6ª Pergunta: Que direis a um grupo de estudantes de colégio que
afirmassem não ter credo, nem religião, nem crença, exceto a ciência material,
e que não consideram necessário ideal algum desde que possam ganhar a sua vida?
Krishnamurti: Eu lhes perguntaria se eles sentem ou não tristeza,
se não amam alguma coisa, se não amam a alguém. Um colegial como qualquer outra
pessoa, acha-se colhido pelas garras da tristeza de várias espécies — posto que
não da espécie da vossa, particularmente. Ele não se preocupa acerca do
essencial, ou com a reta espécie de cerimonial, porém sim com os seus
sofrimentos e deles quer libertar-se. Ele deve amar a alguém cujo intermédio
lhe advém os emaranhados do amor, e manifesta-se a tristeza. É muito fácil
falar a tais pessoas por não alimentarem elas tantas ideias preconcebidas,
prejuízos, seguranças. Quereis examinar, criticar, aquilo que diante delas
colocais.
7ª Pergunta: Não julgais ser muito difícil à criaturas jovens verificar
o que é essencial e o que o não é?
Krishnamurti: Não sei se somente os jovens é que têm tal
dificuldade. Expliquei já como se deve discernir. Não vos posso dizer o que é
essencial e o que é falso, o que é durável e o que é passageiro, porque, se o
fizesse, constituiria uma gaiola. Vós é que tendes de sofrer, vós é que tendes
de lutar, vós é que deveis ser capazes de distinguir agora. Digo que as coisas
essenciais são as que vos dão liberdade, absoluta e incondicionada, que vos
darão essa felicidade que é inabalável. Todas as outras coisas são
não-essenciais. Tendes que examinar e verificar por vós mesmos o que pensais
ser essencial. Se, ao contrário, eu vos dissesse quais as coisas essenciais,
onde estaria o vosso progresso, onde estaria vossa “uniquidade” na consecução?
8ª Pergunta: Para quem quer que esteja desapegado do afeto humano, qual
o valor da humana amizade?
Krishnamurti: O estar verdadeiramente desapegado significa que
estais apegados a todos, portanto, o desapego é a resultante de todo o afeto
humano e sobrepuja toda a amizade especializada. No fim das contas, o amor
verdadeiro que é desapegado, pelo fato de ter apego a toda a coisa, é a
resultante, a consumação de todos os afetos humanos, é o preenchimento de todo
o amor. Assim, é absolutamente desnecessário ao homem que atingir, o ter
amizades humanas, pois que a humana amizade é, na maioria dos casos, a
resultante do isolamento, das tristezas, do anseio pela companhia. Se, porém, a
todo instante lutardes para firmar o amor por todos, então servir-vos-eis do
afeto humano, de toda a afeição que agite o vosso coração, para atingir essa
perfeição do amor.
Krishnamurti, 7 de agosto de 1929, Acampamento de Ommen