Agora, o que eu tenho para vos dizer,
refere-se a todos os impedimentos que inibem de reconhecer instantaneamente a
verdade. Eu digo que existe um êxtase da vida, uma eternidade, uma imortalidade
que reside na completude de vosso viver diário e não em qualquer futuro
distante, o que nada mais é que passageira fantasia. Digo que esta perdurável
realidade somente pode ser compreendida na plenitude do presente. Não pode,
porém, ser fantasiada ou imaginada e aquilo que for passível de explicação, não
pode ser verdade. Aquilo pelo qual lutais, aquilo que conquistais, não é a
realidade. Este êxtase da Verdade vem espontaneamente,
naturalmente, suavemente, sem o mínimo esforço, sem autodisciplina, sem autoanálise,
sem introspecção. Tem que vir sem atarefamento, com facilidade, com
tranquilidade. Digo que este vivo êxtase da verdade existe sempre e que eu o
realizei. Não digo isto por vaidade, porém sim para mostrar-vos que esta
realização está no presente, não se acha reservada para um futuro distante. Só
pode ser compreendida quando a mente estiver livre desse passado que cria o
futuro, e a libertação do passado advém quando existe a realização do pleno
significado, da completude do presente.
Para compreender esta completude
do presente, não pode a mente achar-se apegada a uma ideia única. Somente na libertação do apego existe a verdadeira
inteligência. Quando a mente estiver apegada a uma ideia, a uma crença,
ou uma passada experiência, revela falta de inteligência. Por favor, examinai
vossa própria mente, porém não apliqueis o que eu digo a outrem, seja vosso
próximo ou vosso guia. O apego é irreflexão, incompletude no presente; no meu
entender, essa irreflexão no presente é falta de retidão.
Krishnamurti, palestra em Adyar, Índia, 28 de dezembro de 1932