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quarta-feira, 28 de dezembro de 2016
terça-feira, 27 de dezembro de 2016
O papagair da mente adquirida e o pirata do ser
Sinta-se abraçado!
Grato pela leitura atenta sobre as nossas percepções quanto a questão do vazio, o qual sempre nos acompanhou e que nos acompanhará até que se dê o fechamento do processo de resgate da Perene Consciência Amorosa e Integrativa que somos — isso para aqueles que forem realmente sérios e se debruçarem sobre o material que faculta a percepção e o autoconhecimento.
É comum ouvirmos os confrades, principalmente o confrades mais assíduos com o estudo das obras de pensadores como Jiddu Krishnamurti, Osho, Ramana Maharshi, Paul Brunton, entre outros autores que indicamos, bem como com o material dos nossos áudios e com os raros contatos presenciais — que vão estreitando uma aproximação com outros buscadores mais antigos — mesmo que virtualmente, com ajuda das várias ferramentas provenientes nas redes sociais, é natural enquanto se absorve o paradigma holotrópico, ir se instalando a sensação de vazio. Isso é muito natural!
No início do processo de autoconhecimento, o qual nos prontifica para a manifestação do contato consciente com a Perene Consciência Amorosa Integrativa que somos, não conseguimos mensurar com clareza a Graça que estamos recebendo em meio desse processo de desconstrução de um modo condicionado de existir, modo esse que nos priva do conhecimento da verdadeira liberdade do espírito humano. Acabamos não percebendo as silenciosas ocorrências. Sempre procuramos chamar atenção para o fato de que se você vai lendo os textos desses autores citados, se você vai ouvindo os áudios e vídeos, por ainda estar num momento de muita confusão, resultante dos instintos naturais ainda adulterados, não é possível perceber com clareza, que está ocorrendo uma silenciosa revolução estrutural interna; que está ocorrendo uma mutação na maneira de se perceber a vida, perceber a si mesmo, perceber as situações, perceber o fluxo da história e todo movimento feito até aqui. Leva certo período para começar a tomar consciência da transformação que está nos ocorrendo; é uma revolução silenciosa nunca sequer imaginada. E o sentimento de vazio é justamente um dos sintomas dessa revolução silenciosa.
Devido a imaturidade emocional, não conseguimos perceber com clareza as transformações que ocorrem nesse novo modo de perceber tudo que está ocorrendo, de perceber a nós mesmos e de perceber o mundo. Até porque, nunca houve um impulso para um incondicionado observar de tudo. Não havia a consciência e a presença do observador: funcionávamos apenas no automático. Então, com a instalação do observador é natural nos percebermos assustados com a qualidade desse novo olhar que se manifesta. Esse momento inicial de nosso processo é muito bem retrato no filme Matrix, quando o personagem Neo, ainda deitado num leito, vira-se para o personagem Morfeus e lhe questiona: “Por que os meus olhos doem?” E Morfeus com muito tato lhe responde: “Porque você nunca os tinha usado antes, Neo!” O próprio filme é um excelente arquétipo para apontar as várias fases e sintomas — os medos, as paranoias — que nos ocorrem durante o processo de autoconhecimento e de prontificação para a manifestação do contato consciente com a Perene Consciência Amorosa Integrativa que somos. Tudo isso é muito normal nessa etapa inicial.
É preciso ficar claro o porquê desse medo. Não esperávamos por nada disso, uma vez que não fomos nós que escolhemos o processo: o processo foi quem nos escolheu. E uma vez que o processo teve seu início, não há mais como dele se abster. Quando a toca do coelho branco se abre, não tem mais como fugir, pois Kansas e suas distrações, torna-se muito pequena e profundamente insatisfatória. Quando se instala o processo de prontificação para a manifestação da Perene Consciência Amorosa Integrativa, não tem como conseguir, de modo satisfatório, optar pelo autoesquecimento. Então, é preciso ter consciência de que essa confusão inicial é muito natural, afinal, esse processo de desconstrução nos lança num vazio de situações que antes eram psicologicamente extremamente importantes para nós.
O Paradigma Holotrópico, se formos realmente sérios, de modo muito claro, vai gradualmente nos apresentando a falência de nossas crenças, bem como a percepção de que não há como negociar para a continuidade do falso que vamos tomando conhecimento. Vamos constatando de modo irreversível, que tudo aquilo pelo qual antes seríamos capazes de dar a nossa vida, não faz o menor sentido de ser alimentado. Esse novo olhar faz com que fiquemos conscientes de que tudo isso sempre foi dotado de vazio, mas que não era percebido pela ausência dos “olhos de ver e dos ouvidos de ouvir”. Esse novo olhar faz com que entoemos a velha canção do poeta Herbert Viana: “Entrei de gaiato no navio, entrei, entrei, entrei pelo cano!” E esse paradigma holotrópico vem nos tirar desse processo de inconsciência de nossos condicionamentos que impedem a percepção da realidade espiritual que somos. Ele nos tira do convés desse social barco furado e nos arranca o chapéu e a viseira pirata que encobria a possibilidade de um olhar descondicionado, proveniente das qualidade de nossa natureza real, do incondicionado ser que somos.
Um fraterabraço e um chute nas canelas!
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terça-feira, 13 de setembro de 2016
Lenha
A mente, as emoções e os sentimentos são a lenha por fogo do coração do Ser que somos ser acendido...
segunda-feira, 12 de setembro de 2016
A Tradição e a Autoridade como pedras de tropeço
Ao ouvir estas palestras, não vos
apegueis, por favor, a uma única frase, imaginando haver compreendido o todo.
Eu posso, por infortúnio, usar palavras que deixem de transmitir o que tenho em
vista , ou usar um exemplo que não expresse o significado pleno do meu
entendimento. Portanto, eu vos concitaria a não vos dardes por satisfeitos com
o sentido literal das palavras, porém antes, buscar-lhes o integral
significado. Vossos pensamentos acham-se tão condicionados por preconceitos e
tradições que estais habilitados a perverter o entendimento. Se sois cristãos,
tendeis a colorir as novas com a visão tradicional, não as podeis examinar
livremente. Se fordes comunista, dar-lhe-eis uma interpretação comunista.
Assim, pois, vosso pensamento está sendo continuamente condicionado pelas
tradições, pelas vossas opiniões e ideias preconcebidas. Enquanto vossa mente
não estiver liberta de todos os preconceitos, jamais compreendereis o
verdadeiro significado da vida.
Tendes que por de lado vosso
Cristianismo, vosso Budismo, vossa Teosofia. Isto é coisa muito difícil de
fazer, como bem o sabeis. Educado como hindu, que sou, tive que libertar minha
mente de todos os hábitos tradicionais do pensamento hindu e, mais tarde, das
ideias teosóficas. Tive que abandonar todas as minhas ideias preconcebidas e
encarar as coisas sob o ponto de vista de seu valor intrínseco, não do ponto de
vista imbuído da tradicional irreflexão. A tradição e a autoridade são compulsões
que violam a completude intrínseca.
A maioria das pessoas no mundo
não se libertam porque desejam conforto e consolação; vivem na ilusão porque
querem contentamento e satisfação. Não ousam desnudar-se, temem esvaziar suas
mentes. Se contemplardes vossa própria mente verificareis estar ela cheia de
teorias herdadas a respeito do mal e do bem, do que é espiritual e do que não o
é.
Ocasionalmente, em meio desta
luta de tristeza e alegrias alternadas, alcançais um vislumbre de algo que vos dá êxtase e buscais tornar isto
permanente evitando o conflito. Percebeis este êxtase à distância, ao passo que
estais ainda rodeados por todas as vossas lutas, por vossas tristezas, por
vossos prazeres e dores. Ele parece distante e ansiais por escapar a todos
esses torvelinhos para ingressar nesse êxtase; no entanto, é por meio deles e neles que se acha este
êxtase da liberdade e não na evasão.
Pelo fato de evitardes o conflito
e a luta, o medo é criado e por causa do medo estabeleceis ilusões que vos
proporcionam consolo, conforto. Por causa deste medo aderis às tradições e vos
tornais um imitador. Confiais na compulsão e por isso não há entendimento. Por causa deste medo estabeleceis
autoridades espirituais e vós próprios vos erigis em autoridade. Assim
nasce a religião do temor e desse medo surge a exploração espiritual.
O mesmo se dá em relação com as
coisas físicas. O homem que necessita de haveres para sua felicidade, cria a
exploração material. O explorador não vem à existência de súbito, ele não é um
exotismo da natureza; é o resultado de vossas exigências espirituais e
econômicas. Portanto, vós sois os
responsáveis.
Se estiverdes colhidos pela
ilusão proveniente do medo, da tradição, da imitação, vossas ações hão de levar
à estagnação. No vos esforçardes por escapar ao conflito, vossas ações
conduzirão a ilusões inconscientes e à dependência da autoridade, na qual vos
tornais cada vez mais embaraçados. O homem viola sua própria e intrínseca completude
pela sujeição à autoridade espiritual. Sua disciplina não é disciplina, mas
unicamente uma sutileza de egoísmo que lhe proporciona animação para beneficiar
levado pelo seu desejo. Toda a sua concepção de vida está baseada sobre o
egoísmo, com todas as suas ramificações, suas ilusões, temores e consolos. Pelo
fato de sua ação, por causa do medo, ser inconsciente, ela conduz à
irresponsabilidade e, portanto, ao caos.
Ajustamento é apercebimento
continuado, o auto-recolhimento, a concentração que sabe que, onde quer que
haja egoísmo, há irresponsabilidade de ação e, por conseguinte, caos. O homem
que conhece o verdadeiro significado do ajustamento, está continuamente
buscando preservar em sua ação, a qual inclui pensamento e emoção, o límpido êxtase
do entendimento, e por isso não cria exploração, seja ela espiritual ou física.
Sendo a sua ação consciente, conduz à ação pura, sendo pura ação na qual não
mais exista egoísmo, personalidade, na qual a individualidade cessou por
completo.
Tornando-vos plenamente consciente,
responsáveis, baseareis vossa ação nessa responsabilidade consciente e não no
temor e na compulsão. Verdadeira ação é o consciente ajustamento de si próprio,
sem coação nem temor, sem estímulo de recompensa. É alegria agir sob este ponto
de vista; porém, quando imitais a alguém ou vos disciplinais de acordo com um
sistema dado, nada mais será que conformar-vos, coisa que representa a lenta
decadência. Não vos enganeis a vós mesmo dizendo: “É este o meu mais alto
ideal, portanto, a este ideal me estou adaptando”. Não vos podeis adaptar a um
ideal. Haveis apenas estabelecido uma imagem para vosso culto, que nada mais é
que egoísmo. Por outras palavras, mais não estais fazendo que glorificar o
vosso próprio ego, vossa própria personalidade. A realidade não é um ideal; é a
própria vida, e o vosso ajustamento a essa vida é a verdadeira ação.
Se pretendeis buscar o
entendimento, libertai-vos de todas as vossas imitações, de vossos cultos, de
vossas reclusões, de vossas igrejas e templos. Eles são a origem da exploração,
cuja fonte está dentro de vós mesmos.
Em primeiro lugar temos, pois, a
irresponsabilidade da ação; a obediência, em vossa vida espiritual e moral, e,
como consequência dela, a exploração e a desgraça. Isto é, primeiro vos é estatuída
uma lei e vós a seguis sem pensar; depois, por meio do sofrimento, por meio da
alegria, chegais a vos tornar responsáveis, plenamente conscientes e através
dessa chama da eu-consciência vos libertais de ação irresponsável. E assim vos
tornais a vossa própria lei.
O trabalho deve ser organizado,
planejado, porém o esforço individual para a compreensão jamais pode estar
sujeito a um sistema. No trabalho tem que haver autoridade, porém o pensamento
e emoção individual, a luta e ajustamento individual na vida, não podem ser
organizados nem disciplinados por autoridades.
Nos antigos tempos as comunidades
eram ilhas de refúgio baseadas na ideia de salvação comum; pensamento e emoção
eram guiados pela autoridade. Os indivíduos somavam suas capacidades e
combinavam entre si a partilha do trabalho da comunidade, visto sustentarem uma
crença comum. Reuniam-se sob a égide de uma autoridade aceita.
Ora, como disse, não vos é licito
sistematizar o pensamento e emoção individuais; o indivíduo tem que ser livre.
Porém, com esta liberdade, advém a organização natural do trabalho para
benefício do conjunto, sem sacrifícios individuais. A ideia de que mediante uma
autoridade espiritual pode ser criada uma moral que influencie a economia da
vida, é uma utopia, pois a moral somente pode ser firmada para o indivíduo por
meio de seu próprio esforço desperto. Por esta maneira, o trabalho torna-se
nada mais nada menos que um incidente necessário e o indivíduo não confia
somente no trabalho para a realização da verdade.
Não podeis realizar o êxtase da
verdade unicamente por meio de mera perfeição da técnica, de um talento
particular, ou do trabalho ou do serviço. Pensais que, a não ser que acentueis
vossa particular capacidade, não podeis ser indivíduos, ficareis submersos na
coletividade, no grupo anônimo. Ora, eu encaro as coisas por modo diferente.
Pelo fato de serdes parte da comunidade, a comunidade organiza vosso trabalho;
porém, quanto ao pensamento e emoção ficais inteiramente livres e é esta a
verdadeira liberdade individual. Portanto, não acentueis coisa alguma de
pequena importância.
Eu sustento que a realização da
verdade, do êxtase, reside unicamente em vossa auto-completude. É então que
conheceis plena, a consciente responsabilidade e sereis mantidos na solidão
pela vossa própria integridade. Por meio da chama da eu-consciência, chegais à
plena responsabilidade; estabeleceis vossa própria lei e isto é liberdade plena.
Esta solidão não é uma fuga, uma evasão; é a cessação gradual da ação
inconsciente, que não leva senão à desgraça, e que é começo da verdadeira ação.
Não sei quantos de vós tomarão o
que eu digo meramente como uma teoria filosófica, como um discurso que se pode
repetir aos outros, ou quantos de vós o tomarão com sinceridade. Se o tomardes
como um discurso filosófico ou se meramente repetirdes as minhas palavras, será
isso coisa difícil. É apenas pelo mudar fundamentalmente, com uma orientação
diferente do pensamento, uma modificação básica da mente, que podeis achar esta
completude, que podeis realizar este êxtase da vida. Para mudar
fundamentalmente, tendes que proceder a um começo consciente. Tornai-vos
plenamente responsáveis para convosco próprios, desde o próprio início; pensai
continuamente no que estais fazendo. Podeis conhecer a felicidade perdurável
apenas se, verificando o peso morto e a tirania dos anos passados, mantiverdes
a grade resolução de a vós próprios modificar no presente.
Krishnamurti, Palestra em Ommen,
Reunião de Verão de 1931
domingo, 11 de setembro de 2016
sábado, 10 de setembro de 2016
sexta-feira, 9 de setembro de 2016
O Cão Celeste
D’Ele fugia, noites e dias;
D’Ele fugia pela arcada dos anos;
D’Ele fugia por becos e labirintos
De minha própria mente; e na névoa das lágrimas
D’Ele me escondia e no riso incontido.
Atrás de esperanças imaginadas corri;
E atirei-me, precipitado,
Nas sombras titânicas de abissais pavores,
Destes fortes Pés que perseguiam, perseguiam,
Em caçada sem pressa
Imperturbável passo.
Deliberada urgência, majestática instância,
Ressoando – e a Voz reiterando
Mais insistente que os Pés
“Tudo te trai, a ti que Me trais.”
Supliquei, esperto fora-da-lei,
A muitos uma janela cordial, com rubras cortinas,
Tecidos com retorcidos amores
(Pois embora eu conhecesse o Amor de Quem me seguia,
Contudo eu estava certo na dor,
Que, tendo-O, nada mais poderia ter).
Mas, se apenas uma fresta se abrisse,
O susto de Sua vinda a teria trancado:
Não sabe o medo fugir, como o Amor perseguir.
Pela margem do mundo fugi,
Turvei o dourado chão de estrelas,
Buscando refúgio em suas sonoras barras,
Aflito por doces jarras
E tremor de prata nos pálidos portos da lua.
Disse à aurora: “Acontece!” E à tarde: “Vem logo!”
Com teus jovens celestes botões afasta-me
Deste tremendo Amante!
Faze flutuar teus vagos véus sobre mim, que Ele não me veja!
A todos os Seus servidores tentei. Nada achei.
Traído fui pela constância deles.
Na fé para com Ele, nos seus caprichos comigo,
Traiçoeira veracidade, leal engano.
A tudo de mais veloz mais rapidez urgi.
Grudado à uivante crina de todos os ventos.
Mas perpassassem, mansa brisa,
As longas campinas do azul;
Ou, incitados pelo Trovão,
Atroassem seu carro para um céu
Pejado de raios voadores em volta da poeira de Seus Pés,
Não sabe o medo fugir, como sabe o Amor perseguir.
Ainda em caçada sem pressa
E imperturbável passo,
Deliberada urgência, majestática instância,
Vieram os perseguidores Pés,
E a Voz acima do som de Sua marcha:
“Nada acolha a ti, que não acolhes a Mim!”
Não mais busquei aquilo atrás do que vagava
Em faces de homem ou donzela.
Apenas ainda lá, nos olhos dos pequeninos,
Parecia haver alguma coisa, alguma coisa respondendo!
Ao menos eles eram por mim, certamente, por mim!
Voltei-me para eles, muito tristemente,
Mas, logo que seus olhos belos se abriram,
Com nascentes respostas ali,
Seu anjo arrancou-os de mim pelos cabelos:
Venham, então, outras crianças, dom natural,
“Deem-me – disse eu – sua gentil amizade!
Deixem-me saudá-los, lábios nos lábios!
Deixem-me entrelaçá-los de carícias,
Caprichosamente,
Com as ciganas tranças de nossa Mãe Senhora,
Banqueteando-me
Com ela no seu palácio de muros de vento,
Sob seu pavilhão azul,
Tragando, como seu costume sem mancha,
De um cálice
Luzente de gotas do amanhecer!”
E assim se fez:
Eu, na gentil companhia deles, fui um –
Abri os selos dos segredos da Natureza,
Conheci todos os deslizantes significados
Na teimosa face dos céus.
Conheci como as nuvens se levantam,
Espumas do selvagem respiro do mar;
Tudo o que nasce ou morre,
Ergue-se ou cai; fiz deles moldes
De meus humores, ou penosos ou divinos.
Com eles jubilei e me enlutei.
Eu me via pesado com a tarde,
Quando ela acendeu vacilantes velas,
Em redor dos mortos trabalhos do dia.
Ri nos olhos da manhã,
Triunfei e me deprimi em qualquer clima,
O céu e eu juntos choramos,
E suas doces lágrimas se salgaram com as minhas mortais;
Contra o rubro pulsar do seu coração – crepúsculo,
Deixei o meu próprio bater,
E partilhar o bem vindo calor.
Mas nem assim, nem assim, aliviou-se meu humano sofrer.
Em vão minhas lágrimas molharam as cinzas faces dos Céus
Pois ah! Não sabemos o que um ao outro diz
Essas coisas e eu; em sons eu falo –
Seus sons não são mais que ondulações: falam por silêncios.
A natureza, pobre madrasta, não pôde matar-me a sede;
Deixai, se ele quiser me possuir,
Afastar do seu peito o véu azul celeste, e mostrar-me
Os seios de sua ternura.
Nunca seu leite abençoou
Minha sedenta boca.
Perto e mais perto se mostra a caçada,
Em imperturbável passo,
Deliberada urgência, majestática instância,
E, atrás destes ruidosos Pés,
Uma Voz chegou mais veloz:
“Nada te contente a ti, que não me contentas!”
Nu, espero do Teu amor o golpe final!
Peça por peça a armadura me arrancaste
E de joelhos me puseste;
Nenhuma defesa me resta.
Dormi, creio, e acordei,
Num lento olhar me vi despido no sono.
Na dura cobiça de meus jovens poderes,
Sacudi os pilares das horas,
Puxei minha vida sobre mim; rosto manchado
Estou de pé em meio ao pó de amontoados anos –
Minha estropiada juventude jaz morta nos escombros.
Meus dias demolidos se tornaram pó,
Inflaram, rebentaram como bolhas no riacho.
Sim! Falha, agora, cada sonho
Ao sonhador e a viola, ao violeiro;
Mesmo as sólidas fantasias, logros floridos,
Onde vi toda a terra como enfeite no meu punho,
Recuam: suportes de todo fracos
Para a terra de tão pesados lutos.
Ah! Será Teu amor
Erva daninha, embora florida,
Sem tolerar outros botões que não os seus?
Ah! Tens,
Infinito Inventor
Ah! Tens Tu de queimar a lenha antes de iluminar?
Meu frescor se foi, regando a poeira,
E, agora, meu coração é fonte exaurida,
Onde lágrimas estancadas se desintegram para sempre
Desde úmidos pensamentos que tremem
Sob os gementes ramos de minha mente.
Assim é. O que é para ser?
Se a polpa é tão amarga, como será a casca?
Zonzo, vislumbro que o tempo nas brumas se funde,
Mas, sempre de novo, a trompa ressoa,
Nos ocultos baluartes da Eternidade.
Destas névoas sacudidas, um espaço incerto se abre, então
Em redor das mal vislumbradas torres lavadas de novo.
Mas não será ele, o que convoca,
Quem antes eu vira, ileso,
Com brilhantes vestes púrpura, coroado de cipreste;
Seu nome conheço, e o que sua trompa clama.
Se o coração humano ou a vida seria o que produz
Tua ceifa, deve a sega dos Teus campos
Ser adubada com a podridão das mortes?
Agora, desta longa perseguição
Perto chega o rumor;
Esta voz me rodeia como o estrondo do mar:
“É esta a tua terra tão amada,
Partida em cacos e mais cacos?
Vê, todas as coisas fogem de ti, que foges de Mim!
Estranho, lamentável, fútil ser!
Porque qualquer coisa te daria singular amor?
Nenhuma vendo, fiz muito do nada” (Ele disse),
“E o amor humano necessita humano merecer:
Como tens tu merecido –
De todo humano coágulo de barro o mais obscuro coágulo?
Pobre, não sabes
Quão pouco digno de amor és tu?
Quem tu queres para amar-te, ignóbil ser,
Exceto Eu, somente Eu?
Tudo o que de ti tomei, tomei
Não para ferir-te,
Mas só para que tudo pudesses encontrar em meu abraço,
Tudo o que teu infantil engano
Imaginava perdido, guardei para ti em casa:
Levanta! Segura Minha mão e vem!”
Cessa, por mim, estes passos em tropel:
É minha tristeza, depois de tudo,
Sombra de Sua mão, estendida em carícia?
“Ah, tão querido, cego, fraco,
Eu sou Aquele a quem procuras!
Do amor te afastavas, tu que de Mim te afastavas”.
FRANCIS THOMPSON (1859-1907), Tradução por R. PAIVA, SJ
quarta-feira, 7 de setembro de 2016
Quem sou eu?
Quem sou eu? Esta é uma pergunta que deve penetrar fundo na nossa consciência. Ela deve ser formulada em silêncio e feita com reverência, com seriedade e, mais tarde, até mesmo num espírito de quase prece.
Devemos começar a tomar consciência dessa indagação e nos absorvermos nela durante um espaço limitado ao menos uma vez ao dia em nossa vida reflexiva. Devemos fazer uma tentativa de analisar a nossa natureza e — com espírito responsável e meticuloso — dissecar o conceito do eu assim como um anatomista disseca o corpo físico, até tomar ciência daquilo que o corpo realmente é. Esta análise deve ser mais do que um mero esgravatamento das paixões humanas, o qual, segundo numerosos psicólogos modernos, já seria suficiente. Ela deve ser um esforço para perscrutar uma seção transversal da experiência humana, em sua totalidade, desde o mais grosseiro até o mais etéreo.
Voltamos sempre ao único fator que deve ter preeminência, seja na filosofia teórica, seja na vida prática: o conhecimento do eu. Em consequência, o autoconhecimento dirige-se diretamente para este objetivo: uma análise mental do eu pessoal que resulte na descoberta do eu espiritual. Tal descoberta jamais surgirá se nos debruçarmos sobre uma mesa de laboratório. É essencial uma profunda meditação acerca do tema QUE SOU EU?
O princípio básico deste método é, portanto, tomar essa indagação, e tentar referir a natureza e a origem do conceito do eu; analisar a totalidade dos componentes que de hábito consideramos como partes do nosso ser individual; examinar, uma por uma, cada parte do corpo e suas respectivas emoções e pensamentos; e através disto tudo buscar aquilo que realmente se pode chamar de eu, relegando tudo mais a um esquecimento TEMPORÁRIO.
Paul Brunton em, A Busca do Eu Superior
terça-feira, 6 de setembro de 2016
Concentração: porta da libertação do intelecto
A concentração consiste em deter
a habitual mobilidade do intelecto e conservá-lo firmemente dirigido para uma
única linha de deslocamento, entrando profundamente num pensamento especial.
Para conseguir isto é necessário ignorar as impressões e sensações físicas que
o ambiente atira sobre nós, abafar o ruído da vida mundana, silenciando-o; e
manter à distância o enxame de pensamentos intrusos e externos, praticando o
controle consciente da mente durante a meia hora de meditação. Em suma, enquanto
pensamos integralmente no assunto escolhido, é preciso que haja uma resistência
voluntária aos impactos da percepção, que vêm de fora, e as rebeliões dos
pensamentos aleatórios, que vêm de dentro. Não nos é possível destruí-los ou apaga-los
prontamente, mas podemos fixar um alvo inarredável, um ideal de permanecer
indiferentes a eles como a rocha contra a qual as ondas do mar batem em vão,
impotentes para desloca-la da sua base. Durante a primeira metade do exercício
sentimos uma necessidade quase incontrolável de abandoná-lo, de nos erguermos e
tratarmos de outra coisa. A mente se queixará amargamente de ser desviada da
sua trilha habitual, da tirania de ser contrariada pela interiorização, quando
de bom grado aceita a tirania muito maior de ser o dia todo levada para o
exterior. A inquietude da mente é a descoberta genérica de todos quantos adotam
a meditação. Tal descoberta é confirmada por cada esforço e conduz à princípio
a um certo desencanto. Os primeiros e desajeitados esforços deixam uma sensação
de fracasso e fadiga. Compreendemos então que apenas uma pequena fração dos
nossos pensamentos é realmente nossa, o resto não passando de uma turba
indisciplinada e rebelde. Se cedermos a esses sentimentos negativos estaremos
caminhando para o fracasso. Se, contudo, aceitarmos o fato de que a tarefa
empreendida é séria e difícil — conquanto exequível e digna de ser cumprida —,
atacando com coragem e sem desfalecimentos os exercícios, um dia haverá uma
recompensa, quando no tumulto da mente surgir uma parada maravilhosa e a
tendência exteriorizante for inteiramente dominada.
Até aqui temos obedecido
irresistivelmente à constante mobilidade da mente e cedido a ela; no instante
em que começamos a silenciar a agitação habitual da mente, aparece, claro está,
uma séria resistência. E isso seria de esperar. Devemos aceitar, por
conseguinte, o fato da inevitabilidade dessa resistência e, ao invés de
abandonar os exercícios, por faltos de inspiração e estéreis, devemos
perseverar com paciência e confiança de que o intelecto se torne um pouco mais
firme a cada mês que passe.
Porque a mente foi aprisionada
pelo corpo e sujeita ao seu serviço, o objetivo da meditação é inverter as
posições e libertá-la de um jugo despótico, de modo que ela possa reunir-se com
o seu legítimo senhor, o Eu Superior. Quando a mente foge ao nosso domínio e
faz com que as sensações externas ou lapsos se imponham à nossa atenção,
devemos fazer o mais difícil: impedi-la de divagar; tentar torna-la
introspectiva e, pacientemente, fazer sua atenção reverter ao foco apropriado,
por mais cansativo e repetitivo que possa ser. Paciência e indiferença aos fracassos reiterados são essenciais na
obtenção do sucesso final.
A concentração do pensamento é
como cavalgar uma mula teimosa que não se cansa de enveredar para onde bem
entende; sempre que o montador percebe que a sua montada está desgarrando, é
obrigado a fazê-la endireitar a cabeça e retomar o caminho certo. O nosso Eu
Superior interno está sempre ao nosso alcance, mas os nossos pensamentos
itinerantes devem transformar-se no seu combustível; há tanto tempo agimos como
filhos pródigos que a jornada da volta demandará um apreciável espaço de tempo.
Por essa razão requer-se paciência nesses esforços. A ninguém é dado tornar-se
um bom músico em apenas três meses, contudo a maioria dentre nós espera
conseguir o melhor da vida depois de uns poucos esforços, tornando-se
pessimista quando não há uma resposta imediata.
É preciso acrescentar uma
observação final a fim de eliminar uma confusão que frequentemente ocorre à
mente dos que adotam a ioga — o caminho da concentração. A conservação de uma
linha de pensamentos consecutivos e ordenados, ou meditação, é o único processo
preliminar e intermediário desse caminho. Trata-se de um estado de transição. A
concentração ou contemplação adiantada consiste em fixar a atenção num único
pensamento, objeto ou pessoa, deixando que ela ali se demore e evitando outros
pensamentos sobre o mesmo tempo. Em consequência, um pensamento consecutivo
efetivo é o esforço inicial que leva à concentração, mas não é a concentração
final propriamente dita, porque envolve a passagem de uma sucessão de
pensamentos. A concentração envolve apenas um objeto, ou apenas um pensamento.
Precisamos aprender a encarar o intelecto como uma máquina de pensar que deve
ser temporariamente posta de lado quando houver servido aos seus propósitos, ao
invés de ser continuamente manipulada. A ação mental disciplinada tem de ser
seguida por um repouso mental controlado — repouso que, abrindo o momento
presente, faz-nos entrar na eternidade e liberta o pensador do sempre febricitante
casulo de pensamentos.
Paul Brunton em A Busca do Eu Superior
É preciso pular fora do sistema
Quando a sociedade está edificada
sobre o egoísmo, sobre a rude competição, quando um luta contra o outro para a
sua própria segurança, como se dá no edifício da presente civilização, então,
essa ordem social deve a seu tempo ruir. O homem, movido pela sua ânsia de
posse, construiu aquilo que ele denomina civilização. E apega-se a esse mundo;
e, naturalmente, um edifício baseado no desejo contínuo, na consecução
constante de alturas vazias, tem que a seu tempo desmoronar.
Qual é o remédio? Não há panaceias
mundiais. Podeis, porém, individualmente e, portanto, coletivamente, pular fora do
sistema que é seu inevitável produto.
No mundo da ação, o homem, como indivíduo, tem-se tornado rudemente agressivo
em seu desejo pelos haveres, em sua busca pela segurança. Tem-se servido de sua
mente para lisonjear seus desejos egoístas. Ora, eu digo que necessitais pensar
integralmente por vós próprios e libertar-vos de toda a imitação, que precisais
manter a integridade de vossa individualidade em pensamento e sentimento. Só
por esse meio pode haver a espontaneidade da verdadeira cooperação no mundo da
ação, no trabalho coletivo em benefício de todos.
No buscar o que é eterno está o
verdadeiro trabalho por todos, baseado nas necessidades humanas, não na cobiça
e exploração humanas. Quando vós, pessoalmente, derrubardes esta estreiteza do
patriotismo, da nacionalidade, de bandeiras tremulantes e de guerras; quando
vós, individualmente, deixardes de ser exploradores em virtude de vossa força e
habilidade egoísta, então vos virá a paz e o entendimento pelos quais agora vos
esforçais em vão.
Haveis construído um sistema, um
edifício que denominais civilização e essa civilização baseia-se na segurança
individual; de modo que, no mundo da ação está o indivíduo constantemente
buscando segurança para si próprio e para os seus. Esta civilização foi
construída pelos homens através dos séculos, no decorrer dos quais o indivíduo
se tornou semelhante a um animal selvagem, lutando pelo seu próprio bem estar,
segurança e haveres; ao passo que, espiritualmente, isto é, no mundo do
pensamento, o indivíduo completamente se deu a si próprio à autoridade, à
obediência e à imitação e aí se tornou ele como um cordeiro, tendo perdido por
completo a sua integridade individual. Aí ele é irresponsável e vive num mundo
de ilusões; no entretanto é aí que ele tem de libertar sua mente e coração, por
completo, de toda a autoridade, de todas as limitações nascidas do desejo, quer
material quer espiritual.
Ora, como disse, necessitais
inverter por completo o processo. No mundo da vida diária, isto é, da existência
cotidiana, deveis formar planos para o conjunto e não para o indivíduo em
particular. Não deveis sustentar nacionalidades e fronteiras, porém sim
preocupar-vos com o conjunto dos homens, não como uma raça ou classe
particular. Isto só pode ter lugar quando não mais se houver de seguir
cegamente a autoridade. Só por esse meio será produzida a verdadeira cooperação
reta, o planejamento reto no mundo da ação.
Quando vós como indivíduos, não
mais fordes os dentes de engrenagem na máquina da sociedade; quando cessardes
de explorar e ser explorados; quando não vos entregardes à autoridade; quando
vos libertardes de todas as tradições que estropiam vossa mente e coração;
quando cessardes a busca da felicidade, da verdade, por intermédio de outrem,
então tornar-vos-eis plenamente responsáveis na ação e criareis assim um
entendimento da vida baseado na verdade e na liberdade.
Krishnamurti em, Palestras pela rádio, Canadá, 1932
Sobre a desigualdade econômica
Pergunta: O mundo inteiro está atualmente passando por uma fase critica. Há uma aguda crise econômica entre as nações, sob um firmamento político obscurecido. A que causa ou causas atribuis este estado de coisas e que remédio sugeris?
Krishnamurti: Desejais resolver vossas dificuldades econômicas por meio de um milagre. Haveis construído um sistema através os séculos, baseado na competição e no egoísmo. Agora deveis aspirar, não à substituição de um sistema por outro sim à completa reorientação de vossas mentes e corações.
Haveis estabelecido inúmeras autoridades, instrutores religiosos, deuses para vosso culto. Individualmente, no campo do pensamento, haveis vos tornando como se fosseis cordeiros; porém no trabalho para viver sois semelhantes a lobos.
É da máxima importância que desçais à raiz do problema. Isto é, no campo do pensamento e do sentimento não deveis estabelecer a outrem como guia, porém sim permanecer inteiramente sós; ao passo que, no trabalho, deveis formar planos coletivos para viver. Aí é que está o remédio. É pela expressão da individualidade em seu lugar correto que podeis encontrar liberdade, que é verdade; e na realização dessa verdade resolvereis vossos problemas sociais e econômicos. Podando meramente as folhas da árvore não colocareis fim aos vossos males; porém, se nutrirdes as raízes de maneira apropriada, os ramos serão vigorosos e abundantes. Trabalhai, pois, pela mudança, individualmente, das mentes e dos corações e então estes problemas se resolverão por si mesmos.
A presente civilização acha-se baseada na cobiça e na competição individual; ela não pode durar para sempre, pois que não possui valor intrínseco. O indivíduo que criou e está dominado por esta civilização, acha-se preso na acumulação, a qual é o seu único incentivo; isto é, o indivíduo esforça-se por expressar sua ambição e atingir a deseja posição social por meio de acumulo de riquezas e de poder. Por isso estabeleceu ele distinções sociais, e uma tal civilização, baseada no rude egoísmo, tem que, a seu tempo ruir. É só uma questão de tempo. Enquanto alimentardes esta concepção da individualidade, que nada mais é que cobiça e egoísmo, nenhuma civilização, nenhum edifício sobre essa concepção construído pode perdurar, nem tão pouco ela libertar a mente da tristeza.
Até agora tendes sido espiritualmente escravos; isto é, haveis seguido os outros, haveis estabelecido autoridades espirituais e a tradição tem amarrado a vossa mente. Não importa qual o pais a que pertenceis, por toda a parte há um constante ajuste à tradição. Em pensamento e emoção, como indivíduos, apenas vos tendes conformado, ao passo que no mundo da ação tendes vivido por completo sobre vós mesmos, buscando, egoisticamente, vossa pessoal segurança. Como vos disse, não vos estou dando uma panaceia; sustento, porém, que somente quando compreenderdes a reta função da individualidade é que haverá um caminho para vos conduzir para fora deste caos. No meu modo de ver, a individualidade só pode expressar-se no mundo do pensamento, não no mundo da existência; isto quer dizer que precisais pensar intensamente por vós mesmos, desembaraçados da tradição, do hábito ou do temor da opinião pública. Porém, para atender às necessidades da existência, precisais cooperar, trabalhar e planejar em conjunto; isto é, precisais libertar-vos da ideia de bandeiras e fronteiras. Por esse modo chegareis naturalmente a resolver o problema econômico, pois que estareis trabalhando a partir de um ponto de vista humano e não com base em preconceitos nacionais separatistas.
Krishnamurti em, Palestras pela rádio, Canadá, 1932
O intelecto não pode conceber a Verdade
Se fosseis pedir a um hindu, a um
budista, a um maometano ou a um hebreu que vos descrevesse Deus, cada um deles
se esforçaria para externar uma expressão de sua concepção particular. Isto é,
cada qual se empenharia em dar forma a Deus de acordo com sua fantasia
particular, sua preferência ou preconceito particular.
Ora, Deus, a vida ou a verdade,
não pode ser concebida nem descrita. Se jamais houvésseis contemplado o oceano
e alguém viesse lhe descrever, apenas poderíeis imaginá-lo; porém vossa ideia
não vos proporcionaria a realidade. Do mesmo modo, sendo limitados, finitos e
condicionados, buscais imaginar o imensurável, o indescritível. Como um
prisioneiro que anseia pela liberdade começa a imaginar o êxtase, a adoração da
libertação, porém não derruba as paredes que o mantêm prisioneiro, assim o
homem brinca com a concepção de Deus, da realidade, através as grades da sua
limitação.
Eu digo que existe a
imortalidade, que existe a eternidade, porque a realizei; ela, porém, não pode
ser atingida por uma mente em limitação. Portanto, não vos preocupeis com isto,
porém antes com o presente no qual estais vivendo, com o conflito, a crueldade,
o sofrimento dos incidentes diários. Quando começardes a libertar a mente e o
coração desta limitação, desta ilusão, desta tristonha prisão de múltiplos
séculos, conhecereis por vós próprios essa eternidade que é Vida, Deus,
Verdade. Portanto, vivei com intensidade no presente, pois que somente no
presente está a eternidade. A imortalidade não está num futuro distante e a
preocupação de vosso destino individual nada mais é que esforço vão. No
presente, somente, está a plenitude do entendimento, a qual é suprema
inteligência.
Krishnamurti em, Palestras pela rádio, Canadá, 1932
segunda-feira, 5 de setembro de 2016
A aquietação da respiração aquieta os pensamentos
[...]Os ritmos da respiração
trabalham em uníssono com os ritmos dos nossos estados mentais; a excitação
provoca uma respiração irregular e entrecortada; a contemplação tranquila
provoca uma respiração regular e suave. Uma vez que o pensamento e a respiração
estão entrelaçados, basta-nos apenas manter a atenção constante — bem como
dosar o ritmo — sobre a respiração para que produzamos um efeito correspondente
sobre os pensamentos. Em consequência, a aquietação da respiração tende a
aquietar os pensamentos. Quando, a exemplo do que ocorre no exercício seguinte,
o pensamento e a respiração são amalgamados com tal propósito, começará a
surgir um estado de calma inalterável dentro do qual a verdadeira meditação
torna-se muito mais fácil para a hiperativa mente ocidental.
Devemos então adotar o seguinte
exercício que deve ser praticado imediatamente após a análise intelectual do eu,
e não antes.
Há, contudo, três breves
preliminares a serem cumpridas. A primeira exige a direitura da espinha dorsal
de uma forma fácil e natural enquanto estivermos sentados. Isto porque a
postura física afeta a respiração.[...] Depois os olhos devem ser fechados e
mantidos assim durante todo o exercício. Por fim, todo o ar viciado dos pulmões
deverá ser expelido por meio de quatro exalações seguidas. Feito isto, deve-se
cuidar do processo de alterar o ritmo normal de nossa respiração.
1. Devemos diminuir gradualmente a velocidade
da respiração de semana para semana, e durante cinco ou dez minutos por dia até
que, aproximadamente, essa velocidade fique reduzida à metade.
2. No final de cada inalação devemos
interromper a atividade respiratória, reter o ar durante dois ou três segundos,
e a seguir expirar o ar puro.
3. Simultaneamente, a respiração deve ser
tornada tranquila, suave, plácida e isenta de esforço;
4. Devemos manter em cuidadosa observação a
respiração e enfocar nela toda a nossa atenção.
[...] É importante que o
exercício seja convenientemente praticado, apesar de sua simplicidade. Ele só
será capaz se todas as condições forem satisfeitas.
[...] Devemos fazer o exercício
durante cinco minutos cada vez — não mais. Se nos exercitamos pela manhã,
poderemos repetir à dose à noite.
Não se deve progredir com rapidez
exagerada; deve-se progredir lenta e naturalmente nesta esfera.
Em todos os caos a diminuição do
ritmo respiratório deve acontecer de tal forma que não se verifique nenhum
desconforto agudo e anormal. Naturalmente, no princípio será inevitável uma
ligeira sensação de tontura, pois quando começamos a usar de forma diferente um
órgão do corpo, este reage e resiste durante algum tempo à atividade inusitada
que lhe está sendo imposta. Se patentear-se alguma dor real, ou uma sensação
definida de sufocação ou qualquer outro sintoma obviamente anormal, o exercício
deverá ser imediatamente suspenso e o estudante reverá com cuidado o método
prescrito, a fim de verificar se o está seguindo à risca pois tais sintomas só
podem surgir em decorrência de uma má interpretação do método, ou em virtude de
algum mal orgânico do coração ou do pulmão. Pessoas afetadas por doenças deste tipo não
devem jamais fazer exercícios respiratórios.
[...] Devemos evitar uma série de
movimentos bruscos ao inspirar e objetivar de preferência uma ação firme, leve
e contínua. A respiração deve ser propositadamente convertida num fluxo leve e
suave. Deve-se evitar um ofegar audível. O nosso esforço deve ser no sentido de
acalmar o processo respiratório. O ar deve correr com tal suavidade que,
segundo com muita propriedade dizem os místicos chineses, uma pensa colocada
diante das narinas não deverá se agitar. Assim como devemos relaxar
inteiramente o corpo afim de conseguir a postura física para a meditação, assim
também devemos relaxar por completo a respiração. A arte do relaxamento deve
ser levada através do corpo até os pulmões. Por meio de treinamento adequado a
respiração poderá tornar-se tão suave que apenas uma tênue corrente de ar se movimente
como um fio entrando e saindo das narinas.
[...] Requer-se uma vigília contínua
durante os poucos minutos da prática, uma observação mental atenta da entrada e saída do ar. A mente deve estar
abstraída de qualquer outra atividade e presa tão apenas ao movimento
respiratório; essa observação voluntária acabará por proporcionar o controle
sobre esse movimento e reduzi-lo ao ritmo
mínimo, que é o objetivo. Precisamos ater a mente a isso. Este exercício não
deve ser feito com indiferença, mas com uma concentração consciente sobre o
fluxo da respiração; isto é muito importante se desejamos um aproveitamento
integral. Todos os demais pensamentos devem ser suprimidos e esquecidos, e o
nosso eu deve ser totalmente imerso no ritmo respiratório. A potencialidade do
método será proporcional à concentração nele empregada. Se a atenção for
interrompida ou pausas desnecessárias acontecerem durante os exercícios, o
poder de alterar o estado mental será reduzido.
Enquanto empenhados no exercício
respiratório é possível que adquiramos uma consciência muito aguda do nosso batimento
cardíaco, que se apresentará não como um latejar descompassado mas como um pulsar
suave. Trata-se de uma consequência natural da maior atenção dispensada à
respiração e não há razão para alarme.
O êxito poderá surgir de pronto,
como também poderá vir apenas com o tempo, mas os exercícios não são difíceis
de seguir. Algumas pessoas levarão mais tempo que outras porque a capacidade
física, mental e pulmonar varia de indivíduo para indivíduo.
Qual será o resultado de tais
exercícios?
A mente será posta numa condição
de harmonia com a respiração. Os pensamentos espontaneamente se tornarão mais
escassos à medida que a respiração for se tornando mais escassa. Todo o
processo do pensamento será retardado. Uma impressão global de calma interior e
equilíbrio começará a impor-se gradualmente. As paixões flutuantes e inquietas tornar-se-ão
mais tranquilas. O intelecto será aprisionado como um pássaro
cativo; ao nos apossarmos da vida respiratória, a vida reflexiva será também dominada.
A total serenidade da inalação moderada será refletida na moderação da mente.
Naqueles compridos momentos em que a respiração é realmente sustada o intelecto
será apanhado por uma reação e o seu poder de encobrir a realidade tornar-se-á
menor.
Este é precisamente o esforço
necessário para nos levar ao estágio seguinte no caminho do desenvolvimento
espiritual. O intelecto atingiu os seus limites e chegou o momento de prepara-lo
para cessar os seus esforços. Uma análise ulterior a este ponto seria
improdutiva e, na verdade, desvantajosa. Precisamos estar agora preparados para
invocar e intensificar toda a nossa faculdade da atenção e mergulhar mais fundo
no nosso ser, na busca do Eu Superior.
Um homem que mergulhe no mar não
se entregará a uma sucessão de pensamentos acerca do mar, mas, esquecendo o
resto, sustará a respiração e fará o mergulho. Da mesma forma, quando nos
prepararmos para mergulhar na região fronteiriça do Eu Superior, não devemos
nos entregar a novas meditações a respeito, mas, esquecendo o resto, trataremos
de controlar a respiração a ponto de sustá-la intermitentemente e a seguir
mergulhar diretamente no ser mais profundo.
[...] É concebível a existência de
tipos altamente metafísicos ou altamente espiritualizados sobre os quais esses
exercícios respiratórios não exerçam nenhuma atração e para os quais pareçam
totalmente desnecessários. Tais pessoas poderão prescindir dos exercícios desde
que encontrem força interior para passar sem dificuldades do estágio da análise
intelectual para o estágio intuitivo que se segue. Mas a maioria esmagadora dos
ocidentais não será capaz de fazer a passagem de um estágio para o outro, a não
ser com a maior dificuldade, e este simples exercício foi concebido para
auxiliá-las. Pois, extrovertidas como de hábito são, com mentes sempre a
produzir imagens do mundo externo, elas não podem subtrair-se com facilidade
aos assuntos mundanos, colocando-se numa região de profunda abstração espiritual.
Poderemos também nos beneficiar
do exercício mesmo fora dos minutos de retiro diário. Se em qualquer período do dia formos perturbados por estados de indesejável
melancolia ou ira desordenada, de extrema irritabilidade ou paixões descontroladas,
nervosismo desenfreado ou medo opressivo, basta-nos apenas praticar essa
respiração vagarosa, onde quer que estejamos, e de imediato surgirão os efeitos
benéficos, acalmando os nervos e reajustando harmonicamente as nossas perspectivas.
Paul Brunton em, A Busca do Eu Superior
Retomar o Sopro, retomar o ritmo
Quem houver praticado este método
de auto-indagação durante um espaço de tempo suficiente e feito um progresso
apreciável na arte, precisa então
aprender a manejar os pensamentos durante seu exercício diário de meditação de
uma forma diferente. Nos estágios mais elementares a pessoa esteve formulando
uma análise da sua estrutura íntima. Esteve empenhada numa dissecação de si mesma por meio de um pensamento concentrado
adestrado. Porém, com o passar do tempo, deverá desenvolver uma atitude que ao
menos intelectualmente compreenda que a alma ou o eu não se limita ao corpo.
Conseguida essa atitude, não será preciso prosseguir numa repetição estéril e
detalhada da análise e, na verdade, a pessoa não se sentirá inclinada a
fazê-lo. Pelo contrário, suas meditações poderão sofrer uma guinada e, com
rápidas generalizações, ela poderá superar em pouco tempo as fases que antes
eram assaz demoradas.
Que se deve fazer a seguir? O Eu
Superior, conquanto perceptível pela cognição intelectual, continua impossível
de ser descoberto através da experiência, embora a pessoa compreenda agora onde
ele não se encontra, ou melhor, onde não deve procura-lo.
Agora pode a pessoa entrar numa
nova e adiantada fase do seu trabalho, em que, com auxílio do controle da
respiração, da fixação visual e do adestramento da imaginação, ficará
capacitada a fazer progressos nesse reino mais profundo. Trata-se de fato de
uma fase crítica que precede a grande e gloriosa chegada do Eu Superior.
É chegada a época em que a
própria função do raciocínio que tão bem serviu ao homem durante detalhadas autoanálises
feitas tem de ser inteiramente suspensa porque aprisiona o homem ao tempo!
Não devemos tomar tal
providência, porém, antes que surja finalmente um sentimento interior
dizendo-nos que estamos deveras preparados; se cedermos à impaciência,
esperando resultados rápidos, nada conseguiremos e acabaremos desapontados. A busca intelectual
precisa agora ser sucedida por uma busca intuitiva, mas o ponto em
que devemos passar de uma para outra deve ser determinado com grande cuidado.
Se a tentativa for feita demasiado cedo, nossos esforços serão inúteis e se for
tardia, teremos perdido muito tempo valioso e um sentimento de medo terá tomado
conta de nós. Enquanto nada deve ser forçado, nada deve, por outro lado, ser
esquecido.
Tentar suspender o pensamento
cedo demais no caminho é roubar a nossa personalidade humana do enriquecimento
a que tem direito. Determinar quanto tal ponto foi realmente atingido não é fácil.
Precisamos ser orientados por uma espécie de sentido íntimo; tal sexto sentido
começa na verdade a despertar e fazer-se progressivamente sentido dentro do
homem, depois que este persistiu algum tempo nestes exercícios mentais. O homem
não pode cria-lo por si próprio; pode apenas dizer que o sentido está lhe
vindo. Uma vez porém manifestado, deve o homem entregar-lhe toda a sua
confiança e permitir-se guia para onde for.
A maior dificuldade neste
processo é agora libertar a atenção do fluxo constante dos pensamentos
indesejáveis. Somente quando tentamos fazê-lo é que descobrimos até que ponto
nos encontramos escravizados, até que ponto somos incapazes de manter à
distância essas ondas de pensamento que de contínuo batem às praias do nosso
ser. Fazê-las cessar, parecerá a princípio a coisa mais difícil do mundo,
contudo pode ser conseguido por um esforço lento e firme.
Colocar-se de lado e observar os
nossos pensamentos durante algum tempo todos os dias é constatar que tão logo
um dos nossos pensamentos se vai, outro se apressa em tomar-lhe o lugar no
nosso cérebro. Isto se repete sem cessar. As rodas do cérebro não param de
girar até que o sono sobrevenha afinal e lhes proporcione uma trégua
temporária.
Para os orientais a dificuldade
de deter os pensamentos não é tão formidável como para os ocidentais e aqueles
nem sempre compreendem que estes últimos precisam desenvolver um esforço muito
maior para alcançarem à região da calma abstração. A ajuda que o europeu e o
americano médio precisam nesse sentido tem de ser ao menos em parte física;
eles precisam de algum método indireto envolvendo um ato físico para fortalece-los na
tarefa da autodisciplina. Ademais, os orientais estão acostumados a recorrer à
presença e assistência de guias espirituais cuja atmosfera ajuda espontaneamente
os outros a subjugar os pensamentos, ao passo que os ocidentais raramente
encontram tais guias em seus países.
A ajuda está bem próxima; fica na regulagem
da respiração. Principalmente para as pessoas que estão sempre
ocupadas com assuntos prementes ou que estão fortemente vinculadas ao mundo
material pelos desejos e ambições, este exercício presta-se admiravelmente para
lhes proporcionar o controle da mente.
Nossos sábios ocidentais
acumularam um acervo de conhecimentos que deve impressionar todas as mentes em
virtude das suas proporções colossais, contudo existem algumas coisas que
estancam aos seus olhos perspicazes — coisas, porém, da máxima importância para
a humanidade. Por exemplo, a respiração ocupa uma posição algo peculiar. Seus
efeitos mais imediatos são claramente visíveis e fisicamente registráveis, mas,
declaram os videntes do Oriente, existem efeitos remotos não facilmente
identificáveis. Assim é que fazemos nossos maiores esforços com a respiração
contida e os de pouca monta com a respiração curta. Existe também uma
inter-relação especial entre a respiração e o pensamento. Ambos possuem uma
ascendência comum, uma origem familiar.
[...] Podemos agora provar a
ligação que existe entre a respiração e o pensamento de maneira bem simples.
Tome-se o caso de um homem que se tenha deixado enfurecer — observe-se a sua
respiração pesada e se constatará que ela se tornou tão agitada como os seus pensamentos
e paixões. A respiração vai bem, arquejos curtos e apressados, e quanto mais
violenta for a conduta do homem tanto mais violenta será a sua respiração.
Tome-se agora o caso de um poeta cismando, sonhador, em algum poema ainda em
embrião e percebemos que, muito ao contrário, sua respiração é plácida, leve,
calma e lenta. Tome-se a seguir um homem refletindo sobre algum intrincado
problema matemático. Automaticamente, ele respira mais devagar e mais
suavemente. A corrente da vida do homem, tal qual uma árvore, desenvolveu dois
ramos: um é a mente e outro é a respiração.
[...] A força vital imanente na
respiração e a força mental que ativa o cérebro provém de uma fonte comum. Tal
fonte é a Única Corrente de Vida que impregna o universo e, em cada ser humano,
transforma-se no seu Eu Divino, seu Eu Superior. “A respiração é a marca da
vida” é uma frase cuja significação é bem mais profunda do que imaginam os
muitos que a empregam.
Como resultado dessa íntima
correlação, as modificações na respiração trazem modificações na mente, e
vice-versa.
Paul Brunton em, A Busca do Eu Superior
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respiração holotrópica
domingo, 4 de setembro de 2016
Um breve passo a passo do Paradigma Holotrópico
Este caminho do auto-adestramento está dividido em
dois estágios e contém diferentes práticas. O primeiro estágio é intelectual e
consiste de observações que propiciam compreensão; o segundo é místico e
provoca a compreensão. No primeiro estágio formamos uma corrente mental de
auto-indagação, tentando descobrir aquilo que realmente somos e localizar o ser
vivo que pensa e sente dentro do corpo; ao passo que no segundo a mente
racional é desligada, o assim chamado consciente é posto em recesso e o erroneamente
chamado subconsciente pode assim aparecer.
Os componentes da personalidade
são sujeitos a uma rígida análise durante o período da meditação. O corpo e
suas partes, órgãos e sentidos, são cuidadosamente examinados em pensamento,
visando-se apurar se o eu reside ou não nele, e, através de numerosas análises,
verifica-se que tal não acontece. Elimina-se então o corpo da análise e as
emoções são submetidas a um exame semelhante. Aqui, uma vez mais, a
temporalidade das emoções e as implicações da frase instintiva, “Eu sinto”,
indicam que o eu é alguma coisa à parte.
As faculdades da mente: imaginação, raciocínio e percepção são semelhantemente
observadas e analisadas; descobre-se que o eu não é inerente em nenhuma dessas
funções. O próprio intelecto é cortado em pedaços, verificando-se que não passa
de um conglomerado de pensamentos. Observamos os pensamentos no processo e
depois tentamos transfixá-los na mística quietude da qual provêm. Afinal o eu consciente é referido a um único
pensamento. Do grande silêncio e vazio anteriores à mente, o pensamento do eu é
o primeiro surgindo do eu pessoal interior à consciência. Dele proveio a
multidão de outros pensamentos que criaram o conceito de um ser pessoal dotado
de existência própria. Toda a personalidade desenvolveu-se em torno dessa única
raiz-pensamento. Erradicando-se esse pensamento primordial não restará senão a Vida Impessoal.
Se persistirmos e nos dedicarmos
a frequentes meditações sobre o tema, o esforço propiciará o mais elevado
emprego criativo da lógica e, em última instância, iremos referir esse
pensamento à sua origem, o eu à sua toca e a consciência ao seu estado
primordial indivisível.
No final desta análise metal e
mente deverá, portanto, ser silenciada tanto quanto possível e um estado emocional
de quase-oração deverá sobrepor-se. Aquela quietude da qual o eu surgiu deve ser o objeto dessa devoção. O próprio eu é imobilizado e tornado inerte. Toda
a nossa atenção deverá ser focalizada na misteriosa vacuidade anterior a ele. É
a esta altura que a eletrizante orientação de um verdadeiro Iniciado — se
tivermos a boa sorte de encontra-lo — torna-se de poderosa ajuda.
Mas antes de
conseguirmos essa quietude, precisamos dominar a tendência dos pensamentos a
divagar-se e dissipar-se, e chegar àquela concentração de atenção que é tão
essencial; em consequência alguns acessórios da prática mental se fazem
necessários e breve serão apresentados. Primeiro existe um exercício
respiratório a ser feito; ele acalma a mente. A seguir há um
exercício de vista, que fixa a atenção e induz a um estado concentrado. A
cessação da atenção no campo externo coloca a atenção no campo interno.
Atingido esse estado, que acontecerá então? Se o esforço tiver sido corretamente
executado, cria-se uma espécie de vácuo provisório na consciência, mas a
Natureza, tendo horror ao vácuo, rapidamente reajusta as coisas. A investigação
mental cessando então, fica assegurada uma
revelação interior. Os pensamentos banidos são substituídos pela
Universal Mente Superior; esta, por sua vez dá mais tarde lugar ao divino Eu
Superior, que entra no campo de nossa consciência. Esta investigação
traz consigo “a paz que ultrapassa a compreensão” na expressão de São Paulo.
(Melhor tradução seria: “A paz que ultrapassa o intelecto”).
Uma vez
consumado o salto, o verdadeiro eu revela-se à mente estupefata. Somos então compelidos a uma quietude mental
absoluta, porque compreendemos estar diante de uma presença divina. Trata-se de
uma experiência que não pode ser suplantada. Ela romperá todas as ilusões tolas
e desfará todos os sonhos errôneos. A confusão e a contradição desaparecerão
com o escuro. A iluminação inundará de um brilho radiante os recantos escuros da
mente. Nós sabemos, e, sabendo,
aceitaremos. Pois descobriremos que o coração do nosso ser é também o coração do Universo.
E isso é bom.
Depois, a
tarefa que se resumia num retiro
temporário transforma-se na criação de um hábito de auto-recolhimento ao
qual se deve recorrer sempre que necessário durante o dia e onde quer que
estejamos, até que surja uma disposição fixa e prevalecente quando o coração
estiver para sempre imerso no Único, mesmo estando a cabeça e as mãos ocupadas
com outras coisas.
Devemos ter
presente que uma frieza e insensibilidade não bastará durante a análise; este
caminho exige que coloquemos nele o coração, tanto quanto a cabeça.
A esta altura
também é importante compreender que a duplicação intelectual dos pensamentos
dada nessa análise meditativa é por si só insuficiente; se a análise fria e
crítica pudesse por si só alcançar o sutil reino do espírito, muitos pensadores
deste mundo não se teriam transformado em materialistas; não, algo mais é
requerido. Esse algo mais é a inspiração íntima no sentido da verdade, um
desejo sincero e genuíno de guindar-se à região espiritual. Devemos colocar de
lado todos os demais desejos durante o período da auto-investigação. Essa
inspiração atua como uma força propulsora e, sem ela, um detalhamento seco e
intelectualizado do ego poderá levar a resultados estritamente negativos. O que
se deseja então é induzir estados em que o pensamento seja incendiado pelo
sentimento; e criar emoções quando a mente é inflamada pelas centelhas da
inspiração espiritual. Se seguirmos cuidadosamente as instruções, tal resultado
será conseguido. Desta forma um desenvolvimento equilibrado nos preparará para
progredirmos no caminho e, embora o treinamento fundamental seja de caráter
intelectual, a exaltação essencial das emoções caminhará passo a passo com ele.
Assim, no devido tempo, surgirá uma atmosfera adequada à sublime manifestação
interior do divino e a que se aspira.
Depois de
havermos treinado um espaço de tempo suficiente, o segundo estágio começará a
desdobrar-se gradualmente e nele a leitura atenta destas páginas tornar-se-á
desnecessária e as ideias e frases básicas precisarão ser apenas reavivadas
mentalmente pela memória e meditadas. A questão da duração da meditação deve
ser resolvida por nós mesmos. A meditação é necessária enquanto sentirmos que
está sendo exigida; é necessária até que se obtenha a mais ampla convicção
intelectual das verdades ensinadas nestas páginas. É necessária até que a
achemos tão fácil, espontânea e agradável que ansiamos por aquela meia hora
diária e nos apressemos a fazer o nosso exercício diário; necessária até que
possamos abandonar todos os tipos de pensamento digressivo e sentir uma
crescente luminosidade no cérebro, de maneira que todas as ideias verdadeiras
apareçam como imagens de espantosa clareza ou como certezas inspiradas a essa
luz deslumbrante. Os exercícios devem ser continuados até que possamos superar
o clamor constante das impressões externas, das sensações físicas e dos pensamentos
inquietos em favor de uma vigilância interior que, embora intensa, dispensa na
aparência qualquer esforço. O estado induzido deve ser reiteradamente
reproduzido até tornar-se habitual; só então poderá ser deixado de lado.
Não pode haver
pressa nem paciência. A menos que o estudante caminhe nesse mundo mental com
calma e confiança e tranquila determinação, ele não atingirá seus propósitos.
Pensamentos meramente superficiais, a passagem apressada de dados insuficientes
a conclusões vagas e generalizadas, a pressa em terminar a meditação — todos
esses fatores entravam o progresso da vida interior; tal pressa não é realmente
velocidade e na verdade atrasa o estudante e o impede de penetrar no profundo
mundo da alma a que ele aspira.
Devemos nos
sentar para a nossa prática de meia hora com compreensão de que um determinado
espaço de tempo é necessário para a perscrutação preliminar da mente, antes que
as camadas mais profundas sejam atingidas; outro fator é preciso para a entrada
na Mente Superior; daí precisarmos estar prontos para esperar com resignação
pelos resultados enquanto lutamos por eles.
A questão da
atitude íntima tem alguma importância nesta busca, como também é importante a
atitude do corpo. É preciso que nos entreguemos ao exercício dessa meditação
com um estado de espírito esperançoso, confiante e otimista, e jamais
vacilemos; contudo não devemos jamais perder de vista a importância capital da
humildade. A humildade é o primeiro passo em todos os caminhos que conduzem ao
Infinito, por mais distantes que sejam, e é também o último. Mas devemos
começar acreditando que a Verdade pode
ser atingida, que a mente pode ser
dominada, que o próprio antagonismo de um ambiente hostil fornece oportunidades
para superar tal ambiente, e que esse esforço constante no sentido de encontrar
a luz-Alma terminará por evocar a sua Graça.
Não devemos
hesitar em manter essa atitude íntima porque o simples fato de havermos adotado
uma tal prática significa que o Eu Superior está começando a nos tocar, a nos
despertar. E o interesse do Eu Superior é em si mesmo um arauto da vinda da sua
Graça.
Devemos agora
lutar por captar a essência deste método especial. Não é apenas a ruminação
diária das verdades metafísicas, pois se trata em parte de um processo de
refinar a mente e dar-lhe uma tendência à abstração. Nem é tampouco o cultivo
intermitente de determinados estados que exaltam a alma, porque, isto também
não passa da aquisição daquela enaltecedora força da aspiração que nos faz
progredir na busca interior. Não; trata-se também da criação que uma atitude de
indagação correta. Esse deslocamento da vida mental para o campo da auto-interrogação
é uma diferença vital que distingue o método presente de todos os demais. Ao
invés de fazer do esforço pessoal o único
fator do nosso progresso, ele consegue a colaboração de uma parte mais elevada
do nosso ser num estágio mais adiantado do caminho. Pois, a questão permanente
do eu, a busca do eu, quando
praticadas como aqui se recomenda, fornece bases adequadas para tal
colaboração, porque depois de propiciar a preparação devida, convida o Eu
Superior a participar mais ativamente do jogo, e fazer algo que nos empurre para diante! Dificilmente se poderá
exagerar a importância deste princípio da auto-interrogação. Ao invés de fazer
afirmações positivas porém vãs como: “Eu tenho uma alma” ou “Eu sou uma alma” o
que se faz é perguntar: “Tenho eu uma alma?” ou “Sou eu uma alma?” E a resposta fica a cargo do componente
anímico do nosso ser. Enquanto o primeiro método resume-se em dogmatizar
intelectualmente, o último torna humilde o intelecto, silencia o seu balbuciar
incessante e aguarda que a resposta seja dada pela única parte do nosso ser
competente para dá-la. Significa isto que já não valorizamos em excesso o intelecto,
mas mantemo-lo em seu devido lugar. Uma busca espiritual só pode ter êxito
quando recebe satisfação na região espiritual de nosso ser, e não apenas na
intelectual. Os pensamentos nos trarão para a estrada do eu espiritual, mas
eles próprios não contêm esse eu. Se alegássemos que continha, então as
acusações dos críticos de que poderíamos nos tornar vítimas de visões
autosugestivas seriam corretas. E, na verdade, se a alma não existisse, se a
divindade não passasse de uma ilusão e o corpo fosse todo o ser e todo o fim do
homem, jamais poderíamos obter uma resposta espiritual genuína para as nossas
perguntas e teríamos de nos contentar com meras teorizações. Por isso, esse
método ocupa o seu lugar na realidade do eu divino da humanidade. Porque o Eu
Superior é de fato uma realidade, esse método pode ser entregue ao mundo com
confiança, na certeza de que aqueles que o seguirem com sinceridade e paciência
obterão um dia resultados demonstráveis, vale dizer, resultados em suas
próprias experiências. Se o Eu Superior não existisse, ou mesmo dando de barato
a sua existência, se fosse totalmente indiferente às aspirações dos homens e
aos seus anseios de um consolo que apenas a vida material não pode
proporcionar, então este método não teria valor nem produziria resultados. Mas,
pelo contrário, o Eu Superior é o fator fundamental mais revelador da nossa existência
e está sempre pronto a revelar-se, a dar o supremo consolo da vida àqueles que
preenchem as condições já mencionadas. Por isso esta investigação não passa
desapercebida, mas no devido tempo o investigador que se mantém fiel à sua
busca toma consciência do seu eu divino.
Este princípio
envolve, por isto, uma completa inversão da mente, que passa de uma atitude de
afirmação positiva para uma atitude de humilde indagação. A verdade não faz
questão de revelar-se aos intelectualmente arrogantes, mas se entrega àqueles
que se prostram humildemente de joelhos; e a prática deste método leva
invariavelmente o homem à humildade do espírito. Não foi à toa que Jesus se
pronunciou dizendo que o Reino dos Céus só está aberto aos que se comportam
como criancinhas. O dito constitui uma referência simbólica à condição de
humildade intelectual de que tanto carece a nossa época. Embora tenhamos
primeiro que penetrar com cérebro aguçado a casca do ego, precisamos contudo
não hesitar em abandonar esse instrumento ao atingirmos um ponto em nossos
exercícios no qual percebemos que aquela condição foi atingida. Essa disposição
para “pedir” a verdade em cada estágio, com espírito de uma criancinha, depois
de empregadas todas as forças intelectuais, não é um sinal de fraqueza. Se a
nossa orgulhosa época pudesse compreendê-lo, isto seria um indício de fortaleza
espiritual. Reconhecer livremente as limitações do intelecto quando houvermos
chegado ao limite extremo daquela faculdade é facilitar a vinda de alguma coisa
mais elevada. Este é o verdadeiro desiderato da ioga: submeter o pensamento e a
seguir descartar-se dele.
Paul Brunton em, A Busca do Eu Superior
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)
"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)
"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)
Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...
Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.
David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.
K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)
A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)
"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)
"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)
Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...
Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.
David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.
K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)
A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)
O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill