Pergunta: Qual o bem da educação,
se enquanto somos educados somos também destruídos pelos luxos do mundo
moderno?
KRISHNAMURTI: Temo que você
esteja usando as palavras erradas. É preciso ter um certo conforto, não é? Quando
sentamos calmamente em uma sala, é bom que esse cômodo esteja limpo e arrumado,
embora possa estar quase sem móveis, só com um tapete; deve também ter boas
proporções e janelas de tamanho adequado. Se houver um quadro, deverá retratar
um bom cenário, e se houver uma flor e um vaso, ela deve trazer o espírito da
pessoa que a colocou ali. É preciso também boa alimentação e um local
silencioso para dormir. Tudo faz parte do conforto que é oferecido pelo mundo
moderno; e o conforto está destruindo o chamado homem culto? Ou o chamado homem
culto, por sua ambição e ganância, quem está destruindo o conforto comum a
todos? Nos países prósperos, a educação moderna está deixando as pessoas cada
vez mais materialistas e, portanto, todas as formas de luxúria estão
pervertendo e destruindo a mente; e nos países pobres, como a Índia, a educação
não as encoraja a criar um tipo radicalmente novo de cultura, não as ajuda a se
tornarem revolucionárias — não daquelas que jogam bombas, do tipo fatal. Essas pessoas
não são revolucionárias. Um verdadeiro revolucionário é o homem que está livre de
todo induzimento, isento de ideologias e enfeitiçamentos da sociedade, que são expressão
da vontade coletiva de vários; e sua educação não o auxilia a ser esse tipo
revolucionário. Pelo contrário, ela os está ensinando a se conformarem ou
meramente reformarem o que já existe.
Portanto, é sua chamada educação
que os está destruindo, não o luxo que o mundo moderno provê. Por que não podem
ter carros e boas estradas? Mas, vejam, todas as técnicas e invenções modernas
estão sendo utilizadas para a guerra, ou simplesmente para a diversão, como um
meio para escapar de si mesmos. Por isso a mente se perde em inventos, recursos
mecânicos ou máquinas que os ajudam a cozinhar, a limpar, a passar a ferro, a
calcular, e várias outras atividades essenciais, para que vocês não tenham que
pensar nelas o tempo todo. Vocês devem usar os inventos, mas não se perder nas
invenções, e libertar a mente para fazer algo diferente.
Krishnamurti — Pense nisso