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sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Qual é o início da imagem que temos de nós mesmos?

K: Qual é o começo disto? Por favor, apenas me deixe resumir primeiro. Praticamente todo ser humano tem uma imagem de si mesmo, da qual ele não tem consciência, ou não está cônscio. 

DS: Inicialmente é algum tipo de idealização.

K: Idealizada, ou não idealizada, é uma imagem.

DS: Certo. É uma imagem, é idealizada e eles têm que tê-la.

K: Eles têm.

DB: Eles têm.

DS: Eles têm todas as suas ações dirigidas ao "precisar ter essa imagem". Em outras palavras, para completá-la, para realizá-la. 

DB: A pessoa considera que toda a sua sua vida depende da imagem. 

K: Sim. 

DS: A depressão é quando eu não a tenho. 

K: Chegaremos a isso. Então, a próxima pergunta é: "como ela surge?"

DS: Eu acho que ela surge quando como crianças há esta ferida e até o sentimento de que não existe outra saída na qual esta ferida possa ser amenizada ou aliviada. Funciona na família de algum modo. Você é meu pai e eu compreendo ao observar você que se eu for esperto você gostará de mim. Certo?

K: Exato. 

DS: Aprendo isso muito rápido. Então vou assegurar de ter esse amor, então vou indo daqui para ali. Indo me tornar aquilo.

K: Isso tudo é muito simples. Mas estou perguntando o início disso. A origem de se fazer imagens sobre si mesmo. 

DB: Se não tenho nenhuma imagem absolutamente então nunca entrarei nisso, não é?

K: É nisso que quero chegar. 

DS: Se eu nunca criar imagens.

DB: Se eu nunca criar qualquer imagem absolutamente, não importa o que meu pai fez, isso não teria efeito, teria?

DS: Essa é a questão. 

K: Isto é muito importante.

DB: Digo, talvez a criança não possa fazer isso, mas suponha que sim.

K: Não tenho certeza, não tenho absoluta certeza. 

DB: Talvez ele possa, mas pelo menos em condições comuns elam nunca controla isso. 

DS: Você está sugerindo que a criança já possui uma imagem que foi ferida?

K: Ah, não. Eu não sei. Estamos perguntando. 

DB: Mas suponha que existisse uma criança que não construiu imagens de si mesma. 

DS: Ok, vamos admitir que ela não tenha imagem. 

DB: Então ela não pode ficar ferida. 

K: Não pode ser ferida. 

DS: Agora, veja, acho que você está em terreno perigoso psicologicamente porque uma criança...

K: Não, nós dissemos "suponha". 

DS: Suponha. 

DB: Não a criança real, mas antes suponha que haja uma criança que não construiu uma imagem de si mesma, então ela não dependeu dessa imagem para tudo. A criança de que você fala dependeu da imagem de que seu pai gosta dela. E portanto, tudo acontece quando seu pai não a ama, tudo acabou. Certo?

DS: Certo. 

DB: Portanto, ela fica ferida. 

DS: Está certo. 

DB: Mas se ela não tem nenhuma imagem de que deve ser amada pelo pai daí ela apenas olhará para o pai. 

DS: A criança que está, observará seu pai. Digamos, vamos olhar isso de um modo um pouco mais pragmático, eis aqui a criança e ela está de fato ferida. 

DB: Mas espere, ela não pode ser ferida sem a imagem. 

DS: Bem, isso é...

DB: O que ficará ferido?

K: Não existe... (risos)... É como espetar um alfinete no ar! 

DS: Não, esperem um minuto, não vou deixar vocês se safarem desta, rapazes! (Risos)... Aqui você tem esta criança, muito vulnerável, no sentido de que ela precisa de apoio fisiológico. Ela tem enormes tensões. 

K: Senhor, concordei com tudo isso. Tal criança possui uma imagem. 

DS: Não, sem imagem. Ela simplesmente não está sendo amparada biologicamente.

K: Não. Hein?

DB: Bem, ela pode fazer uma imagem do fato de que não está biologicamente amparada. Temos que fazer a diferença entre o fato real que acontece biologicamente e o que ela pensa dele. Certo? Eu já vi algumas vezes uma criança caindo de repente e ela de fato fica arrasada não porque caiu  seriamente mas devido a essa sensação de...

K: Perda, insegurança.

DB: A segurança de sua mãe acabou. Parece que tudo acabou. E ela fica totalmente atordoada e gritando, mas caiu, somente isto. Mas, o ponto é que ela tinha uma imagem do tipo de segurança que teria com sua mãe.

DS: É assim que o sistema nervoso funciona.

DB: Bem, essa é a questão, a coisa que estamos discutindo: é necessário funcionar assim? Ou isso é resultado do condicionamento?

K: Sim.

DS: Sim, eu diria sim.

K: Esta é uma questão importante.

DS: Oh, terrivelmente importante.

K: Porque, quando você observa as crianças na América ou neste país, as crianças estão fugindo de seus pais; milhares estão fugindo. Os pais parecem não ter controle sobre elas. Elas não obedecem, não ouvem, não... — estão seguindo? São selvagens.

DS: Sim.

K: E os pais sentem-se terrivelmente feridos. Eu vi na TV o que está acontecendo na América. E a mulher estava em lágrimas. — Está seguindo?... Ela disse: "Sou mãe dela, ela não me trata como uma mãe, ela só me dá ordens... me dê uma garrafa de leite" e todo o resto disso. E ela fugiu meia dúzia de vezes. E isto está acontecendo, esta separação entre os pais e os filhos; está crescendo no mundo inteiro. Eles não tem relação entre si, um com o outro. Então, qual é a causa de tudo isto? Tirando as pressões sociológicas, econômicas e tudo isso, que faz a mãe sair e trabalhar e deixar a criança sozinha e ela brinca... e tudo isso, admitindo isso, mas muito mais profundo que isso? É que os pais têm uma imagem deles mesmos e insistem em criar uma imagem nas crianças?

DS: Entendo o que está dizendo.

K: E a criança se recusa a ter essa imagem, mas ela tem sua própria imagem. Assim, a batalha está iniciada.

DS: Isso é bem o que eu estava dizendo quando disse que inicialmente a ferida da criança...

K: Ainda não chegamos na ferida.

DS: Mas era nisso que eu estava tentando chegar, o que há nessa relação inicial? Qual é a relação inicial entre a criança...

K: Duvido que tenham alguma relação. É isso que estou tentando apontar.

DS: Concordo com você. Há alguma coisa errada com a relação. Eles têm uma relação mas é uma relação errada.

K: Eles têm uma relação?

DS: Eles têm uma...

K: Os jovens se casam, ou não casam. Eles têm um filho por descuido ou intencionalmente. Os jovens, eles próprio, são crianças; não compreendem o universo, o cosmos, a ordem ou o caos, apenas têm aquela criança.

DS: Certo. É isso que acontece.

K: E brincam com ela por um ou dois anos e dizem: "Por Deus! Estou cheio desta criança!"... E dirigem-se para outras coisas. E a criança se sente largada, perdida.

DS: Está certo.

K: E ela precisa de segurança, desde início ela precisa de segurança. Que os pais não podem dar, ou são incapazes de dar: segurança psicológica, no sentido de "Você é meu filho, eu amo você, eu cuidarei de você, olharei você por toda a vida, que se comporte apropriadamente". — Cuidado. Eles não tiveram isso, esse sentimento. Depois de alguns anos ficam enjoados dela. Está certo?

DS: Sim.

K: É que eles não têm relação desde o início; nem o marido, nem a esposa, ou garoto ou garota; é somente uma relação sexual, a relação de prazer. Admitindo que eles não irão aceitar o princípio da dor envolvido no princípio do prazer.

DS: Está certo. Não vão e não apenas isso: eles não deixarão a criança passar por isso.

K: A criança está passando por isso!

DS: Sim, mas eles fazem coisas que não deixam a criança ter o prazer que acontece de todo o modo, nem deixam a criança ter a dor.

K: Assim, o que estou tentando perceber é que não existe de fato relação nenhuma, exceto biológica, sexual, relação sensorial.

DS: Sim. Ok.

K: Estou questionando isso. Não estou dizendo que é assim, estou questionando.

DS: Não acho que é assim. Acho que eles têm uma relação, mas é uma relação errada, que existem todos os tipos de...

K: Não existe relação errada! Ou há relação, ou não há relação.

DS: Bem, então temos que dizer que eles têm uma relação. Agora temos que entender a relação. Mas acho que a maioria dos pais têm uma relação com seus filhos.

DB: Você diria que é a imagem que está em relação? Suponha que os pais e a criança têm imagens uns dos outros e a relação é dirigida por estas imagens; a questão é se isso é de fato uma relação ou não, ou se é algum tipo de fantasia de relação.

K: Uma relação fantasiosa.

DB: Sim.

K: Senhor, você têm filhos — perdoe-me se me volto a você — Você têm alguma relação com eles? No sentido verdadeiro dessa palavra?

DS: Sim. No sentido verdadeiro, sim.

K: Isso significa que você não tem imagem de si mesmo.

DS: Certo.

K: E não está impondo uma imagem a eles. E a sociedade não está impondo uma imagem a eles.

DS: Há momentos assim.

K: Ah não, isso não é bom o suficiente!... — é como um ovo podre! (Risos)

DS: Esse é um ponto importante.

DB: Se são momentos, não é isso. É como dizer que uma pessoa que está ferida, há momentos em que não está ferida, mas isso está ali repousando, esperando para explodir quando algo acontecer. Desse modo ela não pode ir muito longe. É como alguém amarrado numa corda: assim que ela chega ao limite da corda ele é impedido de prosseguir. Então você poderia dizer: estou em relação  enquanto certas coisas estão bem; mas além desse ponto isso como que explode. Entende ao que estou me referindo?

DS: Entendo ao que se refere.

DB: Esse mecanismo está lá dentro, enterrado, de modo que isso domina você potencialmente.

DS: Realmente, o que você acabou de dizer é fato. Comprovo que é isso o que acontece. Em outras palavras, parece que existe, mas parece que há momentos em que eles estão...

DB: Bem, é como um homem que está preso a uma corda e diz: "Há momentos em posso me mover para onde quiser, mas não posso realmente porque se continuo me movendo, com certeza, vou chegar ao fim".

DS: parece que é isso que acontece, de fato: há uma reverberação na qual há um puxão para trás.

DB: Sim. Ou eu chego ao fim da corda, ou alguma coisa puxa a corda e então... — mas a pessoa que está  na corda, realmente não está livre, nunca.

DS: É verdade, quero dizer, eu acho que é verdade.

DB: Do mesmo modo, a pessoa que tem a imagem nunca está realmente em relação, você entende?

K: Esse é exatamente o ponto! Você pode jogar com isso; pode brincar com o verbal, mas, realmente, você não tem nenhuma relação.

DS: Você não tem relação enquanto houver a imagem.

K: Enquanto você tiver uma imagem de si mesmo, você não tem nenhuma relação com o outro. Esta é uma tremenda revelação — entende? Não é simplesmente uma afirmação intelectual.

DS: Deixem-me partilhar uma coisa com vocês, me ressinto disso...

K: Eu percebo isso.

DS: Você percebe isso. Quero dizer, fico bem zangado com você. (risos)... Existe um verdadeiro... e nós vimos isto em algum lugares.

DB: Sempre acontece na análise, não é?

DS: Acontece na análise. Mas eu estava pensando que nós tivemos psicoterapia no encontro com os psicoterapeutas, isto veio à tona. Há um tremendo ressentimento dizer... porque eu não tenho a memória dos tempos quando eu tinha o que eu penso ser uma relação, embora eu deva ser honesto com você e dizer que depois de tal relação, parece inevitavelmente haver este puxão para trás.

DB: O puxão da corda, sim.

DS: Então eu devo, quero dizer... me ressentir... (risos)... Existe isso. Não há dúvida que a imagem — existe um lugar onde você diz ter uma relação com alguém mas você só irá até ali. É aí que a imagem aparece.

DB: Certo. Mas então realmente a imagem controla o tempo todo, porque a imagem é o fator dominante. Uma vez que você passa aquele ponto, não importa o que aconteça, a imagem assume.

DS: Está certo. É como aquela bobagem de René Thom. Cabe perfeitamente.

DB: Sim, ela cabe.

K: Então, a imagem fica ferida. E a criança, você impõe uma imagem à criança? Você está fadado a isso, porque você tem uma imagem.

DS: Você está tentando impor.

K: Não.

DB: Você tem que.

DS: Bem, você está trabalhando nela e a criança pega ou não pega.

K: Não, não. Porque você tem uma imagem de si mesmo está fadado a criar uma imagem na criança. Ah, senhor. Está seguindo, você descobriu?

DS: Sim.

K: E a sociedade está fazendo isto a todos nós.

DB: Então você está dizendo que a criança pega uma imagem naturalmente, por assim dizer, calmamente e então de repente fica ferida.

K: Ferida. Está certo.

DB: Então, a ferida foi preparada e precedida por esse processo invariável de construir uma imagem.

DS: Certo. Bem, há evidência, por exemplo: nós tratamos os meninos diferente das meninas.

K: Olhe para isso, não verbalize isso tão rapidamente.

DB: Se o processo invariável de construir uma imagem não ocorreu então não haveria nenhuma base, nenhuma estrutura para ser ferida. Em outras palavras, a dor é devida inteiramente a algum fator psicológico, algum pensamento que é atribuído a mim ao dizer "Estou sofrendo esta dor". Ao passo que antes eu estava apreciando o prazer de dizer "Meu pai me ama, estou fazendo o que ele quer". Agora vem a dor: "Não estou fazendo o que ele quer, ele não me ama".

K: Simples. Sim.

DS: Mas e as feridas iniciais? Quero dizer, a criança...

K: Não, se você uma vez...

DB: Acho que fomos além desse ponto.

K: Além desse ponto.

DS: Não acho que tocamos na questão da situação biológica da criança sentindo-se negligenciada.

DB: Bem, isso ainda é — oh, você quer dizer — se a criança é negligenciada acho que ela deve pegar uma imagem nesse mesmo processo.

K: Evidente. Se você admite, uma vez que você admite, percebe a realidade que enquanto os pais têm uma imagem  deles mesmos eles são fadados a dar essa imagem à criança, uma imagem.

DB: É a imagem que faz os pais negligenciarem as crianças.

DS: Bem, você está certo nisso.

K: Está certo.

DS: Não há dúvida de que enquanto o pai é um criador de imagem, e tem uma imagem, por conseguinte, ele não pode ver a criança.

K: E, portanto, dá uma imagem para a criança.

DS: Certo. Você condiciona a criança a ser algo.

K: Sim.

DB: E talvez, inicialmente através do prazer, então ela irá se ferir. Mas se ele começa por negligenciá-la, acho que o processo da negligência é também o resultado de uma imagem e ele deve transmitir uma imagem à criança ao negligenciá-la.

DS: Que é negligência.

DB: Sim, essa negligência é a imagem que ele transmite.

K: E também os pais com certeza negligenciarão se eles têm uma imagem deles mesmos.

DB: Sim.

DS: Ele está certo. Eles devem.

K: É inevitável.

DS: Porque eles estão fragmentando mais do que percebendo o todo.

DB: Sim, a criança terá a imagem que ela não importa para os seus pais.

DS: Exceto naquele fragmento.

DB: No fragmento que eles gostam e assim por diante.

DS: Está certo. Então se você é desse jeito, estou com você; se você não é desse jeito...

K: Mas veja, a sociedade faz isto com todo ser humano. A Igreja está fazendo; igrejas, religiões, políticas, toda a cultura em volta de nós está criando está imagem.

DS: Está certo.

K: E essa imagem fica ferida, e todo o resto disso. Agora, a próxima pergunta é: a pessoa está cônscia disto tudo que é parte de nossa consciência? O conteúdo da consciência compõe a consciência. Certo? Isto está claro? Um dos conteúdos é a formação de imagem, ou talvez seja o principal mecanismo que está funcionando, o principal dínamo, o principal movimento. Ser ferido, o que todo ser humano é, pode essa ferida ser curada, e ele nunca ser ferido novamente? Pode uma mente humana que aceitou a imagem, que cria a imagem, deixar a imagem de lado completamente e nunca ser ferida? E consequentemente, na consciência, uma grande parte dela, estar vazia, não ter conteúdo. Imagino.

DS: É possível isso? Eu realmente não sei a resposta para isso. Sei responder somente que eu creio que você poderia...

K: Quem é o criador de imagem? Qual é o mecanismo ou o processo que está criando a imagem? Posso me livrar de uma imagem que está criando imagens? Posso me livrar de uma imagem e pegar outra: eu sou católico, sou um protestante, sou hindu, eu sou um monge zen, sou isto, sou aquilo. Está seguindo? Elas são todas imagens.

DS: Certo. Quem é o criador de imagem?

K: Afinal, se existe uma imagem desse tipo, como você pode ter amor em tudo isto?

DS: Nós não temos abundância dele.

K: Nós não o temos!

DS: Está certo... Temos uma porção de imagens. Por isso eu digo, eu não sei. Sei sobre a criação de imagem.

K: É terrível, senhor, ter estes... — está acompanhando?

DS: Certo. Sei sobre criar imagens e vejo isto. Mesmo enquanto você estava falando sobre isso, posso ver aqui e o sentimento é de, é como um mapa, você sabe onde está, porque se não crio esta imagem criarei outra. Se você não cria esta, criará outra.

K: Naturalmente. Estamos dizendo, é possível interromper o mecanismo que está produzindo as imagens? E qual é o mecanismo? É querer ser alguém?

DS: Sim. É querer ser alguém, é querer saber onde querer ter, reduzir, de um modo ou de outro, parecer ser querer manipular o sentimento de que não tenho ela ou não sei onde estou.

K: Estar perdido.

DS: Sim.

K: Veja que esperteza — estar de algum modo... Compreende? O sentimento de que você está perdido, não confiar em nada, não ter nenhum amparo, gera mais desordem.

DS: Certo.

DB: Essa é uma das imagens que foi transmitida a ela enquanto criança, para dizer que se você não possui uma imagem de si mesmo, você não sabe o que fazer. Você não sabe o que seus pais vão fazer se você começar a agir sem uma imagem. (Risos) Você pode fazer alguma coisa e eles simplesmente ficarão horrorizados.

DS: Está certo.

K: A imagem é produto do pensamento. Certo?

DS: É organizada.

K: Sim, um produto do pensamento. Pode passar por várias formas de pressões e todo o resto disso, muitas esteiras de montagem e no final produz uma imagem.

DS: Certo. Sem dúvida. Concordo com você aí. É definitivamente o produto do pensamento e esse pensamento parece ser como a ação imediata em saber onde você está; ou em tentar saber onde você está. É como se houvesse um espaço.

K: Assim, pode o mecanismo parar? Pode o pensamento que produz estas imagens, que destrói toda relação, e portanto, nenhum amor — ah, não verbalmente, de fato nenhum amor! Não diga: "Sim, eu amo minha..." — Isso não é... Quando um homem que tem uma imagem acerca de si mesmo diz, "Amo meu marido", ou minha esposa, ou meus filhos, é apenas sentimento, romantismo, um sentimento fantasioso.

DS: Certo.

K: Desse modo, como está agora, não existe amor no mundo. Não há o sentimento de verdadeiro cuidado por alguém.

DS: Isso é verdade. As pessoas não têm.

K: Quanto mais rico, pior se torna. Não que os pobres possuam isto. Não estou dizendo isso. As pessoas pobres também não têm isto. Elas estão atrás de encher seus estômagos e roupas e trabalho, trabalho, trabalho.

DB: Eles também têm uma porção de imagens.

K: Claro. Eu disse tanto o rico como o pobre têm estas imagens, incluindo Brezhnev e Sakharov, ou quem quer que seja. E estas são as pessoas que estão concertando o mundo. Certo? Que dizem "bem, isto deve..." — estão seguindo? Eles são a ordenação do universo. (Risos). Então, me pergunto: pode esta criação de imagens, parar? Parar, não ocasionalmente — parar isso. Porque então eu não sei o que o amor significa. Não sei como cuidar de alguém. E eu acho que é isso o que está acontecendo no mundo, pois as crianças são realmente almas perdidas, seres humanos perdidos. Eu encontrei muitas, centenas delas agora, pelo mundo todo. Elas são de fato uma geração perdida. Compreende, senhor? Como as pessoas mais velhas são uma geração perdida. Então, o que tem um ser humano a fazer? Qual é a ação correta na relação? Pode haver ação correta na relação enquanto você tem uma imagem?

DS: Não.

K: Ah! Não senhor, está é uma coisa tremenda — está seguindo?

DS: Por isso eu estava pensando: pareceu a mim que você deu um salto aí. Você disse, tudo o que conhecemos de um modo ou de outro são imagens, e a criação de imagem, e o pensamento. É tudo o que conhecemos.

K: Mas nós nunca dizemos "isso pode parar?"

DS: Nunca dizemos "pode parar", está certo!

K: Nunca dizemos: "Por deus, se isso não parar, vamos nos destruir uns aos outros".

DB: Você poderia dizer que agora a noção de isso poderia parar é mais alguma coisa que sabemos, que não sabíamos antes. Em outras palavras...

K: Torna-se um outro pedaço de conhecimento. (Risos)

DB: Mas eu estava tentando dizer que , quando você diz "tudo o que sabemos", é a mesma coisa que antes. Sinto que um bloqueio surge.

DS: Então você está de volta a isso. Certo.

DB: Em outras palavras, não é muito comum dizer: "tudo o que sabemos".

DS: Porque ele disse, "pode isso parar" — isso é mais do que...

DB: Se você diz "isto é tudo o que sabemos", então isso nunca vai parar.

K: Ele está fazendo objeção ao seu uso de "tudo". (Risos)

DS: Sou grato por isso.

DB: Esse é um dos fatores bloqueando isso.

DS: Sim. Bem, se voltarmos a isso, o que fazemos com essa pergunta: "pode ele parar?" Aqui estamos, temos esta questão: "ele pode parar?"

K: Eu fiz essa pergunta para você. Você a ouve?

DS: Ouço. Certo.

K: Ah, você ouve?

DS: Isso para por um...

K: Não, não. Não estou interessado se isso pára. Você ouve à afirmação "ela pode parar". Nós agora examinamos, analisamos, ou examinamos todo este processo de criar imagem, o resultado dele, a miséria, a confusão, as coisas apavorantes que estão acontecendo; o árabe tem sua imagem, o judeu, o hindu, o muçulmano, o cristão, o não — estão seguindo? — o comunista. Existe esta tremenda divisão de imagens: símbolos, todo o resto disso. Se isso não pára você vai ter um mundo de tal forma caótica. Eu vejo isto, não como uma abstração, mas como uma atualidade como aquela flor. E sinto, enquanto ser humano, o que vou fazer? Porque eu, pessoalmente, não tenho imagem sobre isto. Realmente quero dizer, não tenho imagem sobre mim mesmo: uma conclusão, um conceito, um ideal, tudo isso são imagens. Eu não tenho nenhuma! E digo a mim mesmo: "O que eu posso fazer?" Quando todos a minha volta estão construindo imagens, e assim, destruindo esta encantadora Terra, onde estávamos destinados a vivermos felizes numa relação humana, e olhar para os céus e ser feliz com isso. Então, qual é a ação correta para um homem que tem uma imagem? Ou não há ação correta?

DS: Deixe-me voltar: O que acontece com você, quando lhe digo "pode isso parar?"

K: Eu digo: naturalmente! É muito simples para mim. Naturalmente que isso pode parar. Não me faça a pergunta seguinte: "Como você faz isso? Como isso acontece?"

DS: Não, eu quero só escutar por um minuto quando você diz "sim, naturalmente". Ok. Agora, como você acha que pode?

K: Cinco minutos, temos somente cinco minutos.

DS: Ok. Bem, vamos apenas tocar... Como isso pode parar? Eu não tenho... Deixe-me colocar isso diretamente. Vejamos se consigo ser direto. Eu não tenho absolutamente nenhuma evidência de que pode. nenhuma experiência de que pode.

K: Eu não quero evidência.

DS: Você não quer nenhuma evidência.

K: Não quero a explicação de ninguém.

DS: Ou a experiência.

K: Porque elas se baseiam em imagens. Imagem futura, ou imagem passada, ou imagem viva. Então, eu digo: "pode isso parar?" Digo que pode, definitivamente. Não é apenas uma afirmação verbal para divertir vocês. Para mim isto é tremendamente importante.

DS: Eu acho que concordamos que é tremendamente importante, mas como?

K: Não "Como". Porque então você entra na questão de sistemas, processo mecânico que é parte de nosso processo de criar imagens. Se lhe digo como, então você diz: "Diga-me o sistema, o método, a prática, vou fazê-lo todos os dias e terei uma nova imagem".

DS: Sim.

K: Agora, eu vejo o fato que está acontecendo no mundo.

DS: Eu entendi. Estou com você, sim.

K: Fato. Não minhas reações a ele; não minhas teorias românticas, fantasiosas sobre como não deveria ser. É um fato que enquanto houver imagens, não ocorrerá paz no mundo, nem amor no mundo, seja sendo a imagem de Cristo, ou do Buda ou a muçulmana, não haverá paz no mundo. Vejo isso como um fato. Eu permaneço com esse fato. Isso é tudo — acabou. Como dissemos esta manhã, se a pessoa permanece com o fato há uma transformação. O que é, não deixar o... não... o pensamento começar a interferir no fato.

DB: O mesmo que de manhã, mais imagens surgem.

K: Mais imagens surgem. Assim, nossa consciência está preenchida com estas imagens.

DS: Sim. Isto é verdade.

K: Eu sou um hindu, brâmane, eu sou minha tradição, eu sou melhor que qualquer outro; eu sou o povo escolhido, eu sou ariano — estão seguindo? Eu sou o único inglês... Tudo isso está abarrotando minha consciência.

DB: Quando você diz ficar com o fato, uma das imagens que pode surgir é "isso é impossível, não pode ser feito".

K: Sim, essa é outra imagem.

DB: Em outras palavras, se a mente pudesse ficar com esse fato, sem nenhum comentário qualquer que fosse.

DS: Bem, a coisa que chega a mim quando você diz isso, é que quando você diz, "fique com o fato", você está de fato pedindo uma ação exatamente aqui. Para permanecer realmente com ele é que a ação da percepção está ali.

K: Senhor, você não... Por que você faz isso tão... Está a sua volta! Você está envolvido nisso.

DS: Mas isso é diferente de ficar com o fato.

K: Fique com isso!

DS: Para realmente vê-lo.

K: Sim, isso é tudo.

DS: Sabe o que isso parece? Parece que alguma coisa... é levada, porque estamos sempre fugindo.

K: Então, nossa consciência é esta imagem, conclusões, ideias, tudo isso.

DS: Sempre fugindo.

K: Preencher, preencher, e essa é a essência da imagem. Se não há criação de imagem, então, o que é a consciência? Essa é uma coisa completamente diferente.

Diálogos realizados entre David Bohm (Físico), David Shainberg (Psiquiatra), e J.Krishamurti. em Brockwood Park em Maio de 1976, abordando


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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill