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quarta-feira, 17 de agosto de 2016

O desejo faz de vós, caçadores de infinitas ilusões

Pergunta: Este sentimento, esta concentração da Vida, a qual vos referis, é uma coisa cósmica?

Krishnamurti: Sinto-me feliz por haverdes feito a pergunta; vou tentar explicar-vos. Isto é o mesmo que se esforçar por compreender o que está para além daquelas montanhas antes de haver deixado o vale. Vós estais vos esforçando por imaginar o que seja isso. Dizeis que é a consciência universal, que é Deus, que é Vida, que é o cosmos, que é isto, que é aquilo. Quereis que se vos faça uma descrição do que é isso, porém, o que é passível de descrição, já não é a Verdade. Ao passo que, se começásseis por averiguar a causa desta recorrente resistência e buscásseis vos libertar dessa escravidão, então teria lugar a realização dessa concentração, que é o êxtase da Vida. Este fluxo de pensamento reside no presente, não no futuro ou nem em outro mundo qualquer. Pretendeis averiguar o que seja a Vida, se ela é consciência cósmica, se nela há justiça, igualdade, se é unidade, se é toda-integrativa, afim de adestrardes vossa mente de acordo com essa concepção, e vos poderdes tornar semelhantes a ela. Ora, isso nada mais seria que vossa própria glorificação individual, ao passo que eu vos venho falar da completa liberdade da eu-consciência.

Quando começais a pensar por vós mesmos? Quando vossos esforços se frustram; é então que, ao ficar embaraçados, vos apercebeis de vós próprios. Desse embaraço provém a divisão, que é a causa da resistência e, para vencê-la, a vós mesmos disciplinais. As ideias têm que desaparecer integralmente antes que possais chegar a discernir. Se não poderdes discernir livremente, sereis incapazes de compreender. Para a percepção, deve a mente estar despida de preconceitos; e uma das coisas mais difíceis de se levar a efeito é tornar a mente delicada, plástica, de modo que discirna instantaneamente, sendo esse discernimento, intuição.

O que é que em vós cria as ideias? O desejo. Percebeis um objeto, um escopo, uma finalidade, e então, formulais as ideias de consecução. Ouvis, por exemplo, referência à respeito do homem perfeito, e dizeis a vós mesmos: “preciso tornar-me semelhante a ele”. Esta ideia amolda vossa vida, por ela ficais escravizados e vosso desejo apenas se tornou mais sutil, não estais libertando a vossa mente das causas da limitação, que é esse mesmo desejo, mas apenas a transportais do egoísmo humano vulgar para o auto-interesse refinado, “espiritual”, que é a expansão do vosso ego. A este processo de auto-expansão denominais progresso espiritual. Gradualmente, ides abandonando o objeto de vosso desejo. Dizeis a vós mesmos: Só existe o eu. Eu próprio sou todo o universo, sou Deus”. O objeto de vossa inspiração, o vosso molde, perde para vós, seu significado, porém é ele exatamente o mesmo desejo que em vós criou a nova e gloriosa ideia de que sois o universo.

Ainda que chegueis a pensar que sois o universo, que sois seres cósmicos em vossa consciência, nem por isso deixais de ser cativos pelo vosso desejo, com todas as lutas e limitações que lhe são inerentes. Assim, sois forçados a buscar uma nova explicação, ao passo que ides retendo todas as ilusões que hão envolvido por meio de vosso desejo. Agora, dizeis a vós mesmos, “Dado existir a suprema justiça, a lei universal, o amor de Deus, aceitarei as coisas tais quais elas são”. A vós próprios colocais num estado de resignação, que nada mais é que uma forma nova de ilusão. Desta, brota uma sensação de conforto, nascida deste mesmo desejo pelo eu.

Dentro de todos estes círculos de ilusão é que passais vossos dias. Permaneceis num deles, imaginando haver atingido o ultérrimo, até que o vosso desejo vos arrasta para outro círculo. Ides criando ilusão após ilusão, oscilando de uma para a outra, sempre escravizados às sutis exigências do desejo. E, por essa maneira julgais ir evoluindo através da infinidade dos tempos. Vossa mente proporciona-vos a satisfação da diferenciação, à medida que ides vagueando por entre essas ilusões, pois que pensais estar continuamente, abandonando um estado inferior de consciência para atingir outro que é superior. Ides simplesmente, por esse modo, criando cada vez maiores distinções,  ocasionando por essa maneira, uma separação e uma resistência infindáveis. A unidade nada mais é que a uniformidade, pois que por ela vos tornais o molde em que os outros são vazados. Enquanto houver resistência, haverá eu-consciência, desejo, não importando até que ponto seja glorificada essa ilusão de expansão, sem consideração pelo âmbito que abrange o círculo dessa auto-identificação.

Para mim, existe somente uma verdade, — a libertação do desejo, da eu-consciência; aí não existe distinção de dualidade. Tudo mais não passa de ilusão, infinita em sua variedade, gloria e distinção. O santo, o pecador, o escravo, o conquistador, o homem virtuoso que atingiu a consecução espiritual — todos se assemelham em sua ilusão se estiverem enraizados no desejo. Um tempo vasto e um vasto espaço podem separar um do outro, porém o santo que evoluiu longe do pecador, somente progrediu da ilusão do inferior para a ilusão do superior.

Se considerardes que todas as ideias, todos os cativeiros são criados pelo desejo, pela eu-consciência, e se puderdes libertar a vossa mente do desejo, então não mais necessitais de passar por todas essas ilusões de ideias. Para vos libertar do desejo, tendes que estar vigilantes, incessantemente alertas, jamais ociosos. É isso o verdadeiro esforço. Não há coisa que se pareça com finalidade. O que é final, o que pode ser alcançado, já está morto; portanto, na consecução, a vossa mente cava o seu próprio túmulo. Quando não mais subordinardes vosso pensamento a imagens, a ideias, porém de contínuo vos esforçardes por libertar a mente de toda a escravidão, dar-se-á o renovação da Vida, o que é perdurável.  


Krishnamurti, Acampamento de Ojai, 4 de junho de 1932
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill