O intelecto deveria atuar como
ponte entre a intuição que é o alvo do pensamento e sentimento, e o mundo da
ação. Tão logo como o intelecto constrói uma ponte, a função dele cessa. As
palavras deveriam também servir de ponte para o entendimento. Estou me utilizando
de termos vulgares com intenção muito definida, dando-lhes um novo significado.
Pergunta: Haveis dito que cada qual deveria restringir-se a si mesmo
até chegar a um mínimo nos bens possuídos. Isto parece estar em conflito com
tudo quanto eu tenho compreendido de vosso ensinamento. Colocar as posses sobre
uma base quantitativa, desta maneira, só pode conduzir à pobreza complexa ou a
interpretar a virtude espiritual em termos quantitativos. A história do
Sannyasi que se apegava ao seu pano de cingir rins, isto é, ao seu mínimo, mais
do que o rei ao seu palácio, isto é, o máximo, seguramente prova que a
quantidade nada tem a ver com o assunto.
Krishnamurti: Não se
trata de quantidade ou se há um máximo ou um mínimo. Em primeiro lugar deve
haver desprendimento e então, o
terdes posses ou não é de pouca importância. Mas se tendes um mínimo ou um máximo
não importa. A questão é a de se estais ou não apegados. No explicar seja o que
for, sempre me esforço para contradizer o que afirmei. A história do rei e do
Sannyasi mostra que não se trata aí de mínimo ou de máximo, porém sim, do
reconhecimento de que a vossa felicidade, a vossa clareza de pensamento e
sentimento, não depende das posses. Em uma palavra, deveis estar desapegados. Uma vez que tenhais compreendido o justo valor, o verdadeiro mérito das
coisas, ficareis automaticamente desapegados de todas elas. Portanto, tendes de
averiguar, se já estais desprendidos ou
se ainda dependeis das posses materiais. Podeis possuir uma multidão de
bens e estar inteiramente desapegados deles ou só terdes dois cinge-rins e a
eles estar aferrados. Se estiverdes apegados às coisas, tendes que aprender a
delas vos desaprenderes.
Krishnamurti em Reunião de Verão, 22 de julho de 1930