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quinta-feira, 22 de março de 2018

A mente e o coração


A MENTE E O CORAÇÃO

Pupul Jayakar (PJ): Senhor, até agora nossas discussões tem estado relacionadas com a mente e seus problemas. O que não temos discutido é o movimento do coração.

Jiddu Krishnamurti (K):  Alegro-me que você levante isso.

PJ: O movimento do coração, é um movimento distinto do da mente? Constituem um só movimento, ou são dois? E se são dois movimentos, quais são os fatores que tornam diferentes ambos os movimentos? Uso as palavras “mente” e “coração” porque são os dois pontos focais ao redor dos que parecem concentrar-se certas respostas sensoriais. Os dois movimentos, são, na realidade, um só movimento?

K: Para começar, o que você entende por “movimento”?

PJ: Qualquer tipo de resposta emocional a que chamamos amor, afeto, boa vontade, compaixão, parece ondear, despregar-se a partir de um ponto focal que identificamos como a zona do coração. Estas ondas afetam ao coração; fisicamente, fazem com que bata com maior rapidez.

K: Este é o movimento fisiológico das células cerebrais.

P.Y. Deshpande (PYD): Ou são os nervos os que exercem um impacto no coração?

K: É uma resposta dos nervos, do coração, do cérebro, de todo o organismo psicossomático. Bem, agora, o movimento da mente está separado do movimento daquilo que geralmente chamamos coração? Não estamos falando do coração físico, senão das emoções: os sentimentos, a ira, o ciúmes, o sentimento de culpa, todas as emoções que fazem que o coração palpite e golpeie com maior força e rapidez. Estão separados os movimentos da mente e do coração? Discutamos isso.

PJ: No contexto do que temos estado dizendo desde o princípio, ou seja, de esvaziar a mente até que nada fique, exceto o movimento da sobrevivência, é o único fator que distinguiria ao homem, seria este estranho movimento do coração.

K: Penso que esta divisão é artificial. Em primeiro lugar, não deveríamos começar deste modo.

PJ: Enquanto estivemos discutindo com você, tem havido um silenciar das células cerebrais e, com isso, uma tremenda clareza; sem dúvida, não tem existido resposta alguma do coração, não tem havido ondas.  

K: Você está separando, pois, ambos movimentos: está o movimento da mente e está o movimento do coração. Perguntamo-nos se se acham separados. Além do mais, se não se acham separados, então, quando a mente se tem esvaziado da consciência — no sentido em que temos usado essa palavra —, qual é, na mentem a qualidade da compaixão, do amor, da empatia? Comecemos por perguntar-nos se o movimento do coração se acha separado.

PJ: O que é que iguala a ira com o movimento do afeto?

K: Eu pergunto: Algum dos movimentos está separado?

PJ: Separado de que?

K: Algum dos movimentos está separado, ou tudo é um movimento unitário, ainda que possamos dividi-lo e fragmentá-lo? Tem-se dividido o movimento em diferentes categorias, tais como o movimento do coração e o movimento da mente. E perguntamos: Há um movimento do coração separado do movimento da mente? Não sei se poderei expressar bem isto em palavras: a mente, o coração, o cérebro, não são, por acaso, uma unidade? E, a partir dessa unidade flui o movimento, um movimento unitário. Mas nós dividimos as emoções, os sentimentos de devoção, de ternura, de entusiasmo, separando-os de seus opostos.

PJ: O mesmo o mal, a crueldade, a vaidade. Mas há um movimento puramente intelectual que não é nem um nem outro: o movimento tecnológico.

K: O movimento é distinto do movimento da mente?

PJ: Entendo que o movimento tem sua própria tecnologia. Tem seu próprio impulso, sua própria razão de existir, sua própria direção, sua própria velocidade, seus próprios motivos e sua própria energia.

Maurice Friedman (MF): Você não pode medir o pensamento. Não o chame tecnologia.

PYD: As ondas do pensamento têm sido medidas. A tecnologia implica mensurabilidade.

K: Acabamos de dizer que a compaixão, o amor, a ternura, o afeto, a consideração e a cortesia são um só movimento. O movimento oposto é o contrário disso: é o movimento da violência, etc. Estão, pois, o movimento da mente, o movimento do afeto, amor, compaixão e está o movimento da violência. De modo que agora há três movimentos. Depois, há outro movimento, o que afirma que isto deve ser e isto não deve ser. A afirmação de que isto deve ser, ou de que isto não deve ser, tem alguma coisa a ver com os outros movimentos mentais?

PYD: Separado dos três movimentos, está o movimento do coordenador.

K: Agora temos o quarto movimento, o do coordenador. Os quatro movimentos são: o movimento do coração que contém o afeto; o movimento da violência, a insensibilidade, a depressão, a vulgaridade e tudo isso; logo está o movimento intelectual e, finalmente, o movimento do coordenador. Bem, agora, cada um destes movimentos tem suas próprias subdivisões. E cada uma das subdivisões está em contradição com seu oposto. E assim isto se multiplica. Veja quão complexo se torna. Este organismo psicossomático tem muitas contradições, não só movimentos intelectuais e emocionais. Estes movimentos são inumeráveis e contraditórios. E o coordenador está tratando de acomodar as coisas para que ele possa operar.

MF: Não há um mecanismo seletivo que escolhe entre tudo isso e o nomeia “pensamento”, “mente”, “coração”, etc.? Não é esse o coordenador?

K: O coordenador, o escolhedor, o integrador, o seletor, chame-o como queira; estão todos em contradição um com o outro.

MF: Por que você diz que estão em contradição? Deve-se a que cada um é um movimento independente?

PYD: Pelo modo em que se vive, parecem estar em contradição.

MF: Mas cada um se move por sua conta.

PJ: Como Friedman disse: Se em um dado ponto um deles está o outro não está.

MF: Então não pode haver contradição.

K: Quando um está, não está o outro. Mas o coordenador supera a ambos e diz: Quero este e não quero aquele.

MF: Esse é todo o movimento da vida.

PJ: Começamos esta discussão perguntando se há tal coisa como o movimento do coração. Até agora temos investigado o movimento da mente.

S. Balasundaram (SB): O movimento do coração, é um movimento nutritivo? É um movimento de subsistência? Não é necessário, por ação, para que o movimento do cérebro não permaneça estéril?

PYD: Nós não estamos de todo no campo da contradição.

K: Não há contradição se um está e o outro não está. A contradição se introduz quando o coordenador diz: Eu gostaria mais de ter isto e não aquilo. Então começa a contradição, a oposição como preferência.

Achyut Patwardhan (AP): Se eu estou cheio de ódio, etc., não posso dar dois passos mais além. Pergunto: O movimento do coração, é distinto do da mente? Ou tem sua qualidade própria?

K: Isso é o que Pupul está dizendo. Está o movimento da mente: o movimento intelectual, tecnológico; está o movimento do coração; e está o movimento da violência. Há inumeráveis movimentos em nós, e o coordenador seleciona um ou dois para sustentar. Partindo daí, qual é a próxima pergunta?

PJ: Estes movimentos, são paralelos entre si? Finalmente, eles são um movimento ou outro.

K: Não estou seguro.

PJ: É o movimento do cérebro o que basicamente excita as emoções?

AP: Ainda que se possa não sentir ódio ou fúria pessoal, quando leio a respeito de Bengala surgem certas emoções, e estas são respostas sociais; não faço nada a respeito. Enquanto que ter amor, afeto, é uma definida qualidade de enriquecimento interno, um sustento que a mente não pode nos proporcionar.

PYD: Já concordamos em que a percepção do cérebro é o pensamento.

K: Deixemos bem claro o significado das palavras. A resposta a diversas formas de estímulos é o que chamamos emoção. A percepção é uma emoção?

Qual é, então, a pergunta seguinte? São paralelos os dois movimentos com suas subdivisões?

PJ: Um movimento paralelo significa um movimento separado; jamais se encontram.

K: Ou são, na realidade, um só movimento que não conhecemos?

PJ: Tomemos o exemplo do desejo; em que categoria o colocaria? Na emoção ou no pensamento?

SB: O desejo provém do coração.

PJ: Depois de um momento, o desejo se converte em pensamento. Onde o localizará, então?

AP: Aparece somente como pensamento.

MF: O surgimento do desejo como resposta emocional imediata do coração, não está separado do pensamento; quando se está furioso, o coração bate com mais rapidez. Tudo isso é um movimento único.

K: Desejo, ódio, amor... são movimentos mentais e emotivos. Você pergunta se são paralelos e, portanto, se estão separados. Eu não digo que o estejam ou que não o estejam.

PJ: Não creio que essa seja uma pergunta válida. A pergunta válida é: Se são dois movimentos separados, é possível que se reúnam alguma vez? Ou o fato de que os mantenhamos separados é a verdadeira causa de nosso infortúnio?

MF: O que percebe com a diretriz é o pensamento; o que percebe sem a diretriz é a emoção.

PJ: Quando você faz uma declaração semelhante, ou isto é assim para nós e, por onde, cessou nossa dualidade interna, ou se trata de uma teoria.

K: É uma teoria. As conclusões e as fórmulas nada significam. Eu digo: Não sei. Conheço só estes dois movimentos: o movimento intelectual ou racional, e o sentimento de benevolência, de delicadeza. Isso é tudo. Estes movimentos estão separados? Ou nossa atual infelicidade e nossa confusão surgem porque as temos tratado como movimentos separados? Veja, Pupul, nós temos separado o corpo e a alma. A tendência religiosa, tanto no Oriente como no Ocidente, tem consistido nesta divisão entre o corpo e a alma. Mas, na realidade, é um simples estado psicossomático o que inventa a alma. Assim, pois, se levanta a pergunta: São dois movimentos, ou nos acostumamos a pensar que ambos, o corpo e a alma estão separados?

PJ: Mas, como podemos ignorar o fato de que uma intensidade emocional gera uma nova qualidade de ser, uma experiência completa do que sente a outra pessoa, um sentimento de inexpressável compreensão?

K: Não introduza isso ainda. Nós perguntamos: Ambos movimentos estão separados? Ou estamos tão guiados pelo hábito, que temos aceitado a ambos como movimentos separados? Se não estão separados, qual é o movimento unitário que inclui o pensar como movimento do cérebro, e ao movimento do coração?

Omo você investiga esta pergunta? Eu só posso investigar de fato em fato; não posso ter teorias a respeito. Vejo o fato da percepção; vejo o fato do movimento do pensar. E pergunto: Quando não há movimento do pensar, há um movimento não verbal? Me expliquei bem?

Se há um completo findar do pensar, que é movimento, existe um movimento que seja emotivo, tal como o amor, a devoção, a ternura, o afeto? Existe um movimento que esteja separado do pensar, sendo o pensar de natureza verbal: o significado, a explicação, a descrição, etc.? Quando o movimento do pensar chega a seu fim sem compulsão alguma, não existe, por acaso, um movimento completamente diferente, que não é aquele nem este?

PJ: É assim, senhor, e isto que vou dizer, o digo com muita, muita hesitação. Há um estado que é como se houvesse liberado um elixir que a si o inundará; é um estado onde o coração é a única coisa que existe. Estou empregando metáforas. Nesse estado pode haver ação, pode-se atuar, pensar; tudo cabe nele. Também há um estado onde o pensamento chega a seu fim e a mente está muito clara e alerta, mas o elixir está presente.

K: Atenhamo-nos a uma só coisa. Qual é, exatamente, o fator de divisão?

PJ: O que divide é um factual sentido físico. Não é algo mental. Existe certa onda, e uma onda é muito real.

K: Não estou falando disso. Qual é, em nós, o fator que divide, a um dos movimentos como o emotivo, e ao outro como o movimento intelectual do pensar? Por que a divisão entre a alma e o corpo?

PYD: Você admitiria que a própria faculdade do intelecto vê que há um movimento que surge do pensar e outro que surge do coração? Isso é observável.

K: Pergunto: Por que há uma divisão?

PYD: A mão é diferente da perna.

K: Possuem diferentes funções.

PYD: Está a função do cérebro e está a função do coração.

AP: Até onde chega minha experiência, quando finda o movimento verbal há uma percepção a respeito de todo o corpo, na qual o conteúdo emocional é sentimento puro. Isso já não é mais pensar, senão puro sentir.

PJ: Na tradição indiana existe uma palavra chamada rasã, que se aproxima muito ao que disse Krishnaji. A tradição reconhece diferentes tipos de rasã: rasã é a essência, é o que leva o ser, o que o impregna. Mas rasã é uma palavra que necessita ser investigada.

PYD: É emoção.

PJ: É muito mais; rasã é essência.

K: Atenha-se a essa palavra “essência”, “perfume”. Essência significa “o que é”. O que ocorre, então? Ao observar todo o movimento do pensar, ao observar o conteúdo da consciência, a partir desse observar se revela a essência. E, ao observar o movimento do coração, nessa percepção está a essência. A essência é a mesma, seja que se trate disto ou daquilo.

AP: Isso é o que também dizem os budistas.

K: Ao perceber todo o movimento do pensar, ao percebê-lo como a consciência — a consciência com seu conteúdo (a consciência é seu conteúdo) —, ao observá-lo, nessa mesma observação está o refinamento externo, que é a essência. Correto? Do mesmo modo, está a percepção de todo o movimento do corpo, do amor, do júbilo. Quando se percebe tudo isso, existe a essência. E nisso não há duas essências.

O que implica para você a palavra “essência”? Veja, há a essência da flor, que dá origem ao perfume. A essência tem que manifestar-se. Bem, agora, como a se produz? A destila? Quando as flores são destiladas, a essência das flores é perfume.

PYD: Quando a contaminação desaparece, isso é a essência.

MF: Há a essência da amizade, do afeto.

K: Não, não. Eu não usaria a palavra “essência” desse modo, como “essência da amizade”, “essência do ciúme”... Não, não.

MF: O que você entende por “essência”?

K: Simplesmente observe. Tenho observado o que temos estado fazendo durante estas discussões. Temos observado o pensar, seu movimento como consciência; temos observado a totalidade disso — o conteúdo do movimento é a consciência. Há a percepção disso. A percepção disso é sua destilação; e a isso chamamos “essência”, que é pura inteligência. Não é minha inteligência nem sua inteligência; é inteligência, é essência. E quando observamos o movimento do amor, do ódio, do prazer, do medo, que são todos fatores emotivos, há percepção. Não há duas essências.

PJ: Os grandes mestres da alquimia eram chamados rasãsiddhas.

PYD: “Aqueles que estão estabelecidos em rasã”, ou seja, os que chegaram, os que têm seu ser nisso.

K: Durante estes dias e ainda antes, tem-se observado o movimento do pensar; tem sido observado sem escolha alguma. E nisso está a essência. A partir dessa observação sem escolhas, se manifesta a essência de um e a essência do outro. Portanto, o que é a essência? É um refinamento das emoções, ou não está absolutamente relacionado com elas? Sem dúvida, tem relação, porque tem sido observada. Correto?

PJ: Então a energia, que é atenção...

K: A energia é essência.

PJ: Ainda operando sobre a matéria, a essência não tem relação nem com um nem com o outro.

K: Voltamos a começar devagar com a essência. Carece de alguma relação com a consciência? Dou por certo que se foi observada a consciência. Tem havido uma percepção do movimento da consciência como pensamento e como conteúdo dessa consciência, que é tempo. A observação mesma disso — a chama da observação — destila a essência. Concordam?

Do mesmo modo, a chama da percepção traz consigo a essência do movimento emotivo. Bem, agora, sua pergunta era: Tendo esta essência, como ela se relaciona com a emoção? Não há, absolutamente, relação alguma: a essência não tem nada que ver com a flor. Se bem que a essência faz parte da flor, não pertence a ela. Não sei se você alcança ver isto.

MF: “Se bem que a essência faz parte da flor, não pertence a ela”... como pode ser isso, inclusive gramaticalmente?

K: Olhe, senhor, outro dia vi que estavam arrancando a casca de uma árvore para produzir certo tipo e álcool; essa essência não é a casca.

MF: Mas está na casca.

PYD: Se faz realidade a causa do calor.

K: O calor da percepção produz a essência. Então, qual é a pergunta? A essência está relacionada com a consciência? Obviamente, não. Tudo o que importa aqui é a chama da percepção; a chama da percepção é a essência.

PYD: Cria a essência e é a essência.

K: É a essência.

PJ: A percepção, é o instante criativo?

PYD: Criamos o que percebemos?

K: Não sei o que você entende por criação.

PJ: Trazer à existência algo que não estava ali antes.

K: A percepção é criação? O que você entende por criação? Sei o que significa percepção. Atenhamo-nos a essa palavra. Eu não sei qual é o significado de “criação”. Produzir um bebê? Assar pão?

PYD: Não, eu não diria isso. Mover-se daqui para ali também é produzir.

K: Não o converta tudo em criação; ir a oficina não é criação. O que significa criar, produzir algo que não exista antes? O que significa, por exemplo, criar uma estátua? O que é que se gera ali? Essência? Há só duas coisas que podem ser geradas: pensamento ou emoção.

PYD: Gerar significa “manifestar a essência”.

K: Eu lhe pergunto: O que é criação? Não o sei. É gerar algo novo que não se encontra nos moldes do conhecido?

PJ: A criação consiste em gerar algo novo, algo que não pertence ao velho. 

K: Portanto, sejamos claros. “Gerar algo totalmente novo”... em que nível? Observe-o. No nível sensorial, no nível intelectual, no nível da memória? Onde? “Gerar algo novo”... de tal modo que você o veja, que possa visualizá-lo? Então, quando você fala de gerar algo totalmente novo, em que nível isso é gerado?

PJ: No sensorial.

K: No nível sensorial? Tome uma pintura, que não é verbal; você pode pintar algo que seja totalmente novo? Quer dizer, pode dar origem a algo que não seja uma expressão de você mesmo? Se é autoexpressão, não é novo.

PJ: Se a criação é algo completamente novo, algo que não se relaciona com nenhuma autoexpressão, então, provavelmente cessa toda autoexpressão, toda manifestação.

K: Espere, espere.

PJ: Quero dizer que, devido a que não existe nada que não seja autoexpressão...

K: A isso quero chegar. O homem que descobriu o jato... no instante do descobrimento não havia autoexpressão. Ele o transformou logo em autoexpressão. Algo é descoberto, logo se traduz em uma fórmula. Eu só sei que a chama da percepção tem dado origem à essência, e agora a pergunta é: Essa essência, tem alguma expressão? Cria algo novo?

PYD: Cria uma nova percepção.

K: Não. Não há nova percepção; a chama é a percepção. A chama é uma chama a todo o tempo. Um instante, há pura chama de percepção, logo é esquecida; e outra vez pura chama de percepção, depois esquecida. Cada vez, a chama é nova.

PYD: A percepção afeta a matéria; há uma explosão e uma mutação. Bem, agora, não se pode postular o que é que emerge disso. É o descobrimento do motor a reação.

K: Expressemo-lo deste modo. Quando há ação, essa essência não está relacionada com a autoexpressão. Está relacionada com a ação. A ação é, então, total, não parcial.

PJ: Quero fazer mais uma pergunta. A manifestação desta...

K: É ação.

PJ: Tem contato com a matéria?

AP: Nós chegamos com você até a percepção.

K: Não, senhor, temos ido mais longe. Há uma percepção que é uma chama, a qual tem destilado a essência. Então, essa percepção atua ou pode não atuar. Se atua, não tem nenhum tipo de barreiras; não há um “eu” atuando. Isso é óbvio.

PJ: Isso em si é criação. A criação não é algo separado disso.

K: A expressão mesma dessa essência é criação na ação, não ação mova ou ação velha. A essência é expressão.

PJ: Então, a percepção é também ação?

K: É claro. Veja a beleza disso. Esqueça-se da ação. Veja o que tem ocorrido em você. A percepção sem qualificação alguma é uma chama. Quando percebe o destila; o destila por que é a chama.

Há essa percepção que destila a cada instante. Quando você diz que sou um tolo, ela percebe isso. E nessa percepção está a essência. Essa essência atua ou não atua, dependendo isso do meio, de onde se encontra. Mas nessa ação não há um “eu”, não existe em absoluto motivo algum.

Bombaim
19 de fevereiro de 1971
Fogo na mente
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill