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quarta-feira, 26 de agosto de 2015

É realmente possível o findar do "eu"?

[...]Vemos que toda religião, toda filosofia, e mesmo o estado totalitário, deseja destruir o processo separativo da mente. Nunca houve revolução, nunca houve transformação econômica exterior, nunca houve disciplina interior, como se costuma dizer, capaz de destruir ou de fazer findar o "eu". Penso que a maioria de nós percebe ou está cônscia de que o "eu" precisa findar, não teoricamente, mas de fato. Pode-se filosofar e especular a respeito; a maioria o faz fraudulentamente ou com um intento agressivo, como a maioria dos políticos, por quem somos dirigidos, ou como os ricos que controlam quase toda a nossa economia externa, ou como os que seguem o caminho espiritual. Todos eles, de maneiras diferentes, estão aplicados à expansão do "eu". Não é esse m dos principais fatores que concorrem para destruir a mente?

O único instrumento que possuímos é a mente. Até agora nós a temos usado de maneira errada. É possível, agora, fazermos findar todo esse processo do "eu", com todos os seus fatores de degeneração, todos os seus elementos destrutivos? Creio que a maioria de nós percebe que o "eu" é separativo, destrutivo, anti-social; tanto externa como internamente, é um processo isolante, em que não é possível nenhum estado de relação, em que não pode existir o amor. Nós percebemos esse fato, uns mais, outros menos, mas a maioria não está cônscia dele. É possível findar verdadeiramente esse processo — não o substituindo por outra coisa, ou adiando, ou o afastando por meio de explicações? 

Como já vimos, nem a mera disciplina, nem a conformidade, colocam fim ao "eu"; dão-lhe, sim, vitalidade, mudando-lhe, apenas a direção. A maioria das pessoas inteligentes, das pessoas que refletem, já deve ter examinado essa questão. Independente das sanções religiosas, das compulsões totalitárias — injunções, campos de concentração — a maioria de nós temos nos perguntado se o "eu" pode realmente findar. Quando fazemos tal pergunta a nós mesmos, a reação automática, a reação natural é o "como". Como pode ele findar? Assim, o "como", o método prático, a maneira, tem importância para nós. Se pudermos examinar um pouco mais perto toda a questão relativa ao "como" e sua técnica, talvez venhamos a compreender o "como", o método prático de se conseguir um resultado que colocará fim ao "eu".

Quando desejamos conhecer o método de terminar o "eu", a maneira de conseguir tal resultado, qual é o processo da mente? Existe o "como", a maneira de proceder, o método, o sistema? Se seguirmos o sistema, ele colocará fim ao "eu"? Ou lhe dará força de expansão em outra direção? A maioria de nós, sobretudo os que sentimos um certo interesse e temos inclinações religiosas, desejamos ansiosamente conhecer ou descobrir o método de terminar, a maneira de vir-a-ser, a maneira de se conseguir um resultado. Se nos examinássemos profundamente, em nossos corações e em nossas mentes, é bem certo que conseguiríamos o método de terminar o "eu", se tal método existisse. 

Ora, porque pergunta a mente, pela técnica, pelo método? Não é importante esta pergunta? O que acontece é o seguinte: Vocês têm um sistema, um método, o "como", a técnica; e a mente forma, de acordo com a técnica, o padrão. Isso coloca fim ao "eu"? Vocês possuem um método disciplinar muito rigoroso, ou um método de gradualmente se aliviarem do conflito do "eu", um método que lhes proporcionará consolação; entretanto, essencialmente, o desejo de método só indica, realmente, o fortalecimento do "eu". Não é verdade? Prestem bem atenção e verão se é verdade ou não que o "como" indica um processo de pensamento, um processo imitativo, por meio do qual a mente, o "eu", pode acumular força, adquirir maior capacidade, em vez de acabar-se definitivamente. 

[...] Se pudermos compreender o processo de como desejamos um método para alcançar um resultado, e, também, se compreendermos a mente que cultiva a técnica, veremos, então, que isso, essencialmente, é um meio de fortalecer o pensamento. O pensamento é um dos principais fatores de deterioração, porque o pensamento é um processo da memória, sendo a verbalização da memória e uma influência condicionadora. A mente que busca uma saída desta confusão, só está fortalecendo aquele processo de pensamento. O que importa, pois, não é que se ache uma maneira ou método, porque já vimos quais são as consequências aí contidas — mas, sim, de estarmos cônscios de todo o processo da mente. 

O pensamento nunca pode ser independente; não há pensar independente, porque todo pensamento é um processo de conformidade com o passado. Não há nenhuma independência ou liberdade pelo pensar. Como que pode a mente que é essencialmente o resultado do passado, que está condicionada por várias memórias... como pode essa mente ser independente? Assim, — quando vocês buscam a independência do pensamento, estão apenas perpetuando o "eu". Qual é o processo dessa independência? A maioria de nós nos sentimos solitários, e há em nós uma constante ânsia de preenchimento. Conscientes desse vazio em nós, buscamos várias maneiras de fugir dele — atividades religiosas, atividades sociais... vocês bem conhecem essas fugas. Enquanto não resolvermos aquele problema, a independência que estamos procurando, para o nosso pensar, será sempre, apenas, uma perpetuação do "eu". 

Para a maioria de nós, a criação é coisa inexistente; não sabemos o que significa criar. Sem essa ação criadora que não é do tempo, que não é do pensamento, será que não poderemos fazer nascer uma civilização basicamente diferente, um diferente estado de relações humanas? É possível a mente se achar naquele estado receptivo, no qual pode se realizar a criação? O pensamento não é criador; o cultivo de um ideal é processo de pensamento e está condicionado em conformidade com a mente. Como pode, então a mente, que é processo de pensamento, que é resultado de tempo, que é resultado de educação, de influências, de coerção, do medo, da busca de recompensa e fuga da punição — como pode a mete, em tais condições, ser livre, de maneira que possa se realizar a criação? Quando nos fazemos esta pergunta, desejamos saber o método, o "como", a maneira prática de alcançar aquela liberdade mental. Procurar conhecer o "como", o método, é a coisa mais absurda, um processo colegial. O "como" implica sempre o método, que é a coisa que interessa ao pensamento, que é conformidade com uma técnica determinada. Vemos também que só há criação quando a mente, com seu processo de pensamento, chega ao seu fim. 

Sem dúvida, na atual crise mundial e com os políticos e suas astuciosas explorações, a criação é a coisa mais difícil de se alcançar. Não queremos mais teorias, mais guias, mais técnicas e técnicas mais novas, os meios de manter em vigor o padrão. 

As mentes criadoras são só as dos entes humanos que são "integrados". 

É possível para a mente, que é resultado de séculos de processo de pensamento, encontrar-se, em algum tempo, naquele estado criador? Isto é, pode o pensamento, alguma vez, receber, ou cultivar, aquele impulso criador? Creio que esta é uma das perguntas mais importantes que podemos fazer a nós mesmos. Porque já vimos que a simples observância de um padrão nunca nos levou a parte alguma, nem social, nem religiosamente. Nenhum guia pode nos dar o verdadeiro impeto criador, nenhum exemplo é capaz disso; todo exemplo é expansão do "eu", o herói é expansão do eu, glorificado. O cultivo do ideal, portanto, é uma expansão de mim mesmo, o preenchimento de mim mesmo numa ideia; é continuação do pensamento, como tempo, e por isso não há estado criador. Julgo muito importante averiguar bem isso, estar bem consciente de quanto é essencial que cada um de nós descubra esse espírito criador. A mente nunca será capaz de descobri-lo, por mais que faça; o pensamento não pode compreender nem gerar o estado criador. 

Que estado criador é esse? Por certo, não se pode dizer positivamente o que ele é. Descrevê-lo seria limitá-lo, seria um processo de medição; e medi-lo é empregar um processo de pensamento. Não há dúvida de que isso é exato. Por conseguinte, o pensamento nunca será capaz de apreendê-lo. De nada vale o descrevê-lo. O que está ao nosso alcance fazer é descobrir quais são os obstáculos, chegando-nos a eles de maneira negativa, indireta. A maioria de nós fará objeção a isso, porque estamos, em geral, habituados a ser diretos. "Faça isso, e você obterá aquilo", tal é a atitude que governo o nosso proceder. estamos aqui discutindo, não com o fim de descrever aquele estado, mas com o fim de verificar o que devemos fazer para descobrir, por nós mesmos, os empecilhos que estão obstruindo àquele estado criador, àquele estado extraordinário em que a mente, a entidade que observa, é inexistente. 

Qual é o primeiro obstáculo que se depara? É sem dúvida o desejo de ser poderoso, o desejo de dominar. O desejo de poder é um processo separativo; ainda que esteja identificado com o todo, com uma nação, ou com um grupo, é um processo de isolamento. O empecilho é a mente, que é ambiciosa, em qualquer nível... a chamada ambição espiritual, a mentalidade do político, do rico, do pobre. Todas essas pessoas desejam possuir mais. A ânsia de ter mais é o elemento destruidor que se nos depara. É muito difícil perceber isso, porque a mente é cheia de sutilezas. Uma pessoa pode não procurar o poder, escancaradamente, sem disfarce, mas pode procurá-lo como político, sob o pretexto de estar servindo aos interesses do Estado; ou pode também atuar como cabo eleitoral... Há várias maneiras de se buscar o poder, e tudo isso, essencialmente, é a vontade de ser, a vontade de vir-a-ser alguma coisa que se expressa sob a forma de virtude, de responsabilidade, pela ação da mente, pelo espírito de domínio, pelo orgulho de ser poderoso. 

Um dos fatores mais fortes, uma das barreiras mais importantes, é esse desejo de poder, esse desejo de domínio. Observem suas próprias vidas, e verão como está sempre operando aquele desejo separativo, aquele desejo destruidor. Ele, naturalmente, levará de vencida o amor. Só no amor está a nossa redenção. Mas não se pode possuir o amor, quando há espírito de domínio, espírito que se manifesta no desejo de poder, de posição, de autoridade, quando está em ação a vontade, o desejo de alcançar um resultado. Sabemos tudo isso. Estamos colhidos na corrente do vir-a-ser, na corrente do desejo de poder, impossibilitados de detê-la, de sairmos dela. Para isso não há nenhum "como". Devemos conhecer todas as consequências do poder; e assim que as reconhecemos, saímos da corrente — não há nenhum "como". 

Um dos obstáculos à criação é a autoridade, a autoridade do exemplo, a autoridade do passado, a autoridade da experiência, a autoridade do saber, a autoridade da crença. Tudo isso são obstáculos ao estado criador. Vocês não são obrigados a aceitar o que estou dizendo. Podem observá-lo na própria vida; e verão como a crença, o saber e a autoridade dão mais força ao processo separativo da mente. 

Evidentemente, outro fator que impede o estado criador é a repetição, a imitação, a perpetuação de uma ideia, — repetição, não só de sensação, mas repetição de ritos, a vã repetição que tem por alvo o saber, a repetição da experiência — que são inteiramente sem significação e só constituem obstáculos. Não há nenhuma experiência nova. Toda experiência é processo de reconhecimento. Se não há reconhecimento, não há experiência, e o processo de reconhecimento é processo da mente, que é verbalização. 

Outro fator que nos está separando do estado criador é o desejo de um método, do "como", da maneira — queremos proceder de modo que a mente alcance um resultado; esse é um processo de continuidade, de repetição, e a mente que está entregue à repetição não pode, jamais, ser criadora. 

Assim, se puderem ver tudo isso, compreenderão que é na realidade a mente que se opõe à existência de um estado criador. Uma vez cônscia de seu próprio movimento, a mente cessa. Só então pode realizar-se o estado criador; esse estado criador é a única salvação, porque ele é amor. O amor nada tem em comum com o sentimentalismo; nada tem em comum com a sensação; não é produto do pensamento; não pode ser fabricado pela mente. A mente só é capaz de criar imagens de sensação, de experiência; e imagens não são o amor. Não sabemos o que significa o amor, embora empreguemos prodigamente a palavra. Mas sabemos o que é sensação; é da própria natureza da mente, o sentir sensações, o cultivar a sensação, através de imagens, através de palavras ou de qualquer forma de presunção. A mente não pode conhecer o amor; no entanto, vimos cultivando a mente há séculos. 

É dificílimo à mente perceber todo esse processo, de modo que o "experimentador" não esteja separado da coisa experimentada. É esta divisão entre "observador"e "objeto observado" que é o processo de pensamento. No amor não existe "experimentador" ou "coisa experimentada", Nós não o conhecemos; mas, sendo ele a nossa única redenção, é lógico que um homem que sente verdadeiro empenho tem de observar todo o processo da mente, tanto o culto como o patente. Isso é extremamente difícil. A maioria de nós estamos dissipando as nossas energias, por influência do clima, por influência do regime alimentar, com maledicência ociosa — perdão, não há maledicência ociosa, só existe maledicência — e por causa da inveja. Não nos resta tempo para investigar. E só pela investigação meditativa nos é possível o percebimento claro da mente e da sua substância; então, a mente cessa, e o amor pode existir. 

Krishnamurti em, Quando o pensamento cessa
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill