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terça-feira, 30 de dezembro de 2014

O rio e o oceano

Diz-se que, mesmo antes de um rio cair no oceano ele treme de medo. Olha para trás, para toda a jornada,os cumes, as montanhas, o longo caminho sinuoso através das florestas, através dos povoados, e vê à sua frente um oceano tão vasto que entrar nele nada mais é do que desaparecer para sempre.

Mas não há outra maneira. O rio não pode voltar. Ninguém pode voltar.Voltar é impossível na existência. Você pode apenas ir em frente. O rio precisa se arriscar e entrar no oceano.

E somente quando ele entra no oceano é que o medo desaparece. Porque apenas então o rio saberá que não se trata de desaparecer no oceano, mas tornar-se oceano.

Por um lado é desaparecimento e por outro lado é renascimento.

Assim somos nós. Só podemos ir em frente e arriscar.

Coragem!

Avance firme e torne-se Oceano!

Osho

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Abrir mão das teorias confortantes é autoconhecimento

Você não pode aprender a respeito de si mesmo, se afirma que é Deus. Não pode aprender a respeito de si mesmo, se diz que é o Atman superior, ou se diz que é mero resultado do ambiente. Está seguindo o que estou dizendo? Se você diz que é apenas o resultado do ambiente — como tantos o dizem, os comunistas, etc. — cessou então de aprender; se diz que em você reside o Atman, o Eu Superior, está meramente repetindo o que lhe foi dito, uma teoria muito confortante; portanto, cessou de aprender; e se você diz "Eu sou isto, sou algo", nesse caso, também cessou de aprender. Para descobrir o que há em você, deve aprender a respeito de si mesmo; por conseguinte, necessita da mais alta liberdade, inteligência e percebimento crítico. Sem essas coisas, nenhuma possibilidade tem de ver o que há em si mesmo pu de se compreender. E se não compreende a si mesmo, nenhuma base tem para a estrutura de sua existência. Pode ter ideias e mais ideias, conflitos, dores, prazeres, etc.; mas, falta a base.

Você deve conhecer a si mesmo — e não segundo Sankara, Buda, Cristo, Freud, Jung ou quem quer que seja, inclusive este orador. Deve conhecer-se e, por conseguinte, aprender a respeito de si mesmo. Para aprender a respeito de si mesmo, devem cessar todos os conhecimentos que já tem de si mesmo; e isso é muito difícil. Porque, quando diz "Sou feio", essa própria palavra "feio" encerra um certo conteúdo de tradição; por conseguinte, você está julgando; logo, não está aprendendo. Espero que você esteja percebendo isto; é uma coisa muito simples. Uma vez que o perceba, será então capaz do voo do aprender; não há então fim nem limite; e este aprender está fora do tempo. A mente que está continuamente em movimento, do desconhecido para o desconhecido, aprendendo, aprendendo, aprendendo — essa é a mente sensível por excelência e, por conseguinte, uma mente livre.

Vamos, pois, aprender a respeito de nós mesmos. E, como disse, para aprender não deve haver avaliação, é claro. Quando você avalia, julga com base no que já adquiriu, na forma de conhecimento; e quando você vê a si mesmo, ou condena, ou aprova, ou rejeita o que vê e, por conseguinte, não está aprendendo a respeito de si mesmo. Ora, se está aprendendo a respeito de si mesmo, está aprendendo a respeito do corpo, dos nervos, das reações nervosas, das lembranças, das esperanças, dos temores, dos desesperos, das agonias, da cólera, do desejo, das exigências sexuais, da esperança de encontrar o Eterno, etc. Você é tudo isso; e tudo isso são ideias. Não são? Você tem ideias sobre sua esposa, de que é um homem bom, uma personalidade importante na cidade, um discípulo forte e tenaz, um hinduísta, isto ou aquilo. Você tem ideias; e tais ideias são o resultado das influências ambientes, de seu conhecimento. Por conseguinte, quando predominam as ideias a acerca de sua pessoa, cessou de aprender a respeito de si mesmo. Note, por favor, que isto é muito importante e muito simples. Uma vez que você o tenha aprendido, está vivo; então, a tradição, os Sankaras, tudo isso pode ser deixado de lado; e você se torna um ente humano, livre para descobrir, livre para investigar, para aprender. Assim, pois, é absolutamente essencial o aprender a respeito de si mesmo; do contrário, cria-se uma ilusão, e nessa ilusão se fica a viver.

Aprender a respeito de si próprio é a primeira ação inteligente do ser humano; mas não significa que o indivíduo a respeito de si próprio a fim de "salvar-se". Você é o resultado de dois milhões de anos de existência do homem, com todas as suas experiências, suas calamidades, seus desesperos, e sua confusão; você é tudo isso. E, se deseja promover uma completa revolução em si mesmo, deve conhecer-se — "conhecer-se" —, não: aprender a respeito de si mesmo, compreender-se. Qualquer tolo pode dizer: "Conheço-me a mim mesmo" — mas, aprender a respeito de si mesmo é extremamente difícil, porque você deve se olhar, sem nenhuma escolha, nenhuma tendência, nenhuma crítica, nenhuma condenação; deve, simplesmente, olhar

(...) Para aprender a respeito de mim mesmo, devo olhar — escute, por favor! — devo olhar a mim mesmo. Só posso olhar-me, quando não existe autoridade de espécie alguma, quando não digo que sou Eu Superior ou Eu Inferior, quando nenhum conhecimento tenho a respeito de mim mesmo; devo olhar-me todos os dias como "coisa nova". Mas, quando olho a mim mesmo, há "aquele que olha" — o observador, o experimentador — e o pensamento — a experiência, a coisa que eu estou olhando. É o que acontece com a maioria de nós. Não é verdade? Quando digo que estou me olhando, o observador é diferente da coisa que está sendo observada. Isto é simples. Não estou entrando em nenhuma filosofia supermetafísica e complicada... isso são estultícias, para mim pelo menos. Só há o fato óbvio, o observador, o "eu" que diz: "Estou olhando", e a coisa que está sendo olhada. Há, pois, separação entre observador e a coisa observada.(...) Para a maioria das pessoas, isso é um fato simples, isto é, que o pensador é diferente do pensamento. E essa separação é a origem do conflito, porque o pensador está sempre procurando alterar o seu pensamento  modificá-lo, moldá-lo, controlá-lo, forçá-lo, reprimi-lo, sublimá-lo — fazer alguma coisa em relação a ele. Para aprender algo a respeito dessa divisão, devo questionar o próprio pensador, o próprio observador. Correto? Devo questionar se essa divisão é real ou se foi inventada pela mente, para fugir ao real. Espero que isto não esteja parecendo complicado demais; se o é, sinto muito.

Krishnamurti — Uma Nova Maneira de Agir

domingo, 28 de dezembro de 2014

Filme: Mister Cash

Título Original: Owning Mahowny
Ano de Lançamento: 2003
Direção: Richard Kwietniowski
País de Produção: Canadá, Inglaterra

Desde os 12 anos, Dan Mahowny (Phillip Seymour Hoffman) é viciado em jogo e não passa um dia sem efetuar algum tipo de aposta, seja em cassinos, corridas de cavalos ou outros esportes. Seu prazer, no entanto, não está no lucro, mas no excitante ato de jogar. Perante sua namorada e seus amigos Mahowny é apenas um devotado funcionário de banco, visto como extremamente eficiente por seus superiores. Apesar de sua aparente ingenuidade, durante um ano e meio ele conseguiu desviar mais de 10 milhões de dólares para financiar suas compulsivas apostas... Baseado em personagem real, um funcionário de banco de Toronto, no Canadá.

Filme: Diário de um Vício

Benito mantém um diário de suas fantasias e vontades sexuais. Como resultado de seu conturbado relacionamento com a bela e insaciável Luigia, seus pensamentos, registrados no diário, tornam-se cada vez mais confusos e bizarros. Enquanto, a cada oportunidade, ele compulsivamente tenta manter relações sexuais com toda mulher que conhece para compensar sua vida tediosa, suas fantasias, cada vez mais obscuras, vão o consumindo.
Título Original: Diario di un Vizio
Ano de Lançamento: 1993
Direção: Marco Ferreri
País de Produção: Itália
Idioma: Italiano
Duração: 85 Min.
 

Filme: Notas do Subsolo - Fiódor Dostoiévski


sábado, 27 de dezembro de 2014

A dificuldade da mente adquirida diante de perguntas essenciais

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Existe uma diferença entre "emprego" e "trabalho"?


Existe uma diferença entre "emprego" e "trabalho". Emprego é o que satisfaz nossas necessidades financeiras e físicas; trabalho é o que satisfaz nossas necessidades emocionais, mentais e espirituais e dá sentido à nossa vida. A personalidade pensa em termos de emprego, enquanto a alma anseia por um trabalho significativo. Num mundo ideal, emprego e trabalho seriam sinônimos, mas, infelizmente, o que acontece é que a maioria das pessoas tem emprego, não um trabalho verdadeiro. Em nossa sociedade, é cada vez maior o desejo de um trabalho significativo, capaz de satisfazer as necessidades tanto da personalidade quanto da alma, o que leva a um questionamento sobre o conceito acerca da natureza do trabalho. 

(...) A imagem que temos de nós mesmos e o amor-próprio estão de tal modo vinculados ao nosso trabalho que muitas pessoas, mesmo não o apreciando, temem deixar o emprego. A ideia de ficar desempregado provoca uma grande ansiedade e até mesmo medo, pois o conceito que temos de nós mesmos se baseia em grande parte no nosso emprego. Se perguntarmos às pessoas: "O que você faz?", quantas delas responderão que são ciclistas, ambientalistas pu pai/mãe? Tão forte é o senso de identificação do nosso ser com o trabalho e com o salário que aqueles que não dispõem de um trabalho remunerado, os que se dedicam a criar os filhos ou que prestam serviços voluntários, frequentemente se sentem desprestigiados e assumem uma posição de defensiva diante dessa pergunta. Do mesmo modo, os indivíduos que escolheram atividades "alternativas" — tais como a massagem, astrologia ou artes — ou profissões autônomas podem achar que seu trabalho é menos importante que as carreiras tradicionais. O próprio fato de sua ocupação ser considerada "alternativa" já indica desconfiança e reprovação implícitas. 

Nós devemos mudar essa visão do trabalho e perceber que todas as ocupações capazes de promover o bem comum têm valor. Contanto que o nosso trabalho coadune com o propósito da alma, estaremos fazendo o que viemos fazer. 

(...) Precisamos examinar a nossa personalidade e o conjunto de circunstâncias que nos foi dado nesta vida e encontrar o nosso trabalho dentro desses limites. Queixar-se de que não é justo, que é mais fácil para os outros, que não é o que desejamos, nada disso nos fará qualquer bem. Devemos revolver o solo das nossas circunstâncias genéticas, históricas e culturais para encontrarmos a pérola de inestimável valor que ali está enterrada. Algumas vidas pedem excelência no mundo exterior e outras no mundo interior. A alma e a personalidade precisam aprender a trabalhar juntas para determinar seu propósito conjunto e abraçá-lo com alegria. 

(...) Trabalhar com alma significa executar o trabalho que fomos convocados a fazer. E queremos executá-lo, não importa o salário e o status ou a opinião dos amigos e da família. Executá-lo nos faz sentir bem com nós mesmos, com os outros e com o mundo. A nossa vida adquire significado e caminhamos em conformidade com o nosso objetivo. 

(...) Quando colocamos a alma no trabalho, colocamos a totalidade de quem somos no nosso trabalho. Quando fazemos o que amamos, nós nos energizamos e o resultado é a manifestação do nosso sonho no mundo material — o que leva à realização interior e exterior.

Tanis Helliwell em, Trabalhando com Alma - Transforme sua vida e o seu trabalho

Como conseguir livrar-se do sofrimento?

Você está sempre perguntando como conseguir livrar-se do sofrimento. Perguntando assim, parece que o sofrimento o está segurando e você quer livrar-se dele. Se o sofrimento estivesse lhe segurando, então não seria possível você se livrar dele, porque a posse não estaria em suas mãos, mas nas mãos do sofrimento. Você seria impotente. E se depois de tantas vidas você ainda não conseguiu tornar-se livre, então como conseguir tornar-se livre agora?

Eu digo a você que o sofrimento não o está segurando; você é que está segurando o sofrimento. E se você puder fazer uns experimentos, aceitando o que eu estou dizendo, você irá compreender por si mesmo. E não apenas você compreenderá isso, mas você irá experienciar uma entrega; você saberá como o sofrimento pode ser abandonado. E quando tornar-se bom na arte de abandonar o sofrimento, você irá perceber o que estava arrastando consigo. E ninguém, a não ser você, era responsável por isso. Por qualquer coisa que você tenha experienciado como sofrimento, nenhuma outra pessoa pode ser responsabilizada. Esse era o seu desejo: você queria sofrer. Tudo o que nós desejarmos será permitido. E tudo o que você é, é o fruto dos seus desejos. Nem Deus é responsável, nem a sorte; ninguém tem motivo algum para lhe causar problemas.

A verdade é que a existência está sempre querendo fazer você ficar alegre. Toda essa existência quer que a sua vida se torne um festival... porque quando você está infeliz, você também sai atirando infelicidade por toda a sua volta. Quando você está infeliz, o mau cheiro de suas feridas alcança toda a existência. E quando você está infeliz, a existência também sente dor. Todo esse mundo sente dor quando você está infeliz e sente alegria quando você está alegre. A existência não deseja que você deva ser infeliz. Isso seria suicídio para a própria existência. Mas você está infeliz e para se tornar infeliz você teve que fazer toda sorte de arranjos. E enquanto isso não for destruído, você não será capaz de abrir os seus olhos para a felicidade. "

Osho

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Um Sopro de Gratidão

Pode uma pessoa realmente libertar-se da tradição?

Interrogante: Pode uma pessoa libertar-se realmente da tradição? Pode alguém ficar livre do que quer que seja? Ou a questão é de nos esquivarmos dela e não nos deixarmos preocupar com ela? Você tem falado muito a respeito do passado e do seu condicionamento; mas tenho de fato alguma possibilidade de libertar-me disso que constitui o próprio "fundo" de minha vida? Ou só tenho a possibilidade de modificar esse fundo em conformidade com diferentes desafios e necessidades externas, a ele me acomodar, em vez de me livrar dele? Essa me parece ser uma das coisas mais importantes, e eu gostaria de compreendê-la porque sempre tive o sentimento de que estou levando um fardo, o peso do passado. Eu bem gostaria de aliviar-me dele para sempre. É possível isso?

Krishnamurti: "Tradição" não significa transportar o passado para o presente? O passado não são apenas nossas heranças pessoais, mas também o peso do pensamento global de um determinado grupo de pessoas que vivem numa determinada cultura e tradição. Levamos conosco toda a acumulação de conhecimentos e experiências da raça e da família. Tudo isso é o passado: o transporte do conhecido para o presente, que forma o futuro. Não é tradição tudo o que a História nos ensina? Você pergunta se uma pessoa pode libertar-se dela. Antes de mais nada, porque deseja ela libertar-se? Porque deseja aliviar-se dessa carga? Porquê? 

Interrogante: Isso me parece bem simples. Eu não desejo ser o passado; quero ser eu mesmo. Quero expurgar-me de toda essa tradição, para poder tornar-me um ente humano novo. Penso que na maioria de nós existe esse sentimento, esse desejo de renascer. 

Krishnamurti: Você não pode "tornar-se novo" pelo simples fato de o desejar ou de lutar para ser novo. Você tem, não só de compreender o passado, mas também de descobrir quem é. Você não é o passado? Não é a continuação do que foi, modificado pelo presente?

Interrogante: São em minhas ações e pensamentos, mas minha existência não o é. 

Krishnamurti: Pode-se separar as duas coisas — a ação e o pensamento — da existência? Meu pensamento, minha ação, minha existência, meu viver e minhas relações — tudo isso não é a mesma coisa? A fragmentação em "eu" e "não eu" faz parte dessa tradição.

Interrogante: Você quer dizer que, quando não estou pensando, quando o passado não está funcionando, eu estou completamente apagado, deixei de existir?

Krishnamurti: Deixemos de perguntas supérfluas e consideremos o ponto com que iniciamos esta palestra. Pode uma pessoa libertar-se do passado — não apenas do passado recente, mas também do passado imemorial — do passado coletivo, racial, humano, animal? Você é todo ele, dele não está separado. E você perguntou se tem a possibilidade de pô-lo de parte e renascer. O "você" é o passado e, quando você deseja renascer como uma entidade nova, a nova entidade que você imagina é uma projeção da velha, coberta da palavra "nova". Mas, por baixo, você é o passado. A questão, pois, é se o passado pode ser posto de parte ou se continua a haver, infinitamente, uma forma "modificada" de tradição — a mudar, a acumular, a rejeitar, porém sempre o passado, em diferentes combinações. O passado é a causa, e o presente o efeito, e hoje — o efeito do ontem — se torna a causa do amanhã. Essa cadeia é a maneira de ser do pensamento, pois o pensamento é o passado. Você pergunta se pode ser detido esse movimento de ontem para o hoje. Pode-se olhar e examinar o passado, ou isso é completamente impossível? Para olhá-lo, o observador deveria estar fora dele — mas não está. E apresenta-se, assim, outro problema: Se o próprio observador é o passado, como isolar o passado, para observá-lo? 

Interrogante:  Posso observar uma coisa objetivamente...

Krishnamurti: Mas você, o observador, é o passado que está tentando observar a si próprio. Você só pode "objetivar" a si mesmo como uma imagem que formou através dos anos, em relações de toda espécie e, portanto, o "você" que "objetiva" é memória e imaginação — o passado. Você quer olhar-se como se fosse uma entidade diferente daquela que está olhando, mas, você é o passado, com seus velhos juízos, avaliações, etc. A ação do passado está a observar, a olhar, a memória do passado. E, assim, você nunca ficará livre do passado. O contínuo exame do passado pelo próprio passado perpetua o passado; esta é a ação mesma do passado, a ação mesma da tradição. 

Interrogante: Que ação então é possível? Se eu sou o passado — e vejo que o sou — então, tudo o que eu faço para apagar o passado estará aumentando o passado. Vejo-me assim numa situação irremediável! Que posso fazer? Não posso rezar, porque a invenção de um Deus é também o passado. Não posso recorrer a outrem, porque esse outrem é também uma criação de meu desespero. Não posso fugir, porque no fim de minha fuga, vejo que ainda estou levando o meu passado. Não posso identificar-me com uma imagem não pertencente ao passado, porque essa imagem é igualmente projeção minha. Em vista de tudo isso, vejo-me numa situação irremediável, em desespero. 

Krishnamurti: Porque você diz "situação irremediável" e "desespero"? Não está traduzindo o que vê como sendo o passado, numa ansiedade emocional, por não poder alcançar um certo resultado? Com isso, está novamente fazendo o passado atuar. Ora, você pode olhar todo esse movimento do passado, com todas as suas tradições, sem desejar se livrar dele, sem modificá-lo ou dele fugir; ficar simplesmente a observá-lo, sem nenhuma reação? 

Interrogante: Mas, como temos dito no decurso desta palestra, como posso eu observar o passado, se sou o passado? Eu não posso de modo nenhum olhá-lo!

Krishnamurti: Pode olhar a si mesmo, que é o passado, sem nenhum movimento do pensamento, que é o passado? Se você pode olhar sem pensar, sem avaliar, gostar, não gostar, julgar, isso é olhar com os olhos não contaminados pelo passado. É olhar em silêncio, sem barulho produzido pelo pensamento. Nesse silêncio, não há o observador e a coisa que ele está observando — o passado. 

Interrogante: Você quer dizer que, quando se olha sem avaliação ou julgamento, o passado desapareceu? Mas, ele não desapareceu — existem ainda os milhares de pensamentos, e ações, e todas as ninharias que, um momento atrás, pulavam. Olho, e vejo que tudo isso existe ainda. Como você pode dizer que o passado desapareceu? Poderá ter detido, momentaneamente, o seu movimento...

Krishnamurti: Quando a mente está em silêncio, esse silêncio é uma dimensão nova, e se alguma ninharia subsistir, será instantaneamente dissolvida, porque a mente tem agora uma energia de qualidade diferente, que não é a energia gerada pelo passado. É isto que importa verdadeiramente: ter essa energia que dissipa tudo o que vem do passado. O "transportar" do passado é uma energia de espécie diferente. O silêncio dissolve essa outra energia; o maior absorve o menor e permanece intato. Semelhante o mar, que recebe as águas impuras do rio e permanece puro. Isso é que é importante. Só essa energia pode apagar o passado. Ou temos o silêncio, ou temos o barulho do passado. No silêncio, o barulho cessa, e o novo é esse silêncio. Não é você que se torna novo. Esse silêncio é infinito, e o passado é limitado. Na plenitude do silêncio, o condicionamento do passado cai por terra.

Krishnamurti em, A luz que não se apaga

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Meditação é trabalho árduo: exige a mais alta forma de disciplina

Uma mente meditativa é silenciosa. Não o silêncio que o pensamento pode conceber; não o silêncio de um anoitecer tranqüilo; mas o silêncio em que o pensamento — com todas as suas imagens, palavras e percepções - cessou completamente. Essa mente meditativa é a mente religiosa - de uma religião que não afetada pela igreja, templos ou cânticos.

A mente religiosa é a explosão do amor, amor esse que não conhece separação. Para ele, longe é perto. Não o um e o múltiplo; mas, ao invés disso, aquele estado de amor em que toda divisão cessou. Como a beleza, não pode ser medido por palavras. É só a partir desse silêncio que a mente meditativa age.

* * *

A meditação é uma das maiores artes da vida — talvez a maior — e, possivelmente, não podemos aprendê-la de ninguém. Essa é a sua beleza. Não tem técnica e, portanto, não tem autoridade. Quando você aprende a seu próprio respeito, observando-se, observando como anda, como come, o que diz, a intriga, o ódio, o ciúme — se está atento a tudo isso em você, sem qualquer escolha — então, isto é parte da meditação. Portanto, a meditação pode ter lugar quando se está sentado num ônibus, caminhando num Bosque repleto de luz e sombra, ouvindo o canto dos pássaros ou contemplando o rosto de sua mulher ou de seu filho.

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É curioso quão importante a meditação se torna; não tem princípio nem fim. É como uma gota de chuva: naquela gota estão contidos todos os riachos, grandes rios, mares e quedas d'água; aquela gota nutre a terra e o homem; sem ela, a terra seria um deserto. Sem a meditação, o coração se torna um deserto, uma terra devastada.

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Meditação é descobrir se o cérebro, com todas as suas atividades e experiências, pode ficar absolutamente quieto. Não forçado, pois, no momento em que você o força, há dualidade. A entidade que diz, "Gostaria de experiências maravilhosas; por isso, preciso forçar o meu cérebro a se aquietar", jamais o fará. Mas, se você começa a investigar, observar e prestar atenção a todos os movimentos do pensamento, seus condicionamentos, desígnios, medos e prazeres, a observar como o cérebro funciona, então verá que o cérebro se torna extraordinariamente quieto; essa quietude não é sono, mas tremenda atividade que é, por si mesma, tranquila. Um grande dínamo, que funciona perfeitamente, dificilmente faz barulho; só quando há atrito, há ruído.

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Silêncio e amplidão andam juntos. Imensidão do silêncio é imensidão da mente em que já não existe um centro.

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Meditação é trabalho árduo. Exige a mais alta forma de disciplina — que não é conformação, imitação ou obediência — mas disciplina que vem da constante atenção, não só para as coisas externas à sua volta, mas também as internas. Portanto, a meditação não é uma atividade de isolamento, mas ação na vida diária que exige cooperação, sensibilidade e inteligência. Sem lançar as bases de uma vida correta, a meditação se torna uma fuga e, portanto, sem valor. Uma vida correta não é seguir a moralidade social, mas libertar-se da inveja, da cobiça e da busca de poder — todas gerando inimizade. A libertação dessas coisas não vem pelo exercício da vontade, mas tomando consciência delas pelo autoconhecimento. Sem o conhecimento das atividades do eu, a meditação se torna estimulação dos sentidos e, portanto, de muito pouco significado.

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Estar procurando experiências mais amplas, profundas e transcendentais é uma forma de fuga da verdadeira realidade, "o que é" e que é nós mesmos, a nossa mente condicionada. Por que uma mente atenta, inteligente e livre deveria ter qualquer "experiência"? Luz é luz; não procura mais luz.

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A meditação é uma das coisas mais extraordinárias e, se não souber de que se trata, você será como um cego num mundo de cores brilhantes, sombras e luzes cambiantes. Não é uma questão intelectual, pois quando o coração penetra a mente, esta passa a ter uma qualidade diferente; ela é, então, realmente ilimitada, não só em sua capacidade de pensar e agir com eficiência, mas também no sentido de viver num amplo espaço em que você faz parte de tudo. Meditação é o movimento do amor. Não o amor do um ou do múltiplo. É como água que qualquer um pode beber de um cântaro; seja o cântaro de ouro ou de barro, a água é inexaurível. E coisa peculiar acontece que nem a droga nem a auto-hipnose podem produzir: é como se a mente entrasse dentro de si mesma, começando na superfície e penetrando cada vez mais fundo, até que profundidade e altura tenham perdido o seu significado e toda forma de medida tenha cessado. Nesse estado há completa paz — não satisfação que vem da gratificação — mas uma paz que tem ordem, beleza e intensidade. Toda ela pode ser destruída, como uma flor pode ser destruída; e, contudo, por causa de sua própria vulnerabilidade, torna-se indestrutível. Essa meditação não se aprende com outrem. Deve-se começar sem nada saber a seu respeito e prosseguir com simplicidade. O solo em que a mente meditativa pode surgir é a vida diária, a disputa, a dor e a alegria fugaz. Deve surgir lá, trazendo ordem e daí prosseguir sem parar. Mas se você está preocupado só em produzir ordem, então essa mesma ordem produzirá sua própria limitação e a mente tornar-se-á sua prisioneira. Em todo esse movimento, você deve começar de algum modo pelo outro extremo, da outra margem, e não ficar preocupado com essa margem ou em como cruzar o rio. Caia n'água sem saber nadar. A beleza da meditação está em você não saber onde se encontra, para onde se dirige e qual é o fim.

* * *

Meditação não é algo diferente da vida diária, não é recolher-se a um canto e meditar por dez minutos e depois encerrá-la e tornar-se um carniceiro — metafórica ou realmente. Meditação é uma das coisas mais sérias. Pode ser praticada durante todo o dia, no escritório, com a família, quando se diz a alguém, "Eu te amo", ou quando se está pensando nos filhos. Mas eis que eles são educados por você para serem soldados, para matar, para serem patriotas, para adorar a bandeira, educando-os para cair nas armadilhas do mundo moderno.

Observar e perceber sua participação em tudo isso, faz parte da meditação. E quando assim meditar, você descobrirá uma beleza extraordinária; agirá corretamente a cada momento; e se não agir corretamente num dado momento, não faz mal: você retomará o reto agir, sem perder tempo com arrependimentos.

Meditação é parte da vida, não algo diferente dela.

* * *

Se você se lança à meditação, não haverá meditação. Se você se dispõe a ser bom, a bondade jamais florescerá. Se você cultivar a humildade, ela deixará de existir. Meditação é a brisa que entra quando a janela está aberta; mas se você a mantiver aberta, convidando-a deliberadamente a entrar, ela jamais aparecerá.

Krishnamurti em, Meditação

Quando é que o saber é perigoso?

Escrevi-lhe uma carta acerca de determinado problema. O senhor recebeu-a?

K- Não me recordo; qual é o problema?

Não sei se será justo chamar a isso um problema. Na realidade encontro-me numa situação de indecisão. Após a leitura dos seus livros encontro-me diante de um dilema.

K- Já o debateu com o doutor Adikaram?

Já, todavia ainda me encontro confuso. Recentemente terminei os meus estudos no colégio; fui um aluno bastante bom e obtive boas notas e fui bem sucedido nos exames. Mas agora devo decidir se devo frequentar a universidade ou abandonar os meus estudos. Estou persuadido de que se agir assim as chances de eu encontrar um emprego sejam muito fracas, a menos que obtenha um diploma universitário. Porém, se continuar a estudar com a intenção de obter um diploma não correrei o risco de tornar o meu espírito insensível? Desejo cultivar um espírito altamente sensível mas o facto de amontoar conhecimentos arrisca a que aumente a minha insensibilidade, coisa que tornará a mente menos flexível. Tirei muito proveito da leitura dos seus livros mas neles explica que o saber é um obstáculo. Eu próprio compreendo que o saber embota o espírito e torna-o opaco e obtuso.

K- Antes pelo contrário! O conhecimento aguça o espírito e torna-o vigilante e desperto.

Descubro a cada passo que quanto mais conhecimentos adquiro mais o meu carácter não pára de sofrer mudança. Mudam os meus gostos e do mesmo modo o meu aspecto. Desaparece o frescor inocente da minha infância por não cessar de me transformar. Isso não representará um dano?

K- Aquilo que é passível de sofrer mudança não merece ser conservado.

Não sinto ter ficado absolutamente esclarecido. Que concelho me daria?

K- Escute, não possui um pé-de-meia?

Não, não tenho.

K- Gostaria de usar a escudela de mendigo?

Claro que não!

K- Então nesse caso deve completar a sua educação e empregar-se. Trate de obter todas as qualificações exigidas para a obtenção de um emprego. Suponhamos que completa os seus estudos de engenharia; não seja ambicioso e evite dizer: "Vou tratar de ser o melhor e o mais eficaz". É só isso. O desejo de brilhar na sociedade deve ser evitado pois é vulgar. O saber, por si mesmo, é destituído de perigo, mas utilizar o saber como meio de satisfação própria, isso torna a mente obtusa.

Então não é contra o saber?

K- Senhor, porque razão não haveríamos de ter necessidade de mais e melhores conhecimentos? O verdadeiro cientista está constantemente a tentar alargar as fronteiras do conhecimento. Porém, quando um cientista trabalha duro com a intenção de obter o Nobel, isso não representará a busca da própria glória?

Eu nem sempre compreendo bem essa questão. Quando é que o saber é perigoso e em que circunstâncias será ele útil?

K- O fato de utilizarmos o saber para tirar proveito psicológico é que é nocivo.

Nas suas conferências emprega a distinção entre a memória dos factos e a memória psicológica. Aquilo que é efetivo torna-se facilmente compreensível. Mas, por favor, explique o termo "memória psicológica".

K- É um facto que o doutor Adikaram é doutor em filosofia, e a isso chamamos memória factual. Mas, no momento em que passa a considerá-lo uma pessoa socialmente útil só porque possui um título universitário criou uma memória psicológica; não será? Agora, será que consegue olhar diretamente o seu amigo sem o ver através do écran das suas posições ou reputação?

Fico preocupado só mesmo de ver a minha insensibilidade diminuir à medida que envelheço.

K- Seja vigilante e assegure-se de que tal não se produza. Eu sou obrigado a encontrar-me com as pessoas porém, velo para que não me torne insensível.

Susunaga Weeraperuma - Krishnamurti tal como o conheci

Porque razão derrama a flor o seu perfume?

O senhor refere que, no que concerne às questões espirituais, uma pessoa deve crer por si mesma. Se realmente é isso que defende, porque razão perde o seu tempo a dar conferências?

Krishnamurti- Senhor, porque razão derrama a flor o seu perfume? Ela não pode evitar de perfumar o ambiente. Quando percebe alguma coisa com clareza, não sentirá desejo de partilhar essa clareza com os demais? Eu refiro isto porque pessoalmente não posso impedir-me de o fazer. Eu não falo com a intenção de ajudar os outros; isso seria ser demasiado condescendente. Falo simplesmente porque existe uma canção no meu coração. E desejo expressar esse canto sem me preocupar em saber se alguém se esforça por escutar aquilo que digo. Uma flor desabrocha porque se regozija; trata-se da sua função, do seu dharma. A flor não se preocupa em saber se quem passa goza o seu perfume ou o ignora.

O seu ensinamento destina-se a uns quantos ou antes a todos? Acredita que a sua filosofia elitista se tornará popular junto das massas?

K- Porque se distingue das massas? Você é o mundo e este é você. Pode ser muito dotado de sorte e viver num palácio, ter uma porção de empregados etc., porém, psicologicamente, será distinto das ditas massas? Quer seja rico ou pobre, quer viva no oriente ou no ocidente, no Ceilão ou na Sibéria, será que, fundamentalmente o nosso espírito é diferente? Qualquer que seja a nossa situação na vida, onde quer que vivamos, todos nós sofremos e morremos, não é? É importante que tenhamos consciência de que a nossa mente é semelhante. O espírito é a sua consciência e nada mais. E o seu espírito, será isso alguma outra coisa além dos seus medos, das suas esperanças, das suas ambições, das suas ofensas e das suas crenças?

Perguntou se o ensinamento será susceptível de atrair as ditas pessoas vulgares. Quererá dizer que um camponês não me consegue compreender? Será o camponês psicologicamente diferente de si? A inteligência não é um talento pois todo o indivíduo possui a capacidade de compreensão.

Mas tem vindo a falar à muitos anos e no entanto o mundo ainda não mudou. Comente esta reflexão, por favor.

K- As pessoas vão junto do rio e tomam a água na quantidade que necessitam. Alguns vão lá com um jarro; outros não bebem mais do que uns goles. Por isso a questão não é realmente do quanto é oferecido mas sim tomado. O rio está cheio de água mas você só toma uma pequena quantidade, dependendo o facto da satisfação provisória das suas necessidades imediatas. Você satisfaz-se com facilidade e não sente aquele profundo descontentamento. Não tem a sede necessária para beber grandes quantidades de água pura.

Porque não reconhece discípulos à semelhança dos outros gurus?

K- Não tem conhecimento do quanto os discípulos destroem o seu guru? Os discípulos exploram o seu guru enquanto este, por seu turno, explora aqueles e as suas relações tornam-se uma exploração recíproca. Por Deus! Eu não tenho discípulos. Antes de mais descubra a razão porque deseja seguir alguém. Dessa forma descobrirá qualquer outra coisa sobre si próprio. Porque seguir alguém, ou o orador, inclusive? Desejamos seguir por vivermos na ignorância. Mas quando nos tornamos um discípulo, não estaremos ainda na ignorância? Consequentemente, não deverá tornar-se uma luz em si mesmo?

Nós encontramo-nos de tal modo desarmados que temos necessidade de guias.

K- Não será esse hábito de seguir alguém que enfraquece?

Dizem os jornais que o senhor não lê. É verdade?

K- Por vezes leio o Times para me manter ao corrente dos acontecimentos do mundo. Leio também uns romances policiais mas é tudo.

Não crê que o seu espírito puro seja condicionado pela influência corruptiva da literatura evasiva tal como a dos romances policiais?

K- Corromper o espírito? (risos) Santo Deus! Nada corrompe! O espírito permanece intacto, inocente, fresco e jovem.

E a literatura sagrada, o senhor estuda-a?

K- Acho os livros religiosos e as filosofias aborrecidas e não leio essas coisas.

Susunaga Weeraperuma - Krishnamurti tal como o conheci

Krishnamurti: um estado de ser além de toda a classificação

O meu interesse por Krishnamurti surgiu era eu ainda estudante, em 1949, altura em que o conheci pela primeira vez em Colombo, nesse mesmo ano. Lembro-me do modo surpreendente como dei por mim por entre uma multidão imensa e impaciente que aguardava a chegada de certo homem santo, de nome Krishnamurti, junto ao hotel da cidade. E assim que a viatura da prefeitura chegou deparamos com uma silhueta delgada acondicionada de modo nervoso no banco de trás, junto do prefeito da época, o Dr.Kumaram Rutmam, um bem conhecido comunista.

Krishnamurti conservava ainda uma vasta cabeleira negra com algumas manchas acinzentadas situadas á altura das têmporas, e envergava um dhoty de seda branco. Depois de sair vigorosamente da limusine encaminhou-se a passo rápido para a escadaria a fim de evitar os olhares ávidos daquelas centenas de fervorosos.

Essa primeira impressão que dele preservo nunca se apagou da minha memória, particularmente porque no decurso da minha juventude não tinha muito hábito de contemplar homens santos assim vestidos, de modo tão refinado, tendo, antes, sido condicionado por exemplos como o do Mahatma Gandhi, que vestiam uma simples tanga. Durante as reuniões públicas posteriores tive boas ocasiões de o observar de modo mais atento; mas o seu olhar aveludado e distante surpreendia-me pois estava á espera de encontrar o olhar ardente de um yogue, e por essa altura já tinha tido a oportunidade de ver vários yogues indianos notáveis, como Sivananda, que, inclusive, me tinha estendido um convite para o seu ashram em Rishikesh, nos Himalaias. O olhar luminoso normalmente está associado ao ardor intelectual, ao passo que o olhar doce significa serenidade e compaixão.

...De certa feita um monge do templo budista de Colombo procurava dissuadir-me de assistir ás conferências de Krishnamurti dizendo-me que ninguém poderia suplantar Buda, e que esse K. pregava uma espécie de budismo desvirtuado. "Porque é ele tão emotivo?" perguntava-me. "Se ele é um arhat" não deveria preservar a sua serenidade?"

Numa outra altura, aquando de uma reunião pública, encontrava-se presente um eminente político que lançou formidáveis invectivas insultuosas, chegando mesmo a detratar Krishnamurti como impostor. Este, contudo, permaneceu calmo e prosseguiu o discurso como se nada se houvesse passado. Em outra ocasião um outro homem repreendeu Krishnamurti utilizando uma linguagem ordinária, ao que K. respondeu perguntando qual era o problema que o cavalheiro tinha. Esse indivíduo acabou por se tornar alvo de riso por parte do auditório, pois tornou-se evidente que o recurso à utilização daqueles modos grosseiros e ofensivos se devia à profunda agitação em que se encontrava.

No decurso de anos subsequentes em que pude observar atentamente Krishnamurti pude constatar que ele jamais sentia lisonja pelo louvor nem mágoa pelas críticas ou insultos que lhe endereçavam mas permanecia como uma árvore plácida diante de uma trovoada, sem jamais perder a sua dignidade e comportamento, mesmo em meio ás circunstâncias mais penosas.

Numa outra altura, os estudantes da Universidade de Ceylon comportaram-se de modo hostil e escandaloso, quando Krishnamurti foi convidado a dirigir-se-lhes; nessa mesma sala, em ocasiões de lugares lotados, pude assistir frequentes vezes à troça que os estudantes usaram contra personalidades de Estado célebres e políticos eminentes, bem como para com homens de letras, suponho que utilizando esses modos para dar prova da falta de confiança na autoridade e, quiçá, dando livre curso á sua própria frustração, á sua agressividade e violência.

Ao penetrar nessa sala Krishnamurti teve que fazer face a um acolhimento inexpressivo. Uns quantos bateram palmas mas a maioria vaiou-o ruidosamente. Essa conferência teve de ser interrompida por diversas vezes, e Krishnamurti foi importunado algumas outras, até acabar por lhes perguntar porque razão se comportavam eles daquele modo já que, antes de mais ele era um orador convidado especialmente para lhes dar uma conferência, mas a despeito da desordem instalada K. continuou a falar sem mesmo evidenciar o mais pequeno traço de ressentimento na atitude que lhes evidenciou e chegou mesmo a unir-se a eles em risos, a certa altura, acabando por conseguir uma alocução eloquente e tocante.

Krishnamurti gostava particularmente de passear ao longo das margens de um lago magnífico que existe nas cercanias da Ilha do Escravo, nos arrabaldes plenos de animação de Colombo, especialmente á hora do poente quando o tempo se fazia mais fresco e agradável, mas por vezes caminhava tão apressado pelo estreito carreiro que ladeia o lago, que se chegava a temer a possibilidade de o ver tropeçar nalguma pedra e cair às águas cheias de cobras; esse temor justificou-se certa vez ao entardecer, durante uma dessas caminhadas em que, de cabeça erguida e num estado extático ele contemplava longamente o céu escarlate, parecendo esquecer-se completamente do carreiro estreito e do lago limítrofe, justo na iminência de um acidente; nessa altura um amigo comum, deu um salto e protegeu-o, mas Krishnamurti tomou-lhe a mão e disse: "Olhe que céu, senhor! Este céu expande-me a mente".

O significado daquilo que proferiu confundiu-nos; quereria ele dizer com aquilo que a contemplação atenta do céu contribuiria para a atividade da mente? Por acaso não tinha ele oposto a prática de métodos á tomada de consciência? Conquanto dissertássemos extensivamente sobre o tema nada conseguimos porém.

Certa vez o grande filósofo E W Adikaram visitou Krishnamurti quando este permanecia no quarto e foi incapaz de conter as lágrimas que lhe escorreram pelas faces, chorando por um bom período de tempo. K sentou-se junto a ele e ficou a observá-lo em silêncio sem pronunciar uma só palavra; tomando consciência de se tratar de um comportamento de algum modo infantil, Adikaram conteve então o choro, de certa forma intimidado pela circunstância.

K. tomou-lhe a mão e consolou-o dizendo que vários outros visitantes tinham passado pelo mesmo, ao fim de pouco tempo na sua presença. É uma espécie de delicadeza ou sensibilidade a que se desenvolve, como quando vemos algo extraordinariamente belo ou escutamos um canto melodioso em que somos vencidos pela comoção.

Adikaram considerava K. com o maior respeito e endereçava-se a ele com tal deferência que por vezes os lábios estremeciam de emoção e a sua voz tremia ao tentar conversar com ele. Numa outra vez, K. chamou-o á parte e questionou-o da razão da sua inquietação, ao que ele respondeu desculpando-se por o considerar pessoalmente como um Buda. Krishnamurti disse-lhe: "Senhor, eu até posso ser um Buda, mas que coisa o levará a temer-me?"

J. Krishnamurti foi uma personalidade única. Não foi um filósofo, no sentido de formular doutrinas ou crenças; isso ele não o fez. Tampouco foi poeta, se bem que tenha escrito alguma poesia refinada. Não foi um grande escritor nem fundador de uma nova religião, se bem que as religiões tenham surgido de homens semelhantes a ele. A verdade é que Krishnamurti é de tal modo universal que se situa além de toda a classificação. Que coisa é que nos subjuga nele, e nos confunde, e que estranha missão terá sida a sua, é o que não sei.

Susunaga Weeraperuma

Fala de um Outsider Contemporâneo

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Por que insistimos em simular comum unidade e afinidade?

Pode haver relações enquanto há separação, divisão? Pode haver relações com outrem, quando não há contato, não apenas físico, mas também em todos os níveis de nosso ser? Podemos estar segurando a mão de uma pessoa e dela estar a mil léguas de distância, absortos em nossos pensamentos e problemas. Podemos achar-nos num grupo e ao mesmo tempo estar dolorosamente sós. Assim perguntamos: Pode haver alguma espécie de relação com a árvore, a flor, o ente humano, ou com o céu e o belo Pôr do Sol, quando a mente, com suas atividades, está a isolar-se a si própria? E pode em algum tempo haver contato com o que quer que seja, mesmo que a mente não esteja a isolar-se?

(...) Cada um vive dentro de sua própria teia, você na sua, a outra pessoa na dela. Haverá alguma possibilidade de nos libertarmos dessa teia? Essa teia, essa mortalha, esse invólucro é a palavra? Constitui-se esse invólucro de seu interesse em si mesmo e dos interesses da outra pessoa em si própria, de seus desejos, opostos aos dela? Essa cápsula é o passado? É tudo isso junto, não acha? Não é uma só coisa que a mente está levando, porém um feixe inteiro. Você leva sua própria carga, e o outro a sua. Podemos, em algum tempo, largar essas cargas, a fim de que a mente se encontre com a mente, o coração com o coração? Eis a questão, não acha?

(...) Você pode identificar-se com aquele aldeão ou aquela chamejante buganvília — sendo isso um truque mental para simular a unidade. A identificação com alguma coisa é um dos estados mais hipócritas que há. Identificar-se com uma nação, com uma crença e, contudo, continuar só, é uma das maneiras favoritas de enganar a solidão. Ou, tão completamente você se identifica com sua crença, que é a a crença; e este é um estado neurótico. Ora, ponhamos de parte esse impulso a identificar-nos com uma pessoa, ideia ou coisa. Assim, não há harmonia, unidade, amor. A outra questão, portanto, é esta: Você pode libertar-se do invólucro, de maneira que ele deixe de existir? Só então haveria possibilidade de contato total. Como podemos libertar-nos do invólucro? Esse "como" não significa método, porém antes uma indagação que poderá abrir-nos a porta. 

(...) Rasgamos o invólucro pedaço por pedaço ou o rompemos e dele saímos imediatamente? Se o rasgamos pedaço por pedaço — como certos analistas dizem fazer — esse trabalho nunca terá fim. Não é por meio do tempo que se pode destruir essa separação. 

(...) Não é você mesmo o invólucro?

(...) O próprio movimento para você penetrar no outro invólucro, ou estender-se para fora do seu, é determinado por seu próprio invólucro: você é o invólucro. Você é, portanto, o observador do invólucro e é também o próprio invólucro. Nesse caso, você é o observador e a coisa observada; o mesmo é ele — e nisso ficamos. E você tenta alcançá-lo e ele tenta alcançar-lhe. Isso é possível? Você é a ilha cercada pelo mar, e ele também é a ilha cercada pelo mar. Veja que você é tanto a ilha como o mar; não há separação entre ambos; você é a terra inteira com o mar. Por conseguinte, não há divisão em "ilha" e "o mar". A outra pessoa não vê isso. Ele é a ilha cercada pelo mar; tenta alcançar-lhe, ou você, se é bastante desajuízado, tenta alcançá-lo. Isso é possível? Como pode haver contato entre um homem livre e outro que está aprisionado? Visto que você é o observador e a coisa observada, você é o inteiro movimento da terra e do mar. Mas, a outra pessoa, que não compreende isso, continua a ser a ilha cercada de água. Ela tenta alcançar-lhe, mas nunca o consegue, porque mantém o seu estado ilhado. Só depois de deixá-lo e, com você, estar aberto ao movimento do céu, da terra e do mar, poderá haver contato. Aquele que vê que a barreira é ele próprio, não terá mais nenhuma barreira. Por conseguinte, ele, em si próprio, não é separado. O outro não percebeu que ele próprio é a barreira e, por isso, mantém a crença na sua separação. Como pode esse homem alcançar o outro? Impossível. 

(...) Há o espaço entre isso que a mente chama o invólucro por ela criado, e ela própria. Há espaço entre o ideal e a ação. Nesses diferentes fragmentos de espaço entre o observador e a coisa observada, ou entre as diferentes coisas que ele observa, acham-se todo o conflito e luta, e todos os problemas da vida. Há a separação entre o meu invólucro e o invólucro de outrem. Nesse espaço está toda a nossa existência, todas as nossas relações e nossa luta. 

(...) Que é esse espaço? Há espaço entre você e seu invólucro, espaço entre ele (o outro) e o seu invólucro, e há espaço entre os dois invólucros. Todos esses espaços se deparam ao observador. De que eles são feitos? Como se tornam existentes? Qual a qualidade e a natureza desses espaços divididos? Se pudéssemos remover esses espaços fragmentários, que aconteceria? 

(...) Quando esse espaço desaparece de fato — não verbal ou intelectualmente, porém desaparece realmente, há completa harmonia, união entre você e o outro. Nessa harmonia, você e ele deixam de existir e há apenas aquele vasto espaço que jamais pode ser fragmentado. A limitada estrutura da mente deixa de existir, porque a mente é fragmentação.

Krishnamurti em, A Luz Que Não Se Apaga

A mente adquirida e a vigorexia


segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Sem o colapsar psíquico não se vê o lado B


O homem necessita de uma nova consciência

Estou aqui para seduzi-lo a um amor pela vida; para ajudá-lo a tornar-se um pouco mais poético; para ajudá-lo a morrer para o mundano e para o ordinário, de modo que o extraordinário exploda em sua vida.

Eu não sou um lógico, sou um existencialista.

Acredito nesse belo caos da existência e estou pronto para ir aonde quer que ela vá. Não tenho uma meta, porque a existência não possui uma meta. Ela simplesmente é, florescendo, brotando, dançando - mas não pergunte porque. Apenas um transbordamento de energia, sem motivo algum. Estou com a existência. Eu não sou um messias e não sou um missionário. E não estou aqui para estabelecer uma igreja ou para dar uma doutrina para o mundo, uma nova religião, não.

Meu esforço é totalmente diferente: uma nova consciência, não uma nova religião, uma nova consciência, não uma nova doutrina. Chega de doutrinas e chega de religiões!

O homem necessita de uma nova consciência.

E a única maneira de trazer uma nova consciência é continuar martelando por todos os lados para que lenta, lentamente nacos de sua mente se desprendam. A estátua de um Buda está oculta em você. Nesse momento você é uma rocha. Se eu continuar martelando, cortando fora pedaços de você, lenta, lentamente o buda surgirá.

Osho

domingo, 21 de dezembro de 2014

O Que é Meditação?


Editada de 1998 a 2003 pela Editora Três, a Planeta Meditação era uma revista mensal de cem páginas que tratava de temas eternos e atuais ligados à espiritualidade humana, em que a jornalista Mirna Grzich entrevistou grandes representantes dos caminhos espirituais, escritores, músicos e pesquisadores.

Abrindo mão das narcoses espirituais


sábado, 20 de dezembro de 2014

Não há preço para os relacionamentos holotrópicos


A dolorosa demolição do nosso castelo de ilusões


A arte de meditar: soltar o macaco louco da mente


sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Descendo das alturas do intelectual romantismo imaginativo

Pergunta: Foi sugerido que o poder que fala através de si pertence aos planos superiores, e não pode ser transmitido abaixo do intuitivo, por conseguinte temos que escutar mais com a nossa intuição se quisermos compreender a sua mensagem. Isso é correto?

Krishnamurti: O que quer dizer com intuição? O que significa para vocês todos a intuição? Dizem que é algo que sentimos instintivamente sem passar pelo processo da razão lógica; um “pressentimento” como diriam os Americanos. Ora na realidade eu questiono se a vossa intuição é real ou apenas as esperanças inconscientes glorificadas; anseios subtis, enganadores. Sabem, quando ouvem falar da reencarnação, ou quando ouvem um conferencista falar da reencarnação, ou leem um livro sobre ela, e tiram conclusões e dizem, “Sinto que é verdade, tem que ser”, chamam a isso intuição. É realmente intuição, ou é a esperança de que terão uma outra oportunidade para viver a próxima vida; por isso se ligam a ela, e lhe chamam intuição? Esperem um momento. Não estou a negar que existe intuição, mas ao que a pessoa comum chama intuição, e isso não é verdade, isso é algo sem razão, sem validade, sem compreensão por trás disso.

Ora o interlocutor diz que foi sugerido que o poder que fala através de mim pertence aos planos superiores, e não pode ser transmitido abaixo do intuitivo. Certamente compreendem aquilo de que falo, não compreendem? É bastante óbvio. Agora esperem um momento. É fácil compreender aquilo de que falo, mas se não o procurarem, se não o puserem em ação, não há compreensão; e porque não o põem em ação, transferem-no antes para o mundo intuitivo, e por esse motivo dizem que se sugere que falo de um plano superior, e por isso têm que ir ao vosso superior e tentar compreender o que isso significa. Por outras palavras, embora compreendam razoavelmente bem o que estou a tentar dizer, é difícil pô-lo em ação; por isso, vocês dizem “Vamos antes removê-lo para um plano superior, e a partir daí podemos discuti-lo”. Não é assim? Se disserem, “Não compreendo do que fala”, então há a possibilidade de mais discussão. Tentarei então explicá-lo de maneira diferente, para que o possamos discutir, aprofundar, considerar em conjunto; mas começar com a suposição de que para me compreenderem têm que ir ao plano superior – sem dúvida que há algo radicalmente errado nessa atitude. Qual é o plano mais elevado, excepto esse que é o pensamento? Porquê ir mais além? Mas não vêem que o que quero dizer é que estamos a começar com algo misterioso, algo distante, e a partir daí tentamos descobrir o óbvio, as realidades, e portanto, elas forçosamente são enormes desilusões, enormes ações hipócritas, limitadas à falsidade? Ao passo que, se começarmos com as coisas que conhecemos, que são simples de descobrir se pensarem nelas, então podem realmente ir longe, infinitamente. Mas é absurdo começar do misterioso, e depois tentar relegar a vida a esse mistério, que pode ser romanticismo, pode ser falso, imaginativo. Uma tal atitude da mente que diz, “Para compreender temos que escutar com a nossa intuição”, pode ser falsa, portanto eis porque eu disse que as vossas intuições podem ser completamente falsas. Como podem escutar com algo que pode ser falso, que pode ser as vossas esperanças, predileções, anseios ou sonhos? Porque não escutar com os vossos ouvidos, com a vossa razão? Daí, quando conhecem a limitação da razão, então podem prosseguir – isto é, para subirem alto têm que começar por baixo; mas já subiram alto, e não têm mais para onde ir. É esse o problema com todos vocês. Subiram às alturas intelectualmente; naturalmente os vossos seres estão vazios, são arrogantes. Ao passo que, se começarem de perto, então saberão como subir, como mover-se infinitamente.

Sabem, todos estes são meios e maneiras de exploração. É a maneira dos sacerdotes – complicar os assuntos, quando as coisas são infinitamente simples. Não aprofundarei o que tenho que dizer, já o expliquei vezes sem conta; mas complicá-lo, revesti-lo de todo o tipo de tradições ou preconceitos e não reconhecer os vossos preconceitos, eis onde reside a hediondez.

Krishnamurti, Auckland, Nova Zelândia, palestra com teosofistas 31 de março, 1934

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Sobre a retomada da sensibilidade sutil


O entretenimento embota o poder de contemplação


Quem é o brasileiro?

O sistema quer você um zumbi distraído


quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Somente uma pessoa sem alegria precisa de entretenimento

Normalmente o que consideramos como alegria não é alegria; no máximo se trata de entretenimento, e é apenas uma maneira de evitar a si mesmo, de intoxicar a si mesmo, de mergulhar em algo para que você possa se esquecer de sua infelicidade, de sua preocupação, de sua angústia, de sua ansiedade. 

Todos os tipos de entretenimento são considerados como sendo alegria, mas eles não são! Tudo o que vem de fora não é alegria, não pode ser; tudo o que depende de algo não é alegria, não pode ser. A alegria surge de sua própria essência; ela é absolutamente independente de qualquer circunstância externa. E ela não é uma fuga de si mesmo, mas realmente encontrar a si mesmo. A alegria surge apenas quando você chega em casa. 

Assim, tudo o que é conhecido como alegria é apenas o contrário, o diametralmente oposto, e não alegria. Na verdade, por não ter alegria, você procura entretenimentos. 

(...) Somente uma pessoa sem alegria precisa de entretenimento. Quanto mais o mundo ficar sem alegria, mais precisaremos de televisão, de cinema, de cidades enfeitadas e mil e uma coisas. Precisamos cada vez mais de bebidas alcoólicas, cada vez mais de novos tipos de droga, apenas para evitar a infelicidade na qual estamos, apenas para não encarar a angústia na qual estamos, apenas para, de alguma maneira, nos esquecermos de tudo. Mas, ao esquecer, nada é alcançado. 

Alegria é entrar em seu próprio ser. No começo é difícil, árduo; no começo você terá de encarar a aflição. O caminho é enorme, porém, quanto mais você penetrar nele, maior será o pagamento, maior será a recompensa. 

Quando você aprender a encarar a infelicidade, começará a ser alegre, pois, nesse próprio encarar, a felicidade começa a desaparecer e você começa a ficar cada vez mais integrado. 

Um dia a infelicidade estará presente, e você a encarará — e, de repente, a quebra: você pode perceber a infelicidade separada de você e você separado dela. Você sempre esteve separado; ela era apenas uma ilusão, uma identificação que você teve. Agora você sabe que você não é isso; então há um acesso de alegria, uma explosão de alegria. 

O S H O 

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

A importância do tédio, da insatisfação e da mesmice


segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Viemos a comprovar o poder da observação sem escolhas

Não é possível parar o pensamento — não que ele não pare, só não é possível fazê-lo parar. Ele pára espontaneamente. É preciso entender essa diferença; do contrário você vai ficar maluco tentando perseguir a sua mente. 

A não-mente não surge quando você pára de pensar. Quando não existe mais o pensar, existe a não-mente. O próprio esforço para parar de pensar criará mais ansiedade, criará mais conflito, fará com que você fique dividido. Você viverá em constante tumulto interior. E isso não ajudará em nada. 

E, mesmo que você consiga forçá-lo a parar por alguns instantes, isso não será nenhuma conquista — pois esses instantes ficarão quase mortos, não estarão vivos. Você pode até sentir certa tranquilidade... mas não silêncio. Pois a tranquilidade forçada não é silêncio. Lá no fundo, nas profundezas do inconsciente, a mente reprimida continua em atividade. 

Portanto, não existe um meio de parar a mente. Mas a mente pára — isso é certo. Ela pára por livre e espontânea vontade. 

Então, o que fazer? — a pergunta é relevante. Observe. Não tente pará-la. Não é preciso fazer nada contra a mente. Para começar, quem iria fazer isso? Seria a mente brigando com ela mesma; você dividiria sua mente em duas: uma parte estaria tentando ser a chefe, a manda-chuva, estaria tentando matar a outra parte de si — o que é um absurdo. É um jogo idiota, pode levá-lo à loucura. Não tente deter a mente ou o pensamento. — só observe, de vazão a ele. Deixe a mente em total liberdade. Deixe-a vagar no ritmo que quiser; não tente de forma nenhuma controlá-la. Seja só uma testemunha

Ela é tão bela! A mente é um dos mecanismos mais belos que existem. A ciência ainda não foi capaz de criar nada como ela. A mente continua sendo uma obra-prima, tão complicada, com um poder tão grande, com tantas potencialidades! Observe-a! Aprecie-a! 

E não a vigie como se ela fosse um inimigo, pois, se você olhar para a mente como um inimigo, não conseguirá observá-la. Você já será preconceituoso, já estará contra ela. Já terá decidido que existe algo de errado com a mente — já terá chegado a uma conclusão. E sempre que você olha para uma pessoa como se ela fosse sua inimiga, você não olha profundamente, nunca olha dentro dos olhos; você a evita

Observar a mente significa olhar para ela com um amor profundo, com profundo respeito e reverência — ela é uma dádiva de Deus para você. Não existe nada de errado com a mente em si. Não há nada de errado com o ato de pensar. Trata-se de um lindo processo, assim como é todo processo.(...) Olhe a mente com profunda reverência. Não brigue com ela; ame-a. 

Observe as sutis nuances da mente, os volteios repentinos, os belos volteios. Os saltos e trancos, que ela dá, os jogos que continua fazendo; os sonhos que ela navega — a imaginação, a memória, as mil projeções que ela cria — observe! Ficando ali, afastado, um pouco distante, sem se envolver, paulatinamente você começa a sentir... Quanto mais atento você fica, mais profunda fica sua consciência; começa a haver lacunas, intervalos. Um pensamento vai, não vem outro, e surge uma brecha. Uma nuvem passa, outra está a caminho e surge um intervalo. 

Nesses intervalos, pela primeira vez você terá lampejos da não-mente. Você sentirá o gosto da não-mente (...) Nesses pequenos intervalos de repente o céu fica limpo e o sol brilha. De repente o mundo se enche de mistério, porque todas as barreiras vão abaixo; a tela nos seus olhos deixa de existir. Você vê com clareza, de modo penetrante. Toda existência fica transparente. 

No início, haverá apenas uns raros momentos, espaçados. Mas eles lhe proporcionarão vislumbres do que seja o samadhi. Pequenas porções de silêncio  elas virão depois irão embora, mas você saberá que está no caminho certo. Então você começa a observar novamente. Quando um pensamento cruza a sua mente, você observa; quando um intervalo, você o observa. As nuvens são bonitas; o brilho do sol também é tão belo. Agora você não faz escolhas. Agora você não tem uma mente fixa. Você não diz, "Gostaria que só houvesse intervalos". Isso é estupidez, pois, se se ficar apegado ao desejo de que só haja intervalos, você novamente terá decidido ficar contra o pensamento. E aí os intervalos desaparecerão. Eles só acontecem quando você está muito distante, afastado. Eles acontecem, não podem ser provocados. Eles acontecem, você não pode forçá-los a acontecer. São eventos espontâneos. 

Continue a observar. Deixe que os pensamentos venham e vão embora — para onde quiserem ir. Nada está errado! Não tente manipular nem dirigir nada. Deixe que os pensamentos sigam seu curso livremente. E, então, começarão a surgir intervalos cada vez maiores. Você será abençoado com pequenos satoris. Haverá ocasiões em que, por alguns minutos, não haverá pensamentos; não haverá trânsito nenhum — só um silêncio total, imperturbável. 

Quando começarem a surgir brechas maiores, começará a surgir uma nova lucidez. Você não terá somente lucidez para enxergar o mundo, você será capaz de enxergar seu mundo interior. Com os primeiros intervalos você enxergará o mundo — as árvores ficarão mais verdes do que parecem agora, você se verá cercado por uma música infinita, a música das esferas. Você subitamente estará na presença da santidade — inefável, misteriosa. Tocando você, embora você não consiga apreendê-la. Ao seu alcance e mesmo assim fora dele. Com os intervalos maiores, o mesmo acontecerá interiormente. Deus não estará apenas lá fora, de repente você ficará surpreso — ele está aqui dentro também. Ele não está apenas na coisa observada, ele está também no observador — dentro e fora. Pouco a pouco... 

Mas tampouco se apegue a isso. O apego é o alimento que faz com que a mente continue funcionando. O testemunho imparcial é o meio de detê-la sem fazer nenhum esforço. E, quando você começar a apreciar esses momentos de bem-aventurança, sua capacidade de conservá-los por períodos mais longos virá à tona. Finalmente, um dia você acaba se tornando senhor de si. A partir desse dia, quando quiser pensar, pensará; se o pensamento for necessário, você o usará. Se não for, você o deixará em repouso. Não que a mente tenha deixado de existir — ela existe, mas você tem a opção de usá-la ou não. Agora a decisão é sua, assim como a de usar as pernas; se quiser correr, você as usa; se não quiser, simplesmente fica onde está. As pernas estarão ali, à sua disposição. Da mesma forma, a mente estará ali também.

O S H O 

Pierre Weil - A Humanidade Mutante

Da impotência à potência perante o fluxo dos pensamentos

A mente é apenas um processo. Na verdade, ela nem existe — só os pensamentos existem, pensamentos passando tão rapidamente que você pensa e sente que existe alguma coisa contínua ali. Um pensamento vem, outro vai, chega mais um e assim sucessivamente... a lacuna é tão pequena que você não consegue perceber o intervalo entre um pensamento e outro. Assim, dois pensamentos se agrupam, formam uma continuidade e por causa dela você acha que a mente existe. 

(...) Os pensamentos existem — a mente não existe; ela é só aparência. E, quando você olha a mente mais de perto, ela desaparece. Ficam os pensamentos, mas, quando a "mente" desaparece e só restam os pensamentos individuais, muitas coisas se dissolvem imediatamente. Logo de início você percebe que os pensamentos são como nuvens eles vêm e vão, e você é o céu. Quando não existe mente, surge imediatamente a percepção de que você deixou de se envolver com seus pensamentos — os pensamentos estão ali, passando por você como nuvens passando no céu, ou o vento passando entre as árvores. Os pensamentos estão passando por você e podem continuar passando, porque você é um IMENSO VAZIO. Não há nenhum obstáculo, nenhum impedimento. Não há muros para barrá-los; você não é um fenômeno fortificado. Seu céu é uma imensidão infinita para onde passam os pensamentos. E, depois que você começa a sentir que os pensamentos vêm e vão, e que você é um mero observador, uma testemunha, o domínio da mente é conquistado.

A mente não pode ser controlada, no sentido comum do termo. Em primeiro lugar, porque ela não existe, como você poderia controlá-la? Em segundo lugar, quem iria controlar a mente? Porque não existe ninguém por trás da mente — e, quando eu digo que não existe ninguém, quero dizer que não há ninguém por trás dela, só um vazio. Quem a controlará? Se alguém está controlando a mente, então se trata apenas de uma parte, um fragmento da mente, controlando outro fragmento dela. É isso o que o ego é. 

A mente não pode ser controlada dessa forma. Ela não existe e não há ninguém para controlá-la. O vazio interior pode ver, mas não controlar. Ele pode olhar, mas não controlar — mas o próprio olhar é que é o controle, o próprio fenômeno da observação, do testemunho, torna-se o domínio, pois a mente desaparece. 

(...) A mente nada mais é do que a falta da sua presença. Quando você se senta em silêncio, quando olha bem dentro da mente, ela simplesmente desaparece. Os pensamentos continuarão, eles existem, mas a mente não estará mais ali. 

Porém, quando a mente desaparece, você nota que os pensamentos não são seus. É claro que eles surgem, e às vezes ficam um tempinho em você, mas depois vão embora. Você talvez seja uma área de descanso, mas não é a origem dos pensamentos. Você já reparou que nem um único pensamento parte de você? Não brota de você nem um único pensamento; eles sempre vêm de fora. Não pertencem a você — sem casa, sem raízes, eles rondam por aí. Às vezes, eles descansam em você, isso é tudo; como uma nuvem que paira sobre uma montanha. Depois eles se vão por conta própria; você não precisa fazer nada. Se você simplesmente observar, você assume o controle. 

A palavra controle não é muito boa, pois as palavras nunca são muito boas. As palavras pertencem à mente, ao mundo dos pensamentos. Elas nunca são muito perspicazes, pois lhe falta profundidade. A palavra controle não é boa porque não existe ninguém para controlar, nem ninguém para ser controlado. Mas, de uma certa forma, ela ajuda a entender uma certa coisa que acontece: Quando você olha bem fundo dentro da mente, ela é controlada — de repente você passa a ser quem manda. Os pensamentos não vão embora, mas eles deixam de dominar você. Eles não podem fazer nada com você, simplesmente vêm e vão embora; você continua intacto como uma flor de lótus em meio a um aguaceiro. Gotas de chuva caem nas pétalas, mas acabam escorrendo sem afetá-las. O lótus continua intacto(...) Seja como o lótus, só isso. Permaneça intacto e você estará no controle. Continue intacto e você será o senhor de si mesmo.

(...) Centrar-se na consciência é dominar a mente. Por isso, não tente "controlar a mente" — a linguagem pode enganar você. Ninguém pode controlar, e esses que tentam controlar ficarão loucos; eles simplesmente ficarão neuróticos, pois tentar controlar a mente nada mais é que uma parte da mente tentando controlar outra.

(...) Só os fracos se preocupam com os pensamentos. Só os fracos se preocupam com a mente. As pessoas mais fortes simplesmente absorvem o todo e se enriquecem com ele. Os mais fortes simplesmente não rejeitam nada.

O S H O 

sábado, 13 de dezembro de 2014

A meditação não é para a iluminação: é para pessoas confusas

Se você está confuso, então deverá continuar com as meditações. A confusão é a doença e a meditação é o remédio. Ambas palavras, meditação e medicina, vêm da mesma raiz. Se você está confuso deve continuar a meditar. Quando você perceber o principal sem nenhuma confusão, então não haverá necessidade. Mas a meditação o preparará, o forçará a perceber que não há necessidade de fazer coisa alguma, e somente a meditação pode fazer isso. 

Apenas me escute... Eu lhe disse que ser natural é ser iluminado. Agora você pensa: "Isso é fantástico! Posso me sentar em silêncio e não fazer nada."Mas você pode realmente se sentar em silêncio e não fazer nada? Se você realmente pudesse se sentar em silêncio e não fazer nada, então essa questão não surgiria. Você teria sentado e sabido e teria se curvado diante de mim e me agradecido. Não haveria questão alguma; você teria vindo a mim dançando, não com uma questão e com uma mente confusa. 

Se você puder se sentar em silêncio sem nada fazer, o que mais é necessário? É isso o que Buda estava fazendo sob a Árvore Bodhi — sentado em silêncio, sem nada fazer... e então aconteceu. É como aconteceu comigo! É assim que sempre acontece!

Entretanto não fazer não é tão fácil. Devido a você ter ficado tão acostumado a fazer uma coisa ou outra, mesmo sentar-se será um fazer para você. Você terá de se forçar numa postura de ioga e se sentará com tensão, quieto, sob controle, se segurando, tentando sentar em silêncio e não fazer nada... e fervendo por dentro para fazer mil e uma coisas, e milhares de pensamentos bradarão à volta e o distrairão. 

Você pode simplesmente se sentar e não fazer coisa alguma? Isso é o supremo; nirvana é isso, samadhi é isso. 

Pode acontecer; também pode acontecer apenas ao me escutar, mas então grande inteligência é necessária. Então você percebeu o principal, que ser natural é tudo. Onde está a confusão? Você percebeu ou não. Se você percebeu, toda a confusão desapareceu... e você se sentará, andará, comerá e falará silenciosamente. Você se tornará um não-agente, se tornará um ser natural. 

Contudo, se você não percebeu, então precisará de mais algumas coisas malucas; você precisará passar por elas. Essas meditações o forçarão a perceber o principal. Ou você percebe apenas ao escutar e se sentar ao meu lado, ou você terá de perceber o caminho difícil. 

(...) Assim, se você se sente confuso, então continue meditando. A meditação não é para a iluminação; ela é para pessoas confusas. A meditação não o leva à iluminação; ela simplesmente o deixa farto de sua confusão. Perceba o essencial: meditação não é um caminho para a iluminação, mas apenas um caminho para se livrar da confusão. E quando não houver confusão a iluminação vem espontaneamente. 

O trabalho da meditação é negativo. Ela tira coisas de você e não lhe dá coisa alguma; ela simplesmente fica tirando coisas de você. A raiva, a cobiça e o desejo desaparecem e você começa a perder tudo o que tinha. Você fica a cada dia mais pobre. 

É isso o que Jesus quer dizer quando fala: "Bem-aventurados são os pobres de espírito". 

A raiva, a cobiça e a ambição não estão presentes. Lentamente, pedaços de seu ser são cortados de você. E de repente, num dia, nada está presente — ou somente nada está presente. Nesse exato momento, a luz penetra. Todas aquelas coisas — cobiça, raiva, paixão, ânsia, ódio, ambição, ego — estavam atrapalhando o caminho, não permitindo que a luz penetrasse em você. Elas estavam funcionando como uma rocha entre você e Deus. Tudo isso foi removido... de repente, Deus entra em você e você entra em Deus.

Se você me compreende, não há necessidade de nenhuma meditação. Porém, se não me compreende... para me compreender a meditação será necessária. Então prossiga fazendo-a. 

(...) Meditações são catárticas. Elas jogam fora todo o lixo contido dentro de você. Elas simplesmente o limpam, abrem as portas, os olhos — o sol está presente. Uma vez que você esteja disponível, ele começa a penetrá-lo. 

Então você nunca dirá: "Tornei-me natural." Você dirá: "Eu era natural. O problema não era como me tornar natural, mas como não continuar a me tornar não-natural."

O S H O
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill