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quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Pode uma pessoa realmente libertar-se da tradição?

Interrogante: Pode uma pessoa libertar-se realmente da tradição? Pode alguém ficar livre do que quer que seja? Ou a questão é de nos esquivarmos dela e não nos deixarmos preocupar com ela? Você tem falado muito a respeito do passado e do seu condicionamento; mas tenho de fato alguma possibilidade de libertar-me disso que constitui o próprio "fundo" de minha vida? Ou só tenho a possibilidade de modificar esse fundo em conformidade com diferentes desafios e necessidades externas, a ele me acomodar, em vez de me livrar dele? Essa me parece ser uma das coisas mais importantes, e eu gostaria de compreendê-la porque sempre tive o sentimento de que estou levando um fardo, o peso do passado. Eu bem gostaria de aliviar-me dele para sempre. É possível isso?

Krishnamurti: "Tradição" não significa transportar o passado para o presente? O passado não são apenas nossas heranças pessoais, mas também o peso do pensamento global de um determinado grupo de pessoas que vivem numa determinada cultura e tradição. Levamos conosco toda a acumulação de conhecimentos e experiências da raça e da família. Tudo isso é o passado: o transporte do conhecido para o presente, que forma o futuro. Não é tradição tudo o que a História nos ensina? Você pergunta se uma pessoa pode libertar-se dela. Antes de mais nada, porque deseja ela libertar-se? Porque deseja aliviar-se dessa carga? Porquê? 

Interrogante: Isso me parece bem simples. Eu não desejo ser o passado; quero ser eu mesmo. Quero expurgar-me de toda essa tradição, para poder tornar-me um ente humano novo. Penso que na maioria de nós existe esse sentimento, esse desejo de renascer. 

Krishnamurti: Você não pode "tornar-se novo" pelo simples fato de o desejar ou de lutar para ser novo. Você tem, não só de compreender o passado, mas também de descobrir quem é. Você não é o passado? Não é a continuação do que foi, modificado pelo presente?

Interrogante: São em minhas ações e pensamentos, mas minha existência não o é. 

Krishnamurti: Pode-se separar as duas coisas — a ação e o pensamento — da existência? Meu pensamento, minha ação, minha existência, meu viver e minhas relações — tudo isso não é a mesma coisa? A fragmentação em "eu" e "não eu" faz parte dessa tradição.

Interrogante: Você quer dizer que, quando não estou pensando, quando o passado não está funcionando, eu estou completamente apagado, deixei de existir?

Krishnamurti: Deixemos de perguntas supérfluas e consideremos o ponto com que iniciamos esta palestra. Pode uma pessoa libertar-se do passado — não apenas do passado recente, mas também do passado imemorial — do passado coletivo, racial, humano, animal? Você é todo ele, dele não está separado. E você perguntou se tem a possibilidade de pô-lo de parte e renascer. O "você" é o passado e, quando você deseja renascer como uma entidade nova, a nova entidade que você imagina é uma projeção da velha, coberta da palavra "nova". Mas, por baixo, você é o passado. A questão, pois, é se o passado pode ser posto de parte ou se continua a haver, infinitamente, uma forma "modificada" de tradição — a mudar, a acumular, a rejeitar, porém sempre o passado, em diferentes combinações. O passado é a causa, e o presente o efeito, e hoje — o efeito do ontem — se torna a causa do amanhã. Essa cadeia é a maneira de ser do pensamento, pois o pensamento é o passado. Você pergunta se pode ser detido esse movimento de ontem para o hoje. Pode-se olhar e examinar o passado, ou isso é completamente impossível? Para olhá-lo, o observador deveria estar fora dele — mas não está. E apresenta-se, assim, outro problema: Se o próprio observador é o passado, como isolar o passado, para observá-lo? 

Interrogante:  Posso observar uma coisa objetivamente...

Krishnamurti: Mas você, o observador, é o passado que está tentando observar a si próprio. Você só pode "objetivar" a si mesmo como uma imagem que formou através dos anos, em relações de toda espécie e, portanto, o "você" que "objetiva" é memória e imaginação — o passado. Você quer olhar-se como se fosse uma entidade diferente daquela que está olhando, mas, você é o passado, com seus velhos juízos, avaliações, etc. A ação do passado está a observar, a olhar, a memória do passado. E, assim, você nunca ficará livre do passado. O contínuo exame do passado pelo próprio passado perpetua o passado; esta é a ação mesma do passado, a ação mesma da tradição. 

Interrogante: Que ação então é possível? Se eu sou o passado — e vejo que o sou — então, tudo o que eu faço para apagar o passado estará aumentando o passado. Vejo-me assim numa situação irremediável! Que posso fazer? Não posso rezar, porque a invenção de um Deus é também o passado. Não posso recorrer a outrem, porque esse outrem é também uma criação de meu desespero. Não posso fugir, porque no fim de minha fuga, vejo que ainda estou levando o meu passado. Não posso identificar-me com uma imagem não pertencente ao passado, porque essa imagem é igualmente projeção minha. Em vista de tudo isso, vejo-me numa situação irremediável, em desespero. 

Krishnamurti: Porque você diz "situação irremediável" e "desespero"? Não está traduzindo o que vê como sendo o passado, numa ansiedade emocional, por não poder alcançar um certo resultado? Com isso, está novamente fazendo o passado atuar. Ora, você pode olhar todo esse movimento do passado, com todas as suas tradições, sem desejar se livrar dele, sem modificá-lo ou dele fugir; ficar simplesmente a observá-lo, sem nenhuma reação? 

Interrogante: Mas, como temos dito no decurso desta palestra, como posso eu observar o passado, se sou o passado? Eu não posso de modo nenhum olhá-lo!

Krishnamurti: Pode olhar a si mesmo, que é o passado, sem nenhum movimento do pensamento, que é o passado? Se você pode olhar sem pensar, sem avaliar, gostar, não gostar, julgar, isso é olhar com os olhos não contaminados pelo passado. É olhar em silêncio, sem barulho produzido pelo pensamento. Nesse silêncio, não há o observador e a coisa que ele está observando — o passado. 

Interrogante: Você quer dizer que, quando se olha sem avaliação ou julgamento, o passado desapareceu? Mas, ele não desapareceu — existem ainda os milhares de pensamentos, e ações, e todas as ninharias que, um momento atrás, pulavam. Olho, e vejo que tudo isso existe ainda. Como você pode dizer que o passado desapareceu? Poderá ter detido, momentaneamente, o seu movimento...

Krishnamurti: Quando a mente está em silêncio, esse silêncio é uma dimensão nova, e se alguma ninharia subsistir, será instantaneamente dissolvida, porque a mente tem agora uma energia de qualidade diferente, que não é a energia gerada pelo passado. É isto que importa verdadeiramente: ter essa energia que dissipa tudo o que vem do passado. O "transportar" do passado é uma energia de espécie diferente. O silêncio dissolve essa outra energia; o maior absorve o menor e permanece intato. Semelhante o mar, que recebe as águas impuras do rio e permanece puro. Isso é que é importante. Só essa energia pode apagar o passado. Ou temos o silêncio, ou temos o barulho do passado. No silêncio, o barulho cessa, e o novo é esse silêncio. Não é você que se torna novo. Esse silêncio é infinito, e o passado é limitado. Na plenitude do silêncio, o condicionamento do passado cai por terra.

Krishnamurti em, A luz que não se apaga

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill