A pesquisa psíquica não existe num vazio. Como qualquer outra atividade humana organizada, ela é uma resposta às necessidades individuais e sociais. O conhecimento dessas necessidades pode preparar-nos para os anos futuros. Como um ponto de partida para a próxima década, Marshall Berman, da Universidade de Nova York, propõe o seguinte: "Para um grande número de americanos, particularmente para os jovens, os anos 60 foram um período para o qual convergiram dois dos mais profundos fluxos de consciência — a consciência de si mesmo e a consciência social. A visão radical e a energia dos anos 60 visava uma fusão de ideias e de experiências que a década de 50 julgara ou desconexas ou incompatíveis: liberdade política e êxtase pessoal, ativismo e misticismo, campanhas de registros eleitorais e drogas para a expandir a mente, greves brancas e amor livre". A tentativa dessa fusão fez com que as pessoas "examinassem mais intensa e profundamente ao mesmo tempo a si mesmas e as instituições e o ambiente em que viviam. Elas procuravam tanto expandir o eu e explorá-lo, quanto criar uma sociedade na qual o eu pudesse sobreviver". Muita gente experimentou um conflito com a sociedade existente porque ela nos obriga a "representar papéis e desempenhar funções que nos afastam de nossos sentimentos e necessidades mais profundos: ela nos aliena de nós próprios".
Se esta visão é correta, de que modo o conflito pode ser solucionado? Como se pode realizar uma fusão entre as necessidades de "ativismo e misticismo" ou de "liberdade política e êxtase pessoal?"E em que sentido se pode expandir e explorar o eu? As respostas a essas questões giram em torno da natureza da individualidade humana. As ciências do comportamento identificam o eu com o corpo e suas necessidades com as necessidades orgânicas, apenas modificadas pelo ambiente. Nós nos consideramos uma espécie que saiu vitoriosa da luta pela sobrevivência e constatamos que a luta prossegue entre nós mesmos, senão pela sobrevivência física, então pela ascendência individual. Todas as nossas instituições educacionais, profissionais e comerciais reforçam a realização pessoal em circunstâncias competitivas. As atividades recreativas a miúde seguem o mesmo tema, seja na disputa do Miss América, no levantamento de pesos ou em qualquer arena na qual nos encontremos. Embora haja ocasiões em que os relacionamentos cooperativos se sobrepõem aos assuntos individuais, o modelo é essencialmente o mesmo, uma vez que o grupo ao qual pertencemos geralmente se estabelece em oposição a um outro grupo. O contexto pode variar desde aquele campo de batalha até o da igreja que exclui membros de outras raças.
Se este extrato dos seres humanos como ego separados é correto, não pode haver nenhuma expansão real do eu. A busca de caminhos para "explorar" o eu e satisfazer suas necessidades de "ativismo", de "misticismo" etc. deverá então ser investigada sob o aspecto das funções do ego — tal como a rebeldia do adolescente, talvez com sugestivas riquezas artísticas e patológicas — que as atuais técnicas psicológicas e sociológicas podem ser capazes de oferecer. Se o eu, porém, abrange, em algum sentido real, seu ambiente social e físico, não se pode esperar que a ciência e a tecnologia respondam às suas necessidades antes de admitirem a possibilidade de um eu extra-somático. A questão é se pode ser demonstrado que o eu humano se estende para além dos limites do seu organismo.
W.G. Roll em, Psychical Research in the Seventies