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sábado, 1 de abril de 2017

Será que a mente racional, de fato, comanda o nosso ser?


Ao refletir sobre as complexidades da mente, pode ser útil pensarmos em nossa consciência comum como um navio, tendo como capitão a mente racional e valorativa, que mapeia o curso que nossa vida irá seguir. Nossos sentidos e sistema nervoso, bem como os centros cognitivos da mente, possuem todos suas próprias redes que distribuem força para todo o navio. No entanto, eles também trabalham em conjunto, coordenados pela mente. 

O intrincado sistema de alimentação de força do nosso navio-mente inclui incontáveis interações que estimulam a energia da consciência, evocando correntes de força que entram em nossa cognição com grande ímpeto, à medida que pensamentos explodem em imagens. Estas imagens multiplicam-se, refletem-se, fundem-se e dividem-se em mais imagens, que dão continuidade aos mesmos processos. Interagindo umas com as outras e criando de volta inúmeras réplicas, estas imagens cambiantes estruturam-se em padrões definidos. Os padrões de imagens encontram-se também em movimento, dividindo-se em reformando-se em um sem-número de combinações, Toda esta atividade transcorre dentro do pensamento, como se o pensamento em si fosse uma esfera de prismas facetados, cada qual tendo a oportunidade e o brilho de um diamante. 

Pensamentos isolados giram para fora desta esfera, para se disporem em progressão linear, dentro de uma cadeia de pensamentos correlatos. Estes, por sua vez, interagem entre si e se proliferam numa complexa dinâmica interna, que inclui surtos de impressões sensoriais, percepções, lembranças, associações e interpretações, que jorram juntas e respondem umas às outras sem cessar.

Mesmo antes que consigamos vislumbrar um pensamento que vem surgindo, o processo está quase que concluído, despertando sentimentos e emoções que canalizam mais energia para ciclos padronizados. O sistema inteiro está pré-programado para disparar automaticamente, com o início do processo de percepção. 

Nosso navio-mente navega num oceano de emoções, algumas vezes encontrando bom tempo, outras atravessando tempestades. O oceano, em movimento com as correntes alternadas dos desejos, raramente é calmo; guiando o navio através de águas incertas, o capitão toma decisões que determinam o nosso curso. 

Mas será que podemos confiar em nosso capitão para nos guiar com sabedoria? Em um nível, pensamos que conhecemos a nossa mente. Treinamos suas capacidades racionais e as utilizamos e as utilizamos para conferir uma ordem coerente à nossa vida. Podemos testar a sensibilidade dos nossos sentidos e localizar, em nosso cérebro, os centros que a eles correspondem; podemos acompanhar a trajetória do processo da percepção, definir nossas faculdades integrativas e analíticas, e mensurá-las de acordo com uma escala de definições. Mas será que estes métodos conseguem revelar toda a extensão da capacidade humana? 

Quanto mais de perto olhamos para a natureza da mente, menos confiantes ficamos. Consideramos a mente o árbitro do nosso conhecimento. Tudo aquilo que constitui a nossa realidade é percebido pela mente. A mente nos diz o que é conhecível e o que é inconhecível; nossas perguntas surgem dentro da mente e são respondidas pela mente. A mente mede, a mente interpreta, a mente desenvolve diálogos com a mente, a mente avalia e julga, a mente decide. 

Quando investigamos a natureza do nosso mundo interior de sentimentos, emoções, pensamentos, lembranças, associações e conceitos, vemos que a mente é, igualmente, o árbitro da nossa experiência. Porém, se tentamos investigar o campo que está por trás das nossas percepções e pensamentos, a mente se mostra curiosamente silenciosa. Parece que a mente consegue apenas fazer mensurações dentro de padrões de pensamentos e de conceitos; a mente não tem medidas para ela mesma. 

Será que a mente racional comanda verdadeiramente o nosso ser? Como é ela influenciada por emoções, por sentimentos e pelas flutuações na receptibilidade dos nossos sentidos? Qual é a verdadeira natureza do pensamento? Existiriam outros aspectos da nossa consciência que não entendemos por inteiro? Se existissem, como é que ficaríamos sabendo? O que acontece com a nossa consciência quando dormimos, quando passamos horas sem consciência de que estávamos pensando? Será que realmente sabemos quem somos, e, em caso negativo, será que podemos saber para onde estamos indo? 

Podemos nós confiar na capacidade da nossa mente discernir entre o verdadeiro e o aparente, ou distinguir entre valores reais e superficiais? Mesmo quando pensamos que estamos sendo racionais ou razoáveis, será que este é sempre o caso? Nossa posição pode parecer razoável na superfície e, no entanto, estar fundamentada em suposições falsas. Se somos hábeis, conseguimos justificar quase que qualquer posição que tenhamos interesse em assumir. Mesmo inconsequentemente, podemos mudar de uma posição para outra, em diferentes ocasiões, automaticamente ajustando os "fatos" de modo a se encaixarem nos nossos propósitos. Da mesma forma que tendemos a ser enganados por aparências externas, tendemos a aceitar argumentos lógicos como convincentes, sem examinar muito de perto as suposições que estão apoiados. É possível que vejamos a palavra escrita de maneira ainda menos crítica do que a falada. Como os pensamentos que as precederam, as palavras tendem a ser "verossímeis" quando apresentadas "racionalmente" — esquecendo-nos de que tanto as palavras quanto a lógica são produtos da mente humana. 

As percepções são instantaneamente nomeadas e rotuladas pela mente, dando origem ao pensamento e ideias que criam uma determinada versão da realidade. Nosso senso de "realidade" é especialmente acentuado quando estamos envolvidos por uma forte emoção, como por exemplo, a raiva. Aí, afirmamos, negamos, rejeitamos, tudo com a base no que "sabemos" ser o correto. No entanto, daí a instantes, podemos estar nos sentindo ternos e carinhosos. Então, pode ser que a nossa realidade seja diferente; os motivos da nossa raiva talvez não sejam mais contundentes; mais tarde, podemos até negar a nossa raiva passada. Será que uma "realidade" era menos real do que a outra? Que tipo de fio une estas duas "realidades"? Nós poderíamos, provavelmente, estabelecer uma ligação que soasse muito plausível. Será que estas ligações são válidas, ou será que são suposições? Será que são verdadeiras em si mesmas, ou será que são aquilo que gostaríamos de acreditar que fosse verdade? Como é que podemos saber?

A "construção" da nossa realidade pode ser vista mais claramente em circunstâncias em que sentimos necessidade de nos "acobertar". Raramente precisamos mentir — geralmente existem muitas "meias verdades" que servem para nos proteger. Em um certo sentido, nenhuma das nossas respostas precisa estar errada, embora todas possam ser enganosas. Facilmente perdemos de vista as formas sutis pelas quais escondemos a verdade pura de nós mesmos e dos outros. Uma vez que tenhamos explicado nosso comportamento e a outra pessoa tenha aceito nossas razões, nossa mente pode tomá-las como sendo toda a verdade. As palavras conferem solidez às nossas razões; depois que as palavras são pronunciadas, podemos facilmente nos convencer de que são verdadeiras. Não temos proteção alguma contra tais enganos, que nascem da qualidade oscilante de nossa própria mente. É possível que a nossa "realidade" seja mais "flexível" e instável dos que nos damos conta.

Esta qualidade oscilante parece permear todas as nossas experiências. Por exemplo, valorizamos nosso direito de "mudar de ideia", mas será que esta "mudança" toma por base conhecimentos novos que investigamos a fundo? Ou será que ela reflete apenas uma alteração de interesse ou de motivação? Até que ponto é estável a nossa ligação com as coisas que possuem valor e valem a pena buscar? Como é que podemos confiar em nossas ideias, quando elas podem "mudar", ser mudadas ou influenciadas tão facilmente?

Não dispondo de um maior conhecimento sobre o funcionamento da mente, alimentamos nossa consciência com uma dieta mista de coisas verdadeiras e falsas, reais e artificiais, a começar dos pensamentos que surgem em nossa mente. Quando acreditamos na realidade dos pensamentos e imagens criados pelo impulso arrebatador da cognição, fundimos nossa consciência a ilusões, e plantamos as sementes do auto-engano. A cada vez que surgem percepções mais pensamentos são criados, repetindo-se o processo de fusão da nossa consciência a ilusões. 

Nossa consciência fica sintonizada neste processo contínuo; as sementes anteriormente plantadas deitam raízes e se desenvolvem. A qualidade de pureza original da percepção diminui; uma qualidade de inquietação permeia todas as nossas experiências, condicionando nossa visão de nós mesmos e do nosso meio. Ao buscar contato com o real, encontramos o superficial, o provisório e o artificial.

Dado que a nossa consciência tem uma fixação tão forte no polo objetivo das nossas experiências, fica muito difícil olharmos para dentro e nos estudarmos de perto. Apesar de todos os nossos conhecimentos a respeito do mundo observável, e da nossa engenhosidade em manipular o nosso meio ambiente, pouco sabemos sobre a nossa própria natureza.

Tarthang Tulku em, Conhecimento da Liberdade        
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill