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sábado, 31 de outubro de 2015

Atravessando a ponte da lógica, da razão e do limite das palavras

Sobre o vício do corpo de dor

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Não fique perdido na floresta dos prazeres

O que é Felicidade? Depende de você, de seu estado de consciência ou de inconsciência, se você está adormecido ou desperto.(...)

A felicidade depende de onde você está em sua consciência. Se você estiver adormecido, então o prazer é a felicidade. Prazer significa sensação, tentar alcançar algo por meio do corpo. De todas as maneiras, as pessoas estão tentando alcançar a felicidade por meio do corpo. O corpo pode lhe dar apenas prazeres momentâneos, e cada prazer é equilibrado na mesma medida, no mesmo grau pelo desprazer, pelo sofrimento.

Cada prazer é seguido pelo seu oposto, pois o corpo existe no mundo da dualidade. Assim como o dia é seguido pela noite, a morte é seguida pela vida e a vida é seguida pela morte...

Trata-se de um circulo vicioso. Seu prazer é seguido pela dor, sua dor será seguida pelo prazer, mas você nunca ficará à vontade. Quando estiver em um estado ficará com medo de perdê-lo e esse medo o envenenará. Quando estiver perdido na dor, é claro, estará em sofrimento e fará todo esforço possível para sair dele, apenas para voltar a ele mais tarde.

Buda chama isso de roda do nascimento e da morte.

Seguimos nos movendo nessa roda e nos apegamos a ela...e a roda segue em frente. Às vezes aflora prazer, às vezes o sofrimento, mas somos esmagados entre essas duas rochas.

A pessoa adormecida não conhece mais nada além de algumas sensações do corpo: comida e sexo; esse é seu mundo. Ela segue se movendo entre esses dois... Estes dois são os terminais de seu corpo: comida e sexo. Se ela reprime o sexo, fica viciada em comida; se ela reprime a comida fica viciada em sexo. A energia segue movendo como um pêndulo. No máximo, tudo o que você chama de prazer é apenas um alívio de um estado tenso. (...)

O que chamamos de "felicidade" depende da pessoa. Para a pessoa adormecida, sensações prazerosas são a felicidade; ela vive de prazer em prazer. Ela está simplesmente correndo de uma sensação a outra, vivendo de pequenas excitações; sua vida é muito superficial, não tem profundidade, não tem qualidade. Ela vive no mundo da quantidade.

E há pessoas que estão no meio, que não estão adormecidas nem despertas. Às vezes você tem essa experiência quando levanta pela manhã e ainda não sabe se está acordado ou ainda está dormindo. Ouve os sons, mas ainda tem a impressão de tudo fazer parte do sonho; não é parte de sonho, mas você ainda está em um estado intermediário.

O mesmo acontece quando você começa a meditar. O não-meditador dorme e sonha; o meditador começa a se afastar do estado adormecido em direção ao estado desperto; ele está em um estado transitório. Então felicidade tem um significado totalmente diferente; ela se torna mais uma qualidade e menos uma quantidade, é mais psicológica e menos fisiológica.

O meditador desfruta mais a música, a poesia, desfruta criar alguma coisa, desfruta a natureza e sua beleza, o silêncio, desfruta o que nunca desfrutou antes, e isso é muito mais duradouro. Mesmo se a música cessar, algo se prolonga nele.

E a felicidade não é um alívio. A diferença entre o prazer e essa qualidade de felicidade é que essa última não é um alívio, mas um enriquecimento. Você fica mais repleto e começa a transbordar. Ao escutar uma boa música, algo se desencadeia em seu ser, uma harmonia surge em você; você se torna musical. Ou, ao dançar, subitamente você se esquece de seu corpo; ele fica leve, deixa de existir a força da gravidade sobre você; de repente você está em um espaço diferente: o ego não é mais tão sólido, o dançarino se dissolve e se funde na dança.

Isso é bem superior, bem mais profundo do que o prazer que você obtém da comida e do sexo; isso tem uma profundidade, mas também não é o final.

O final acontece somente quando você está completamente desperto, quando você é um Buda, quando todo o sono, o sonhar se foram, quando todo o seu ser estiver repleto de luz, quando não houver escuridão dentro de você. Toda escuridão desapareceu e, com essa escuridão, o ego se foi; todas as tensões desapareceram, toda angústia, toda ansiedade.

Você fica em um estado de total satisfação e vive no presente, sem mais nenhum passado e nenhum futuro. Você fica completamente no aqui-agora; este momento é tudo, o agora é o único tempo e o aqui é o único espaço. E então de repente, todo o céu repousa sobre você. Esse é o estado de plenitude, a felicidade verdadeira.

Procure o estado de plenitude, ele é seu direito inato.

Não fique perdido na floresta dos prazeres; eleve-se um pouco mais, alcance a felicidade e depois a plenitude.

O prazer é animal, a felicidade é humana, a plenitude é divina.
O prazer o prende, o acorrente; ele é uma escravidão. A felicidade lhe dá um pouco mais de corda, um pouco de liberdade, mas somente um pouco. A plenitude é a liberdade absoluta; você começa a se elevar, ela lhe dá asas. Você deixa de ser parte da terra grosseira e passa a ser parte do céu, você se torna luz, alegria.

O prazer depende dos outros; a felicidade não depende tanto dos outros, mas ainda assim está separada de você; a plenitude não dependente e também não está separado...ele é o seu próprio ser, a sua própria natureza.

Osho em Alegria a Felicidade que Vem de Dentro.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

A crise iniciática libera a arte que somos

Krishnamurti e a visão dos "Centros de Estudo"

Pergunta: Senhor, eu queria lhe perguntar sobre o Centro de Estudo e o que significa estudar os Ensinamentos.

Krishnamurti: Se eu fosse para o Centro, primeiramente eu queria ficar quieto, não levar nenhum problema para lá: meus problemas caseiros, preocupações com negócios e outros. E penso, também que aquilo que K diz seja de todo parte da minha vida, não apenas que eu tenha estudado K e eu repito o que ele diz. E sim, que no próprio estudo dos Ensinamentos eu estou realmente absorvendo aquilo; não pedaços aqui e ali, não apenas aquilo que me serve.

P: Podemos falar sobre como isso acontece, por que eu sinto que é por aí que decidiremos a natureza do lugar e suas atividades.

K: Se eu for lá para estudar o que K está dizendo, eu gostaria de investigar, questionar, duvidar; não apenas ler alguma coisa e depois ir embora. Eu estaria lendo não apenas para memorizar, eu estaria lendo para aprender, para ver o que ele está dizendo e minhas reações a isso, se corresponde ou contradiz, se ele está certo ou eu estou certo, para que exista uma comunicação constante e um intercâmbio entre aquilo que estou lendo e o que estou sentindo. Eu gostaria de estabelecer um relacionamento entre aquilo que estou lendo, vendo, ouvindo, e mim mesmo com minhas reações, condicionamentos etc.; um diálogo entre ele e eu. Tal diálogo deve, inevitavelmente, trazer uma mudança radical.

Vamos dizer que um homem como você vem a esse novo Centro. Você passa por todas as dificuldades para chegar a esse lugar, e nos primeiros poucos dias você pode querer estar quieto. Se você é sensível você perceberá que há alguma coisa ali diferente da sua casa, totalmente diferente de ir a uma discussão em algum lugar. Então você começa a estudar, e não apenas você, mas todas as pessoas que vivem ali estão estudando, vendo e questionando. E todos escutando com a totalidade de seus seres produzirão, naturalmente, uma atmosfera religiosa.

Isso é o que eu gostaria se eu fosse lá. Eu seria sensível o bastante para capturar, rapidamente, o que K está dizendo. E na hora do almoço ou num passeio ou na sala de estar com os outros, eu posso querer discutir. Eu posso dizer: “Vejam, eu não entendi o que ele quis dizer com aquilo, vamos falar sobre isso” – não que você vá me falar sobre aquilo, ou eu sei mais – “Vamos questionar isto”; assim aquilo será uma coisa viva. E à tarde eu posso ir caminhar ou executar qualquer outra atividade física.

O Centro será um lugar para todas as pessoas sérias que tenham deixado para trás todas as suas nacionalidades, suas crenças sectárias e todas as outras coisas que dividem os seres humanos.

P: Podemos falar mais sobre o que significa estudar profundamente os Ensinamentos?

K: Eu já esclareci isto.

P: Sim. Mas tem mais a acrescentar. Ao organizar o Centro eu também tenho que perguntar sobre o meu próprio estudo. Eu entendo que se assim não o fizer seriamente, eu não tenho nenhum trabalho a fazer lá, se eu não estiver fazendo isto, certo?

K: Isto está entendido.

P: É esta a questão, ou seja, de os Ensinamentos de alguma maneira entrarem no sangue.

K: Nós o faremos, estou certo que conseguiremos, sempre que estejamos falando juntos como agora e permanecer nisto.

P: Mas, Krishnaji, eu também sinto que tem que ser alguma coisa que não esteja dependente do Senhor.

K: Depende dos Ensinamentos.

P: E, no como eu me relaciono com os Ensinamentos. Mas do meu próprio relacionamento com os Ensinamentos existem outras coisas que eu quero perguntar, por que há alguma coisa a mais que eu sinto ser importante.

K: O que é, resumidamente?

P: Eu tenho estudado os Ensinamentos todos os dias, já por alguns anos.

K: Vamos logo, o que o Senhor está dizendo?

P: Algumas vezes estudar os Ensinamentos significa para mim, apenas ler uma frase.

K: Está muito bem, isto é com o senhor.

P: Mas agora, espere. É isto, Krishnaji. Aquela frase ficar com ela de alguma maneira durante o dia – sustentá-la na ação e no relacionamento.

K: Correto. O senhor está carregando uma jóia. Está tomando conta dela todo o tempo ou ela se perderá.

P: Agora eu quero falar sobre aquele “sustentar”, porque para mim há um segredo naquele sustentar, há algo bastante especial sobre aquele sustentar que a maioria das pessoas não sabe e que eu muitas vezes esqueço.

K: Sim, senhor. Escute cuidadosamente. Alguém me oferece um relógio maravilhoso, super bom. Trata-se de uma coisa muito preciosa – eu tomo bastante cuidado – eu o vejo por todo o dia.

P: Sim.

K: A coisa – eu não tenho que sustentá-la, ela está lá em minhas mãos. Compreende? Eu a vejo. Eu vivo com ela.

P: Sim. Se eu posso voltar a isto, Krishnaji. Está lá em suas mãos. Agora, para continuar com a metáfora, vamos dizer: - Olhe, você, por favor, lavaria a louça: aqui estão duas luvas.
O senhor não vai ficar com o relógio em sua mão, o senhor o colocará no bolso, ou fará alguma outra coisa com ele.

K: Mas o relógio ainda estará funcionando.

P: Exatamente. Então, no Centro, eu sinto que de alguma forma nós queremos estabelecer alguma atividade que ajude as pessoas a sustentar essa coisa por todo o dia.

K: Cuidado! Não faça isso. Nenhuma atividade está sustentando isso. Nenhuma ajuda externa.

P: Nenhuma ajuda externa. Então talvez não devêssemos dar às pessoas muitas coisas para fazer.

K: Sim. Faça tudo o que tem a fazer. Deve permitir a si mesmo quatro ou cinco horas, ou duas horas, o quanto queira. Digamos, olhe, eu fecho a minha porta depois das duas horas ou qualquer outra hora. Então, ninguém me perturbará. Devemos ter tempo para estudar, para escutar, absorver – absorva para que esteja em seu sangue.

P: Sim.

K: É realmente como ter um maravilhoso colar de pérolas. O senhor o coloca em volta do pescoço e elas estão sempre lá. Compreende?

P: Pode descrever melhor, Krishnaji, sem metáforas, quando uma pessoa lê alguma coisa extraordinária, como ela sustenta aquilo?

K: Senhor, você não sustenta aquilo. No momento em que você tenha lido e visto a verdade daquilo, aquilo é seu. Você não tem que sustentá-lo. O senhor olha aquelas montanhas, não as segura, elas estão lá. Você sempre está consciente delas. Você está sempre olhando para elas. Mesmo quando está lavando louça, elas estão lá.

P: Sim.

K: Fique com isso. Não fale mais sobre isso. Fique com isso. Você entendeu o que isso significa. Entre nisso consigo mesmo. Terá que falar às pessoas que vêm ao Centro sobre isso. Então terá que ter clareza.
Eu posso vir de Barcelona e dizer, o que o senhor pensa sobre tudo isso? Eu gostaria de discutir com o senhor o que K quer dizer por meditação, o que ele quer dizer por – o senhor sabe – tudo o mais. E o senhor deverá estar apto a discutir isso.

P: Sim, eu sei, senhor.

K: Está tudo certo com os trabalhos práticos que têm que ser feitos para o prédio, o qual deve ser bem bonito, austero. Mas o outro trabalho - o senhor tem uma responsabilidade imensa. Não a reduza. E não esteja receoso. O senhor tem que fazê-lo. Não é fácil.

P: Por que aqui, Krishnaji, nós estamos falando sobre o sagrado, criando alguma coisa do sagrado.

K: Isto virá. O senhor não pode, apenas, cruzar os braços e esperar.

P: Não.

K: Isto vem quando vivemos os Ensinamentos.

CENTRO DE ESTUDO

... é um lugar onde as pessoas vêm apenas para ser uma luz para si mesmas. Não há guru, nem autoridade, nem o seguir. Os indivíduos que vêm aqui devem não só meditar, mas também trabalhar com suas mãos e ter lazer para aprender – a fim de que a mente não esteja ocupada. Eles não devem pegar um romance ou ler para ocupar a mente. Conversas e diálogos são necessários. Uma pessoa no grupo deve ser capaz de levantar e dizer: ‘este é o meu problema, gostaria de discuti-lo com vocês’. Não para alimentá-lo (o problema), no sentido de conduzir psicologicamente...

...as pessoas devem estudar o “Ensinamento” inteiramente. Ficar de molho nele como você faria se fosse estudar medicina ou Budismo, ou qualquer outro assunto. Estudar significa ir profundamente às sutilezas das palavras usadas e o conteúdo delas – e ver a verdade nelas em relação à vida diária...

...Enquanto estão estudando, essas pessoas devem ter um espírito de cooperação. Um espírito de cooperação não significa trabalhar juntos por algum propósito, mas quer dizer que a pessoa é capaz de compartilhar com o outro suas descobertas e o que tem encontrado. Por exemplo, eu compartilho com você como amigo o que descobri. Você pode duvidar, questionar, mas estou compartilhando com você a descoberta. Não é minha descoberta – ela não pertence a mim ou a outra pessoa. A percepção nunca é pessoal. Tal partilha é cooperação. Mas ela não deve ser uma confissão. Há grupos em muitos lugares que fazem confissão um para o outro, entre si, como lavar sua roupa suja em público...

Estes centros são para durar mil anos sem serem poluídos, como um rio que tem a capacidade de limpar a si mesmo; o que significa que os residentes não possuem qualquer autoridade. Os ensinamentos em si mesmos têm a autoridade da verdade. É um lugar para o florescimento da bondade, onde existe uma comunicação e cooperação não baseada em trabalho, em um ideal ou em uma autoridade pessoal. Cooperação não é algo em torno de algum objeto ou princípio, crença, etc., mas um compartilhar de insights. Quando a pessoa vem para este lugar, cada um em seu trabalho – trabalhando no jardim ou fazendo qualquer outra coisa – ela pode descobrir algo enquanto está trabalhando. Ela comunica isto e tem um diálogo com os outros residentes de forma que esta descoberta seja questionada para que se veja o peso de sua verdade. Assim, há uma comunicação constante e não uma conquista solitária, uma iluminação ou entendimento solitário. É responsabilidade de cada um compreender que se alguém descobre algo basicamente novo isto não é pessoal dele, mas é para que todas as pessoas que estão lá compartilhem.

Não é uma comunidade. A própria palavra “comunidade” ou “comuna” é um movimento agressivo ou separador do resto da humanidade...

O Centro de Estudo é um lugar onde a pessoa não só está fisicamente ativa, mas onde ela se mantém em contínua observação interior. Assim há um movimento de aprender onde cada um se torna o professor e o discípulo. Não é um lugar para a sua iluminação própria, ou para o seu preenchimento seja artisticamente, religiosamente ou de qualquer outra forma, mas ao invés disso, é um lugar para nutrir e sustentar um ao outro para florescerem em bondade.

Não é um lugar para românticos ou sentimentalistas. Há necessidade de um bom cérebro, o que não significa um cérebro intelectual, mas objetivo, fundamentalmente honesto consigo mesmo, e que tenha integridade na palavra e ação.

Este lugar deve ser de grande beleza, com árvores, pássaros, e deve ser quieto, pois a beleza é verdade e a verdade é bondade e amor. A beleza externa, a tranqüilidade externa e o silêncio podem afetar a tranqüilidade interior, mas o ambiente de fora, de forma alguma, deve influenciar a beleza interior. A beleza só pode existir quando o eu não está; o meio-ambiente, que deve ser maravilhoso, de jeito algum deve ser um fator de absorção, como um brinquedo para uma criança. Aqui não há brinquedos mas profundidades interiores, substância e integridade que não é construída pelo pensamento.

(extraído do livro: “A Vision of the Sacred”, Sunanda Patwardhan pgs 63, 64; 110; 111)

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Você tem fome de que?

sábado, 24 de outubro de 2015

Um novo olhar sobre o desânimo

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

A fantástica ferramenta de bê-a-bá psíquico

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Aptidão sem vocação só gera frustração

Diálogo sobre vocação





Os vossos professores são os vossos destruidores

Pergunta: Poderia por favor explicar em maior detalhe o que quer dizer com a sua declaração de que “os vossos professores são os vossos destruidores.” Como pode um sacerdote, desde que seja honesto na sua intenção, ser um destruidor?

Krishnamurti: Senhor, porque é que quer um sacerdote para o manter moralmente correto? É isso? Ou para o conduzir à verdade? Ou para atuar como intérprete entre Deus e o senhor? Ou apenas para efetuar um rito, uma cerimônia de casamento ou de funeral, ou de Domingo de manhã? Porque é que querem sacerdotes? Quando descobrirmos porque é que os necessitamos, então descobriremos que são destruidores.

Se disserem que um sacerdote é necessário para manter a nossa moralidade sã, certamente que então já não são morais, mesmo embora o sacerdote os possa forçar a ser morais; porque para mim moralidade não é compulsão; é uma ação voluntária. A moralidade não nasce do medo, condicionada pelas circunstâncias. A verdadeira moralidade é compreensão voluntária e por isso ação. Por isso para mim não é necessário um sacerdote para manter a vossa integridade. Ou se disserem que ele é necessário para os conduzir à verdade como um mediador, como um intérprete, então eu digo que ambos, vocês e o sacerdote, devem saber o que é a verdade. Para serem conduzidos a algum lado têm que saber para onde vão, e o líder também tem que saber para onde vai; e se sabem onde está a verdade, então não querem um líder. Por favor, não se trata de habilidade. São apenas fatos.

Mas agora o que é que fizemos? Preconcebemos o que é a verdade como contraste, como uma oposição àquilo que somos. Dizemos que a verdade é tranquila, que a verdade é sábia, ilimitada. Porque não somos isso, por esse motivo, transformámo-la num oposto, e queremos alguém que nos ajude a chegar lá. O que significa isso? Alguém que os ajude a fugir deste conflito para algo que vocês supõem que deve ser a verdade. Por consequência, o sacerdote ajuda-os a fugir das realidades, dos fatos.

Estava a falar com um sacerdote no outro dia, e ele disse-me que mantinha a sua igreja porque havia muito desemprego. Ele disse, “Sabe, os desempregados não têm casas, beleza, vida, música, luz, cor, nada – um terror, uma vida hedionda; e se vierem uma vez por semana à igreja, pelo menos há beleza, há alguma tranquilidade, há algum perfume, e vão-se embora pacificados para o resto da semana, e voltam outra vez.” Não é essa certamente a maior forma de exploração? Isto é, este sacerdote específico estava a tentar pacificá-los no seu conflito, a tentar tranquilizá-los, por outras palavras a drogá-los para não tentarem descobrir a causa real do desemprego.

Agora, se dizem que os sacerdotes são necessários para realizar os ritos, as cerimônias da Cristandade, então vamos inquirir sobre se esses ritos e cerimônias são necessários. São necessários? Como não assisto a eles, não posso responder. Não têm valor para mim; mas para vocês que assistem a eles, têm valor? De que maneira tiram proveito deles? Vão lá ao Domingo de manhã, sentem-se muito devotos, elevados de espírito, ou seja lá o que for, e durante o resto da semana ou exploram ou são explorados. Continua a haver crueldade e todo o resto. Portanto onde está o valor, a necessidade de um sacerdote?

Se disserem que é um meio de ganhar dinheiro, então colocaremos a questão numa categoria totalmente diferente. Se tratam o assunto como uma profissão, como a advogacia, a marinha, o exército, ou qualquer outra profissão, então é uma coisa totalmente diferente, e a maior parte das religiões com os seus sacerdotes são isso e nada mais que isso – uma velha profissão.

Portanto se contam para um sacerdote para os orientar como um professor, eu digo que ele é o vosso destruidor ou o vosso explorador. Por favor, não tenho nada contra os sacerdotes Cristãos ou contra os sacerdotes Hindus – para mim eles são todos iguais. Afirmo que não são essenciais para a humanidade. E por favor não aceitem o que estou a dizer como autoridade definitiva para vocês, como uma declaração dogmática. Examinem a questão, ponderam-na. Se aceitarem o que estou a dizer, também eu me tornarei um sacerdote; e por consequência, tornar-me-ei o vosso explorador. Ao passo que, se realmente examinarem o assunto na sua totalidade, não durante um momento passageiro mas completamente, verão que as religiões com todos os seus professores sectários, estão realmente a manter a humanidade separada. Eles aumentam os horrores da guerra, a diferença de classes, as nacionalidades, e por isso todas estas coisas levam à guerra e a maiores explorações nas quais não há afeto verdadeiro, amor verdadeiro, consideração verdadeira.

Jiddu Krishnamurti em Auckland, Nova Zelândia, 1ª palestra nos jardins da Escola de Vasanta 30 de março, 1934.

Nosso sistema de pensamento e de ação gera exploração

Pergunta: Afirma-se aqui que só uma ou duas pessoas no mundo podem ter esperança em compreender a importância da sua mensagem. Por isso o ensinamento secundário da Teosofia moderna é necessário como substituto para a salvação do mundo. O que tem a dizer?

Krishnamurti: Senhor, em primeiro lugar tem que descobrir o que tenho a dizer antes de dizer que é impossível. É isto o que quero dizer. Todo o nosso sistema de pensamento e de ação e de vida está baseado no engrandecimento e no crescimento individuais à custa de outros. Isso é um fato, não é? E enquanto esse fato existir no mundo tem que haver sofrimento, tem que haver exploração, tem que haver divisão de classes; e nenhuma forma de religião pode ocasionar a paz, porque elas são a própria criação das ânsias humanas, são meios de exploração. Essa realidade viva, que eu afirmo que existe – chamem-lhe Deus, verdade, ou qualquer outro nome que quiserem – essa inteligência suprema que eu afirmo que existe, que eu afirmo ter compreendido, só pode ser encontrada através da ausência dos obstáculos que criaram através da procura de segurança e conforto, a seguranças das religiões e essa segurança artificial da possessividade.

Certamente, compreender o que estou a dizer não é muito difícil. A dificuldade reside em pôr em ação o que digo. Agora, pôr em ação o que digo não precisa de coragem, mas antes de compreensão. A maior parte de nós está à espera que o mundo mude, mais do que a começar a mudarmo-nos a nós próprios. Estamos à espera que o sistema mundial altere esta atitude em relação à possessividade, e não estamos a tentar descobrir se podemos, como indivíduos, estar realmente livres da possessividade. Para compreender isto, esta ausência de possessividade, temos que descobrir inteligentemente quais são as nossas necessidades. Sabem, quando tiverem descoberto quais são as vossas necessidades, então não serão possessivos. Cada homem conhecerá as suas necessidades, muito claramente, muito simplesmente, se abordar a questão inteligentemente; mas não pode haver a descoberta de quais são as suas necessidades enquanto a mente estiver presa na possessividade, na ganância e na exploração. Portanto, quando descobrem quais são as vossas necessidades, não se estão a comprometer com as vossas necessidades e com as condições do mundo que se baseiam na possessividade. Espero estar a esclarecer isto.

O que quero dizer é que não pode haver relações humanas, vitais, nem viver com alegria na plenitude da vida no presente – que para mim é a única eternidade – enquanto a mente e o coração estiverem estropiados através do medo; e para dominar esse medo criamos inúmeros obstáculos, tais como as religiões, as crenças, a possessividade, as seguranças. Por esse motivo, como indivíduos, estamos continuamente a conferir sofrimento, continuamente a aumentar a luta, o caos do mundo. É certamente muito simples, se vierem a pensar nisso.

Se realmente quiserem descobrir o que estou a dizer, por favor examinem uma das ideias que exponho e ponham-na em ação; então verão que ela se torna prática, não vaga, teórica, impossível de compreender. Então não quererão nenhum ensinamento secundário.

Sabem, esta ideia de que as pessoas não compreendem, e por isso têm que lhes dar algo que compreendam, é realmente uma maneira habilidosa de exploração. É a atitude da classe capitalista. É a atitude do homem que tem muitas posses. Isto é, ele quer nutrir o mundo, guiar o mundo, guiar os outros homens; ao passo que eu desejo despertar o outro homem para que ele aja por si. Se eu os puder despertar para a vossa própria força, para a vossa própria compreensão, para a vossa própria responsabilidade, para a vossa própria ação, então destruirei a diferença de classes. Então não os mantenho na creche para serem explorados como uma criança por alguém que se supõe saber mais. É essa a atitude integral das religiões, que nunca possam descobrir o que é a verdade – só uma ou duas pessoas descobrem – por isso deixem-me, como mediador, ajudá-los; por consequência torno-me um explorador. É esse todo o processo da religião. É um meio hábil de explorar, sendo implacável em manter as pessoas sob domínio, tal como a classe capitalista o faz exatamente da mesma maneira – uma classe por meios espirituais, a outra por meios mundanos. Mas se examinarem isso, ambas são explorações implacáveis. (Ouçam! Ouçam!) Senhores, por favor não se incomodem em dizer “ouçam, ouçam.” O que é importante é agir, não concordar comigo intelectualmente. Isso não tem valor. A concordância só pode ter lugar na ação. Quando dizem “ouçam, ouçam”, isso significa que têm que resistir contra a sociedade, contra os vossos vizinhos, contra a vossa família, contra tudo o que essa sociedade edificou durante gerações. Isso requer grande percepção, não coragem, não esta atitude heroica perante a vida, mas percepção, elevada e direta, do que é a verdade.

Ora, para mim, a vida não é para ser uma escola. A vida não é algo de que aprendem, é para ser vivida – para ser vivida supremamente, inteligentemente e divinamente. Ao passo que, se fizerem dela um constante campo da batalha, de luta, de esforço contínuo, então a vida torna-se hedionda; e fizeram-na assim porque todo o vosso pensamento é auto-crescimento, auto-expansão, auto-engrandecimento, e enquanto isso existir, a vida torna-se numa luta hedionda.

Portanto isso é o que eu quero dizer. Certamente que isso é muito facilmente compreendido. Facilmente compreendido em certo sentido. Não se pode alcançar todo o seu significado de imediato. Pode-se ver em que direção reside, e para mudar a própria atitude tem que haver grande aflição, não contentamento, um grande conflito ardente que os force a descobrir; e Deus sabe que temos conflitos durante todo o dia, mas treinamos a nossa mente para ser astuta, e portanto para passar ao de leve por estes conflitos, fugir-lhes. Por isso podemos ter conflito após conflito, problema atrás de problema. A nossa mente aprendeu a ser engenhosa, e por isso a evadir-se.

Jiddu Krishnmaurti em Auckland, Nova Zelândia, 1ª palestra nos jardins da Escola de Vasanta 30 de março, 1934.

Eu não quero ajudar o mundo: Isso é serviço

Pergunta: Alguns dos meus amigos notaram que embora achem os seus ditos intensamente interessantes, preferem o serviço a demasiada reflexão sobre as questões da verdade. Quais são as suas observações sobre esta opinião?

Krishnamurti: Senhor, o que quer dizer com serviço? Toda a gente quer ajudar. É esse o grito daquelas pessoas que pensam que estão a servir o mundo. Estão sempre a falar sobre ajudar o mundo, especialmente aquelas pessoas que pertencem a seitas. É a sua forma particular de doença, porque pensam que fazendo alguma coisa, não importa o quê, vão ajudar, que servindo as pessoas ajudarão. Quem pode dizer o que é o serviço? Um homem que pertence ao exército, preparado para matar o bárbaro que entre no seu país, diz que está a servir o país. O homem que mata, o carniceiro, diz que está a servir a comunidade. O explorador que tem os meios de produção nas mãos, monopolizados, diz que está a servir a comunidade. O homem que explora as crenças, o sacerdote, diz que está a servir o país, a comunidade. A quem cabe decidir?

Ou então olhemos a questão de uma forma bastante diferente. Acham que uma flor, uma rosa, está sempre a ter em consideração de que está a servir a humanidade, que está a ajudar o mundo pela sua existência porque é bonita? Pelo contrário, porque é bonita, extremamente bela, inconsciente da sua magnificência, é que está a ajudar. Não como um homem que anda de um lado para o outro a gritar que está a servir o mundo. Isto é, cada um quer usar os seus meios, ou as suas ideias, para explorar o mundo, não para libertar o mundo. Pessoalmente, se não me interpretarem mal, esse não é de modo nenhum o meu ponto de vista. Eu não quero ajudar o mundo, como vocês lhe chamariam. Eu não posso ajudar, isso acontece naturalmente. Isso é serviço. Não desejo fazer com que os outros se aproximem da minha forma específica de crença ou pedir-lhes que venham para a minha gaiola particular de pensamento, porque eu afirmo que ter uma crença é uma limitação.

Para servir realmente, tem que se ser extremamente livre da consciência limitada a que chamamos o “eu”, o ego, a consciência egocêntrica; e enquanto isso existir, não estão realmente a servir o mundo. A menos que realmente pensem, não podem descobrir se estão verdadeiramente a ajudar o mundo. Portanto não consideremos em primeiro lugar se estamos a ajudar o mundo, mas antes descubramos se temos a capacidade de pensar e de sentir. Para pensar realmente, a mente não pode estar amarrada a uma crença. Isso é muito simples, não é? Para realmente pensar profundamente, francamente, completamente, a vossa mente não deve estar limitada pelo preconceito ou restringida a uma determinada crença, ou pelo medo, ou por ideias preconcebidas. Para pensar, a mente deve começar outra vez, de novo, e não com um pano de fundo de tradição. Afinal, a tradição só é valiosa quando os ajuda a pensar, não quando os subjuga pelo seu peso.

Deixem-me colocar a questão de maneira diferente. Todos queremos ajudar. Quando vêem sofrimento no mundo há um intenso desejo de ajudar; mas para ajudar verdadeiramente as pessoas têm que ir à causa fundamental das coisas. Têm que descobrir a causa do sofrimento, e só o podem fazer se houver reflexão profunda. E esta reflexão não é mero prazer intelectual, mas só pode ter lugar, esta reflexão, na ação.

Jiddu Krishnamurti em Auckland, Nova Zelândia, 1ª palestra nos jardins da Escola de Vasanta 30 de março, 1934.

A pobreza de mente e coração, tornam colossais as necessidades

Pergunta: Por favor seja franco. Podemos conhecer a verdade tal como a conhece, parar de explorar, e ainda continuar com o negócio, ou sugere que o vendámos? Poderia entrar para o comércio e permanecer tal como é?

Krishnamurti: Senhor, por favor, não estou a esquivar-me do problema. Serei perfeitamente franco. Tal como o sistema está organizado, a menos que se retirem para uma ilha deserta onde cozinhem e façam tudo sozinhos, tem que haver exploração. Não é assim? É óbvio. Enquanto o sistema estiver baseado na competição individual, na segurança, na possessividade, como seus alicerces, tem que haver exploração. Mas não se podem libertar desses alicerces porque não têm medo, porque descobriram quais são as vossas necessidades essenciais, porque são ricos em vocês mesmos? Assim, embora permaneçam no negócio, descobrem que as vossas necessidades são muito poucas; ao passo que, se houver pobreza de mente e coração, as vossas necessidades tornam-se colossais. Mas de novo, a menos que se seja realmente honesto, absolutamente franco, e não se engane subtilmente a si próprio, o que eu disse pode ser usado para explorar mais. Não me importaria pessoalmente de entrar para o negócio, mas para mim não teria valor, porque não tenho necessidade de entrar para o negócio. Por isso, de que adiantaria falar teoricamente? Não que tenha dinheiro; mas faria qualquer coisa razoável, sensata, porque as minhas necessidades são muito poucas, e não tenho medo de ser destruído. É quando há o medo de perder – o medo da perda de segurança, preservação – que lutamos. Mas se estiverem preparados para perder tudo porque nada têm – bem, não há exploração. Isto soa ridículo, absurdo, selvagem, primitivo, mas se realmente pensarem nisso sensatamente, se lhe concederem alguns minutos do vosso pensamento criativo, verão que não é tão absurdo quanto isso. É o selvagem quem está continuamente às ordens das suas necessidades, não o homem de inteligência. Ele não se apega às coisas, porque interiormente ele é extremamente rico; por isso as suas necessidades externas são muito poucas. Sem dúvida que podemos organizar uma sociedade que se baseie em necessidades, não nesta exploração através da publicidade. Espero ter respondido à sua pergunta, senhor.

Jiddu Krishnamurti em Auckland, Nova Zelândia, palestra a homens de negócios 6 de abril, 1934.

Somos forçados pelo meio a não ser fraternos, a explorar

Pergunta: Acha que os sistemas sociais do mundo evolucionarão para um estado de fraternidade internacional, ou ela será ocasionada através de instituições parlamentares, ou pela educação?

Krishnamurti: Tal como a sociedade está organizada, não conseguem ter fraternidade internacional. Não podem continuam a ser Novo Zelandeses, e eu um Hindu, e falar sobre fraternidade. Como pode haver realmente fraternidade, se estão restringidos por situações econômicas, por este patriotismo que é uma coisa tão falsa? Isto é, como pode haver fraternidade se vocês continuam a ser Novo Zelandeses, agarrando-se aos vossos preconceitos específicos, às vossas barreiras alfandegárias, patriotismo, e todo o resto; e eu um Hindu a viver na Índia, com os meus preconceitos? Podemos falar de tolerância, deixar-nos em paz uns aos outros, ou eu mandar-lhes missionários e vocês mandarem-me missionários, mas não pode haver fraternidade. Como pode haver fraternidade quando vocês são Cristãos e eu sou Hindu, quando vocês são dominados pelos sacerdotes e eu sou também dominado pelos sacerdotes de um modo diferente, quando vocês têm uma forma de adoração e eu tenho outra? – o que não significa que vocês tenham que chegar à minha forma de adoração ou que eu tenha que chegar à vossa.

Portanto, tal como estão as coisas, elas não resultarão em fraternidade. Pelo contrário, há o nacionalismo, mais governos soberanos, que não são senão os instrumentos da guerra. Portanto, tal como existem, as instituições sociais não podem evolucionar para uma coisa magnífica, porque as suas próprias bases, a sua fundação está errada; e os vossos parlamentos, a vossa educação baseada nestas ideias, não ocasionará a fraternidade. Olhem para todas as nossas nações. O que são elas? Nada senão instrumentos de guerra. Cada país é melhor que o outro, cada país a bater o outro, inflamando esta falsa coisa chamada patriotismo. Por favor, vocês gostam de determinados países, determinados países são mais bonitos que outros, e vocês apreciam-nos. Desfrutam da beleza tal como desfrutam de um pôr-do-sol, seja aqui, na Europa ou na América. Nada há de nacionalista, nem de sentimento patriótico por trás disso – vocês desfrutam-na. O patriotismo só chega quando as pessoas começam a usar o vosso prazer para um objetivo. E como pode haver verdadeira fraternidade, através do patriotismo, quando todas as formas de governo se baseiam na distinção de classes, quando uma classe que tem tudo governa a outra que nada tem, ou envia representantes que nada têm para o parlamento? Sem dúvida que esta abordagem ao estado humano, à unidade humana é impossível. É tão óbvio, que nem necessita de discussão.

Enquanto houver distinções de classe desenvolvendo-se em nacionalidades, baseadas na exploração pela classe possessiva, ou pela classe que tem os meios de produção nas mãos, tem que haver guerras; e através das guerras não vão obter fraternidade. Isso é óbvio. Podem ver isso na Europa desde a Guerra: maior sentimento nacional, mais patriotismo fanático, barreiras alfandegárias mais fortes. Isso, por certo, não vai gerar fraternidade. Pode gerar fraternidade no sentido de que haverá uma grande catástrofe e as pessoas despertarão e dirão, “Por amor de Deus, despertemos e sejamos sensatos.” Isso eventualmente poderá gerar fraternidade; mas as nacionalidades não gerarão fraternidade, não mais que as distinções religiosas, que estão realmente, se chegarem a refletir sobre isso, baseadas em refinado egoísmo. Todos queremos estar seguros no céu – seja lá o que for esse lugar – protegidos, seguros, certos, e portanto criamos instituições, organizações, para produzir a certeza, e chamamos-lhes religiões, aumentando assim a exploração. Ao passo que, se realmente virmos a falsidade de todas estas coisas, não só percebendo-as intelectualmente mas realmente sentindo-as completamente com a nossa mente e coração, então há uma possibilidade de fraternidade. Se o percebermos, então há um ato voluntário, verdadeiro, moral. Quando percebemos uma coisa completamente e agimos, chamo a isso um verdadeiro acto moral, e não quando somos forçados pela circunstâncias, ou quando se provoca uma fraternidade forçada pela completa e brutal necessidade da vida. Isto é, quando as pessoas de negócios, o capitalista, os financeiros, começarem a ver que esta distinção não compensa, que não podem fazer mais dinheiro, que não podem estar na mesma posição, então produzirão um meio forçando o indivíduo a tornar-se fraterno; tal como agora somos forçados pelo meio a não ser fraternos, a explorar, assim serão também forçados a cooperar. Por certo que isso não é fraternidade; é apenas uma ação provocada pela conveniência, sem inteligência e compreensão humanas.

Assim, para realmente trazer a inteligência humana à ação, os indivíduos têm que agir moralmente e voluntariamente e então criarão uma organização na qual serão verdadeiros lutadores contra a exploração. Mas isso requer muita percepção, muita ação inteligente, e só podem começar por vocês mesmos; só podem cuidar do vosso próprio jardim, não podem olhar pelo do vosso vizinho.

Jiddu Krishnamurti em Auckland, Nova Zelândia, palestra a homens de negócios 6 de abril, 1934.

Como chegou a este grau de compreensão?

Pergunta: Pode dizer-nos como chegou a este grau de compreensão?

Krishnamurti: Receio que fosse demorar muito tempo, e pode ser muito pessoal. Em primeiro lugar, Senhores, eu não sou um filósofo, não sou um estudante de filosofia. Penso que aquele que seja apenas estudante de filosofia está já morto. Mas vivi com toda o gênero de pessoas, e fui criado, como talvez saibam, para levar a cabo uma certa função, um certo cargo. Mais uma vez, isso significa “explorador”. E era também o dirigente de uma enorme organização em todo o mundo, para fins espirituais; e vi a falácia disso, porque não se pode conduzir os homens à verdade. Só se pode torná-los inteligentes através da educação, o que nada tem a ver com sacerdotes e os seus meios de exploração – as cerimônias. Portanto dissolvi essa organização; e, vivendo com as pessoas, e não tendo uma ideia fixa sobre a vida, ou uma mente limitada por um determinado contexto tradicional, comecei a descobrir o que, para mim, é a verdade: verdade para toda a gente – uma vida que se pode viver saudavelmente, sensatamente, humanamente, não baseada na exploração, mas nas necessidades. Sei o que preciso, e que não é muito, portanto quer trabalhe para elas escavando um jardim, ou falando, ou escrevendo, isso não é de muita importância.

Em primeiro lugar, para descobrir qualquer coisa, tem que haver um grande descontentamento, um grande questionamento, infelicidade; e muito poucas pessoas no mundo, quando estão descontentes, desejam acentuar esse descontentamento, desejam passar por ele para descobrir. Geralmente as pessoas querem o oposto. Se estão descontentes, querem felicidade, ao passo que, por mim – se me permitem ser pessoal – eu não queria o oposto, eu queria descobrir; e assim gradualmente através de vários questionamentos e através de um atrito contínuo, cheguei a compreender isso a que se chama a verdade ou Deus. Espero ter respondido à pergunta.

Jiddu Krishnamurti em Auckland, Nova Zelândia, palestra a homens de negócios 6 de abril, 1934.

Um sistema que nunca pensa na vocação individual

Pergunta: Existe uma força ou influência exterior conhecida como o mal organizado?

Krishnamurti: Existe? O homem de negócios moderno, o nacionalista, o seguidor da religião – eu chamo males a estas pessoas, males organizados; porque, senhores, criamos individualmente estes horrores no mundo. Como nasceram as religiões com o seu poder de explorar implacavelmente as pessoas através do medo? Como se tornaram nestas formidáveis máquinas? Nós criamo-las individualmente através do nosso medo da outra vida. Não que não haja outra vida: isso é uma coisa totalmente diferente. Nós criamos essa máquina e estamos aprisionados nela; e são apenas muito poucos aqueles que se afastam, e a essas pessoas vocês chamam Cristo, Buda, Lenin, ou X, Y, Z.

Depois há o mal da sociedade como ela é. É uma máquina organizada e opressiva para controlar os seres humanos. Vocês pensam que se os seres humanos forem libertados tornar-se-ão perigosos, que farão toda a espécie de horrores; portanto dizem, “Vamos controlá-los socialmente, pela tradição, pela opinião, pela limitação da moralidade”; e é a mesma coisa economicamente. Assim gradualmente estes males tornam-se aceitos como coisas normais e saudáveis. De fato, é óbvio como através da educação somos compelidos a integrar-nos num sistema em que nunca se pensa na vocação individual. Vocês são forçados a integrar-se nalgum trabalho; e assim criamos uma vida dupla, durante todas as nossas vidas, essa do negócio das 10 às 5, ou lá o que é, que nada tem a ver com a outra, a nossa vida privada, social, caseira. Portanto estamos continuamente a viver em contradição, indo ocasionalmente, se estiverem interessados, à igreja, para manter a moda, o espetáculo. Investigamos a realidade, Deus, quando há momentos de conflito, momentos de opressão, momentos em que há uma catástrofe. Dizemos, “Tem que haver uma realidade. Porque vivemos?” Criamos assim gradualmente nas nossas vidas uma dualidade, e por isso nos tornamos tão hipócritas.
Portanto, para mim, existe um mal. É o mal da exploração engendrado pelos indivíduos através da sua ânsia de segurança, de auto-preservação a qualquer custo, independentemente de todos os seres humanos; e não há nisso afeto, não há verdadeiro amor, mas apenas esta possessividade que classificamos como amor.

Jiddu Krishnamurti em Auckland, Nova Zelândia, palestra a homens de negócios 6 de abril, 1934.

Encontrei a verdade, Deus, ou que lhe quiserem chamar

Pergunta: Segue Maomé, ou Cristo?

Krishnamurti: Posso perguntar porque é que alguém deve seguir outro? Afinal, a verdade ou Deus não se encontra imitando outro: nessa altura tornar-nos-emos apenas máquinas. Precisamos de fato, nós, como seres humanos, de pertencer a qualquer seita, seja o Maometismo, o Cristianismo, o Hinduísmo ou o Budismo? Se instituírem uma pessoa como vosso Salvador, como vosso guia, então tem que haver exploração; tem que haver uma modelação do mundo a uma determinada seita tacanha. Ao passo que, se realmente não instituirmos ninguém como autoridade, mas descobrirmos o que eles dizem, o que qualquer ser humano diz, então compreenderemos algo que é duradouro; mas apenas seguir outro não nos levará a lado nenhum. Presumo que sejam todos Cristãos, e que dizem que seguem Cristo. Seguem-no? Os seres humanos, quer pertençam ao Cristianismo ou ao Maometismo ou ao Budismo, seguem realmente os seus líderes? É impossível. Não o fazem. Portanto porquê chamarem a si próprios nomes diferentes e separarem-se? Ao passo que, se tivéssemos realmente alterado o meio em que nos tornamos assim escravos, nessa altura seríamos realmente Deuses em nós mesmos, não seguiríamos ninguém. Pessoalmente, não pertenço a nenhuma seita, grande ou pequena. Encontrei a verdade, Deus, ou que lhe quiserem chamar, mas não a posso transmitir a outro. Apenas se pode descobrir através da inteligência consumada, e não através da imitação de certos princípios, crenças ou personagens.

Jiddu Krishnamurti em Auckland, Nova Zelândia, palestra a homens de negócios 6 de abril, 1934.

Eu afirmo que há algo como Deus

Pergunta: Que significado inteligível, se é que posso perguntar, atribui à ideia de um Deus masculino como postulado por praticamente todo o clero Cristão, e arbitrariamente imposto às massas durante a Idade Média e até ao momento presente? Um Deus imaginado em termos de gênero masculino tem, por todos os cânones sãos e razoáveis da lógica, que ser pensado, rezado, importunado e adorado em termos de personalidade. E um Deus pessoal – pessoal como nós seres humanos necessariamente somos – tem que estar limitado no tempo, no espaço, no poder e na finalidade, e um Deus tão limitado não pode ser um Deus. Precisamente em face desta colossal imposição, arbitrariamente imposta às massas, é para admirar que encontremos o mundo na sua presente situação catastrófica? Deus para ser Deus tem, numa realidade soberana e sensata, que ser a totalidade absoluta e infinita de toda a existência, tanto negativa como positiva. Não é assim?

Krishnamurti: Senhor, porque quer saber se Deus é masculino ou feminino? Porque questionamos? Porque tentamos descobrir se há um Deus, se é pessoal, se é masculino? Não será porque sentimos a insuficiência de viver? Sentimos que se pudéssemos descobrir o que é esta imensa realidade, então poderíamos moldar as nossas vidas de acordo com essa realidade; começamos assim a preconceber o que essa realidade tem que ser ou deve ser, e moldamos essa realidade de acordo com as nossas fantasias e caprichos, de acordo com os nossos preconceitos e temperamentos. Então começamos a edificar uma série de contradições e oposições, uma ideia do que pensamos que Deus deveria ser; e, para mim, um Deus assim não é Deus nenhum. É um meio humano de evasão das constantes batalhas da vida, desta coisa a que chamamos exploração, das inanidades da vida, da solidão, dos sofrimentos. O nosso Deus é apenas um meio de escape destas coisas; ao passo que, para mim, há algo muito mais fundamental, real. Eu afirmo que há algo como Deus; não nos interroguemos sobre o que é. Vocês descobrirão se começarem realmente a compreender o próprio conflito que está a estropiar a mente e o coração: esta luta contínua pela auto-segurança, este horror da exploração, as guerras e as nacionalidades, e os absurdos da religião organizada. Se os enfrentarmos e os compreendermos, então descobriremos o verdadeiro significado em vez de especular; o verdadeiro significado da vida, o verdadeiro significado de Deus.

Jiddu Krishnamurti em Auckland, Nova Zelândia, palestra a homens de negócios 6 de abril, 1934.

O que é a Ação Correta?

Amigos, penso que a maior parte de nós acha que o mundo seria maravilhoso se não houvesse verdadeira exploração, e que seria um mundo esplêndido se cada ser humano tivesse a capacidade de viver naturalmente, plenamente e humanamente. Mas há muito poucos que querem fazer alguma coisa por isso. Como ideais, como uma Utopia, como uma coisa de sonho, todos os acarinham, mas muito poucos desejam ação. Não podem provocar uma Utopia nem pode haver a cessação da exploração sem ação.

Ora, só pode haver ação, ação coletiva, se houver em primeiro lugar cuidadosa consideração individual desse problema. Cada ser humano, em momentos sensatos, sente o horror da verdadeira exploração, seja pelo sacerdote, pelo homem de negócios, pelo médico, pelo político, ou por qualquer pessoa. Todos nós sentimos realmente, nos nossos corações, a crueldade aterradora da exploração, se já tivermos pensado nisso um só instante. E contudo cada um de nós é apanhado nesta roda, neste sistema de exploração, e esperamos e temos esperança que por algum milagre nasça um novo sistema. E assim, individualmente, sentimos que apenas temos que esperar, deixar que as coisas tomem o seu rumo natural, e que por algum meio extraordinário nasça um novo mundo. Sem dúvida que, para criar uma coisa nova, um novo mundo, uma nova concepção de organização, os indivíduos têm que começar. Isto é, os homens de negócios, ou alguém em particular, tem que começar a descobrir se a sua ação está realmente baseada na exploração.

Agora, conforme disse, há a exploração do sacerdote baseada no medo, há a exploração do homem de negócios baseada no seu próprio engrandecimento, acumulação de riqueza, avidez, formas sutis de egoísmo e segurança; e como se supõe que todos vocês aqui sejam homens de negócios, certamente que não podem deixar de lado cada problema humano e preocuparem-se integralmente com os negócios. Afinal, os homens de negócios são seres humanos, e os seres humanos, enquanto forem explorados, têm que ter em si, continuamente, este espírito rebelde. É somente quando atingem um determinado nível em que estão razoavelmente seguros que esquecem tudo sobre esta situação, sobre mudar o mundo, ou ocasionar uma determinada atitude de ação espontânea perante a vida. Porque atingimos um determinado estado de segurança, esquecemos, e sentimos que tudo está bem; mas por trás de tudo isso pode sentir-se que não pode haver felicidade, felicidade humana, enquanto existir realmente exploração.

Ora, para mim, a exploração nasce quando os indivíduos procuram mais que as suas necessidades essenciais; e descobrir as vossas necessidades essenciais requer muita inteligência, e não podem ser inteligentes enquanto as vossas necessidades forem o resultado da procura de segurança, de conforto. Naturalmente, tem que se ter comida, teto, roupa, e tudo isso; mas para que isto seja possível para todos, os indivíduos têm que começar a compreender as suas próprias necessidades, as necessidades que são humanas, e organizar todo o sistema de pensamento e ação em consequência disso, e só então poderá haver verdadeira felicidade criativa no mundo.

Mas atualmente o que está a acontecer? Lutamos uns contra os outros durante todo o tempo, excluimo-nos uns aos outros, há competição contínua em que cada um se sente inseguro, e todavia continuamos à deriva, sem tomar providências definidas. Isto é, em vez de esperarmos que aconteça um milagre para alterar este sistema, é necessária uma mudança completa e revolucionária, que cada um reconheça.

Embora possamos ter um ligeiro medo da palavra revolução, todos reconhecemos a imensa necessidade de uma mudança. E contudo, individualmente, somos incapazes de a provocar porque, individualmente, não tomamos em consideração, individualmente não tentamos descobrir porque deveria haver este contínuo processo de exploração. Quando os indivíduos forem realmente inteligentes, criarão então uma organização que providenciará as necessidades essenciais da humanidade, não baseada na exploração. Individualmente não podemos viver separados da sociedade. A sociedade é o indivíduo e enquanto os indivíduos estiverem apenas a procurar continuamente a sua própria auto-segurança, para eles próprios ou para a sua família, tem que existir um sistema de exploração.

E não pode haver felicidade no mundo se os indivíduos, como vocês, tratarem dos assuntos do mundo, dos assuntos humanos, separados do negócio. Isto é, vocês não podem, se me permitem dizê-lo, estar nacionalistamente inclinados, e contudo falar da liberdade do comércio. Não podem considerar a Nova Zelândia como o país mais importante, e rejeitar depois todos os outros países, porque sentem, individualmente, a necessidade essencial da vossa própria segurança. Isto é, senhores, se é que posso pôr as coisas desta maneira, só pode haver verdadeira liberdade de comércio, desenvolvimento das indústrias, etc., quando não houver nacionalidades no mundo. Penso que isso é óbvio. Enquanto houver barreiras alfandegárias protegendo cada país tem que haver guerras, confusão e caos; mas se formos capazes de tratar todo o mundo, não como dividido em nacionalidades, em classes, mas como uma entidade humana, não dividido por seitas religiosas, pela classe capitalista e pela classe trabalhadora, só nessa altura haverá a possibilidade de verdadeira liberdade no comércio, na cooperação. Para originar isto não podem apenas pregar ou assistir a reuniões. Não pode haver apenas o prazer intelectual destas ideias, tem que haver ação; e para originar a ação temos que começar individualmente, muito embora possamos sofrer por isso. Temos que começar a criar uma opinião inteligente e desse modo teremos um mundo onde a individualidade não é esmagada, derrotada por um determinado padrão, mas que se torna um meio de expressão da vida; não a forma duramente tratada e condicionada a que chamamos seres humanos. A maior parte das pessoas quer e compreende que tem que haver uma mudança completa. Não vejo qualquer outra maneira que não seja começando como indivíduos, e então essa opinião individual tornar-se-á a realização da humanidade.

Jiddu Krishnamurti, Auckland, Nova Zelândia, palestra a homens de negócios 6 de abril, 1934.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Se não voltarem a ser como crianças...

"Eu lhes asseguro que, a não ser que vocês se convertam e se tornem como crianças, jamais entrarão no Reino dos céus." - Jesus
“Vocês querem conhecer o meu segredo?...Este é o meu segredo: eu não me importo com o que acontece”. - Krishnamurti
Toda criança nasce sentindo todo o universo, não sabendo da sua separação com relação a ele. É por meio da educação gradativa que a ensinamos a se sentir separada. Damos-lhe um nome, damos-lhe uma identidade, damos-lhe qualidades, damos-lhe ambições — criamos uma personalidade em torno dela. Pouco a pouco a personalidade vai se adensando em decorrência da criação, da educação, dos ensinamentos religiosos. E, à medida que ela vai se adensando, a criança começa a esquecer quem ela costumava ser quando estava no ventre materno — pois ali, ela não era médica nem engenheira. Ela não tinha um nome; no ventre, não estava separada da existência. Ela estava totalmente junto da mãe, e além dela não havia nada. O útero era tudo, era todo o universo da criança.

A criança no ventre da mãe nunca se preocupa, "O que acontecerá amanhã?" Ela não tem dinheiro, não trem conta bancária, não tem negócios. Está desempregada, não tem nenhuma qualificação. Não sabe quando a noite chega, quando amanhece o dia, quando as estações mudam; ela vive simplesmente na mais pura inocência, em profunda confiança de que tudo ficará bem, como sempre esteve. Se hoje tudo está bem, amanhã também estará. Ela não "´pensa" assim, esse é simplesmente um sentimento intrínseco — ele não tem palavras porque a criança não conhece as palavras. Ela conhece apenas os sentimentos, o seu estado de espírito e está sempre alegre, de muito bom humor — a absoluta felicidade sem nenhuma responsabilidade.

[...] Porque toda criança nasce chorando? Porque o seu lar está lhe sendo arrancado, seu mundo está sendo destruído — de repente ela se vê num mundo estranho, entre pessoas estranhas. E continua chorando, porque a cada dia a sua liberdade fica menor e a sua responsabilidade, mais e mais pesada. Por fim, ela percebe que não lhe resta nenhuma liberdade, apenas obrigações a cumprir, responsabilidades a assumir; ela passa a ser um animal de carga. Quando vê isso com clareza de seus olhos inocentes, ela chora e você não pode condená-la por isso.

Os psicólogos dizem que a busca pela verdade, por Deus, pelo paraíso, está na realidade baseada na experiência da criança no útero. Ela não consegue esquecê-la. Mesmo que esqueça em sua mente consciente, essa experiência continua ecoando em seu inconsciente. Ela está mais uma vez em busca daqueles dias maravilhosos de total relaxamento e nenhuma responsabilidade, e toda liberdade do mundo ao seu alcance.
Existem pessoas que encontram. A palavra para isso é "iluminação". Você pode usar a palavra que quiser, mas o significado básico continua o mesmo. A pessoa descobre que todo o universo é assim como um ventre materno para você. Você pode confiar, relaxar, aproveitar, cantar, dançar. Tem uma vida imortal e uma consciência universal.

Mas as pessoas têm medo de relaxar. Têm medo de confiar. Têm medo das lágrimas. Têm medo de qualquer coisa que saia do comum, que vá além do mundano. Elas resistem e nessa resistência cavam a própria sepultura e nunca passam pelos momentos deliciosos e pelas experiências extasiantes que são seus por direito nato, só precisam ser reivindicados.

[...] Por causa de suas tensões, de suas preocupações, de seus problemas, o homem se perde na multidão e se torna outra pessoa. Lá no fundo ele sabe que não é o papel que está apresentando, ele é outra pessoa, isso cria um enorme conflito dentro dele. Ele não consegue desempenhar o papel corretamente, porque sabe que ele não é o seu ser autêntico — e tampouco consegue encontrar o seu eu autêntico. Ele tem de desempenhar o papel porque ele lhe garante o sustento, a vida, os filhos, poder, respeitabilidade, tudo. Ele não pode colocá-lo em risco, então tem de continuar a representar o papel de Napoleão Bonaparte. Aos poucos ele próprio começa a acreditar no papel. Tem de acreditar, do contrário ficaria difícil representá-lo. O melhor ator é aquele que esquece a própria individualidade e se funde com seu papel; então o seu choro é autêntico, o seu amor é autêntico e qualquer coisa que diga não vem do SCRIPT, mas do fundo do coração — parece quase real. Se tem de representar um papel, você precisa estar profundamente envolvido nele. Você tem de se tornar esse papel.

Todo undo está representando um papel, e sabe perfeitamente bem que esse papel não é o que se deveria ser. Isso cria um conflito, uma angústia, e essa angústia destrói todas as possibilidades de relaxar, confiar, amar, estar em comunhão com outra pessoa — um amigo, um amor. Você fica isolado. Passa a ser, com suas próprias ações, um exilado voluntário, e então sofre.

Tanto sofrimento neste mundo não é natural; trata-se de uma situação pouco natural. Pode-se aceitar de vez em quando que alguém sofra, mas a bem-aventurança deveria ser natural e universal.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Um olhar para o processo geral da busca da verdade

sábado, 17 de outubro de 2015

Despedaçando a pedra do orgulho

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

O amor é a única religião, o único Deus

O amor é a única religião, o único Deus, o único mistério que tem que ser vivido, compreendido. Quando o amor for compreendido, você terá compreendido todos os sábios e todos os místicos do mundo.

Não é uma coisa difícil. É tão simples quanto as batidas do seu coração ou a sua respiração. Ele vem com você, não é concedido pela sociedade. E esse é o ponto que eu quero enfatizar: o amor vem com o nascimento, mas não vem plenamente desenvolvido, é claro, assim como todo o resto. A criança tem que crescer.

A sociedade se aproveita dessa lacuna. O amor da criança leva tempo para crescer; enquanto isso a sociedade aproveita para condicionar a mente da criança com ideias falsas sobre o amor.

Na época em que está pronto para explorar o mundo do amor, você já está abarrotado com tantas bobagens sobre o amor que já não há muita esperança de que seja capaz de encontrar o autêntico e descartar o falso.

E o amor é uma flor tão delicada que não pode ser forçada a ser permanente. Você pode ter flores de plástico, que é o que as pessoas têm — casamento, família, filhos, parentes, tudo de plástico. O plástico só tem uma coisa muito espiritual: é permanente.

O amor verdadeiro é uma incerteza assim como a vida é uma incerteza. Você não pode afirmar que estará aqui amanhã. Você não pode sequer dizer que estará vivo daqui a pouco. A sua vida está mudando continuamente — desde a infância até a juventude, a meia-idade, a velhice, a morte, ela continua mudando.

O amor de verdade também mudará.

É possível que, se você for uma pessoa iluminada, o seu amor tenha transcendido as leis costumeiras da vida. Ele nem está mudando nem é permanente; simplesmente é. Não é mais uma questão de como amar; você se tornou o próprio amor, por isso o que quer que faça é amoroso.

Não que você faça algo especificamente que seja amor; faça o que fizer, o seu amor se derramará sobre isso. Mas antes da iluminação o seu amor será exatamente como todo o resto: ele mudará.

(Osho)

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Sobre a falta de comprometimento com a verdade

terça-feira, 13 de outubro de 2015

A dor do dia é o seu mestre

sábado, 10 de outubro de 2015

Esclarecendo o propósito do paradigma holotrópico

A triste crucificação da mente adquirida

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Diálogo sobre o estado de deserto existencial





terça-feira, 6 de outubro de 2015

O que é o amor?

Você pergunta: “O que é o amor?” É o profundo desejo de ser uno com o todo, o profundo desejo de dissolver o Eu, o Você, em uma unidade. O amor é isso, porque estamos separados da nossa própria origem, por isso, sente-se a necessidade de se voltar para um todo.

Se você arrancar uma árvore, ela sentirá o grande desejo de enraizar no solo, porque esta é sua verdadeira vida. Agora ela está morrendo. Separada a árvore não pode existir. Ela tem que existir na terra. Isso é amor.

Seu ego se tornou uma barreira entre você e a sua terra, o todo. O homem está sufocado, ele não consegue respirar, perdeu suas raízes.

O amor é um desejo de nutrição; o amor é enraizar-se na existência. E o fenômeno se torna mais fácil de se você cair no polo oposto – é por isso que o homem é atraído pela mulher, e a mulher pelo homem. O homem pode encontrar sua terra através da mulher, ele pode voltar a ficar com seus pés no chão, através da mulher, e a mulher pode por os pés no chão através do homem. Eles são complementares. O homem sozinho é metade. Quando essas duas metades se encontram e se misturam e se fundem, pela primeira vez nos sentimos enraizados, com os pés no chão.

Não é somente na mulher que você se enraíza; é através da mulher que você se enraíza em Deus. A mulher é simplesmente uma porta, o homem é simplesmente uma porta. O homem e a mulher são apenas portas para Deus. O desejo de amor é o desejo de Deus. Você pode entender isso, ou não pode entender, mas o desejo de amor realmente prova a existência de Deus. Não existe nenhuma outra porta.

Porque o homem ama Deus é. Porque o homem não pode viver sem amor, Deus é. A ânsia de amar simplesmente diz que sozinhos nós sofremos e morremos, juntos, nós crescemos, somos nutridos, realizados, preenchidos.

Você pergunta: “O que é o amor? Por que tenho tanto medo do amor?” É por essa razão que a pessoa tem medo do amor – porque no momento que você entra na mulher, você perde seu ego, e a mulher quando entra no homem, perde seu ego.

Agora isto precisa ser entendido: você pode estar enraizando no todo, somente se perder você mesmo; não há outra maneira. Você é atraído em direção ao todo por estar se sentindo desnutrido, e então, quando chega o momento de desaparecer no todo, você começa a sentir muito medo. Um grande medo surge porque você está perdendo a si mesmo. Você recua. Este é o dilema. Todo o ser humano tem que encarar isso, passar por isso, entender e transcender isso.

Você precisa entender que ambas as coisas estão surgindo da mesma coisa. Você sente que seria lindo desaparecer – nenhuma preocupação, nenhuma ansiedade, nenhuma responsabilidade. Você se tornará parte do todo, como as árvores e as estrelas. A simples ideia é fantástica! Ela abre portas, portas misteriosas para dentro de seu ser, ela da nascimento à poesia. Ela é romântica. Mas quando você realmente mergulha nisso, surge o medo de que: “Eu vou desaparecer, e quem sabe o que vai acontecer depois.”

É como um rio alcançando o deserto, ouvindo o sussurrar do deserto. O rio hesita, quer ir além do deserto, quer ir em busca do oceano; sente que existe um desejo, um sentimento sutil, uma certeza e uma convicção de que “meu destino é ir além!” nenhuma razão possível pode ser apontada, mas existe uma convicção interior de que “eu não terminarei aqui. Tenho que continuar procurando algo maior.”

Alguma coisa lá no fundo diz: “Tente energicamente! E transcenda esse deserto”.

E então o deserto diz: “Ouça-me: o único jeito é evaporar-se, entregando-se aos ventos. Eles o levarão além do deserto”. O rio quer ir além do deserto, mas a duvida é muito natural: “Qual é a prova, a garantia que depois os ventos permitirão que eu volte a ser um rio? Uma vez que eu tenha desaparecido, não estarei absolutamente controlando a situação. Então qual é a garantia que eu me tornarei novamente o mesmo rio, com a mesma forma, com o mesmo nome, o mesmo corpo? E quem sabe? E como poderia confiar que, uma vez que eu tenha me rendido aos ventos, eles permitirão que eu volte a me juntar?” este é o medo do amor.

Você sabe, está convencido de que sem amor não há vida, sem amor você permanece faminto por algo desconhecido, permanece insatisfeito, vazio.

Você é oco; você apenas um recipiente sem conteúdo. Você sente o vácuo, o vazio e o tormento disso. E você está convencido de que existem meios capazes de preenche-lo.

Mas quando você se aproxima do amor surge um grande medo, surge a dúvida: se você relaxar, se realmente mergulhar nele, será capaz de voltar novamente? Será capaz de proteger sua identidade? Vale a pena correr esse risco? E a mente decide não correr esse risco, porque pelo menos você é subnutrido, mal alimentado, faminto, miserável – mas pelo menos você é. Desaparecendo em algum amor, quem sabe? Você iria desaparecer, e qual é a garantia de que haverá felicidade, haverá beatitude, haverá Deus?

É o mesmo medo que uma semente experimenta quando começa a morrer no solo. Isso é morte, e a semente é incapaz de conceber que haverá vida surgindo desta morte.
Osho

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

O paradigma holotrópico expresso nos games

domingo, 4 de outubro de 2015

A trágica comédia humana

Sobre a trave do perfeccionismo

A mente não existe como uma entidade

A mente não existe como uma entidade – essa é a primeira coisa. Só existem pensamentos.

A segunda coisa: os pensamentos existem separados de você, eles não são um com sua natureza, eles vêm e vão – você permanece, você persiste. Você é como o céu: este nunca vem, nunca vai, está sempre aí. Nuvens vêm e vão, elas são um fenômeno momentâneo, elas não são eternas. Mesmo que você tenta apegar-se a um pensamento, você não pode retê-lo por muito tempo; ele precisa ir-se, ele tem seu próprio nascimento e morte. Pensamentos não são seus, eles não lhe pertencem. Eles chegam como visitantes, hóspedes, mas não são anfitriões.

Observe cuidadosamente, assim você se tornará o anfitrião e os pensamentos serão os hóspedes. E como hóspedes eles são bonitos, porém se você esquecer completamente de que é o anfitrião e eles se tornarem o anfitrião, dessa forma você fica numa confusão. Isso é o que o inferno é. Você é o mestre da casa, a casa lhe pertence, e os hóspedes tornaram-se os mestres. Receba-os, cuide deles, mas não fique identificado com eles; do contrário, eles se tornarão os mestres.

A mente se torna o problema porque você tomou os pensamentos tão profundamente dentro de você que você esqueceu completamente a distância; que eles são visitantes, eles vêm e vão. Lembre-se sempre daquele que permanece: essa é sua natureza, seu tao. Esteja sempre atento daquele que nunca vem e nunca vai, assim como o céu. Mude a gestalt: não fique focado nos visitantes, permaneça enraizado no anfitrião, os visitantes virão e irão.
( Osho )

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Da observação ácida à observação doce

Se você não está bem consigo mesmo, existem apenas dois caminhos: suportar sua inquietação ou projetá-la sobre os outros. Quando uma pessoa está internamente tensa, está pronta para lutar. Qualquer desculpa serve — o motivo é irrelevante. Ela pula sobre o primeiro que aparece: o empregado, a esposa, o filho.Como as pessoas se livram dos seus conflitos e inquietações interiores? Responsabilizando os outros. Assim, elas passam por uma catarse: tornam-se irritadas, atiram sua raiva e violência nos outros e isso lhes proporciona um alívio, um descanso. Temporariamente, é claro, porque no interior nada mudou.

O interior continuou velho e novamente acumulará. No dia seguinte, voltará a acumular a mesma coisa — raiva, ódio — e você terá de projetá-lo. A luta contra os outros existe porque você continua acumulando lixo dentro de si e necessita jogá-lo fora. Um homem que conquistou a mesmo, que se tornou um auto-conquistador, não tem conflitos internos, sua guerra cessou.

Dentro de si, existe apenas um — não dois. Tal homem nunca mais irá projetar, nunca mais lutará contra alguém. A mente usa o truque da projeção para esquivar-se do conflito interno porque esse conflito é muito doloroso — por muitas razões. A razão básica é que todas as pessoas têm uma imagem muito boa de si mesmas. E isso é tão forte que sem essa imagem elas quase não conseguem sobreviver. Os psiquiatras dizem que as ilusões são necessárias para se viver. Se você pensar que é tão ruim, tão demoníaco, tão mau; se essa imagem que é a verdadeira porque você é realmente assim — permanecer, você será simplesmente incapaz de viver. Perderá toda a autoconfiança, ficará tão repleto de auto-condenação que será incapaz de amar, não será capaz nem mesmo de se movimentar ou de olhar para qualquer outro ser humano. Sentir-se-á tão inferior, tão demoníaco, que morrerá. Esse sentimento tornar-se-á um suicídio. Mas isso é uma verdade — então, o que fazer?

O jeito é mudar essa verdade; é tornar-se um homem de Deus; não um homem do Diabo — é tornar-se Divino! Entretanto, isto é difícil, árduo. É uma dura e longa caminhada. Muito tem de ser feito. Só então o Diabo poderá tornar-se Divino. Ele pode tornar-se Divino! Talvez você não saiba que a raiz da palavra Diabo é a mesma da palavra Divino. Ambas vêm da raiz "deva", do Sânscrito. O Diabo pode tornar-se Divino porque o Divino tornou-se Diabo. A possibilidade existe; são dois pólos da mesma energia. A energia que se tornou amarga, azeda, pode tornar-se doce. É necessária uma transformação interior, uma alquimia interna — mas isto é demorado e árduo.

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill