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domingo, 31 de julho de 2016
Se não atingi, posso ajudar no atingimento da Verdade?
Pergunta: Os indivíduos não se acham desenvolvidos por maneira igual em
suas capacidades. Se um possuir a capacidade de verificar intelectualmente a
Verdade, porém for cativo, emocional ou fisicamente, dever-se-ia abster de
ajudar os outros a se aproximarem da libertação embora ele próprio ainda não se
houvesse liberto completamente?
Krishnamurti: Formulemos
esta pergunta por uma outra forma. Deverei eu, que não atingi ainda, ajudar a
outros no caminho do atingimento? Deverei impedir a outrem de cair e de ser
esmagado na mesma estrada enquanto que eu próprio ainda estou sobre essa
estrada? Deverei auxiliar a um homem que se encontre caminhando sobre a estrada
da vida a orientar-se para a mesma meta; e deverei estender-lhe a mão compassiva
ou deixa-lo sozinho? Perguntas tais demonstram que não tendes ideia da verdade
ou do significado do atingimento da libertação e felicidade. Imaginais que
essas coisas estão longe de vossos semelhantes, em qualquer reino distante,
junto do mar ou das montanhas. Por que razão imaginais vós que eu gasto meu
tempo pela forma em que o faço? Ser-me-ia muito mais fácil, estaria mais calmo
se fosse para a solidão, como o fez Lao Tse quando atingiu a libertação. Tenho sido
um viajor sobre a estrada da vida; e, pelo fato de haver transitado por essa
estrada da vida; e, pelo fato de haver transitado por essa estrada, sei que muitos
há que se encontram lutando e desejando ajuda-los. Sei muito bem que eles não atingiram
a meta. Se a houvessem atingidos, estariam em paz. Eu não me intrometo com
pessoa alguma, nem me esforço por convencer seja a quem for de minha mensagem,
de minha atitude, de minha autoridade; porém, dado o fato de se encontrarem os
homens encerrados em prisões de desgraça, em gaiolas de tristeza, em limitações
de dor, quiser liberta-los, ou antes, despertar neles o desejo de, por
completo, destruírem essas gaiolas por si mesmo. Isto é o que cada um de vós
necessita fazer — atingir, para depois ajudar. Não quer dizer que não devais ajudar enquanto
vos encontrais em processo de atingimento. Seria esta a maneira egoísta
de encarar a vida. Os homens têm construído muitos mosteiros no mundo, por amor
a seus vários instrutores, porém, nenhum ainda foi construído pelo amor à vida.
Jamais podereis construir mosteiros sobre a forte corrente da vida.
Pergunta: Como aprendermos a estar em amor com a vida se o não estivermos?
Como aprendermos a gostar de todas as espécies de experiências se dela não gostarmos?
Como aprendermos a não ter medo se o tivermos?
Krishnamurti: Em primeiro
lugar, por admitir essas coisas todas, por não tentar evita-las. A partir do
momento que reconheçais que tendes medo, começa ela a desaparecer. Porém,
enquanto disserdes, “eu expulsei todo o temor”, enganando-vos a vós mesmos,
estareis ainda colhidos nas garras do medo. A partir do momento que conheçais a
vós mesmos em todas as vossas fraquezas, tereis vencido. Não necessitais de
aprender a como estar em amor com a vida; a própria vida vos ensinará. Se não estiverdes
em amor com a vida, a vida vos tornará infelizes e vos obrigará a estar em amor
com ela, por meio da tristeza, pela dor, pela solidão, pelo convidar-vos a
penetrar em suas águas abertas, onde tereis que lutar. Esta é a maneira única de
estar em amor com a vida, e não o repetir meras palavras, depois de afivelar
uma máscara. Estas perguntas surgem pelo fato de vos contentardes em repetir as
minhas palavras. Fazeis de mim uma máscara que vos assenta mal.
Pergunta: Como é que se pode trazer o Reino da Felicidade à realização perfeita
no mundo dos negócios? Ou quem sabe se o Reino da Felicidade não significa,
necessariamente, felicidade nas atividades do plano mundano? Não deve ser este
ultimo antes transcendido que transformado pelos homens?
Krishnamurti: Não concordo
com essa sugestão. A felicidade, se não puder ser trazida até o físico, não vale
a pena de ser possuída. Que importância tem o serdes felizes depois que
houverdes morrido? Quando compreenderdes o que significa a felicidade real,
pode ela ser alcançada neste momento e neste lugar, nas atividades diárias do
nosso mundo físico. Dado o fato de separardes o espirito da matéria, imaginais
que o espirito habita em qualquer local desconhecido, onde também deve estar a consumação
da felicidade. Se, porém, a felicidade de que falo somente existisse no reino
puramente do espirito e não pudesse ser realizada neste mundo, não seria digna
de ser possuída. Digo que, se ela for adequadamente compreendida, pode ser
imediatamente atingida. Se imaginardes que a felicidade só pode ser atingida na
esfera onde mora o espírito, negligenciareis e evitareis o físico. Podeis ver o
resultado disto na Índia, onde, na busca do que é espiritual, se tem ignorado o
que é material. Esta felicidade da qual falo tem de transformar o mundo, e não de
se encontrar pelo transcender o mundo. Enquanto a vida for mantida em
cativeiro, as expressões dessa vida serão imperfeitas.
Pergunta: Que passos sugeriríeis eu desce afim de encontrar o caminho
para minha alma, afim de que pudesse começar a viver em mais íntimo contato com
o Espírito Eterno?
Krishnamurti: Viver. Pelo
defrontar dos acontecimentos — não pelo tentar evita-los, não pelo buscar os
falsos e evanescentes confortos. Imaginais que a eternidade está oculta em
qualquer lugar distante; ao passo que ela está dentro de vós mesmos e em tudo
que vos rodeia. É pelo conservar o eterno dentro de vosso coração que o
presente se torna como o perfume de uma rosa.
Krishnamurti, 1930
A verdadeira felicidade que nasce da libertação
Pergunta: Pode a ideia da perfeição constituir um incentivo em qualquer
estágio da evolução?
Krishnamurti: Naturalmente
quando o selvagem vê contas brilhantes, não se sente excitado e desejando-as? Esta
é uma das maneiras de aproximar-se da perfeição. Em primeiro lugar vem o desejo
de possuir, tal como no selvagem; mais tarde o desejo de colocar de lado todas
essas coisas, como se dá com o homem culto. Entre estes dois extremos existem
todos os graus de evolução, com seus desejos variantes, todos eles
encaminhando-se para a perfeição.
Pergunta: Por que é que vós, que
haveis sido especialmente preparados para vossa grande missão, durante anos, no
passado, esperais que nós, que não fomos preparados pela mesma forma, possamos
atingir a libertação convosco, agora?
Krishnamurti: Como sabeis
ter eu sido especialmente preparado? Não vos estais vós preparando pelo fato de
viverdes, todos os dias? Não estais lutando em meio da tristeza e do prazer? Não
é isto uma preparação? Não são o descontentamento, a inveja, o ódio, o afeto,
todos eles uma preparação?
É verdade que atingi e que por
causa desse atingimento posso mostrar-vos o caminho como agora o faço. Não espero, porém, que atinjais
imediatamente, pois que para vós existe ainda a renuncia e o auto-sacrifício; e
assim, não podeis por enquanto atingir. Se, porém, fixardes a vossa meta — a verdadeira felicidade que nasce da libertação
— então isso tornar-se-á mais fácil e direto e uma luz continua virá a ser
projetada sobre os vossos pensamentos e atos. Que mais necessitais do que fixar
vossa meta e encaminhar todo pensamento, emoção, e ação, para essa meta?
Pergunta: Será possível separar a pessoa da verdade? Como pode um homem
ordinário aprender a fazer isso? A autoridade externa pode ser uma mal, porém é
uma mal inevitável no presente.
Krishnamurti: Tem importância
por ventura o poço de onde extrais água desde que seja água extingua vossa
sede? Digo que descobri, que estabeleci por mim mesmo uma certa verdade; e
sinto desejo e ardor no mostrar essa verdade, a todo aquele que quiser
aprender. Se voz, porém, cultuardes ao individuo portador dessa verdade, ela não
mais será a verdade. Que importa quem traz a verdade, desde que haja em vosso coração
e mente a resposta que vos proporcione força para lutar e jamais ceder? Se imaginais
que a autoridade é indispensável, tendes que vos sujeitar a ela. Se um homem não
pode ver claramente, tem que usar óculos. A grande maioria das pessoas, porém, não
necessita de óculos. Um ou outro dia, haveis de chegar a verificar que a
autoridade não vos proporciona felicidade. Eu tomo como exemplo o meu próprio caso.
Quando meu irmão morreu, já há alguns anos, disseram-me ser ele perfeitamente
feliz no plano astral, e tudo lhe era róseo e belo. Porém disse eu: “no fim de
contas, perdi um grande amigo e sinto-me muito só; preciso de sua companhia”. Pensais
que minha tristeza se extinguiu porque me disseram que ele era perfeitamente
feliz no além? Verifiquei que, enquanto houver separação entre os indivíduos,
enquanto Krishnamurti fosse mais importante para mim, como indivíduo, do que
quaisquer outras pessoas, tinha que haver tristeza, e sempre sentiria a perda
de meu irmão. A partir do momento em que me tornei capaz de me identificar com
todos e sentir, não intelectualmente, mas por intermédio de meu coração, que não
existe separação real, então encontrei minha felicidade.
Pergunta: O ideal é estar só, porém será isto para todos no presente
momento?
Krishnamurti: Cada qual
tem que decidir por si mesmo. Quereis, ainda uma vez, que a verdade vos seja Rebaixada.
A Verdade, que é felicidade, que é a compreensão da vida, e, portanto, a
conquista da vida, não pode ser rebaixada. Vós tendes que vos encaminhar para a
Verdade e não esperar que a Verdade seja trazida para baixo. Assim como, no
outono, todas as folha murcham e fenecem e novos rebentos lhes vem tomar o
lugar, assim também deveis deitar fora todas as vossas velhas ideias, afim de
ganhardes a frescura e a glória da primavera; não confiar em passageiros
confortos ou deixar-se apanhar pelo presente.
Krishnamurti, 1930
Sobre a questão da educação
Pergunta: Como poderemos distinguir entre a propulsão do verdadeiro
Tirano interior e a obsessão proveniente do entusiasmo pessoal?
Krishnamurti: Por meio da
experiência. Para reconhecerdes o verdadeiro Tirano que está dentro de vós,
tendes que experimentar, tendes que observar, necessitais peneirar e separar
vossos próprios pensamentos, emoções e impulsos. Se estes não se harmonizarem
com a vossa meta, criarão tristeza e por esse modo vos conduzirão ao
entendimento.
Pergunta: Devem as crianças ser educadas de acordo com as opiniões dos
adultos, ou deve-se-lhes permitir que resolvam seus próprios problemas?
Krishnamurti: Qual o
propósito da vida? Chegar à felicidade por meio da libertação, a liberdade para
todos. Se tiverdes isto em mente, agireis como alguém que protege enquanto a
criança é nova, mantendo essa finalidade em vista a todo instante. Se eu fosse
professor em uma escola, guardaria de continuo em minha mente a ideia da liberdade como sendo a meta para as
crianças, o atingir da absoluta libertação e felicidade eterna. Naturalmente,
elas não podem atingi-la nesse breve período de tempo que denominamos uma vida;
porém é esta a meta final. Assim,
pois, eu estabeleceria certas regras e regulamentos, porém todas elas ficariam
sujeitas a esta única coisa.
Tomai como exemplo uma planta
pequena. Enquanto ela é nova, vós lhe dais água, vós a abrigais do sol e dos
ventos; sabeis, porém, que tempo virá em que ela não mais necessitará de vosso
abrigo. Ela exigirá espaço e liberdade para crescer, ou então morrerá.
O mesmo se dá com as crianças. Atingir
essa felicidade que é eterna por meio da libertação, é o que todos desejam;
isso porém não significa desordem e caos. A libertação significa a produção de
um milagre de ordem, tirando-a de séculos de caos, resultante de gerações de
pensar ignorante e de crenças insensatas.
Pergunta: Que consecução da vida espiritual ( não de uma religião ou
dogma ) a não ser a vida que ela conhece, apresentaríeis a uma criança, de modo
a não ficar ela emaranhada em imagens picturais e concepções concretas?
Krishnamurti: Eu lhe ensinaria a amar a vida, a gozar a vida, quer
esta traga consigo a felicidade ou a tristeza. Se eu tivesse um filho,
ensinar-lhe-ia a averiguar que ele é o seu próprio mestre, seu próprio guia e
que não deverá confiar na autoridade externa, em busca de conforto, em expressões
exteriores dessa mesma vida, para chegar ao entendimento; que ele precisa de
descobrir e esforçar-se, no sentido de encontrar a maneira de libertar a vida.
Se se mostrar a uma criança,
desde o inicio que o preenchimento da vida, dentro dela própria, se produz pelo
libertar essa vida de todas as limitações, o que é o resultado de passar pela experiência,
e ultrapassar toda experiência, por essa luz se guiará ela a si mesma e não pela
luz — ou treva como eu de preferencia lhe chamaria — ou de uma autoridade, do
medo, da tradição. Explicai-lhe desde o início que ela própria tem de libertar
essa vida que é espiritual. Não lhe podeis ensinar a realiza-la, — pois a via
de preenchimento difere para cada homem — porém podeis mostrar-lhe a meta final
sem começo nem fim. Dado vós, o pai, o haverdes compreendido, podeis dar-lhe do
vosso entendimento.
Pergunta: O estudo da ciência moderna, com sua concepção da imensidade,
da natureza e da insignificância do homem, com seu curto palmo de vida, tende a
estupidificar todo o presente esforço, especialmente nos jovens e produz uma
atitude negativa à vida. Como pode isto ser contrariado?
Krishnamurti: A
imensidade da natureza não é maior do que a própria vida. A natureza, no fim de
tudo é vida; é um termo que expressa a vida por uma maneira diferente. Pelo fato
de os homens não estarem enamorados pela vida, são vencidos pela atitude
negativa, que estupidifica e limita a vida. A vida está em cada um. Se a vida não
constitui vosso predominante interesse e o preenchimento da vida vossa necessidade mais urgente, tudo o
mais, naturalmente assumirá maior importância. Daí provirá a estupidificação
dessa mesma vida. Como impedir isso? Fazendo convite a grandes tristezas, a
grandes gozos, na plenitude de vosso coração; pelo convite à dúvida. É esta a
maneira única de escapar de ser colhido pela limitação e, por essa maneira,
sufocar a vida.
Pergunta: Que espécie de educação devemos dar a uma criança afim de
faze-la aceitar a mensagem da libertação?
Krishnamurti: Nutro a
esperança de que ela não aceite. Quereis forçar as pessoas a libertação por
meio de outrem, seja quem for. Vós próprios não possuis o desejo de vos
libertar ou deixar que outros se libertem, e, assim, pretendeis forçá-los a
aceitar a ideia da libertação.
Ultimamente, na Califórnia, vi
uma localidade denominada Lázaro Riu-se.
Quando Lázaro ressurgiu do túmulo, começou a rir, porque sabia não existir a
morte; ele riu-se por ver que todos se incomodavam com a morte. Ele tem discípulos
e seguidores e estes riem-se também, porém riem-se por meio de uma máscara.
É isto que vós estais fazendo
agora. Falais de libertação, de felicidade, através de uma máscara, não por convicção própria. Para mim ela
é real, eterna; para vós não o é. Haveis posto fora a máscara de que haveis
sido portadores, durante todos esses anos; porém agora afivelasteis uma outra
que vos assenta mal.
Pergunta: Como apresentaríeis a ideia da morte a uma criança, de modo a
não sentir ela medo? Não nascem certas crianças com um medo inato da morte? Como
pode ele ser removido?
Krishnamurti: Se vós
pessoalmente tiverdes medo da morte, comunicareis esse medo a vosso filho. Como
a maioria das pessoas se atemorizam com a morte, as crianças atemorizam-se também.
Na Índia, o povo não se atemoriza muito com a morte. Há tantas mortes todos os
dias que, de fato, eles habituam-se a isso. Podeis ver crianças contemplando
corpos mortos ao serem conduzidos pelas ruas. Para explicar a morte a uma
criança, eu usaria o exemplo de uma flor. Assim como uma flor murcha, o corpo
murcha também. Nada existe que possa causar medo, por tal motivo. É um
acontecimento natural, o curso natural de uma flor ou de um ser humano. Nada existe
de horror, de terrífico, a respeito da morte. A morte só é temível, quando vos
apegais à forma externa, a qual é mera expressão
da vida. Se, porém, estiverdes em amor com a vida, a expressão dessa vida não
vos colherá fortemente.
Krishnamurti, 1930
Sobre a verdadeira intuição
Pergunta: Haveis dito outro dia
que entendíeis por crenças algo imposto do exterior. Uma convicção ou intuição interna,
não necessariamente provável pela lógica, seria por acaso prejudicial?
Se estabeleceis regras mesmo sobre tais crenças, se as pessoas
admitirem vossos conceitos a respeito de não possuíssem crenças assim tão
literalmente, não chegaria a vida a deter-se?
Krishnamurti: Se as
pessoas tornarem crenças as minhas explicações, a vida chegará a deter-se. Convicções,
intuições, e o vosso próprio conhecimento interior não são a mesma coisa que
crenças. Por crença entendo eu a aceitação de uma ideia imposta por outrem ou a
qual vos tenhais adestrado para aceitar sem entendimento. A intuição, ao
contrario, é o mais elevado ponto de inteligência e pelo conservardes a inteligência
constantemente desperta, fazeis convites à intuição, a qual é a luz guiadora
pela qual deveríeis conduzir a vossa vida, em lugar de o fazerdes pelas crenças
e dogmas.
Todo homem tem crenças que lhe são
impostas ou nas quais ele cresceu. Essas jamais mudarão ou libertarão a vida
interior; porém, pelo convidar a dúvida e pelo manter a inteligência entusiasticamente
desperta, produzirá ele algo de muito maior do que jamais pudera conseguir por
meio de meras crenças.
Pergunta: Poderia parecer que a intuição é necessária afim de
compreender-se a verdade. Pode esta intuição ser ensinada ou é ela apenas a
resultante do desenvolvimento?
Krishnamurti: Não pode
ser ensinada. Como se pode ensinar a experiência? Ou ainda a maneira de colher experiência?
A intuição — somente estou dando uma definição; há centenas de outras; podeis
tomar aquela que vos aprouver — a intuição é o mais elevado ponto de inteligência
e a inteligência é o acúmulo da experiência. Sem experiência e sem inteligência
jamais pode haver intuição. Podeis possuir rudimentos dela — todos os possuem —
porém eu falo acerca da intuição consumada e completa. Uma tal intuição jamais pode
ser ensinada.
Quando vedes um mestre pintor,
podeis imaginar que lhe seja possível transmitir seu dom aos discípulos? E no
entanto perguntais-me: “Podeis, por favor, transmitir-me a vossa intuição?” Se
eu a pudesse transmitir, não valeria a pena ou possuí-la; se a aceitásseis, ela
não teria valor algum para vós. Isto é o que tendes estado a fazer até agora — a
aceitar a intuição, a compreensão de outrem e orientando as vossas vidas de
acordo com ela. Por isso, é que há o caos. Se, por outro lado, caminhásseis na
luz de vosso próprio entendimento da Verdade, não projetaríeis sombra sobre o
caminho ou sobre o semblante de outrem. Se obedecerdes às intuições, às ordens
de outrem, estareis criando tristeza, não somente para vós como para esse
outrem. Na obediência não há consecução; no executar os desejos de outrem, não há
entendimento. A verdade e a liberdade da vida somente podem ser atingidas por
meio da vossa própria experiência, de
grandes tristezas, dores, êxtases e alegrias — e por ultrapassa-las todas.
Krishnamurti, 1930
A vida condicionada não pode penetrar na chama que é eterna
Pergunta: Não se achará implícita em vosso ensinamento a ideia de que
existe uma alma ou centelha individual, para me servir de vosso próprio
exemplo, que pode atingir a perfeição? Porem, a existência de uma tal alma ou
unidade espiritual é inteiramente especulativa para muitas pessoa; não pode ser
assunto de conhecimento. Não será, portanto, uma crença sobre a qual se baseia
todo o resto de vosso ensino?
Krishnamurti: Não sentis
que sois um indivíduo diferente de vosso semelhante? Não vos sentis diferentes
em vossa estrutura, mental e emocionalmente, dos outros? Que lhe chameis alma
ou centelha individual, é coisa que não tem muita importância; essa certeza de
vossa individualidade a que falo, existe. A harmonia da vida é produzida pelo
entendimento da unidade subjacente em todos os indivíduos.
Não pretendo que acrediteis ser
um individuo uma centelha divina ou que exista uma alma, por afirmar eu ser
isso um fato. Para mim, já não é crença; não vos sirvais, porem, desta explicação
para em vós próprios criardes uma crença. A centelha, — ou aquilo que eu
chamaria a vida condicionada — não pode penetrar na chama que é eterna, ou
realizar a verdade que é o preenchimento da vida, enquanto a própria centelha não
se voltar à chama, ou a vida condicionada não atingir o preenchimento de si
mesmo.
Krishnamurti, 1930
Sobre a questão da reencarnação
Pergunta: Não se acha todo o vosso ensino baseado sobre a reencarnação?
Para a maioria das pessoas isto não pode ser assunto de conhecimento, porém
apenas uma hipótese ou crença — e vós dizeis que não devemos ter crenças.
Krishnamurti: Nego que
todos os meus ensinos sejam baseados na reencarnação. Para mim, a reencarnação
é um fato, porque eu me lembro de certas coisas. Podeis perguntar-me: “Do que
vos lembrais?” É coisa de muita importância saber o que haveis feito há dez
anos em determinado dia? A maioria das pessoas que se recordam de suas vidas
passadas sempre acham que foram reis, rainhas, grandes santos, grandes
discípulos, — jamais o pobre mendigo que permanece à beira da estrada. Como
facilmente o individuo se engana a si mesmo! Como gosta de se lisonjear a si
próprio!
Para mim, a reencarnação é um
fato, não uma crença; não quero, porém, que acrediteis na reencarnação. Pelo
contrário, rejeitai-a; expulsai-a de vossa mente; e lembrai-vos somente que
assim como sois um produto do passado, assim podeis dominar o futuro. Sois
donos de vós mesmos e em vossas mãos está a eternidade.
Krishnamurti, 1930
Sobre a questão do desejo
Pergunta: Tem-se dito que o mundo deveria ser encaminhado pelo desejo,
não pelas crenças. Portanto, não tem importância o perguntar quais são as nossas
crenças. Não sufocam as crenças o desejo e não nos deveria antes ser permitido
agir licenciosamente, dado ser isto necessário para o crescimento?
Krishnamurti: É
necessário proceder licenciosamente?
Pessoalmente, sustento eu que o
desejo é muito mais importante do que as crenças. É quando sufocais os desejos
que as crenças são criadas e a estagnação surge. É pelo constante re-despertar
do desejo que vos tornais capazes de criar, que sois capazes de progredir — uso
da palavra no sentido vulgar. Portanto, necessitais de ter desejos. A ideia de
que o Nirvana ou o Céu é um lugar onde o desejo em absoluto não existe, é
absurda. Eu sustento que a mais elevada felicidade é a do preenchimento de todos
os desejos — o ultrapassar todos os desejos pelo fato de havê-los experimentado
a todos. Os desejos são semelhantes aos feixes de lenha que adicionais a uma
figueira. Quanto mais feixes, maior a intensidade e a pureza da chama. Porém,
os desejos levam à licenciosidade, e haverá o caos enquanto cada qual não
houver fixado sua meta e não se servir do desejo inteligentemente. O selvagem possui inúmeros desejos que,
frequentemente, o tornam licencioso. Porém, o homem inteligente é aquele que já
fixou a sua meta — a qual sustento eu
ser a libertação e a felicidade — e utilização de todos os desejos para o
conduzirem a esse fim. Então existe nele a ordem. Mesmo que ele tenha grandes
desejos, não haverá caos. Esta meta é eternamente a mesma para todos, porém se
cada qual fixara meta por si mesmo, e se ela não for fixada por outrem, haverá
harmonia. As
pessoas podem correr vindo de pontos diversos, porém todas se estão dirigindo
para o mesmo centro.
Krishnamurti, 1930
Ao homem que atingiu, tudo se torna mais difícil
Pergunta: Para muitos de nós, a ideia do Cristo como um exemplo, tem-se
tornado irreal, pelo fato de Ele haver se apresentado como diferente de nós — o
Filho de Deus em sentido único. Não haverá a mesma possibilidade no que a vós
concerne? Pode qualquer de nós esperar jamais vir a ser o que vós sois?
Krishnamurti: Dizeis-me: “É
diferente para vós, pelo fato de haverdes atingido; ao passo que eu, a quem não
aconteceu, tenho que passar por todas as complexidades, as complicações da vida”.
Um montanhês que haja subido e conheça o caminho, adverte aqueles que desejam
atingir o cimo, dos perigos que tem adiante. Não tem, portanto, que replicar: “Isto
é bom para vós, porém eu quero escorregar por este precipício abaixo”. Vós
estais vos esforçando por operar divisões na vida, porém, para aquele que atingiu,
tais divisões não existem. Dizeis ainda “Pelo fato de haverdes atingido, isto
vos é fácil”. Ao contrário, para o homem que atingiu, tudo se torna mais difícil e por causa dessas dificuldades, diz
ele: “Amigos, afastai-vos destas armadilhas, e complicações; existe uma via
mais simples, uma via mais nobre, uma via menos complicada”. O homem que
atingiu é a própria vida; para ele não existe divisão da vida. Daí, ele quisera
mostra-vos o modo pelo qual podeis unificar a vida. Se quiserdes dar
preenchimento à vida, necessitais de destruir todas as barreiras que dividem os
homens. Se tiverdes o atingimento como reservado apenas a uns poucos, para
algumas pessoas estranhas, misteriosas, ele torna-se irreal; e por causa dessa
irrealidade, começais a construir aquilo que supondes ser real e duradouro.
Porém, isso será somente uma gaiola de limitação.
Um homem que haja sido mutilado
na guerra, que haja sofrido a corrupção da crueldade, aconselhar-vos-ia a não
combater. Se, porém, vós responderdes: “Eu quero lutar, quero gozar do
conflito, quero contemplar as trincheiras e todos os preparativos da guerra”,
ele não vos pode impedir. Amigo, o homem que haja atingido é vós próprio; posto
que vos encontreis ainda em limitação. Assim, quando dizeis: “Vós sois
diferente”, estais simplesmente exagerando as vossas limitações.
Pergunta: Haverá algum ponto em o qual as vossas ideias da vida difiram
dos ensinos dados ao mundo por Jesus?
Krishnamurti: Compete a
vós descobrir.
Ultimamente tenho viajado
bastante e tenho conferenciado muito, — como é meu métier, — e após cada
conferência tem-me sido perguntado; “É a vossa compreensão da vida diferente da
de qualquer outro instrutor?”
Tem que ser diferente, pois que a
descoberta da verdade, por parte de cada homem, é diferente também. Se
simplesmente eu me amoldasse ao padrão de outrem, seria isto uma imitação.
Krishnamurti, 1930
sábado, 30 de julho de 2016
Quem te pode dizer se teu coração é limpo?
Quem te pode dizer se teu coração é limpo?
Quem te pode dizer se tua mente é pura?
Quem pode dar a satisfação ao teu desejo?
Quem te pode curar da calcinante dor da saciedade?
Terá que te ser dado o entendimento
Ou mostrado o caminho para o amor?
Escaparás ao temor do que os homens chamam morte?
Poderás libertar-te da dor da solidão
Ou escapar ao pranto da ansiedade?
Poder-te-ás esconder sob o riso da música
Ou perder-te em festivos regozijos?
A sabedoria nascerá do entendimento,
Ela emite sua voz
No deserto da inteira confusão.
Um homem viu as sombras a dançar
E foi buscar a causa de tanta beleza.
Pode a Vida morrer?
Olha dentro dos olhos do teu próximo.
O vale se esconde na treva nevoenta
Mas o tope da montanha está sereno
Em seu pasmo para os céus abertos.
Às margens de um santo rio
Repete um peregrino, cem cessar, um canto,
E enclausurado em frio templo,
Ajoelhado, um homem, perde-se em devoto murmurar.
Mas vede, sob a pesada poeira do verão,
Está a folha verde.
Mas quem te irá chamar em teu presídio?
Ou rasgar a venda que te tapa os olhos?
Tardo, um atalho sobe a vertente da montanha,
Mas quem te levará como a um fardo?
Vi um coxo que vinha em direção a mim;
Verti lágrimas de uma dolente lembrança,
À distância, bem longe,
Uma estrela isolada segura-se nos céus.
Krishnamurti
Quem busca a Verdade não pode levar em conta a gratidão
No seguir a Verdade, não se pode
levar em conta a gratidão. Cada indivíduo que haja resolutamente lutado para
alcançar a Verdade, tem que se haver tornado aparentemente ingrato para com alguém, quer se trate de parentes ou
amigos que hajam sido professores e colaboradores. O professor que se deixasse
atingir pelo sofrimento, ou pelo desapontamento, dado o fato de um discípulo
qualquer o abandonar, para seguir aquilo que à sua mente se afigurasse uma
verdade superior, não seria um instrutor legítimo. Ter-se-ia, por esse modo,
condenado a si mesmo, em virtude do próprio ressentimento.
Krishnamurti
Krishnamurti
Toda evolução se refere à expansão do Ego
Toda evolução se refere à expansão
do Ego e por tal motivo pertence ao mundo do tornar-se em vez de pertencer ao mundo do Ser. A pessoa que pensa em conformidade com as linhagens
espirituais, que sinta ambição por tornar-se “maior” do que os outros nas
coisas espirituais, revela imediatamente que ainda se encontra aprisionada ao
mundo do tornar-se. No mundo do Ser, não existem noções de maior e menor,
pois que ali trata-se da realização da Vida; e a pura vida não conhece gradações. Os pretensos “grandes” na vida
interna, estão frequentemente mais longe da verdade essencial do que os seus
mais humildes e simples seguidores.
Em assunto da vida interna, as
pessoas às vezes acham-se prontas a apegar-se a qualquer coisa, quer se trate
de Deuses, de gurus ou de simples
mecanismos mágicos que, segundo pensam, hão de fazer para elas aquilo que a ordem
natural das coisas as deveria levar a elas próprias a fazer sozinhas. Só a
experiência lhes pode evidenciar a miragem que estão perseguindo.
Krishnamurti
A ilusão do “trabalho para o mundo”
Uma das maiores ilusões do mundo
das coisas espirituais é o pretendo “trabalho para o mundo” — e é uma ilusão
tanto mais perigosa por ser muito sutil. Grande parte daquilo a que se dá o
nome de “auxílio ao mundo”, brota do
egoísmo disfarçado. É, porém, ainda mais, devido a um temor não
reconhecido. As pessoas temem combater consigo mesmas, com suas naturezas e
pensam que, por certo modo, podem obter um atestado de imunidade ocupando-se a
praticar boas obras. Tais atividades são fundamentalmente falsas. Se,
realmente, amardes o mundo haveis de vos esforçar por ser, por amor ao mundo. E se a vós próprios não puderdes conduzir à
prática deste esforço é porque o vosso amor não tem realidade. O homem que
tiver purificado a sua natureza até o ponto de encher-se de verdade e amor, não
pode deixar de prestar auxílio; no entanto, ele não é consciente da ajuda que
presta, pois não fará mais que meramente expressar o que é. E um auxílio prestado
assim, mesmo segundo as normas vulgares, será infinitamente mais poderoso, pois
que operará a todos os instantes sob quaisquer circunstâncias e sobre todas as
pessoas com as quais chega a entrar em contato. As boas obras, tal como muito
frequentemente são entendidas, são sinais de pobreza, antes que de riqueza da verdadeira
vida interna.
Krishnamurti
A natureza do ego
A inteligência plenamente liberta
não é consciente nem de subjetivo nem do objetivo considerados como tais. Ela inclui a ambos na pura
realização. Uma tal inteligência, ao demais disso, não é um Ego. É absolta impersonalidade
— a qual, apesar disso, conserva a faculdade de pensar, sentir e agir.
O ego, não é uma entidade. Pode
mais veridicamente ser denominado um
sintoma. Ele surge na consciência somente quando o livre fluxo da vida é
obstruído. Podemos encontrar disto uma analogia familiar em nossos próprios
corpos. Normalmente somos perfeitamente inconscientes de nossos órgãos
internos; eles somente se fazem notar quando algo anormal com eles se passa.
Pela mesma forma, se estivéssemos em perfeita saúde espiritual não seríamos
conscientes de “eu-dade” alguma separatista. O fato, porém, é que não nos
encontramos em saúde espiritual; não existe, na maioria de nós, o verdadeiro e
não impedido fluxo da vida. E daí, apercebemo-nos da obstrução —e é esta
obstrução o que a nós parece ser o nosso eu.
É um erro, portanto, discutir a
questão do Ego e de sua persistência como se se tratasse de uma entidade real
tendo perante si somente duas alternativas — ou permanecer como está (isto é,
uma entidade real) ou ser abolido. O Ego, como entidade, não possui e jamais
possuiu existência, qualquer que ela seja. Nada mais é quem um sintoma de desordem interna, à qual,
em nossa ignorância, vimos atribuindo o ser objetivo.
Em cada um de nós é a vida
somente que age, sente e pensa; porém, dado o fato de ser por enquanto incapaz
de manifestar-se com essa absoluta liberdade e pureza que lhe pertence como
vida, a ilusão de um Ego é assentada — uma ilusão que é tão pouco entidade
objetiva como o é a protuberância causada pela picada de um mosquito. O Ego
existe somente quando o imaginamos.
De fato é possível a qual um de
nós eliminar a consciência de Ego e restabelece-la vinte vezes ao dia. Quem quer
que esteja completamente absorvido em alguma tarefa simultânea e funcionando
livremente nessa tarefa deslizará da consciência de Ego, automaticamente,
enquanto que a concentração persiste — e tanto assim é que frequentemente “volta
a si próprio” com uma espécie de estremecimento quando ela passa. A absorção
absoluta em qualquer atividade é, na verdade, tudo de que necessita para provar
quão ilusório é o sentimento de eu-dade
e quão não essencial para a plenitude e intensidade do viver. Significa, porém,
isto que o homem que se acha absolutamente centrado esteja temporariamente nas
mesmas condições do homem liberto? Não; a não ser que esteja ao mesmo tempo em
contato com a Verdade. No que se refere ao Ego, acha-se ele em um estado que se
assemelha ao da libertação,
exatamente como um homem que ama a certo indivíduo intensamente e
exclusivamente se assemelha, dentro dos limites de seu afeto particular, ao
homem cujo amor abrange a todo o mundo pela mesma forma. Porém, o indivíduo
concentrado ordinário, engana-se por duas maneiras: em primeiro lugar sua perda
do eu separado é temporária; em segundo lugar, enquanto perdura, depende de
certa atividade especial que cessa logo que a atividade passa.
A consciência liberta, por outro
lado, jamais pode deslizar retrospectivamente para a eu-dade, separada, porém,
permanece tão livre da separatividade quando se acha em estado de suspensão
como quando se encontra empenhada em alguma atividade definida. E a razão disto
é que ela tem sua morada na Verdade. Somente a Verdade pode proporcionar essa
ausência de todo o egoísmo, a qual é independente de todas as condições
mutantes e portanto, não é devida a qualquer coisa de exterior ao próprio
homem.
O que ocasiona a maior parte das
dificuldades nestas discussões acerca do Ego é o não acharmos fácil distinguir
entre um eu que é puro sujeito ativo e um eu ao qual podem acontecer coisas e
que, por consequência, pode tornar-se objeto. O eu real — o eu que continua
para sempre e que a libertação não pode afetar — jamais pode ser objeto. Ele é
eternamente sujeito e expressa-se a si mesmo, no que se denomina a “pura ação”;
no passo que o outro eu somente vem à existência ilusória quando houver “reação”,
isto é, quando o movimento — vida, por qualquer razão, for detido e feito
retroceder sobre si mesmo. É somente este último eu que é o Ego. O outro eu é
completamente não egoísta. É absoluto — pois que é a própria vida, a vida que
despertou no auto-apercebimento.
Porém, que acontece à “uniquidade
individual?” Não será esse eu que é puro, sujeito à mesma coisa que aquele?
Sim. Isto, porém, não a impede de
ser vida universal ao mesmo tempo. Quando falamos de “tornar-nos unos com toda
a vida”, não devemos pensar nesse todo sujeitando-o a termos de espaço —
quantidade.
A totalidade, neste sentido, é o
todo como qualidade. Significa pureza absoluta. O conjunto integral da vida
pode existir em um ponto único, se a vida nesse ponto se encontrar
absolutamente pura. Isto é que torna possível à vida do homem liberto o ser ao
mesmo tempo individual e universal. A pura
vida, em si mesma considerada, jamais pode atuar de outra maneira que não
seja universalmente. Assim, pois, quando um homem houver purificado
completamente a si mesmo de modo absoluto, — quando houver extirpado de sua
natureza os últimos resquícios de egotismo e separatividade — a ação universal
manifesta-se imediatamente, embora por detrás de todo o pensamento, sentimento
e ação se encontre o ser único que é sujeito vivo em todas as atividades.
A universalidade, digamos para
encurtar, é assunto não do que p homem é e sim daquilo que ele faz. Não pode
isto deixar de ser verdade, ao verificar-se que a própria vida não é mero Ser
passivo, porém é, ao invés disso, um momento de energia ativa. Não podemos, portanto,
proferir a palavra “é” em um sentido
puramente estático, relativamente a qualquer pessoa ou a qualquer coisa. No mundo da Verdade não há substantivos, há
somente verbos. O homem torna-se universal na proporção direta, até ao
ponto em que pensa, sente e age universalmente. Assim, pois, o assunto real não
é o de saber se existe um Ego e se este persiste ou se é suprimido; e sim, o de
saber se aquilo que está por detrás de todo o pensar, sentir e agir, como ser
vivo e único, é capaz de tornar-se sujeito ativo em um processo de vida
universal, portanto por intermédio e através de suas atividades, isto é, de
transcender sua própria uniquidade.
O fato é possível. Pois é nisto,
justamente, que consiste a libertação.
Os indivíduos acham-se atualmente
tão interessados pelas questões últimas, que se esquecem de que têm de começar
pelo início. Se partissem, simplesmente, do ponto em que se encontram e
permitissem que o desdobramento se efetuasse naturalmente, verificariam que
todas essas perguntas, com o correr do tempo, teriam respostas por si mesmas. A
crisálida não pode sair da borboleta. Tornai-vos primeiro a borboleta, para
depois chegardes a saber.
Praticamente, todas as perguntas
feitas acerca do estado de libertação por aqueles que se encontram ainda em cativeiro,
são feitas erradamente. Isto acontece por terem eles como coisas reais as
coisas que para o homem liberto são ilusões. E quando o investigador chega a
ver todas essas coisas como ilusões, não mais necessitará de fazer perguntas,
pois que saberá.
Krishnamurti, 1929
sexta-feira, 29 de julho de 2016
Como pode uma pessoa contristada ser feliz?
Pergunta: Pode-se jamais ser completamente feliz quando nosso irmão se
acha em cativeiro?
Krishnamurti: Por acaso
quando vosso irmão está doente, vós o ficais também? Quando alguém é esmagado
por um automóvel, por acaso vos atirais sob as rodas do mesmo e vos fazeis
despedaçar? Não quereríeis antes atingir a felicidade eterna que vos capacite
proporcionar a paz aos outros? É uma ideia bem falaz a de que não podeis ser
felizes se os outros forem infelizes. Como podereis auxiliá-los a possuírem a
felicidade, se vós próprios não tiverdes a compreensão e a realização da
felicidade? Se certas pessoas no mundo forem cegas, tornar-vos-eis por acaso cegos
afim de ajuda-los? Se alguém não possuir abundância de experiência, deveis por
isso rejeitar a experiência? Se algumas pessoas não houverem fixado sua meta na
existência e não procurarem seu atingimento, fareis vós a mesma coisa? É bem
grotesco o imaginardes que podeis auxiliar às pessoas descendo a seu nível,
antes do que elevando-as até o vosso. Para poderdes ajudar àqueles que estão na
tristeza, aos que estão sofrendo, àqueles que se acham em cruel cativeiro, não
vos haveis de tornar vós próprios de espírito estreito, emaranhados pelos
dogmas, colhidos pelo temor e engaiolados nas limitações estreitas. Ao
contrário, fugireis a essas coisas se realmente quereis ajudar. Para ajudar com
verdade tendes que haver ultrapassado a necessidade de ajuda.
Pergunta: Haveis dito que não podemos fugir à tristeza. Como pode uma
pessoa contristada ser feliz?
Krishnamurti: A resposta
é muito simples: Não pode. Porém a tristeza dá o perfume da vida. Não podeis
atingir a perfeição sem lágrimas, nem chegar à consecução sem sorrisos. Todos
vós tendes medo à tristeza. Porém a tristeza dá a força que vos há de sustentar
em vossa luta; e a tristeza é experiência. Convidai a tristeza para o vosso
coração e não a eviteis nem a deixeis de parte por temerdes a dor. Como podeis
ser felizes sem o entendimento da tristeza? Como podeis ter simpatia sem haver
tido lágrimas nos olhos? Como podeis produzir ou criar alegria no coração dos outros,
se em vós próprios não tiverdes tido o êxtase? Necessitais de todas as coisas e
a tristeza é tão nobre como a alegria. Somente por vestir-se a tristeza de
preto é que ela é tornada horrível. Sem provar de toda a experiência, como a
abelha prova toda a flor num jardim, jamais podereis atingir a felicidade
eterna a qual é libertação do jugo da experiência. Vós quereis atingir sem
luta. Pensais atingir grandes alturas por algum milagre. Por isto é que tendes
tantos credos, tantas religiões, tantos ritos, tantas escórias para vos
sustentar. Temeis fazer face a vós próprios e às vossas fraquezas. Somente pelo
entenderdes essa fraqueza e a vencerdes é que podeis atingir à perfeição.
Krishnamurti, 1930
Libertai-vos de vossas muletas
Pergunta: Se alcançardes êxito no despedaçar os grilhões que amarram a
vida e a verdade e quando a vida estiver liberta da superstição, do dogma e da
autoridade, não será o resultado disso um caos maior do que aquele que vemos ao
redor de nós presentemente? Podeis prever o que virá a acontecer quando a
humanidade estiver liberta dessas amarras?
Krishnamurti: Dado a meta
ser para todos, sem olhar as distinções, e se fixardes essa meta por vós
próprios, todos os vossos pensamentos e atos serão encaminhados por ela.
Sustento isto porque ninguém no mundo possui uma tal meta, existe o caos e não
o êxtase de propósito que advém quando cada qual houver estabelecido a sua meta
por si mesmo. Ao demais disso, se existir caos ao redor de nós, como existe
presentemente, é melhor experimentar com algo que, com toda a probabilidade
venha a produzir a ordem. Não há utilidade alguma em dizer que, pelo fato de
haver desordem, não devêramos tentar nada por medo de que possa produzir
desordem maior. Isto é uma maneira covarde de encarar a vida. Não é esta a
atitude do criador, do gênio; este é o caminho da estagnação, da falta de
compreensão da vida. Se habitardes na sombra, de nada serve o dizer: “Não ouso
abandonar a minha sombra por medo de que haja maiores sombras lá fora”. O
propósito da vida é fazer face às sombras e não o evita-las por medo.
“Podeis prever algo do que virá acontecer?”
Não sou leitor de cartas. Além
disso, é coisa de pouquíssima importância. Estáveis na incerteza quando fizestes
esta pergunta. Pretendeis obter uma nova esperança para a ela vos apegardes, de
modo a, ao seu redor, criar outra sombra, outra superstição a mais. Em vossa
mente todo o futuro se acha baseado em esperanças. A verdade, no entanto, nada
tem a ver com a esperança de vossa salvação particular. E se essa esperança
existe, será ela uma traição à verdade. Cada qual deseja ser glorificado no
futuro, possuir uma situação particular no céu o mais perto possível de Deus, o
Deus de sua própria criação. Em um tal céu não existe sombra de verdade. Ele
acha-se vazio no que respeita à verdade.
Enquanto buscardes uma esperança,
um conforto e um bálsamo que cure todas as feridas, estareis afastando-vos cada
vez mais desse reino onde reside a felicidade, onde a verdade habita para
sempre.
Pergunta: Devemos repelir por inúteis as “verdades”, “princípios” ou “ideias”
que nos serviram de ajuda, digamos, exemplificando, para ir do agnosticismo à
espiritualidade?
Krishnamurti: Não vos
deis ao trabalho de guardar as cascas das frutas que comeis, nem conservai de
memória todos os acontecimentos que vos auxiliaram a crescer. Conservai aquelas
verdades que alcançasteis mediante a experiência, antes do que a experiência em
si mesmo considerada. De nada serve o sobrecarregar as vossas mentes com cascas
vazias. À medida que cheguei a compreender por mim mesmo, fui deixando de lado
as crenças, repetições, palavras vãs. Naturalmente, se eu vir a outrem fazendo
a mesma coisa que eu fiz, digo-lhe: “Não repitais os meus erros. Eu passei pelo
estágio em que necessitava de muletas; e verifiquei que todas essas coisas são
desnecessárias”. Não vos digo: “por ter passado eu por todos esses estágios,
vós tendes que fazer a mesma coisa”.
“Devemos repelir por inúteis as “verdades”, “princípios” ou “ideias”
que nos serviram de ajuda, digamos para ir do agnosticismo à espiritualidade?”
Vós já as haveis ultrapassado. Aquilo
que sustentáveis como verdade há dez anos não mais vos satisfaz agora. Vós não
guardais isso, eu vo-lo asseguro. Ninguém repelirá suas verdades, princípios,
ideias, a não ser que deseje faze-lo. É este o desejo que eu quisera criar em
vós e não fazer-vos a imposição de minha forma particular de compreender.
Pergunta: Pode-se tirar todas as muletas e apoios à fraca humanidade
nos tempos atuais?
Krishnamurti: Eu não vos
posso tirar vossas muletas e apoios. Vós é que as deveis atirar fora.
Se eu vos tirasse um apoio,
inventarieis outro. Se destruísse uma gaiola, criaríeis outra e enfeitar-lhe-íeis
as grades. Meu propósito não é tirar coisas, porém sim criar esse imenso desejo
pela verdade que vos faça despedaçar por vós mesmos todas as gaiolas.
Krishnamurti, 1930
O estar inteligentemente descontente é uma dádiva divina
Pergunta; Podeis nos dizer algo a respeito desse afeto por meio do qual
haveis dito que se pode fugir à experiência em detalhe?
Krishnamurti: Digo que é
possível a um ser humano atingir a perfeição sem passar por todas essas
experiências; porém, para passar por todas as experiências, é preciso que a
pessoa tenha grande afeto e simpatia. Existe um caminho complicado e um caminho
direto. Afim de desenvolver a imaginação que vos proporciona experiência sem
por ela passardes, tendes que possuir afeto.
Como se adquire o afeto? Por meio
da experiência.
Quando vedes um alcoólatra, ou um
homem cruel, ou um homem bestial em seus pensamentos e sentimentos, se
possuirdes imaginação aliada ao afeto real, podeis adquirir o entendimento da
sua tristeza e não precisais de passar pela sua particular forma de
experiência.
Não pretendo complicar a vida por
meio de mais teorias. Quero proporcionar-vos aquele entendimento da vida que
atuará como uma lâmpada para a vossa alma, por meio da qual podeis guiar os
vossos pensamentos e sentimentos. Não quero que penseis de acordo com o meu
modo de entender. Não quero que atueis de acordo com a minha percepção da verdade.
Se o fizerdes, apenas estareis imitando. A imitação jamais pode produzir a
verdadeira cultura, a qual é resultante da percepção individual e criativa da
verdade. Se fordes capazes de traduzir essa percepção na ação diária, estareis
trilhando o caminho que conduz ao pleno entendimento que é felicidade.
Pergunta: Haveis dito que deveríamos ascender nossa própria tocha de
afeto. Para aqueles que naturalmente não sentem muito afeto por alguém seja ele
quem for, como pode isto ser feito sem se tornar o indivíduo artificial e
irreal?
Krishnamurti: Pela
tristeza. Alcançareis simpatia e amor abrindo as portas à tristeza. Pela
tristeza desenvolvereis o afeto. Eu não vos posso proporcionar uma droga que em
vós faça desenvolver o afeto. Todas as coisas no mundo clamam por afeto — cada
ramo morto, cada folha murcha, cada flor, cada ser humano. E se não sentirdes
afeto seja por quem for, mesmo por um ramo morto, tereis que sofrer, que verter
lágrimas.
Pergunta: Não será a gaiola na qual dizeis que estamos encerrados, sido
construída pelos crimes e limitações que nos rodeiam, antes do que por algo com
que nos tenhamos rodeado a nós próprios? Se enfeitamos a gaiola não será isto
uma demonstração de que estamos nos esforçando por satisfazer nosso anseio
superior, com toda a beleza que nos é dado ver?
Krishnamurti: A gaiola é
de vossa própria construção, de vossa criação pessoal. Nenhuma outra pessoa
cria essas limitações que vos rodeiam. E somente vós podereis destruí-las.
Porém, vós enfeitais a gaiola porque o enfeita-la é muito mais fácil do que
quebra-la. Tendes medo de quebrar a vossa gaiola e entrar pelos espaços
abertos. Sois constrangidos pela estreiteza de vosso próprio entendimento, pois
que vos atemorizais de compreender a vida.
“Porque nós estamos nos esforçando por dar satisfação ao nosso mais
elevado impulso por meio da beleza tal como podemos ver”. Por isso é que a
maioria das pessoas é medíocre. Satisfazem-se com a pouca beleza que
imediatamente percebem, em lugar de se sentirem descontentes com o mesquinho
regozijo das coisas pequenas.
Se quiserdes ser um grande
artista — como necessitais de o ser afim de poderdes compreender a vida — não
vos deveis vos satisfazer com as pequenas coisas, por belas que sejam. Não
podeis imaginar um grande artista satisfeito com o seu primeiro quadro. Se para
ele não existisse progresso, não poderia aperfeiçoar a sua arte. Se vos
encontrardes satisfeitos com a lagoa estagnante do conforto fácil, tereis a
produção da mediocridade — o espírito de burguesia.
A percepção da verdade de outrem,
jamais pode ser grande, por admirável que se afigure aos vossos corações, por
muito que isto corresponda ao vosso sentimento. Enquanto estiverdes contentes e
satisfeitos, somente estareis enfeitando a gaiola de vossa limitação.
Para atingirdes a liberdade
necessitais de estar em revolta constante. O dia de hoje necessita ser
diferente do de ontem. Vossas ideias devem ir desdobrando-se de dia para dia,
devem estar sempre crescendo, jamais imóveis.
Vossa mente e coração jamais podem crescer se
estiverem atados pelas limitações da beleza imediata. Se todos fosseis provados
de vossas gaiolas, de vossos dogmas, de vossas religiões, deuses, seitas,
crenças, ficaríeis terrivelmente atemorizados. Necessitais de vossas gaiolas,
de vossas crenças estreitas, necessitais de vossos deuses sectários; e a partir
do momento que os abandonardes, atemorizar-vos-eis de vós mesmos. Jamais podeis
atingir a meta pelo vos esconderdes do auto-exame e evitar o entendimento da
vida.
Pergunta: Haveis feito uso da frase “revolta inteligente”. Podeis, por
favor, ampliar isto e indicar a que fazes da vida devemos aplica-lo?
Krishnamurti: A todas as
fases. A revolta é essencial à vida. O estar inteligentemente descontente é uma
dádiva divina. Podeis dizer: “Muita gente no mundo está descontente. É uma das
coisas mais fáceis do mundo, o estar descontente. Porém, o estar
inteligentemente descontente, é virtude rara. A inteligência é o resultado do
acumulo de experiência. A partir do momento que estejais inteligentemente em
revolta, então estareis verdadeiramente crescendo.
Krishnamurti, 1930
Krishnamurti, 1930
Tendes buscado o conforto, não a verdade
Pelas perguntas que me têm sido
feitas por todo o mundo, verificar-se-á quão poucas pessoas realmente desejam
compreender e atingir a verdadeira liberdade da vida. Fazem citações de antigas
escrituras e de autoridades eruditas e colocam-me em confronto com elas,
imaginando por esse modo haverem posto em solução seus próprios problemas. Porém,
aqueles que quiserem compreender a vida, precisam de procurar a verdade fora
desses muros tradicionais, longe dos ditames dos antigos, por eruditos, por
sábios que possam ser.
Meu ensino não é místico nem
oculto, pois sustento que tanto o misticismo como o ocultismo são limitações do
homem postas à verdade. A vida é mais importante do que quaisquer crenças ou
dogmas e, para se permitir à vida a sua plena fruição, tendes que libertá-la
das crenças, da autoridade e da tradição. Aqueles, porém, que estão ligados por
essas coisas, encontrarão dificuldade no entender a verdade.
Minhas respostas a todas as
perguntas que me foram feitas não se acham baseadas na autoridade de livros
eruditos, em opiniões já firmadas. Encontrei a libertação e entrei nesse reino
onde existe a eterna felicidade e por isso quisera ajudar a outros a
compreenderem as coisas sob este ponto de vista.
Assim como eu estou liberto de
tradições e crenças, quisera libertar a outras pessoas dessas mesmas crenças,
dogmas, credos e religiões que condicionam a vida. É somente sob esse ponto de
vista que eu falo e não pelo desejo de infiltrar uma nova doutrina ou de impor
uma nova autoridade. Por ter fugido a toda a limitação, é meu desejo libertar a
todos os homens.
Não sou oráculo para solver todos
os problemas. Quero fazer que as pessoas pensem por si mesmas. Desejo que
duvidem das próprias coisas que têm por mais caras e preciosas, de modo a, após
haverem feito convite à duvida, somente aquilo que seja de valor eterno
permaneça.
Pergunta: Que provas podem ser apresentadas a uma alma de haver passado
por certas experiências ou estágios?
Krishnamurti: Não pode
haver prova a não ser a própria experiência. Se uma vez vos houverdes queimado,
não mais necessitareis de provas para saber que o fogo queima. Tereis a
capacidade de reter o conhecimento que a queimadura vos trouxe. Se uma
experiência vos advier e não houverdes colhido todas as suas lições, tendes que
novamente passar por ela. Ninguém vos pode dar prova de que haveis passado por
ela senão vós mesmos.
Pergunta: Dizeis que não devemos buscar conforto. Qual é, pois, vossa
ideia a respeito da compaixão?
Krishnamurti: Tendes buscado
o conforto por tantos anos, por tantas gerações, por tantos séculos, e haveis
encontrado assim o afeto perdurável? Se não haveis encontrado esse entendimento
que é perdurável, deixai de lado o conforto e não mais vos abrigueis à sua
sombra. Para possuirdes real compaixão deveis assemelhar-vos a um médico, um
grande cirurgião que conhece o perigo de uma moléstia e deseja cortá-la pelo
seu entendimento. Quão felizes serieis se eu vos proporcionasse mais abrigos,
mais conforto! Vós me fazeis esta pergunta porque em vossa mente e coração
imaginais que eu estou falando à compaixão. Amigo, a verdade não é compaixão e
nem ódio — é todas as coisas.
A verdade é cruel para a treva;
onde quer que exista entendimento ela proporciona compaixão, desabrocha como
uma flor desabotoa abrindo sua glória para a luz. Vós quereríeis antes um
médico que momentaneamente vos curasse as vossas dores, do que um cirurgião que
destruísse a causa de vossa doença. Preferiríeis de muito um propinador de
confortos para o vosso pequeno entendimento, antes do que alguém que destruísse
todos os vossos confortos e vos mostrasse o caminho para essa eterna compaixão
que é a verdade. Pelo fato de haverdes tomado abrigo nos confortos da
decadência, os confortos que podem ser destruídos em tempos de tristeza, ides
para outros abrigos, para outras moradas onde reside a treva e o engano; e
rejeitais a quem vos quisera levar para o ar livre e para as frescas brisas,
que vos hão de proporcionar a verdade perdurável, que é o entendimento da vida.
Krishnamurti, 1930
Poesia de Krishnamurti
Hei vivido o bem e o mal dos homens,
E em trevas se desenvolveu o horizonte do meu amor.
Hei conhecido a moral e a imoralidade dos homens
E cruel se tornou meu pensamento ansioso.
Partilhei da piedade e da impiedade dos homens,
E pesado tornou-se o meu fardo da vida.
Eu segui a carreira dos ambiciosos
E vã me tornou a glória desta vida.
E agora penetrei o secreto propósito da vida.
Krishnamurti
Krishnamurti
Apontamentos de Krishnamurti
Fazei convite à tristeza com abundância de coração, pois
que a tristeza proporciona o perfume do entendimento e é criadora do afeto.
O atingir da Verdade consiste no desdobrar da vida e no
dar à vida a meta mais plena possível para os fins de sua expressão.
Eu sustento que o presente caos, ansiedade e luta, surgem
do fato da vida ter sido levada ao cativeiro e mutilada, e a Verdade ter sido
limitada e condicionada.
O mundo
presentemente é a expressão da vida em cativeiro.
Pelo fato de haverdes colocado as religiões e as crenças
antes da vida, produziu-se a estagnação.
A religião é o pensamento solidificado dos homens, por
meio do qual eles constroem templos e igrejas.
A rede da vida é tecida por meio das coisas vulgares e
essas coisas vulgares são as que podeis dominar. Podeis dar-lhes originalidade,
podeis por meio delas criar grandeza; ou podeis desaproveitá-las por falta de
entendimento.
Eu vos digo, buscai, não o conforto, porém o
entendimento. A busca do conforto é o cativeiro da vida; a busca do entendimento
é a sua liberdade.
Vós vos atemorizais de fazer face a qualquer de vossas
fraquezas; atemorizai-vos de fazer-lhes frente e vencer.
Cavar por meio do presente para atingir o eterno, tal é o
propósito do homem. Todo o ser humano tem de, cedo ou tarde, cavar esse túnel
que é o caminho direto para o atingimento da vida. Nesse túnel não se pode
voltar para traz, pelo fato de se haver lançado para traz aquilo que se tiver
cavado. Tereis que avançar sempre. E uma vez que por vós mesmos tenhais estabelecido
a meta — a qual é a liberdade de todos os desejos, de todas as tristezas, dores
e lutas — então o cavar o túnel tornar-se-á um êxtase.
A verdade não é misticismo, nem ocultismo. Ocultismo e
misticismo são limitações que o homem põe à Verdade.
Se um homem for sábio e ardoroso em sua busca, verificará
que coma Verdade não pode haver transigência.
A mente da maioria das pessoas afigura-se necessário
possuir um intermediário, um interprete da Verdade. Eu vos digo, porém: deixai
que a própria meta se torne o vosso mediador. Uma pessoa qualquer, só
momentaneamente vos pode ajudar. Que cada homem, pois, fixe sua própria meta,
criando por essa maneira a ordem.
Para fortificar a semente que tem de vir a crescer, até
tornar-se a árvore frondosa que dá proteção a todo o transeunte, necessitais
desde o começo, fazer convite à dúvida. Examinai todas as vossas crenças, tudo
aquilo sustentardes ser vosso conhecimento, não pelo deixardes que a dúvida se
insinue para dentro de vosso coração, porém sim convidando-a a entrar. Pois eu
sustento que a duvida é essencial para chegar-se à descoberta e ao entendimento
da Verdade. A não ser que tenhais feito convite à duvida, com toda a sua
crueldade de exame, aquilo que possuirdes não é real.
Todos vós podeis ser levados à duvida por outrem. Porém a
duvida que não for determinada por vós mesmos, não purifica.
Eu vos digo que a ortodoxia se estabelece quando a mente
e o coração estão em decadência.
Se possuirdes a compreensão e a coragem de fazer convite
à duvida, então sereis discípulos da Verdade e não discípulos de um indivíduo
qualquer. Então, somente, podereis ser capazes de compreender, somente então
possuireis certeza — e possuindo a certeza, capazes de ministrar as águas da
vida que hão de extinguir a sede do mundo.
Tendes que despedaçar todas as coisas, afim de verificar,
duvidar de tudo afim de descobrir.
Não quero que me adoreis; não quero que acrediteis
cegamente nas coisas que digo; não quero que de mim crieis um santuário para
vosso abrigo ou que de mim vos sirvais como muleta. Quero que descubrais e
compreendais. Pois que é somente pelo entendimento da Verdade que a não vireis
a atraiçoar; somente pelo entendimento dela estareis habilitados a dar.
Antes quisera eu ter uns poucos que compreendam, do que
muitos que me sigam sem entendimento.
O caminho direto é o caminho único; a união simples é a
melhor.
Quando um homem houver compreendido este caminho, quando
esta união houver sido conseguida, então o tempo e todas as complicações do
tempo, para ele terão cessado. Então ele será seu próprio Mestre, seu próprio
Deus. E, chegando a ser isto, ele é tudo.
Uma desordem verdadeira, uma desordem divina, é
necessária afim de produzir-se a divina ordem.
Quando libertardes essa vida que é divina, e consumardes
essa vida, então vós próprios vos tornais Deus. Por Deus não entendo eu o Deus
tradicional, porém sim o Deus que está em cada qual; e este Deus pode somente
ser realizado por meio da consumação da vida. Por outras palavras, não existe
Deus, exceto Deus manifesto no homem purificado, tornado perfeito.
Quando atribuis à autoridade externa uma lei e ordem
divina espiritual, sufocais, limitais essa mesma vida que pretendeis consumar.
Crenças, dogmas, religiões, nada têm que ver com a vida,
e daí com a Verdade.
Para auxiliardes com êxito, tendes que haver transcendido
a necessidade de receber auxílio. Para dar com verdade, tendes que haver
deixado de ser aquele que recebe.
Para verdadeiramente amar, tendes que haver transcendido
a corrupção do amor.
O problema do mundo é o problema individual. Tomais em consideração
o problema do mundo antes de haverdes cogitado do vosso. A paz e o entendimento
somente virão quando houver a compreensão, a certeza e força em vós mesmos.
Tendes que pertencer à Verdade, que fazer parte da
Verdade e apesar disso vosso trabalho tem de relacionar-se com o irreal e o
passageiro. O afastar-se do mundo mais não é que o auto-atingimento, a busca de
si próprio.
A libertação não é negativa; é positiva. Não é o penetrar
em um vácuo e aí perder-se a si mesmo; é o integrar-se na Verdade, tornar-se
parte da Verdade, e sair para o mundo e libertar aqueles que estão adorando
ilusões.
Jiddu Krishnamurti, 1930
Não se encontra liberdade na troca de gaiola
A vida é um processo de
desenvolvimento por meio da seleção; e é assim, quer se seja jovem ou velho.
Tanto a juventude como a velhice têm suas ilusões. Os velhos têm as ilusões das
superstições ocultas nas quais buscam refúgio para o conflito com a vida. Os
jovens de hoje, frequentemente, não têm crença alguma; acham-se em revolta
contra todas as ortodoxias. Porém, esta revolta, pode, ela própria, ser uma
ilusão pelo fato de ser, muito frequentemente, somente uma oculta
auto-indulgência. A ortodoxia de qualquer espécie que seja implica disciplina e
a revolta contra a autoridade pode ser a revolta contra isto. De modo que tantos
os jovens como os velhos possuem suas peculiares ilusões — encontrando-se as
dos velhos no conforto da superstição, e as dos jovens na descrença
confortável. Nos velhos isto induz à estagnação, nos jovens à revolta sem
sentido. Quando ferirdes a raiz da ilusão por meio da seleção e por meio do
esforço, estareis libertando essa vida que é verdade. Não se trata de atingir
alguma coisa; trata-se simplesmente de libertar algo que já existe. Pelo
libertar a vida de ilusões vós a capacitais a funcionar livremente através de
vós e assim a vós próprios firmais nessa perfeita
serenidade de pensamento e pureza de emoção que faz parte da liberdade da
vida. Para ferirdes a raiz da ilusão precisais primeiro saber qual é a sua
raiz. É o desejo. Averiguai quais
são os vossos secretos desejos e sabereis o que é que está criando as vossas
ilusões. Não procureis, porém, matar o desejo, pois o desejo é vida. Buscai
simplesmente desejar com verdade —
isto é, desejar do ponto de vista da
Vida Universal, não da vida separada. Quando puderdes fazer isto tereis
atingido a espécie de desejo, que não acalenta ilusões.
Buscar alcançar a verdade pela
destruição do desejo é como destruir as raízes da árvore e ao mesmo tempo
esperar que ela proporcione frescas sombras, fragrância e folhas verdes. Se
destruirdes o desejo, até mesmo o vosso crescimento como seres humanos ficará
destruído. O problema é manter e intensificar o desejo, ao mesmo tempo que
impedi-lo de buscar satisfação na ilusão. Uma vez que possais efetuar isto,
então vosso desejo será livre. Na maioria das pessoas há conflito entre o
desejo e os meios de auto-realização que a ele se impõem e assim, em lugar do
desejo finalizar pela felicidade — como o deveria — termina pela tristeza. E
quando isto acontece, o desejo busca imediatamente conforto. Isto é, ferido
pelo seu próprio resultado, busca refúgio em si mesmo e por esta maneira
estabelece um padrão ilusório de espiritualidade. Quase todos se satisfazem com
este padrão, não reparando que ele não colabora para os fins do preenchimento
da vida, porém antes para a negação desse preenchimento. A espiritualidade que
flui da vida evidencia-se espontaneamente a si mesma na conduta. Quando a
espiritualidade for uma simples fuga da vida, dá-se sempre o conflito entre ela
e a conduta.
Há três estágios na evolução do
desejo. No primeiro, pensa o homem que será feliz de possuir uma casa,
automóvel, livros ou dinheiro. Não estou condenando este estágio; é uma
primeira tentativa natural para formular o anseio verdadeiro que a pessoa que
dele é objeto não compreende ainda. O que ela realmente está buscando é uma beleza e uma felicidade que são
impessoais; porém não se apercebe perfeitamente disto e muito naturalmente
interpreta-o como uma busca de bens pessoais. Porém, uma tal busca, implica
inveja, cobiça, ódio e exploração dos outros, pois que tem de ser alcançada as
custas de outrem e, sendo esta a sua natureza, tem que, cedo ou tarde, produzir
a desilusão.
Tempo virá em que o homem
descubra que por meio das posses a felicidade jamais pode ser atingida; e
quando ele verifica isso, vulgarmente entra no segundo estágio do desejo, a
transferência do anseio pelas posses para o reino das coisas sutis. Aí o desejo
toma o caráter de apegar-se aos confortos espirituais para que o protejam
contra o conflito com a vida. Exatamente como alimentará a ânsia pela riqueza e
outras coisas mais, afim de proteger-se contra a luta da existência física,
assim agora procura os guias, os gurus,
as autoridades de modo a estas pouparem-lhe o conflito em um nível superior. Porém,
mais uma vez, isto tem que demonstrar-se ilusório, pois que a maneira única de
escapar ao conflito é a vitória. E assim, o segundo estágio do desejo é
abandonado e entra ele no terceiro (por favor lembrai-vos de que estes estágios
não constituem divisões reais. A vida, em si, não pode ser subdividida por esta
maneira. É por mera conveniência que deles falo).
O terceiro estágio parece a
princípio semelhante à pura negação pois que representa o abandono de todas as
tentativas para encontrar a felicidade em algo externo — seja nos confortos
físicos externos, seja nos confortos espirituais tais como os Mestres e os
instrutores. Se, porém, tivermos a coragem de realmente entrar nele,
verificaremos ser positivo, não negativo. O eliminar todo o desejo de auxílio
externo é libertar o verdadeiro desejo o qual se refere ao desejo que somente
pode ser encontrado dentro de si próprio.
Isto é o que realmente estamos buscando a todo o instante, porém sem o
sabermos. É o significado real da busca do auxilio exterior. Quando o desejo é
assim liberto, a própria vida fica livre. Pois um tal desejo nada mais é que
vida.
O verdadeiro desejo é puro ser, é a mais alta verdade, a mais
alta espiritualidade, o absoluto. É a ligação do amor com a intuição, é Deus, é
tudo.
Para libertardes, portanto, os
vossos desejos, tendes primeiro que verificar a espécie de satisfação que eles
buscam, e depois colocar à prova essa satisfação à luz da intuição; isto é, ver
qual o valor que eles têm em relação ao puro
ser. Então, seguramente, haveis de verificar que não pode existir
verdadeira interpretação para o desejo, que torna a sua satisfação dependente
de outrem. Somente dentro de vós e por intermédio de vós mesmos, podereis realizar
o puro ser, de modo que somente
pelos vossos próprios esforços, pela vossa seleção continuada e constante consecução,
podeis alcançar o preenchimento, podeis chegar à consumação do desejo — essa
consumação pela qual a vida manifestando-se como desejo, realmente anseia.
Existe somente uma prova para
todas as vossas ideias e emoções, e esta é saber se elas pertencem ao mundo do
que é perdurável; porém o aplicar esta prova subentende a necessidade de pensar e sentir por vós mesmos, coisa que é a última
coisa a ser desejada pela maioria das pessoas. Tendes que possuir uma visão
independente da vida; vosso pensamento deve ser original, não meramente
mecânico. A chave para a mais alta das realidades é a independência —
independência de pensamentos, de ação e sentimento. Por muito difícil que seja
isto, deveis praticá-lo sem restrição.
Crescer é lutar, e aquilo pelo
qual tendes que lutar não é algo para o vosso eu separado, nem é assunto de
cultivar esta ou aquela qualidade especial. É simplesmente o libertar a vida. A
pergunta a ser feita é: Flui ela espontaneamente provindo de um impulso
interior, sem depender de nada de exterior fora dela mesma? Somente por esta
maneira é que a mais alta realidade é atingida. Tudo mais fomenta a desordem,
confusão e tristeza. É confinar a vida dentro de gaiolas ou pelo menos, substituir uma
gaiola por outra.
Assim, pois, homem feliz é aquele
que encontrou sua própria verdade — não a verdade de outrem — o homem que segue
a voz de sua própria intuição a qual é a voz do Eterno dentro dele existente.
Jiddu Krishnamurti, 1930
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)
"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)
"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)
Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...
Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.
David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.
K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)
A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)
"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)
"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)
Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...
Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.
David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.
K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)
A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)
O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill