Que unidade de infecção mental principal do ambiente é absorvida e internalizada? Uma sociedade, geralmente, dá aos seus membros, além de linguagem e rótulos comuns, um conjunto de articulações e justificações oferecendo as razões pelas quais se espera que os membros SE AJUSTEM ao código, preconceitos e cerimonias daquela sociedade. Tensão social, coerção e COMPULSÃO DE CONFORMAR-SE apelam mais a mente imaturas, especialmente quando reforçadas por satisfações substitutas, como expectativas utópicas, auto-adulação ou ódio internalizado sob a forma de preconceito e bode-expiatório. Em outras palavras, o contágio mental comum de agressão, excitação e depreciação dos de fora é com frequência muito eficaz para ajudar pessoas A SE DESABAFAREM. Em todo esse atoleiro, onde fica o núcleo infeccioso?
(...) Estrategistas tirânicos, quando recrutam dóceis seguidores, fazem pleno uso dessa tendência passiva que as pessoas têm para REGREDIR sob terror e tensão. A Alemanha nazista deu origem ao "perfeito robô humano" — aquele que podia matar a uma ordem, sem o menor sentimento de responsabilidade moral pessoal por seus atos. O homem em regressão torna-se uma coisa em lugar de um "ser". NÃO É MAIS CAPAZ DE OBSERVAR E EXAMINAR.
(...) A automatização de seres humanos, o impulso para o robotismo e instituições computadorizadas, promove o contagioso HÁBITO de difundir desconfiança, mútua no mundo. Porque desconfiança é tão contagiosa? Na patologia estamos muito familiarizados com este conceito de fácil contaminação de pessoas por sentimentos de desconfiança e perseguição. Nesse sentido pequenos grupos fechados podem de repente comportar-se de maneira quase psicótica. Desconfiança profunda leva pessoas a voltarem involuntariamente a um estado INFANTIL INSTÁVEL sem fronteiras protetoras do ego e SEM NOÇÃO da diferença entre qual sentimento é PROVOCADO DE FORA e qual é PROVOCADO DE DENTRO. Delírios paranoicos de GRANDEZA e delírios de perseguição são muito semelhantes. Parece plausível explicá-los com base na falta de capacidade do homem para diferenciar entre seu mundo interior e exterior.
(...) Ser um robô, ser um dente da engrenagem, dá ao homem o sentimento de ser novamente um bebê indefeso e vulnerável. Desconfiança e prevenção, inveja e rivalidade tornam-se então as amargas unidades infecciosas que prendem o homem a suas reações à insegurança e ao desconhecimento, e a seus sentimentos de fraqueza. Contudo, ao culpar os outros, ele se torna vulnerável, e ainda mais, suspeito.
Paranoização coletiva e regressão infecciosa de massa são quase sinônimos. Se o mundo chegar um dia a um holocausto nuclear, será porque a nossa civilização não foi capaz de controlar a necessidade que o homem tem de regressão e ódio irracional. Não podemos negar que vive em todos nós a reação potencial de desconfiança paranoide. Felizmente, para nós, ela geralmente é manifestada apenas por pequena minoria da população. No entanto, o terror instilado por minorias e extremistas é capaz de dar início ao caos e a revolução. De fato, o cruzamento consanguíneo de desconfiança e ressentimento pode levar a comunidade a um furo suicida e homicida.
(...) As pessoas estão mergulhadas em um mar de engenhos tecnológicos. Não podem mais compreender para que são todas essas coisas. Só sabem que os multiformes engenhos de comunicação estão enfiando seu nariz na vida privada dos indivíduos. A televisão hipnotiza o microcosmo da sala de estar, o telefone espanta com toques de campainha os últimos vestígios de silêncio e a publicidade seduz-nos hora após hora. A espada recém-eletrificada de Dámocles pende sobre o homem moderno.
(...)Desde o início de nossos dias recebemos de nossos pais e do ambiente grandes pedaços e peças de informação que se combinam para formar nossa experiência, que por sua vez condiciona nosso comportamento... Geralmente não temos consciência dessa sutil modelagem de nossos sentimentos e pensamentos pelo ambiente, por todos os amigos e parentes que nele existem. Quanto a controle psicológico remoto, o fato é que ele pode ser fortalecido quando é dada forte ênfase social à intrusão na vida privada. Modernos aparelhos eletrônicos de espionagem e sistemas de telegravação são apregoados vigorosamente a fim de seduzir pessoas a tornarem-se bisbilhoteiros eletrônicos — indivíduos que desejam saber o que está se passando nas fendas da mente alheia.
(...)Desde o início de nossos dias recebemos de nossos pais e do ambiente grandes pedaços e peças de informação que se combinam para formar nossa experiência, que por sua vez condiciona nosso comportamento... Geralmente não temos consciência dessa sutil modelagem de nossos sentimentos e pensamentos pelo ambiente, por todos os amigos e parentes que nele existem. Quanto a controle psicológico remoto, o fato é que ele pode ser fortalecido quando é dada forte ênfase social à intrusão na vida privada. Modernos aparelhos eletrônicos de espionagem e sistemas de telegravação são apregoados vigorosamente a fim de seduzir pessoas a tornarem-se bisbilhoteiros eletrônicos — indivíduos que desejam saber o que está se passando nas fendas da mente alheia.
Joost A.M. Merloo