A seguinte passagem pode ser considerada um resumo justo da filosofia de Plotinus, tal como compreendida pelos neoplatonistas:
As almas humanas que desceram à corporalidade são as que se permitiram escravizar pela sensualidade e dominar pela luxúria. Agora, acham-se perdidas do seu verdadeiro ser e, afanando-se pela independência, assumem uma falsa existência. Precisam voltar atrás e como não perderam a sua liberdade, a conversão ainda é possível.
As almas humanas que desceram à corporalidade são as que se permitiram escravizar pela sensualidade e dominar pela luxúria. Agora, acham-se perdidas do seu verdadeiro ser e, afanando-se pela independência, assumem uma falsa existência. Precisam voltar atrás e como não perderam a sua liberdade, a conversão ainda é possível.
Aqui, chegamos à filosofia prática. Percorrendo o mesmo caminho que lhe serviu para a descida, a alma deve refazer os degraus que a levam de volta ao Deus supremo. Em primeiro lugar, deve retornar a si mesma. Isso se alcança pela prática da virtude, cujo fim é a semelhança com Deus e que conduz a Deus. Na ética de Plotinus, todos os antigos esquemas de virtude acham-se alterados e reorganizados em séries graduadas. O estado mais baixo é o das virtudes civis, seguido pela purificação e por último por todas as virtudes divinas. As virtudes civis simplesmente enfeitam a vida, sem elevar a alma. Essa tarefa pertence às virtudes purificadoras, pelas quais a alma se liberta da sensualidade, volta a si mesma e então ao "nous"(¹). Por meio de práticas ascetas o homem uma vez mais se converte em um ser espiritual, livre de todos os pecados. Entretanto, ainda há um escalão mais alto: não basta ser sem pecado; é preciso converter-se em "Deus". Isto se alcança pela contemplação do Ser primevo, do Único ou, em outras palavras, por uma aproximação extasiada desse Único. O pensamento não pode chegar a isso, pois atinge apenas o "nous" e é, em si mesmo, uma espécie de movimento. O pensamento é um estágio preliminar de aproximação de Deus. É apenas em estado de perfeita passividade e repouso que a alma pode reconhecer e tocar o Ser primevo. Assim, para atingir este fim mais alto a alma necessita passar por um currículo espiritual. Iniciando na contemplação das coisas corpóreas, em sua multiplicidade e harmonia, retira-se para dentro de si mesma, nas profundezas de seu próprio ser, atingindo, então, o "nous", o mundo das ideias. Mas o Mais Alto, o Único, ainda não termina aí. Ainda há uma voz que diz: "Nós não nos fizemos a nós mesmos". O último estágio é alcançado quando, na mais alta tensão e concentração, no silêncio e no esquecimento de todas as coisas, a alma acha-se apta a perder-se em si mesma. Então, ela pode ver a Deus, a fonte da vida, do ser, a origem de todo bem, a raiz da alma. Nesse momento, ela desfruta a benção mais indescritível; é como se fosse banhada pela divindade, mergulhada na luz da eternidade.
Richard Maurice Bucke em, Consciência Cósmica - estudo da evolução da mente humana
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(¹) Nous, termo filosófico grego que não possui uma transcrição direta para a língua portuguesa, e que significa atividade do intelecto ou da razão em oposição aos sentidos materiais. Muitos autores atribuem como sinônimo a Nous os termos "Inteligência" ou "Pensamento".
Richard Maurice Bucke em, Consciência Cósmica - estudo da evolução da mente humana
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(¹) Nous, termo filosófico grego que não possui uma transcrição direta para a língua portuguesa, e que significa atividade do intelecto ou da razão em oposição aos sentidos materiais. Muitos autores atribuem como sinônimo a Nous os termos "Inteligência" ou "Pensamento".