A concentração consiste em deter
a habitual mobilidade do intelecto e conservá-lo firmemente dirigido para uma
única linha de deslocamento, entrando profundamente num pensamento especial.
Para conseguir isto é necessário ignorar as impressões e sensações físicas que
o ambiente atira sobre nós, abafar o ruído da vida mundana, silenciando-o; e
manter à distância o enxame de pensamentos intrusos e externos, praticando o
controle consciente da mente durante a meia hora de meditação. Em suma, enquanto
pensamos integralmente no assunto escolhido, é preciso que haja uma resistência
voluntária aos impactos da percepção, que vêm de fora, e as rebeliões dos
pensamentos aleatórios, que vêm de dentro. Não nos é possível destruí-los ou apaga-los
prontamente, mas podemos fixar um alvo inarredável, um ideal de permanecer
indiferentes a eles como a rocha contra a qual as ondas do mar batem em vão,
impotentes para desloca-la da sua base. Durante a primeira metade do exercício
sentimos uma necessidade quase incontrolável de abandoná-lo, de nos erguermos e
tratarmos de outra coisa. A mente se queixará amargamente de ser desviada da
sua trilha habitual, da tirania de ser contrariada pela interiorização, quando
de bom grado aceita a tirania muito maior de ser o dia todo levada para o
exterior. A inquietude da mente é a descoberta genérica de todos quantos adotam
a meditação. Tal descoberta é confirmada por cada esforço e conduz à princípio
a um certo desencanto. Os primeiros e desajeitados esforços deixam uma sensação
de fracasso e fadiga. Compreendemos então que apenas uma pequena fração dos
nossos pensamentos é realmente nossa, o resto não passando de uma turba
indisciplinada e rebelde. Se cedermos a esses sentimentos negativos estaremos
caminhando para o fracasso. Se, contudo, aceitarmos o fato de que a tarefa
empreendida é séria e difícil — conquanto exequível e digna de ser cumprida —,
atacando com coragem e sem desfalecimentos os exercícios, um dia haverá uma
recompensa, quando no tumulto da mente surgir uma parada maravilhosa e a
tendência exteriorizante for inteiramente dominada.
Até aqui temos obedecido
irresistivelmente à constante mobilidade da mente e cedido a ela; no instante
em que começamos a silenciar a agitação habitual da mente, aparece, claro está,
uma séria resistência. E isso seria de esperar. Devemos aceitar, por
conseguinte, o fato da inevitabilidade dessa resistência e, ao invés de
abandonar os exercícios, por faltos de inspiração e estéreis, devemos
perseverar com paciência e confiança de que o intelecto se torne um pouco mais
firme a cada mês que passe.
Porque a mente foi aprisionada
pelo corpo e sujeita ao seu serviço, o objetivo da meditação é inverter as
posições e libertá-la de um jugo despótico, de modo que ela possa reunir-se com
o seu legítimo senhor, o Eu Superior. Quando a mente foge ao nosso domínio e
faz com que as sensações externas ou lapsos se imponham à nossa atenção,
devemos fazer o mais difícil: impedi-la de divagar; tentar torna-la
introspectiva e, pacientemente, fazer sua atenção reverter ao foco apropriado,
por mais cansativo e repetitivo que possa ser. Paciência e indiferença aos fracassos reiterados são essenciais na
obtenção do sucesso final.
A concentração do pensamento é
como cavalgar uma mula teimosa que não se cansa de enveredar para onde bem
entende; sempre que o montador percebe que a sua montada está desgarrando, é
obrigado a fazê-la endireitar a cabeça e retomar o caminho certo. O nosso Eu
Superior interno está sempre ao nosso alcance, mas os nossos pensamentos
itinerantes devem transformar-se no seu combustível; há tanto tempo agimos como
filhos pródigos que a jornada da volta demandará um apreciável espaço de tempo.
Por essa razão requer-se paciência nesses esforços. A ninguém é dado tornar-se
um bom músico em apenas três meses, contudo a maioria dentre nós espera
conseguir o melhor da vida depois de uns poucos esforços, tornando-se
pessimista quando não há uma resposta imediata.
É preciso acrescentar uma
observação final a fim de eliminar uma confusão que frequentemente ocorre à
mente dos que adotam a ioga — o caminho da concentração. A conservação de uma
linha de pensamentos consecutivos e ordenados, ou meditação, é o único processo
preliminar e intermediário desse caminho. Trata-se de um estado de transição. A
concentração ou contemplação adiantada consiste em fixar a atenção num único
pensamento, objeto ou pessoa, deixando que ela ali se demore e evitando outros
pensamentos sobre o mesmo tempo. Em consequência, um pensamento consecutivo
efetivo é o esforço inicial que leva à concentração, mas não é a concentração
final propriamente dita, porque envolve a passagem de uma sucessão de
pensamentos. A concentração envolve apenas um objeto, ou apenas um pensamento.
Precisamos aprender a encarar o intelecto como uma máquina de pensar que deve
ser temporariamente posta de lado quando houver servido aos seus propósitos, ao
invés de ser continuamente manipulada. A ação mental disciplinada tem de ser
seguida por um repouso mental controlado — repouso que, abrindo o momento
presente, faz-nos entrar na eternidade e liberta o pensador do sempre febricitante
casulo de pensamentos.
Paul Brunton em A Busca do Eu Superior