Pergunta: Deve ficar entendido que com a realização da vida no eterno,
cessa toda ulterior evolução? Se não houver cessação, indicai, por favor, sob
que linhas essa evolução interior tem lugar.
Krishnamurti: Não vos
incomodeis acerca de tal. Mais uma vez vos interessais pela morte mais do que
pela vida. Como de costume quereis saber o que está para além, antes de
haverdes compreendido o que aqui se encontra. Isto é fantasia proveniente do
deleite de si próprio e nada mais. Importa o que aqui sois, o como viveis, como
reagis, o que pensais, o que criais e não o que está para além. Não vos
esforceis para serdes super-humanos, mas sim, para serdes consumadamente
humanos. Se não sabeis como viver com os vossos amigos, com os vossos
companheiros, em perfeito equilíbrio,
que importa o como haveis de viver lá fora? Uma vez mais isto é questão de
conveniência, maneira de vos consolardes, de buscar qualquer outra coisa. Esta
questão é sem valor do meu ponto de vista. Se souberdes como viver, como estar
em perfeito equilíbrio, em harmonia convosco próprios aqui, então sabereis tudo
mais.
Conhecer, sondar, enriquecer o eu
até a sua plena capacidade, é onisciência, a qual é vida, e quando conhecerdes
a suave, veloz, incessante corrente da vida, nada mais precisais saber, por ser
ela todo o universo, manifesto e imanifesto. Sei que abanareis a cabeça e
direis “Isto nos faz lembrar os Vedas”; mais tarde ireis fazer-nos citações em
sânscrito. Isto é destituído de valor. De que servem as experiências de outras
pessoas, os escritos de outrem, os profetas e instrutores, se não estiverdes
vivendo, se tais coisas não fizerem parte de vós? O perigo inerente às pessoas
altamente intelectuais é o de elas tratarem sempre de teorias em lugar de
continuamente contenderem com a vida. É esta uma das vossas dificuldades.
Encontrais deleite em vos sentardes embaixo de uma árvore e discutir questões
referentes ao ser, sobre o que disseram os grandes instrutores e o que tem
aparecido em livros. É essa uma atitude anti-salutar e não uma maneira
equilibrada, harmoniosa de viver.
Condescendei com teorias tanto
quanto vos aprouver, porém necessitais de viver. De nada vos serve falar acerca
de alimento quando estiverdes famintos. Por isso é que um ato de entendimento,
pouco importando quão pequeno, quão débil ele seja, vos colocará em um pináculo
de entendimento. Experimentai isto, não porque eu vo-lo diga, porém pelo fato
de vos achardes colhidos pela tristeza. Esforçai-vos por viver um momento em
perfeita harmonia e equilíbrio e verificareis que todas as escrituras, todos os
profetas, todos os instrutores, serão de pouquíssima importância dado o fato de
estardes vivendo em harmonia com a vida; e só uma tal vida pode conduzir-vos a
serdes um ser humano consumado.
Jiddu Krishnamurti em 1
de janeiro de 1930