Pergunta: Relativamente à condição do que é novo e do que é velho,
existem duas espécies diferentes de conciliação? Uma tenta evitar o decidir,
evitar a saída real, e tenta dar cumprimento ao velho e ao novo, parte de uma
parte de outro. A outra espécie, porém, de conciliação, acha-se desejosa de
tomar decisão, porém quer compreender o liame que existe entre o que é velho e
o que é novo. O que nos disseram no velho método, foi, ou pelo menos parece ter
sido, consistente em si mesmo. O que sois e o que dizeis, não é somente
consistente em si mesmo, porém é, para mim, a mais elevada forma de viver a
verdade que eu conheço. Porém, em alguns pontos, não compreendo integralmente,
quer o exato significado de vossas palavras, quer o que de praticamente implícito
elas contêm. Posso dizer honestamente que me esforço ardorosamente durante
todas estas semanas, para compreender-vos. Em meu ser mais interno, sinto que
já fiz minha escolha de seguir o caminho direto. Sinto, agora, depois de vos
ter escutado por estes dez dias, que não
se trata mais de escolha e que não mais poderei voltar ao passado. E no
entanto existe ainda alguma incerteza em minha consciência. Estarei
compreendendo-vos corretamente ao dizer: que existe a verdade relativa no velho
método (estágios de discipulado, governo interno do mundo, etc.), porém que
ambos os caminhos não podem ser trilhados pela mesma pessoa, que o velho
caminho não é destituído de verdade, porém que o indivíduo tem que tomar a
resolução de por qual dos caminhos quer seguir?
Krishnamurti:
Perfeitamente. Tendes que resolver sobre aquilo que ides fazer. Por favor, isto
mão é um ultimato. É assunto deixado
à escolha do indivíduo, porque, no fim de tudo, eu não posso forçar ninguém e
ninguém me pode forçar a mim.
Eu trilhei todos esses velhos
caminhos do disciplinado, do culto, e verifico serem eles muito longos,
demasiado complicados, desnecessários — porque, seja qual for o caminho que
sigais, seja qual for o deus que cultueis, seja qual for o santuário que
edifiqueis, sereis, por fim, forçados a voltar sobre vós mesmos para solver
esse eu. Fosse qual fosse o caminho que eu seguisse, havia sempre essa luta
interna, esse descontentamento, essa infelicidade, essa solidão, esse temor,
buscando os outros para encontrar animação — havia sempre algo revolvendo-se
dentro de mim semelhante a um vulcão em ebulição. Assim, pois, digo que não tem
importância aquilo em que acrediteis, aquilo que cultuais, pois seja como for,
sereis sempre forçados a voltar a vós próprios. Porque haveis de precisar
ser crentes, porque haveis de precisar de cultos, porque precisais de deuses,
teorias, filosofias, dogmas e temores? Eles serão inúteis enquanto o “Eu” não
estiver contente, enquanto não for levado ao entendimento, não estiver
tranquilo, não estiver liberto da corruptibilidade. Como diz o inquiridor, o
caminho a seguir, é assunto de escolha individual. Podeis preferir o caminho do
conforto, o do discipulado — eu coloco este no conforto — porém, a seu tempo
sereis forçados a defrontar-vos a vós
próprios, não
podereis evita-lo. Tendes que possuir dentro de vós, essa harmonia,
liberta de todos os deuses, Mestres, discipulado, temores, tradições,
nascimentos e mortes, existência — tudo. Pelo fato de haver eu conseguido todas
essas coisas e havê-las achado inúteis
digo que é melhor estabelecer harmonia dentro de vós antes do que buscar
auxílio do exterior. A escolha pertence-vos, porque ninguém se interessa para
que escolhais uma coisa ou outra — eu certamente que não. Tendes que decidir.
Nenhuma Sociedade vos virá forçar a tomar a decisão. Esta é a razão pela qual
não podereis fazer um dogma ou uma filosofia disto que vos digo. Trata-se de
uma escolha individual. E, como sois livres, escolhereis ou a limitação ou a
liberdade, ou o conforto, ou essa ousadia que proporciona a reta compreensão.
Krishnamurti, no Castelo de Eerde, 19 de julho de 1929