro dia, quando há silêncio a mente está se transformando a si mesma.

Quando se a abandona completamente, quando nada a está cultivando, ela está quieta como a matriz. A mente é o vaso do movimento, e quando esse movimento não tem uma forma, não tem “eu”, nem visões, nem imagens, então a mente está completamente quieta. Nessa mente não há memória. Então as células cerebrais experimentam uma transformação.

As células do cérebro são usadas para o movimento no tempo. Elas são o resíduo do tempo e o tempo é movimento; um movimento dentro do espaço que o tempo cria à medida que se move. Quando a mente vê isto, quando vê a futilidade de todo o movimento no sentido do tempo, então todo movimento termina. Em consequência, quando a mente nega completamente todo movimento e, portanto, todo tempo, todo pensamento, toda recordação, então há absoluta quietude, não quietude relativa.

Por conseguinte, a questão não é como produzir a mutação, senão investigar a estrutura das células cerebrais. O dar-se conta de qualquer movimento das células cerebrais, da continuidade do próprio tempo, coloca fim a todo movimento.

O movimento está sempre no passado e no futuro  movimento a partir do passado, através do presente, para o futuro. Isso é tudo quanto conhecemos e desejamos transformar dentro deste movimento. Desejamos o movimento e não obstante, queremos transformar dentro deste movimento; portanto, as células cerebrais continuam operando. (Pausa).

É assombrosamente simples. Eu não sei se você vê isto. Todos queremos complicá-lo. Qualquer esforço para deter o movimento é contradição e, portanto, tempo e, portanto, não há transformação em absoluto. Todos os buscadores têm falado de um movimento mais elevado, o movimento hierárquico. A pergunta é: pode a mente negar-se a si mesma todo movimento?

Olhe, quando você observa seu cérebro, vê que há um centro que está completamente quieto e não obstante, escuta tudo o que pensa o ônibus, os pássaros. Queremos deter o ruído exterior, mas continuar com o ruído interno. Queremos deter o movimento de fora, mas prosseguir com o movimento de dentro. Quando não há movimento, há uma tremenda concentração de energia.

De modo que a mutação é a compreensão do movimento e o fim do movimento nas mesmas células do cérebro.

Nova Delhi
21 de dezembro de 1970
Tradição e Revolução
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill