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domingo, 4 de setembro de 2016

Um breve passo a passo do Paradigma Holotrópico

Este caminho do auto-adestramento está dividido em dois estágios e contém diferentes práticas. O primeiro estágio é intelectual e consiste de observações que propiciam compreensão; o segundo é místico e provoca a compreensão. No primeiro estágio formamos uma corrente mental de auto-indagação, tentando descobrir aquilo que realmente somos e localizar o ser vivo que pensa e sente dentro do corpo; ao passo que no segundo a mente racional é desligada, o assim chamado consciente é posto em recesso e o erroneamente chamado subconsciente pode assim aparecer.

Os componentes da personalidade são sujeitos a uma rígida análise durante o período da meditação. O corpo e suas partes, órgãos e sentidos, são cuidadosamente examinados em pensamento, visando-se apurar se o eu reside ou não nele, e, através de numerosas análises, verifica-se que tal não acontece. Elimina-se então o corpo da análise e as emoções são submetidas a um exame semelhante. Aqui, uma vez mais, a temporalidade das emoções e as implicações da frase instintiva, “Eu sinto”, indicam que o eu é alguma coisa à parte. As faculdades da mente: imaginação, raciocínio e percepção são semelhantemente observadas e analisadas; descobre-se que o eu não é inerente em nenhuma dessas funções. O próprio intelecto é cortado em pedaços, verificando-se que não passa de um conglomerado de pensamentos. Observamos os pensamentos no processo e depois tentamos transfixá-los na mística quietude da qual provêm. Afinal o eu consciente é referido a um único pensamento. Do grande silêncio e vazio anteriores à mente, o pensamento do eu é o primeiro surgindo do eu pessoal interior à consciência. Dele proveio a multidão de outros pensamentos que criaram o conceito de um ser pessoal dotado de existência própria. Toda a personalidade desenvolveu-se em torno dessa única raiz-pensamento. Erradicando-se esse pensamento primordial não restará senão a Vida Impessoal.

Se persistirmos e nos dedicarmos a frequentes meditações sobre o tema, o esforço propiciará o mais elevado emprego criativo da lógica e, em última instância, iremos referir esse pensamento à sua origem, o eu à sua toca e a consciência ao seu estado primordial indivisível.

No final desta análise metal e mente deverá, portanto, ser silenciada tanto quanto possível e um estado emocional de quase-oração deverá sobrepor-se. Aquela quietude da qual o eu surgiu deve ser o objeto dessa devoção. O próprio eu é imobilizado e tornado inerte. Toda a nossa atenção deverá ser focalizada na misteriosa vacuidade anterior a ele. É a esta altura que a eletrizante orientação de um verdadeiro Iniciado — se tivermos a boa sorte de encontra-lo — torna-se de poderosa ajuda.
Mas antes de conseguirmos essa quietude, precisamos dominar a tendência dos pensamentos a divagar-se e dissipar-se, e chegar àquela concentração de atenção que é tão essencial; em consequência alguns acessórios da prática mental se fazem necessários e breve serão apresentados. Primeiro existe um exercício respiratório a ser feito; ele acalma a mente. A seguir há um exercício de vista, que fixa a atenção e induz a um estado concentrado. A cessação da atenção no campo externo coloca a atenção no campo interno. Atingido esse estado, que acontecerá então? Se o esforço tiver sido corretamente executado, cria-se uma espécie de vácuo provisório na consciência, mas a Natureza, tendo horror ao vácuo, rapidamente reajusta as coisas. A investigação mental cessando então, fica assegurada uma revelação interior. Os pensamentos banidos são substituídos pela Universal Mente Superior; esta, por sua vez dá mais tarde lugar ao divino Eu Superior, que entra no campo de nossa consciência. Esta investigação traz consigo “a paz que ultrapassa a compreensão” na expressão de São Paulo. (Melhor tradução seria: “A paz que ultrapassa o intelecto”).
Uma vez consumado o salto, o verdadeiro eu revela-se à mente estupefata.  Somos então compelidos a uma quietude mental absoluta, porque compreendemos estar diante de uma presença divina. Trata-se de uma experiência que não pode ser suplantada. Ela romperá todas as ilusões tolas e desfará todos os sonhos errôneos. A confusão e a contradição desaparecerão com o escuro. A iluminação inundará de um brilho radiante os recantos escuros da mente. Nós sabemos, e, sabendo, aceitaremos. Pois descobriremos que o coração do nosso ser é também o coração do Universo. E isso é bom.
Depois, a tarefa que se resumia num retiro temporário transforma-se na criação de um hábito de auto-recolhimento ao qual se deve recorrer sempre que necessário durante o dia e onde quer que estejamos, até que surja uma disposição fixa e prevalecente quando o coração estiver para sempre imerso no Único, mesmo estando a cabeça e as mãos ocupadas com outras coisas.
Devemos ter presente que uma frieza e insensibilidade não bastará durante a análise; este caminho exige que coloquemos nele o coração, tanto quanto a cabeça.
A esta altura também é importante compreender que a duplicação intelectual dos pensamentos dada nessa análise meditativa é por si só insuficiente; se a análise fria e crítica pudesse por si só alcançar o sutil reino do espírito, muitos pensadores deste mundo não se teriam transformado em materialistas; não, algo mais é requerido. Esse algo mais é a inspiração íntima no sentido da verdade, um desejo sincero e genuíno de guindar-se à região espiritual. Devemos colocar de lado todos os demais desejos durante o período da auto-investigação. Essa inspiração atua como uma força propulsora e, sem ela, um detalhamento seco e intelectualizado do ego poderá levar a resultados estritamente negativos. O que se deseja então é induzir estados em que o pensamento seja incendiado pelo sentimento; e criar emoções quando a mente é inflamada pelas centelhas da inspiração espiritual. Se seguirmos cuidadosamente as instruções, tal resultado será conseguido. Desta forma um desenvolvimento equilibrado nos preparará para progredirmos no caminho e, embora o treinamento fundamental seja de caráter intelectual, a exaltação essencial das emoções caminhará passo a passo com ele. Assim, no devido tempo, surgirá uma atmosfera adequada à sublime manifestação interior do divino e a que se aspira.
Depois de havermos treinado um espaço de tempo suficiente, o segundo estágio começará a desdobrar-se gradualmente e nele a leitura atenta destas páginas tornar-se-á desnecessária e as ideias e frases básicas precisarão ser apenas reavivadas mentalmente pela memória e meditadas. A questão da duração da meditação deve ser resolvida por nós mesmos. A meditação é necessária enquanto sentirmos que está sendo exigida; é necessária até que se obtenha a mais ampla convicção intelectual das verdades ensinadas nestas páginas. É necessária até que a achemos tão fácil, espontânea e agradável que ansiamos por aquela meia hora diária e nos apressemos a fazer o nosso exercício diário; necessária até que possamos abandonar todos os tipos de pensamento digressivo e sentir uma crescente luminosidade no cérebro, de maneira que todas as ideias verdadeiras apareçam como imagens de espantosa clareza ou como certezas inspiradas a essa luz deslumbrante. Os exercícios devem ser continuados até que possamos superar o clamor constante das impressões externas, das sensações físicas e dos pensamentos inquietos em favor de uma vigilância interior que, embora intensa, dispensa na aparência qualquer esforço. O estado induzido deve ser reiteradamente reproduzido até tornar-se habitual; só então poderá ser deixado de lado.
Não pode haver pressa nem paciência. A menos que o estudante caminhe nesse mundo mental com calma e confiança e tranquila determinação, ele não atingirá seus propósitos. Pensamentos meramente superficiais, a passagem apressada de dados insuficientes a conclusões vagas e generalizadas, a pressa em terminar a meditação — todos esses fatores entravam o progresso da vida interior; tal pressa não é realmente velocidade e na verdade atrasa o estudante e o impede de penetrar no profundo mundo da alma a que ele aspira.
Devemos nos sentar para a nossa prática de meia hora com compreensão de que um determinado espaço de tempo é necessário para a perscrutação preliminar da mente, antes que as camadas mais profundas sejam atingidas; outro fator é preciso para a entrada na Mente Superior; daí precisarmos estar prontos para esperar com resignação pelos resultados enquanto lutamos por eles.
A questão da atitude íntima tem alguma importância nesta busca, como também é importante a atitude do corpo. É preciso que nos entreguemos ao exercício dessa meditação com um estado de espírito esperançoso, confiante e otimista, e jamais vacilemos; contudo não devemos jamais perder de vista a importância capital da humildade. A humildade é o primeiro passo em todos os caminhos que conduzem ao Infinito, por mais distantes que sejam, e é também o último. Mas devemos começar acreditando que a Verdade pode ser atingida, que a mente pode ser dominada, que o próprio antagonismo de um ambiente hostil fornece oportunidades para superar tal ambiente, e que esse esforço constante no sentido de encontrar a luz-Alma terminará por evocar a sua Graça.
Não devemos hesitar em manter essa atitude íntima porque o simples fato de havermos adotado uma tal prática significa que o Eu Superior está começando a nos tocar, a nos despertar. E o interesse do Eu Superior é em si mesmo um arauto da vinda da sua Graça.
Devemos agora lutar por captar a essência deste método especial. Não é apenas a ruminação diária das verdades metafísicas, pois se trata em parte de um processo de refinar a mente e dar-lhe uma tendência à abstração. Nem é tampouco o cultivo intermitente de determinados estados que exaltam a alma, porque, isto também não passa da aquisição daquela enaltecedora força da aspiração que nos faz progredir na busca interior. Não; trata-se também da criação que uma atitude de indagação correta. Esse deslocamento da vida mental para o campo da auto-interrogação é uma diferença vital que distingue o método presente de todos os demais. Ao invés de fazer do esforço pessoal o único fator do nosso progresso, ele consegue a colaboração de uma parte mais elevada do nosso ser num estágio mais adiantado do caminho. Pois, a questão permanente do eu, a busca do eu, quando praticadas como aqui se recomenda, fornece bases adequadas para tal colaboração, porque depois de propiciar a preparação devida, convida o Eu Superior a participar mais ativamente do jogo, e fazer algo que nos empurre para diante! Dificilmente se poderá exagerar a importância deste princípio da auto-interrogação. Ao invés de fazer afirmações positivas porém vãs como: “Eu tenho uma alma” ou “Eu sou uma alma” o que se faz é perguntar: “Tenho eu uma alma?” ou “Sou eu uma alma?” E a resposta fica a cargo do componente anímico do nosso ser. Enquanto o primeiro método resume-se em dogmatizar intelectualmente, o último torna humilde o intelecto, silencia o seu balbuciar incessante e aguarda que a resposta seja dada pela única parte do nosso ser competente para dá-la. Significa isto que já não valorizamos em excesso o intelecto, mas mantemo-lo em seu devido lugar. Uma busca espiritual só pode ter êxito quando recebe satisfação na região espiritual de nosso ser, e não apenas na intelectual. Os pensamentos nos trarão para a estrada do eu espiritual, mas eles próprios não contêm esse eu. Se alegássemos que continha, então as acusações dos críticos de que poderíamos nos tornar vítimas de visões autosugestivas seriam corretas. E, na verdade, se a alma não existisse, se a divindade não passasse de uma ilusão e o corpo fosse todo o ser e todo o fim do homem, jamais poderíamos obter uma resposta espiritual genuína para as nossas perguntas e teríamos de nos contentar com meras teorizações. Por isso, esse método ocupa o seu lugar na realidade do eu divino da humanidade. Porque o Eu Superior é de fato uma realidade, esse método pode ser entregue ao mundo com confiança, na certeza de que aqueles que o seguirem com sinceridade e paciência obterão um dia resultados demonstráveis, vale dizer, resultados em suas próprias experiências. Se o Eu Superior não existisse, ou mesmo dando de barato a sua existência, se fosse totalmente indiferente às aspirações dos homens e aos seus anseios de um consolo que apenas a vida material não pode proporcionar, então este método não teria valor nem produziria resultados. Mas, pelo contrário, o Eu Superior é o fator fundamental mais revelador da nossa existência e está sempre pronto a revelar-se, a dar o supremo consolo da vida àqueles que preenchem as condições já mencionadas. Por isso esta investigação não passa desapercebida, mas no devido tempo o investigador que se mantém fiel à sua busca toma consciência do seu eu divino.
Este princípio envolve, por isto, uma completa inversão da mente, que passa de uma atitude de afirmação positiva para uma atitude de humilde indagação. A verdade não faz questão de revelar-se aos intelectualmente arrogantes, mas se entrega àqueles que se prostram humildemente de joelhos; e a prática deste método leva invariavelmente o homem à humildade do espírito. Não foi à toa que Jesus se pronunciou dizendo que o Reino dos Céus só está aberto aos que se comportam como criancinhas. O dito constitui uma referência simbólica à condição de humildade intelectual de que tanto carece a nossa época. Embora tenhamos primeiro que penetrar com cérebro aguçado a casca do ego, precisamos contudo não hesitar em abandonar esse instrumento ao atingirmos um ponto em nossos exercícios no qual percebemos que aquela condição foi atingida. Essa disposição para “pedir” a verdade em cada estágio, com espírito de uma criancinha, depois de empregadas todas as forças intelectuais, não é um sinal de fraqueza. Se a nossa orgulhosa época pudesse compreendê-lo, isto seria um indício de fortaleza espiritual. Reconhecer livremente as limitações do intelecto quando houvermos chegado ao limite extremo daquela faculdade é facilitar a vinda de alguma coisa mais elevada. Este é o verdadeiro desiderato da ioga: submeter o pensamento e a seguir descartar-se dele.
Paul Brunton em, A Busca do Eu Superior
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill