Tenho meditado todas as manhãs durante meia hora ou 35 minutos. Medito das 6:45 às 7:20. Estou começando a concentrar-me melhor ainda que seja por algum tempo, e volto a meditar por uns 10 minutos antes de dormir. Tudo isso está surpreendendo, não está? VOU RECUPERAR meu antigo contato com os Mestres. Afinal de contas, essa é a única coisa que tem importância na vida. Nada mais tem. A princípio foi difícil meditar ou concentrar-me, e se bem eu o esteja fazendo apenas por uma semana, sinto-me agradavelmente surpreendido.
[...] Como você está farto de saber, não tenho sido o que se chama "feliz" por muitos anos; tudo o que eu tocava me trazia descontentamento; minha condição mental, meu queridíssimo Irmão, tem sido deplorável. Eu não sabia o que queria nem me preocupava em sabê-lo; tudo me enfadava depois de pouco tempo e, na verdade, eu não me encontrava.
[...] Eu começara a meditar regularmente todas as manhãs, por meia hora. Depois de alguns dias de meditação, principiei a ver com clareza onde falhara e onde estava falhando e comecei a destruir consciente e deliberadamente as acumulações erradas dos anos passados. Deixe-me aqui reconhecer envergonhado que meus sentimentos por você não eram o que deviam ter sido. Agora são inteiramente diferentes, e creio que o amo e respeito como pouca gente o faz. O amor que eu lhe consagrada quando mos encontramos pela primeira vez em Adyar voltou trazendo consigo o amor do passado. Não imagine, por favor, que estou escrevendo simples banalidades e frases batidas. Eles não são uma coisa nem outra e você, irmão muito querido, me conhece melhor do que eu mesmo. Eu quisera, de todo meu coração, poder vê-lo neste momento...
Nós últimos sete anos, com efeito, tenho estado cego espiritualmente, tenho estado metido numa masmorra, sem Luz, sem ar fresco. Agora sinto que estou ao Sol, com a energia de muitos, não física senão mental e emocional. Sinto-me novamente em contato com o Senhor Maitreya e o Mestre e não há mais nada a fazer senão servi-Los. Toda a minha vida, agora, no plano físico, é conscientemente dedicada ao trabalho e não é provável que eu mude. — Krishnamurti em carta para Leadbeater
[...] Creio que tive a felicidade de RETORNAR à Consciência do Mestre... por esse depoimento você verá que estou "mudado" e que minha felicidade transcende a felicidade humana. Sinto e vivo em estado de exaltação, que não é a exaltação do orgulho... nunca mais serei o mesmo. Não vou deixar de ama-la, mãe querida, nunca, mas minha atitude em relação à vida modificou-se; ela não me reserva mais nada além do trabalho. Possuo, decerto, mais energia mental e emocional, mas ainda não possuo a energia física, que virá a seu tempo. Sinto-me como se estivesse sentado no topo de uma montanha em atitude de adoração e que o Senhor Maitreya está perto de mim. Sinto como se caminhasse sobre o ar delicado e fragrante. O horizonte de minha vida é claro e a linha do céu é bela e precisa.
Portanto, mãe, você está vendo que mudei e com essa mudança em mim mudarei a vida dos meus amigos. Quero que eles escalem a mesma montanha e dali contemplem as glórias dos Grandes Entes... quero que você esteja lá em cima comigo... ajudarei o mundo inteiro a subir a um plano um pouco mais elevado do que o seu plano atual e você, mãe, precisa ajudar-me e, para ajudar, precisa ter escalado de modo que possa dirigir as pessoas ao longo do caminho. Você precisa mudar, mudar com deliberação e com um propósito firmado... Não pense, por favor, que estou pregando para você mas, tendo mudado e julgado haver-me encontrado, quero ajudá-la a compreender o seu próprio ego e a crescer. Você precisa ser grande, pois não há mais nada para fazer no mundo além de palmilhas a Senda gloriosa e sagrada e, mãe querida, eu vou ajudá-la. Não há nada mais para fazer senão vir a ser como ELES em todas as coisas e segui-LOS e servi-LOS servindo o mundo. Você não sabe o quanto mudei, toda a minha natureza interior vibra de energia e pensamento e estou certo de que o meu ego já foi destruído. Estou ligeiramente clarividente. — Krishnamurti em carta para Lady Emily
[...] Faz mais de dez dias que não lhe escrevo... Mas creio que tenho uma desculpa muito substancial; desde que tive aquela memorável experiência não tenho andado “bem”. Todas as tardes, por volta das 6:30, fico semiconsciente; não me alimento mas vou para a cama; isso dura de 6:30 a 7:30 ou 8 e, às vezes, até 8:30. Debato-me, resmungo, gemo e murmuro coisas estranhas, na realidade quase me comporto como um possesso. Levanto-me, pensando que alguém está-me chamando e caio no chão; tresvario consideravelmente, vejo rostos estranhos e luzes. Durante todo esse tempo sinto uma dor violenta na cabeça e na nuca e não tolero o contato de ninguém. Torno-me também muito sensível, não aguento um único som, por menor que seja. Sinto-me exausto enquanto a coisa se processa. A experiência toda, por vezes, é muito aguda e faz-se mister o emprego da força para sujeitar-me. Outras vezes, porém, é bem suave. Depois que se acaba, lembro-me de algumas partes da cena que andei criando; em seguida alimento-me e vou para a cama. Não sei qual é a causa nem para que é isso; faz quase um mês que dura, ocorrendo praticamente todos os dias, a não ser quando fui a Los Angeles. Pode ser que eu me torne clarividente quando tudo isso acabar, ou pode ser apenas que eu esteja enlouquecendo aos poucos!!! Nos últimos cinco ou seis dias tenho visto minha mãe morta. Sempre que fecho os olhos, sobretudo ao entardecer, quando Rosalind, que cuida de mim nesse período, está comigo, vejo-a com muita clareza, chamo-a em voz alta e confundo Rosalind com minha mãe, que perdi há tanto tempo. Pode ser que ela se utilize de R. ou que R. seja a reencarnação de minha mãe. Não sei qual das duas hipóteses é a verdadeira, nem isso tem importância. Enquanto estou nesse estado, lembro-me de cenas da infância há muito esquecidas: quando eu estava doente, como costumava descansar no estômago de minha mãe!!, os mendigos a que dávamos de comer, como ela me acordava todos os dias, a ida para a escola, etc. Não posso explicar tudo isso, mas vou perguntar a C.W .L. — isto é, se ele quiser contar-me. De modo que assim passo as primeiras horas da noite. Nitya estendido numa cadeira lá fora, na varanda, e Rosalind dentro do quarto para impedir-me de cair.
Aproveito as manhãs para escrever um artigo de natureza um tanto curiosa. Já escrevi, até agora, 23 páginas, absolutamente desajudado, e não lhe direi de que se trata, pois você o verá. — Krishnamurti em carta para Lady Emily
[...] Mal consigo compenetrar-me de ter dado esse passo; enquanto passava por essa notável experiência, não ponderei a importância dela, como o faço agora. Foi como um sonho magnífico, cuja grandiosa realidade agora compreendo. Alegro-me por ter sido honrado com essa Iniciação, pois doravante posso ser mais útil aos Mestres e a vocês dois, a ela e a você. Minha dificuldade é sentir-me muito pequeno e incapaz de executar o grande trabalho; ainda me falta confiança em mim mesmo e não creio que eu venha a ser presunçoso algum dia. Não me sinto assim. Preciso melhorar tanto a escrita quanto a fala, visto que sou meio retraído. Darei ênfase especial a essas duas coisas. Daqui por diante, só terei uma preocupação e essa preocupação é o trabalho, que espero executar de maneira totalmente desinteressada... — Krishnamurti em carta para Leadbeater
Estou ficando cada vez mais irritadiço e cansado. Eu quisera que você e os outros estivessem aqui. Sinto agora vontade de chorar com muita frequência e eu não era assim. É horrível para os outros e para mim... Eu quisera que Helen estivesse aqui mas isso é impossível, como também é provável que Eles não queiram que ninguém me ajude neste momento. De modo que terei de fazer tudo sozinho... Por mais que tentemos, existe uma solidão, a de um pinheiro solitário no ermo. — Krishnamurti em carta para Lady Emily
[...] Os últimos 10 dias foram realmente violentos, minha espinha e meu pescoço ficaram muito fortes e anteontem, dia 27 [fevereiro], tive uma noite extraordinária. Seja lá o que for, a força ou como quer que denominemos a maldita coisa, me subiu pela espinha, me chegou à nuca e ali se separou em duas, uma que foi para a direita e a outra para a esquerda da minha cabeça até se encontrarem entre os dois olhos, logo acima do meu nariz. Houve uma espécie de chama e vi o Senhor e o Mestre. Foi uma noite tremenda. Está claro que foi tudo doloroso ao extremo. Ontem à noite eu estava tão cansado que não se pôde fazer coisa alguma, mas suponho que isso continuará e tenho a certeza de que logo teremos um feriado. — Krishnamurti em carta para Lady Emily
[...] Meu processo está começando devagar e é bem doloroso. Tenho a nuca e a base da espinha mais uma vez ativas e quando penso ou escrevo essa atividade é quase insuportável. Assim que me deito sinto muita dor e, quando acordo de manhã, acordo com a impressão de que a dor esteve presente a noite inteira. É tudo muito curioso e não o compreendo de maneira alguma... Tenho um intenso desejo de vê-lo, e pergunto a mim mesmo quando verei satisfeito o meu desejo. — Krishnamurti em carta para Leadbeater
[...] Imagino que ela (a dor) cessará algum dia mas, por enquanto, é medonha. Não posso fazer trabalho de espécie alguma, etc. Atualmente dura o dia inteiro e a noite inteira. Quando Helen estava aqui eu conseguia relaxar-me, mas agora nem isso. Sinto uma vontade enorme de chorar a mais não poder, mas não adianta. — Krishnamurti em carta para Sra. Besant
[...] À noite (K) soluçava, gemia e chorava, chamando por Nitya, às vezes no télugo nativo, que não conseguia falar em vigília consciente. Dia após dia, nós o vigiamos, prostrado pela dor, desiludido. Dia após dia, ele parecia mudar, recompondo-se com esforço para enfrentar a vida — mas sem Nitya. Krishna estava passando por uma revolução interior, encontrando novas forças. — Relato de Shiva Rao
[...] Acabaram-se os sonhos agradáveis que meu irmão e eu tivemos do físico... O silêncio era um deleite especial para nós, já que nos era tão fácil compreender os pensamentos e sentimentos um do outro. Não nos esquecia a irritação ocasional que provocávamos um no outro, mas nunca íamos muito longe, pois a irritação passava em poucos minutos e costumávamos cantar canções cômicas ou salmodiar juntos, conforme a ocasião. Gostávamos ambos da mesma nuvem, da mesma árvore, da mesma música. Divertiamo-nos muito na vida, embora tivéssemos temperamentos diferentes. De certo modo, nós nos compreendíamos sem esforço... Era uma existência feliz e eu lhe sentirei a falta física durante toda esta vida.
Um velho sonho está morto e um novo sonho está nascendo, como a flor que rompe através da terra sólida. Uma nova visão está ganhando vida e uma nova consciência está-se desdobrando... Sente-se um novo frêmito e uma nova pulsação da mesma vida. Uma nova força, nascida do sofrimento, pulsa nas veias e uma nova simpatia e uma nova compreensão nascem do sofrimento passado. Um desejo maior de ver os outros sofrerem menos e, se for preciso que sofram, vê-los suportar com nobreza o sofrimento e sair dele sem muitas cicatrizes. Chorei, mas não quero que os outros chorem. Se eles, porém, chorarem sei agora o que isso significa... Vi meu irmão... No plano físico poderíamos estar separados, mas agora somos inseparáveis... Pois meu irmão e eu somos um só. Como Krishnamurti tenho agora maior zelo, maior fé, maior simpatia e maior amor, pois há também dentro em mim o corpo, o Ser, de Nityananda... Ainda sei chorar, mas isso é humano. Agora sei, com maior certeza do que nunca, que há uma beleza real na vida, uma felicidade real que nenhum acontecimento físico pode destruir, uma grande força que não pode ser enfraquecida pelos acontecimentos que passam, e um grande amor permanente, imperecível e invencível. — Krishnamurti em Bolombo