Pergunta: Algumas pessoas têm feito objeções ao vosso ensinamento sobre
a vida, dizendo que a vida sempre se expressa em formas e que não podem
conceber a vida, puramente, em si mesma. Ora, eu penso que a vida e a forma não
estão opostas, pois que a vida não me parece ser nem com a forma nem sem a
forma, porém, externa-se mediante o processo de mudar sempre, sempre vir-a-ser,
enquanto que a forma, em si mesma, é produzida pela ilusão do estar-parado.
Estará isto de acordo com o vosso ponto de vista?
Krishnamurti: Em parte.
Para mim não existe separação entre forma e vida, entre espírito e matéria, tudo é um.
A forma é a expressão da vida; se a vida não for forte, vital, flexível,
enérgica, completa e integralmente livre, vossas formas serão limitações.
Assim, deveis vos preocupar com a vida e, depois, as formas cuidarão de si
mesmas.
Pergunta: Dizeis que a maneira pela quais ensinais é a mais rápida e
mais fácil. Qual a razão porque, aparentemente, tão poucas pessoas na história
encontraram esta via mais curta?
Krishnamurti: Quantos
dentre vós estão dispostos a tentar aquilo que digo, a efetuar experiências?
Muitos poucos. E esta é a razão pela qual existem tão poucas pessoas na
história. No fim de tudo, o homem que atinge, encontra a sua meta após haver
passado através das coisas ordinárias, não-essenciais de todos os dias,
exatamente como todos os outros. Porém, imediatamente após haver atingido, vê
ele que todas essas coisas não-essenciais, mesquinhas, são desnecessárias. E,
assim, diz ele aos outros: “Não façais estas coisas”. Poucos, porém, o escutam.
Muitos poucos contendem com ele nas coisas essenciais.
Pergunta: A crença necessita ser ensinada do exterior até uma certa
idade. A que estágios da evolução da humanidade será isso aplicável?
Krishnamurti: Não podeis
aplicar isto à humanidade. Nada temos que ver com a humanidade. Não me
desentendais, por favor. Temos que ver com o indivíduo, pois que o indivíduo “é” a humanidade. Se o indivíduo
necessita ser ensinado do exterior, então a ele compete decidir em que estágio
deve ser ensinado e em que estágio o não deve. Não podeis estabelecer lei. Isso
depende do indivíduo.
Pergunta: Dizeis que ensinais a verdade absoluta. Acha-se vossa
expressão dessa verdade absoluta, de algum modo, necessariamente, limitada pela
limitação das palavras?
Krishnamurti: Certamente.
Se eu dispusesse de um novo vocabulário, estaria muito bem, porém, isto
implicaria meu aprendizado de um vocabulário novo. Assim, usando palavras
vulgares, — não palavras técnicas ou filosóficas — e esforçando-me para
explicar essas coisas que são inexplicáveis por meio de palavras ordinárias,
dá-se, naturalmente, uma limitação. Porém, certamente, a limitação das
palavras, não virá a ser a limitação da verdade. Pelo menos para mim. Para mim
é isto uma experiência vasta, imensa, que todo o ser humano necessita fazer, na
qual necessita viver e ter concentrado o seu ser. É como se fosse o céu
inteiro, enquanto que as palavras são meras janelas. Não podeis traduzir o céu
inteiro por meio de palavras. Se, porém, passardes para além das palavras, —
vede bem, intelectualmente, não mística ou sonhadoramente — então a ilusão das
palavras desaparecerá.
Krishnamurti, no Castelo de Eerde, 19 de julho de 1929