Se fosseis pedir a um hindu, a um
budista, a um maometano ou a um hebreu que vos descrevesse Deus, cada um deles
se esforçaria para externar uma expressão de sua concepção particular. Isto é,
cada qual se empenharia em dar forma a Deus de acordo com sua fantasia
particular, sua preferência ou preconceito particular.
Ora, Deus, a vida ou a verdade,
não pode ser concebida nem descrita. Se jamais houvésseis contemplado o oceano
e alguém viesse lhe descrever, apenas poderíeis imaginá-lo; porém vossa ideia
não vos proporcionaria a realidade. Do mesmo modo, sendo limitados, finitos e
condicionados, buscais imaginar o imensurável, o indescritível. Como um
prisioneiro que anseia pela liberdade começa a imaginar o êxtase, a adoração da
libertação, porém não derruba as paredes que o mantêm prisioneiro, assim o
homem brinca com a concepção de Deus, da realidade, através as grades da sua
limitação.
Eu digo que existe a
imortalidade, que existe a eternidade, porque a realizei; ela, porém, não pode
ser atingida por uma mente em limitação. Portanto, não vos preocupeis com isto,
porém antes com o presente no qual estais vivendo, com o conflito, a crueldade,
o sofrimento dos incidentes diários. Quando começardes a libertar a mente e o
coração desta limitação, desta ilusão, desta tristonha prisão de múltiplos
séculos, conhecereis por vós próprios essa eternidade que é Vida, Deus,
Verdade. Portanto, vivei com intensidade no presente, pois que somente no
presente está a eternidade. A imortalidade não está num futuro distante e a
preocupação de vosso destino individual nada mais é que esforço vão. No
presente, somente, está a plenitude do entendimento, a qual é suprema
inteligência.
Krishnamurti em, Palestras pela rádio, Canadá, 1932