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sexta-feira, 5 de setembro de 2014

É possível morrer para o prazer e a dor?

A maioria de nós deseja uma vida que tenha continuidade, ou seja tempo e espaço. A morte, portanto, é uma coisa horrorosa, que se deve evitar, e a vida algo que cumpre prolongar com auxílio de medicamentos, de médicos, etc. Ou, ante a inevitabilidade da morte, dizemos: "Quero crer em alguma coisa: que eu continuarei existente e vocês continuarão existentes, sempre no espaço". 

(...) E a morte... por que tanto medo da morte? Esse medo existe não só para os velhos, porém para todos. Por quê? E, sentindo medo, inventamos teorias agradáveis e confortadoras: reencarnação, karma, ressurreição, etc. etc. É ao medo que cumpre compreender... mas não voltemos a questão do medo. Estamos tentando compreender o que significa morrer. 

A maioria de nós deseja continuidade física — lembranças de coisas passadas, esperanças, satisfações, preenchimentos; vivemos, em geral, com nossas lembranças, associações, quadros, retratos. E tudo pode findar, ao perecer o corpo físico. Isto é muito perturbador. Já vivi tanto — cinquenta ou sessenta anos; tenho lutado para cultivar certas virtudes, adquirir conhecimentos; e que vale a vida, se tenho de separar-me de tudo, acabar num dado momento? origina-se assim, o tempo-espaço. Entendem? Tempo, compreendido como espaço e distância. Mas tudo o que tem continuidade, que não conhece o findar, não pode renovar-se nunca, ser jovem viçoso, "inocente". Só aquilo que morre tem a possibilidade de conhecer a criação, de ser novo, fresco. Assim, é possível morrer em vida, conhecer a vitalidade, a energia da morte, com todos os sentidos plenamente despertos? Que significa morte? Não a morte de velhice, doença ou acidente, porém a morte de uma mente em plena atividade, que provou, que experimentou e adquiriu conhecimento; quer dizer, a morte do passado? Compreende?

Não sei se já alguma vez experimentaram — ainda que por divertimento — morrer para todas as coisas que conhecem. Dirão, então: "Se morro para todas as minhas lembranças, para minha experiência, meu saber, meus retratos, meus símbolos, meus apegos e ambições, o que resta? Nada. Mas, para saber o que é a morte, a mente, por certo, deve estar reduzida a nada. Consideremos uma coisa. Já experimentaram morrer, não só para o sofrimento, mas também para o prazer? Desejamos morrer para o sofrimento, para as lembranças desagradáveis; mas morrer também para o prazer, as alegrias, as coisas que lhes conferem um extraordinário senso de vitalidade — já experimentaram isso? Se o fizerem, verão que se pode morrer para o passado. Morrer para todas as coisas, de modo que, ao se dirigirem para o escritório, para o trabalho, tenham a mente nova — por certo, isto é amor e não as coisas lembradas. 

Assim, a mente foi construída através do tempo; a mente é tempo. Todo o pensamento molda a mente no tempo. E para não ser moldado pelo tempo, o pensamento deve cessar completamente. Não um cessar forçado, um cessar mecânico, não uma interrupção, porém o findar consistente em perceber a verdade de que ele deve cessar. 

Assim, para sabermos o que é a morte, precisamos "viver com a morte". Se desejam conhecer uma criança, precisam viver com a criança, e não ter medo dela. Mas, em maioria, nós morremos mil mortes, antes da morte real. "Viver com a morte" é morrer para o ontem, de modo que o ontem não produza marca no dia de hoje. Experimente-o. Percebendo-se o que há de verdadeiro nisso, tem então o viver um significado todo diferente; não há então separação entre o viver e o morrer e a morte. Mas, nós temos medo de viver e temos medo de morrer; e não compreendemos nem o viver, nem a morte. Para "vivermos com uma coisa" temos de amá-la; e amar é morrer para ontem — porque então se pode viver. Viver não é continuidade da memória, ou voltar ao passado, dizendo: "Como eu era feliz na minha infância!"

Não conhecemos a morte e não conhecemos a vida. Conhecemos as agitações, as ansiedades, as "culpas", os temores, as terríveis contradições e conflitos; mas não sabemos o que é viver. E só conhecemos a morte como coisa aterrorizante, temível; a afastamos do pensamento e evitamos falar a respeito dela, buscamos refúgio numa dada crença, como sejam discos voadores, reencarnação ou outra coisa qualquer. 

Há, pois, um morrer e, portanto, um viver, quando o tempo, o espaço e a distância são compreendidos em termos do "desconhecido". Ora, nossa mente funciona sempre no campo do "conhecido", e nós nos movemos do conhecido para o conhecido; e nada mais conhecemos; e quando a morte interrompe esta continuidade "do conhecido para o conhecido", nos aterrorizamos e nenhum consolo encontramos. O que desejamos é consolo, não a compreensão de algo que não conhecemos, não o viver com algo que não conhecemos.

Assim, o conhecido é o "ontem". Eis tudo o que sabemos. Não sabemos o que é o "amanhã". Projetamos o passado, através do presente, no futuro; e daí nasce a esperança e o desespero. Mas, para compreender realmente a coisa chamada "morte", que deve ser algo extraordinário, incognoscível, impensável, inimaginável, precisamos procurar conhecê-la, "viver com ela", precisamos nos chegar a ela, sem conhecimento e sem medo. E eu digo que isso é possível, que uma pessoa pode morrer para todos os dias passados. Afinal de contas, todos os dias passados são constituídos de prazer e de dor. E quando morremos para o passado, a mente está vazia; e, assustando-se com esse vazio, ela de novo começa a se mover de um conhecido para outro. Mas, se se puder  morrer para o prazer e a dor — não determinado prazer ou determinada dor — a mente está então fora do tempo e do espaço. E essa mente contém então o tempo e o espaço, sem o conflito do tempo e do espaço, não sei se estão compreendendo. Nossa linguagem é muito limitada. Vejamos se sobre isso podemos conversar.

Krishnamurti em, O PASSO DECISIVO
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill