Pergunta: Tem-se dito que as pessoas que abandonam a Sociedade
Teosófica e a Seção Esotérica, quebraram com isto o laço formado com os Mestres;
laço criado em muitas vidas e que somente após o decorrer de muitas vidas
poderão reatar. Como muitas pessoas se deixam perturbar com esta sugestão,
podeis dizer-nos se é também essa a vossa opinião? Têm as ameaças que implicam medo qualquer lugar no
desenvolvimento espiritual?
Krishnamurti: Voltamos a
uma das velhas perguntas: “Foi dito, etc.” Certamente que não é essa a minha
opinião, que o medo possa ter qualquer aplicação em um desenvolvimento seja
qual for — espiritual ou material. Se introduzirdes aqui este espírito do medo,
voltamos à Idade Média. Como podereis depender de quem quer que seja para vossa
realização? Por que dais ouvidos às autoridades? A autoridade é uma árvore que
pode ser abatida por qualquer transeunte, ao passo que o conhecimento, colhido
através da experiência, é duradouro, eterno, neste não existe temor da ameaça
seja de quem for. Querereis dizer que por meio das instituições chegareis a
encontrar a verdade, que por meio das organizações descobrireis aquilo que é
duradouro, eterno? Querereis dizer que a verdade somente realizável por meio
dessas instituições? Se esta for a vossa ideia , então a tristeza vos espera.
Isto não é uma ameaça. É continuamente assimilando experiência, rejeitando o
que não for essencial, que haveis de crescer e, que chegareis a realizar a
totalidade. Não é apegando-vos a uma instituição ou a outra que chegareis a
alcançar a vitória. Novamente voltais à ideia de que a verdade se alcança por
um determinado caminho. Para mim, a verdade não tem caminhos; a verdade é tudo
e para a verdade não pode existir um caminho especial. Nem tão pouco a chave da
verdade se encontra nas mãos de uns tantos. Ela está dentro de vosso próprio coração e de vossa mente e não nas
mãos de outrem — seja ele grande ou pequeno. A verdade está em tudo, pois
que todas as coisas existem na verdade. E vossa grandeza consiste no vos libertardes
a vós mesmos. Esta é a grandeza do homem — a de que ninguém o salve, exceto ele
próprio; e de que nenhum temor ou ameaça o afaste de sua auto-consumação.
Krishnamurti em Acampamento da estrela de Ommen, 31 de julho de 1930