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terça-feira, 28 de junho de 2016

A Verdade reside no adestramento do eu

Vou narrar-vos pequeno incidente que se passou comigo o ano passado, enquanto estava na Índia. Fui ao encontro de alguns amigos em uma estação de caminho de ferro — e não podeis imaginar o que é uma estação indiana, muito mais bulhenta e mesmo suja do que o costumam ser vulgarmente as estações ferroviárias. Vi um homem que fazia rodeios, desejoso de falar-me. Era um daqueles que puxam os rickshaw — carros de duas rodas nos quais um homem se senta e um outro o puxa. Por fim ele encheu-se de suficiente coragem e veio falar-me. Perguntou-me em inglês muito errado e falho onde eu morava, que fazia e se estava para assistir à chegada de irmãos e irmãs minhas. Expliquei-lhe onde me encontrava domiciliado; e, finalmente, perguntou-me se lhe seria permitido descer a plataforma, acompanhando-me. Achava-se quase tão acanhado quanto eu! Daí a pouco puxou um cigarro do bolso e começou a fumar. Após algumas baforadas perguntou-me se fumava. Disse-lhe que não. Então, olhou por algum tempo para o cigarro e disse: “Suponho ser desnecessário fumar”, e eu respondi-lhe: “Provavelmente”. Pois esse homem, cujo maior prazer era talvez fumar, retrucou: “De hoje para o futuro, nunca mais fumarei”, e atirou fora o cigarro com uma violência que, realmente, me surpreendeu.

Não vos narro este incidente para vos incitar a que não fumeis — isto é assunto aparte. Porém, um ato de real entendimento praticado com real profundeza de sentir, colocará um homem em um pináculo de grande visão, de grande entendimento, de grande deleite. Como disse em minhas palestras, para descobrir essa eternidade que é o eu em consecução, essa harmonia de estabilidade entre a razão e o amor, é necessário, do meu ponto de vista, afastar-se de todas as coisas não-essenciais e deve produzir-se uma expressão física desse afastamento. Por favor, não penseis que pelo fato de as coisas não serem essenciais deveis continuar a condescender com elas; sei que muita gente dirá: “Continuarei a fazer estas coisas por não serem elas essenciais”. Isto pode ser maneira muito cômoda de encarar a vida, porém vós necessitais, ao contrário, pelo processo de eliminação, afastar-vos de todas essas coisas não-essenciais, por serem absolutamente infantis, triviais, absurdas. Mediante este afastamento descobrireis o eu verdadeiro e disciplinareis a esse eu. Não é por meio dessas complicações, por meio dessas coisas não-essenciais, mas antes pela sua eliminação, pelo deixa-las de parte que encontrareis a verdade, que encontrareis o eu verdadeiro, mediante o qual o genuíno processo de autodisciplina começará.

Pela autodisciplina eu não entendo a repressão, mas antes a auto disciplina mediante o entendimento que vos conduz à libertação, esse equilíbrio da razão e do amor. Se quiserdes encontrar a verdade, essa disciplina do eu, que é a semente da razão e do amor, deve ter lugar a todo o instante do dia, deve estar focalizada agudamente em toda a coisa que fizerdes. A verdade está no processo e não na consecução. À medida que viverdes, vos manifestardes e atuardes na vida diária, a encontrareis. No adestramento desse eu reside a Verdade — e em nada mais. O assunto de importância, pois, não é a invenção de multidão de teorias ou filosofias, mas antes a descoberta do “Eu” que é progressivo e tornar esse “Eu” progressivo incorruptível. No educar, no cuidar, no encorajar este “Eu” em direção à liberdade, em direção ao reino no qual não existe limitação do ser, reside a verdade. Tendo como vossa visão essa libertação da qual vos falo, mediante o processo da autodisciplina imposta a vós próprios por vós próprios, não tendo em conta a recompensa ou o tenor da punição, encontra-se o verdadeiro atingimento, o preenchimento, a incorruptibilidade do eu. Toda a manifestação — não em sentido filosófico, pois estou usando a linguagem vulgar — é a criação do eu, é a sombra do eu. Se o eu for impuro, corruptível, então todas as manifestações desse eu serão impuras, e corruptíveis. Assim, necessitais buscar primeiramente a perfeição, a incorruptibilidade do eu, pois somente nisso reside a verdade. Deveis afastar-vos de todas as coisas não-essenciais, pois que põem uma limitação sobre o eu. Tendes de vir descarregados, livres, ilimitados; então essa verdade, que não está longe nem está perto, será descoberta e aquele que a houver descoberto constituir-se-á um perigo para todas as irrealidades, para todas as falsidades da vida.


Krishnamurti, 3 de agosto de 1929, Acampamento de Ommen 
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill