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quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Krishnamurti e a visão dos "Centros de Estudo"

Pergunta: Senhor, eu queria lhe perguntar sobre o Centro de Estudo e o que significa estudar os Ensinamentos.

Krishnamurti: Se eu fosse para o Centro, primeiramente eu queria ficar quieto, não levar nenhum problema para lá: meus problemas caseiros, preocupações com negócios e outros. E penso, também que aquilo que K diz seja de todo parte da minha vida, não apenas que eu tenha estudado K e eu repito o que ele diz. E sim, que no próprio estudo dos Ensinamentos eu estou realmente absorvendo aquilo; não pedaços aqui e ali, não apenas aquilo que me serve.

P: Podemos falar sobre como isso acontece, por que eu sinto que é por aí que decidiremos a natureza do lugar e suas atividades.

K: Se eu for lá para estudar o que K está dizendo, eu gostaria de investigar, questionar, duvidar; não apenas ler alguma coisa e depois ir embora. Eu estaria lendo não apenas para memorizar, eu estaria lendo para aprender, para ver o que ele está dizendo e minhas reações a isso, se corresponde ou contradiz, se ele está certo ou eu estou certo, para que exista uma comunicação constante e um intercâmbio entre aquilo que estou lendo e o que estou sentindo. Eu gostaria de estabelecer um relacionamento entre aquilo que estou lendo, vendo, ouvindo, e mim mesmo com minhas reações, condicionamentos etc.; um diálogo entre ele e eu. Tal diálogo deve, inevitavelmente, trazer uma mudança radical.

Vamos dizer que um homem como você vem a esse novo Centro. Você passa por todas as dificuldades para chegar a esse lugar, e nos primeiros poucos dias você pode querer estar quieto. Se você é sensível você perceberá que há alguma coisa ali diferente da sua casa, totalmente diferente de ir a uma discussão em algum lugar. Então você começa a estudar, e não apenas você, mas todas as pessoas que vivem ali estão estudando, vendo e questionando. E todos escutando com a totalidade de seus seres produzirão, naturalmente, uma atmosfera religiosa.

Isso é o que eu gostaria se eu fosse lá. Eu seria sensível o bastante para capturar, rapidamente, o que K está dizendo. E na hora do almoço ou num passeio ou na sala de estar com os outros, eu posso querer discutir. Eu posso dizer: “Vejam, eu não entendi o que ele quis dizer com aquilo, vamos falar sobre isso” – não que você vá me falar sobre aquilo, ou eu sei mais – “Vamos questionar isto”; assim aquilo será uma coisa viva. E à tarde eu posso ir caminhar ou executar qualquer outra atividade física.

O Centro será um lugar para todas as pessoas sérias que tenham deixado para trás todas as suas nacionalidades, suas crenças sectárias e todas as outras coisas que dividem os seres humanos.

P: Podemos falar mais sobre o que significa estudar profundamente os Ensinamentos?

K: Eu já esclareci isto.

P: Sim. Mas tem mais a acrescentar. Ao organizar o Centro eu também tenho que perguntar sobre o meu próprio estudo. Eu entendo que se assim não o fizer seriamente, eu não tenho nenhum trabalho a fazer lá, se eu não estiver fazendo isto, certo?

K: Isto está entendido.

P: É esta a questão, ou seja, de os Ensinamentos de alguma maneira entrarem no sangue.

K: Nós o faremos, estou certo que conseguiremos, sempre que estejamos falando juntos como agora e permanecer nisto.

P: Mas, Krishnaji, eu também sinto que tem que ser alguma coisa que não esteja dependente do Senhor.

K: Depende dos Ensinamentos.

P: E, no como eu me relaciono com os Ensinamentos. Mas do meu próprio relacionamento com os Ensinamentos existem outras coisas que eu quero perguntar, por que há alguma coisa a mais que eu sinto ser importante.

K: O que é, resumidamente?

P: Eu tenho estudado os Ensinamentos todos os dias, já por alguns anos.

K: Vamos logo, o que o Senhor está dizendo?

P: Algumas vezes estudar os Ensinamentos significa para mim, apenas ler uma frase.

K: Está muito bem, isto é com o senhor.

P: Mas agora, espere. É isto, Krishnaji. Aquela frase ficar com ela de alguma maneira durante o dia – sustentá-la na ação e no relacionamento.

K: Correto. O senhor está carregando uma jóia. Está tomando conta dela todo o tempo ou ela se perderá.

P: Agora eu quero falar sobre aquele “sustentar”, porque para mim há um segredo naquele sustentar, há algo bastante especial sobre aquele sustentar que a maioria das pessoas não sabe e que eu muitas vezes esqueço.

K: Sim, senhor. Escute cuidadosamente. Alguém me oferece um relógio maravilhoso, super bom. Trata-se de uma coisa muito preciosa – eu tomo bastante cuidado – eu o vejo por todo o dia.

P: Sim.

K: A coisa – eu não tenho que sustentá-la, ela está lá em minhas mãos. Compreende? Eu a vejo. Eu vivo com ela.

P: Sim. Se eu posso voltar a isto, Krishnaji. Está lá em suas mãos. Agora, para continuar com a metáfora, vamos dizer: - Olhe, você, por favor, lavaria a louça: aqui estão duas luvas.
O senhor não vai ficar com o relógio em sua mão, o senhor o colocará no bolso, ou fará alguma outra coisa com ele.

K: Mas o relógio ainda estará funcionando.

P: Exatamente. Então, no Centro, eu sinto que de alguma forma nós queremos estabelecer alguma atividade que ajude as pessoas a sustentar essa coisa por todo o dia.

K: Cuidado! Não faça isso. Nenhuma atividade está sustentando isso. Nenhuma ajuda externa.

P: Nenhuma ajuda externa. Então talvez não devêssemos dar às pessoas muitas coisas para fazer.

K: Sim. Faça tudo o que tem a fazer. Deve permitir a si mesmo quatro ou cinco horas, ou duas horas, o quanto queira. Digamos, olhe, eu fecho a minha porta depois das duas horas ou qualquer outra hora. Então, ninguém me perturbará. Devemos ter tempo para estudar, para escutar, absorver – absorva para que esteja em seu sangue.

P: Sim.

K: É realmente como ter um maravilhoso colar de pérolas. O senhor o coloca em volta do pescoço e elas estão sempre lá. Compreende?

P: Pode descrever melhor, Krishnaji, sem metáforas, quando uma pessoa lê alguma coisa extraordinária, como ela sustenta aquilo?

K: Senhor, você não sustenta aquilo. No momento em que você tenha lido e visto a verdade daquilo, aquilo é seu. Você não tem que sustentá-lo. O senhor olha aquelas montanhas, não as segura, elas estão lá. Você sempre está consciente delas. Você está sempre olhando para elas. Mesmo quando está lavando louça, elas estão lá.

P: Sim.

K: Fique com isso. Não fale mais sobre isso. Fique com isso. Você entendeu o que isso significa. Entre nisso consigo mesmo. Terá que falar às pessoas que vêm ao Centro sobre isso. Então terá que ter clareza.
Eu posso vir de Barcelona e dizer, o que o senhor pensa sobre tudo isso? Eu gostaria de discutir com o senhor o que K quer dizer por meditação, o que ele quer dizer por – o senhor sabe – tudo o mais. E o senhor deverá estar apto a discutir isso.

P: Sim, eu sei, senhor.

K: Está tudo certo com os trabalhos práticos que têm que ser feitos para o prédio, o qual deve ser bem bonito, austero. Mas o outro trabalho - o senhor tem uma responsabilidade imensa. Não a reduza. E não esteja receoso. O senhor tem que fazê-lo. Não é fácil.

P: Por que aqui, Krishnaji, nós estamos falando sobre o sagrado, criando alguma coisa do sagrado.

K: Isto virá. O senhor não pode, apenas, cruzar os braços e esperar.

P: Não.

K: Isto vem quando vivemos os Ensinamentos.

CENTRO DE ESTUDO

... é um lugar onde as pessoas vêm apenas para ser uma luz para si mesmas. Não há guru, nem autoridade, nem o seguir. Os indivíduos que vêm aqui devem não só meditar, mas também trabalhar com suas mãos e ter lazer para aprender – a fim de que a mente não esteja ocupada. Eles não devem pegar um romance ou ler para ocupar a mente. Conversas e diálogos são necessários. Uma pessoa no grupo deve ser capaz de levantar e dizer: ‘este é o meu problema, gostaria de discuti-lo com vocês’. Não para alimentá-lo (o problema), no sentido de conduzir psicologicamente...

...as pessoas devem estudar o “Ensinamento” inteiramente. Ficar de molho nele como você faria se fosse estudar medicina ou Budismo, ou qualquer outro assunto. Estudar significa ir profundamente às sutilezas das palavras usadas e o conteúdo delas – e ver a verdade nelas em relação à vida diária...

...Enquanto estão estudando, essas pessoas devem ter um espírito de cooperação. Um espírito de cooperação não significa trabalhar juntos por algum propósito, mas quer dizer que a pessoa é capaz de compartilhar com o outro suas descobertas e o que tem encontrado. Por exemplo, eu compartilho com você como amigo o que descobri. Você pode duvidar, questionar, mas estou compartilhando com você a descoberta. Não é minha descoberta – ela não pertence a mim ou a outra pessoa. A percepção nunca é pessoal. Tal partilha é cooperação. Mas ela não deve ser uma confissão. Há grupos em muitos lugares que fazem confissão um para o outro, entre si, como lavar sua roupa suja em público...

Estes centros são para durar mil anos sem serem poluídos, como um rio que tem a capacidade de limpar a si mesmo; o que significa que os residentes não possuem qualquer autoridade. Os ensinamentos em si mesmos têm a autoridade da verdade. É um lugar para o florescimento da bondade, onde existe uma comunicação e cooperação não baseada em trabalho, em um ideal ou em uma autoridade pessoal. Cooperação não é algo em torno de algum objeto ou princípio, crença, etc., mas um compartilhar de insights. Quando a pessoa vem para este lugar, cada um em seu trabalho – trabalhando no jardim ou fazendo qualquer outra coisa – ela pode descobrir algo enquanto está trabalhando. Ela comunica isto e tem um diálogo com os outros residentes de forma que esta descoberta seja questionada para que se veja o peso de sua verdade. Assim, há uma comunicação constante e não uma conquista solitária, uma iluminação ou entendimento solitário. É responsabilidade de cada um compreender que se alguém descobre algo basicamente novo isto não é pessoal dele, mas é para que todas as pessoas que estão lá compartilhem.

Não é uma comunidade. A própria palavra “comunidade” ou “comuna” é um movimento agressivo ou separador do resto da humanidade...

O Centro de Estudo é um lugar onde a pessoa não só está fisicamente ativa, mas onde ela se mantém em contínua observação interior. Assim há um movimento de aprender onde cada um se torna o professor e o discípulo. Não é um lugar para a sua iluminação própria, ou para o seu preenchimento seja artisticamente, religiosamente ou de qualquer outra forma, mas ao invés disso, é um lugar para nutrir e sustentar um ao outro para florescerem em bondade.

Não é um lugar para românticos ou sentimentalistas. Há necessidade de um bom cérebro, o que não significa um cérebro intelectual, mas objetivo, fundamentalmente honesto consigo mesmo, e que tenha integridade na palavra e ação.

Este lugar deve ser de grande beleza, com árvores, pássaros, e deve ser quieto, pois a beleza é verdade e a verdade é bondade e amor. A beleza externa, a tranqüilidade externa e o silêncio podem afetar a tranqüilidade interior, mas o ambiente de fora, de forma alguma, deve influenciar a beleza interior. A beleza só pode existir quando o eu não está; o meio-ambiente, que deve ser maravilhoso, de jeito algum deve ser um fator de absorção, como um brinquedo para uma criança. Aqui não há brinquedos mas profundidades interiores, substância e integridade que não é construída pelo pensamento.

(extraído do livro: “A Vision of the Sacred”, Sunanda Patwardhan pgs 63, 64; 110; 111)
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill