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terça-feira, 30 de setembro de 2014

Sobre a questão do vazio e o do medo


Porque somos reféns da incapacidade de observar o óbvio


segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Não somos indivíduos, porque não estamos livres do temor

Quando temos um problema, desejamos solução imediata; recorremos então a um livro, a um médico, um analista, um especialista; ou ficamos batalhando dentro de nós mesmos para achar a solução. Somos impacientes, queremos resultados imediatos e vivemos por isso em constante conflito. 

(...) Será possível a vocês e a mim, nos libertarmos de todos os nossos problemas, dos nossos sofrimentos, de nossas incontáveis necessidades?

Ser livre implica solidão completa, — o que significa a libertação do medo. É só então que somos indivíduos, não é verdade? Só somos indivíduos quando cessa completamente o temor: o temor da morte, da opinião alheia, o temor que resulta de nossos próprios desejos e ambições, o temor da frustração, o temor do não-ser. O estar só é, sem dúvida, inteiramente diferente do estar em isolamento. 

É o próprio isolamento que cria o temor; e como medida defensiva temos um grande número de barreiras, um grande número de ideias, abrigos, garantias. 

Em geral, não somos verdadeiros indivíduos, não é exato? Somos o resultado de inúmeras influências sociais, das impressões acumuladas, dos problemas interiores que nos oprimem a mente e o coração. Não somos indivíduos, porque não estamos livres do temor; e a mim me parece que, se não estamos livres do temor, nunca encontraremos uma solução verdadeira para qualquer um dos problemas humanos. 

Pois bem. É possível nos libertarmos completamente do temor? E de que temos medo? De estarmos sem segurança, de não termos as coisas de que fisicamente necessitamos, das consequências de não nos subordinarmos a determinado sistema político ou religioso, etc. 

O desejo de segurança implica temor, em nossas relações. Para sermos capazes de expressar a verdade que vemos, independentemente das ameaças que nos rodeiam, requer-se uma grande revolução em nosso pensar, não acham? 

Pode cada um de nós tornar-se completamente livre do desejo de segurança, que gera temor? Se pudermos compreender profundamente esta questão, acredito, muitos dos nossos problemas serão resolvidos. 

Estar liberto do temor é, sem dúvida, a única revolução, porquanto, uma vez livres do temor, já não somos hindus ou americanos, não pertencemos a nenhuma religião organizada, não há mais ambição, desejo de sucesso, de realização, e, por conseguinte, já não estamos empregando a nossa força contra outro. 

A isenção de temor não é uma ideia, nem tampouco um ideal que devemos lutar para alcançar; entretanto, quando nos fazemos esta pergunta: "Pode-se ser livre do temor?" — qual é a nossa reação interior? 

O temor é um empecilho básico, um obstáculo fundamental em todas as nossas relações e em nossa busca da realidade; e podemos nós — vocês e eu — em sucessivos esforços, sem análise, libertar-nos desse contágio gerador de tantos problemas? Pode-se ser totalmente isento de temor? Esta é uma pergunta difícil de respondermos a nós mesmos, não acham? 

Ser livre de temor significa, com efeito, estar isento de todo desejo de segurança econômica ou social, ou do desejo de encontrar segurança em nossa experiência pessoal. 

Esta questão, sem dúvida, é importantíssima, uma vez que toda a nossa perspectiva das coisas é prejudicada pelo temor; nossa educação, religião, estrutura social, nossos esforços em todas as esferas de ação, estão baseadas no temor. 

E pode alguém ficar livre do temor por meio de algum exercício, de alguma espécie de disciplina, pelo auto-esquecimento, pela imolação de si mesmo, pelo cultivo de qualquer crença ou dogma, ou pela identificação com uma nação qualquer? 

É claro que nenhuma dessas coisas pode nos dar a libertação do temor, visto o próprio "processo" de imitação, de submissão, de auto-sacrifício, radicar-se no temor; e ao reconhecermos a inutilidade de tudo isso e percebermos como a mente está ocupada em "projetar" defesas, abrigar-se em crenças e conhecimentos — e em todas essas coisas está sempre emboscado o temor — que devemos fazer? Como pode, então, uma pessoa libertar-se desse estado a que chamamos temor? 

Se temos disposições sérias, não acreditam ser esta uma das perguntas fundamentais que devemos fazer a nós mesmos? Desde crianças somos educados para pensar sempre sob a inspiração do temor; todas as nossas defesas, tanto psicológicas como físicas, se baseiam no temor; e como pode a mente assim educada, condicionada, libertar-se do temor? 

Pode a mente libertar-se do temor? Pode qualquer atividade da mente dar liberdade a ela própria? A própria mente, o próprio pensamento, não representa o autêntico processo do temor? E pode o pensamento anular o temor? 

Senhores, este não é um problema fácil de resolver; o que cada um de nós pode fazer, porém, é tornar-se bem cônscio do temor, sem lutar contra ele, sem analisá-lo, e, portanto, sem levantar defesas. 

E quando a mente se acha de fato muito tranquila, passivamente cônscia de todas as formas de temor que surgem, e sem empreender nenhuma ação contra elas, nessa quietude, existe a possibilidade de se dissolver o temor, sendo esta a única revolução real, fundamental; e, então, há individualidade. Enquanto há temor, não há singularidade, individualidade. 

Atualmente, nós, em geral, somos apenas o resultado de influências várias: sociais, econômicas, políticas, climáticas, etc.; não somos genuínos indivíduos e, por conseguinte, não somos criadores. A ação criadora não representa a expressão de um talento, de um dom; só se manifesta quando não existe temor, isto é, quando o indivíduo é completamente independente. 

Sem dúvida, esta questão de como ser livre é um dos nossos principais problemas, não acham? Talvez, mesmo, seja o nosso único problema; pois é o temor que, dissimulado nos mais íntimos recessos de nossa mente e de nosso coração, nos tolhe o pensar, o ser, o viver. 

Parece-me, portanto, que o que se necessita agora não é de mais filosofias, de sistemas melhores, de mais saber e ilustração, mas, sim, de verdadeiros indivíduos, inteiramente livres de temor. Porque só quando não existe temor, pode existir amor. 

Ora, podemos nós — vocês e eu — empreender a nossa libertação do temor? Podemos rejeitar todas as opiniões, todos os dogmas e crenças, que são meras expressões do temor, e atingir a fonte, o problema fundamental, que é o próprio temor? 

Ora, como já disse, a ação criadora não representa um mero talento, um dom, uma capacidade; ela excede em muito tudo isso. Só pode haver ação criadora quando a mente se acha totalmente tranquila, sem os embargos do temor, do julgamento, da comparação, sem a carga do saber e da ilustração. 

A maioria de nós, porém, anda sempre com a mente agitada, cheia de problemas, numa eterna busca de segurança; e como pode a mente, em tais condições, ser independente, livre de influências e temores? Como pode ela compreender aquela força criadora, aquela realidade — qualquer que ela seja — ou descobrir se ela existe ou não existe? 

Só quando a mente está inteiramente livre do temor há a possibilidade de realizar-se uma revolução fundamental — a qual nada tem em comum com a revolução econômica ou política; e para se ser livre de temor não se requer presteza de raciocínio, mas, vigilância constante, e um considerável percebimento, paciente, persistente, do inteiro processo do pensamento, o qual pode ser observado apenas nas relações, em nossas atividades do dia a dia. 

O autodescobrimento se realiza pela compreensão do que é, e o que é é o processo real do pensamento em qualquer momento que passa. Isso, positivamente, é meditação, e requer uma tranquilidade de espírito em que não haja exigência alguma. 

Somente quando começamos, vocês e eu, a conhecer a nós mesmos, a mente pode estar livre de temores, e só então há possibilidade, não apenas de paz interior, mas de felicidade exterior para o homem.

Krishnamurti em, PERCEPÇÃO CRIADORA


Pode a mente experimentar o desconhecido?

Por que é que as pessoas, tendo uma certa renda e podendo retirar-se do trabalho de responsabilidade, tanta vezes se deterioram e se desintegram psicologicamente?

Krishnamurti: A deterioração é mera resultante da renda certa? A renda certa talvez apenas exagere a deterioração já existente. Não, meus senhores, não foi riam disso, como se nada fosse. Interessa-nos saber por que a mente se deteriora numa determinada fase, ou por que razão ela se deteriora

Um homem que está trabalhando, ganhando dinheiro, frequentando regularmente um escritório, não está se deteriorando, aparentemente, pois está em atividade; ao cessar, porém, essa atividade, torna-se perceptível a deterioração. 

A mente sujeita a uma rotina, seja a rotina de um escritório, de um rito, ou a rotina de um certo dogma, já está se deteriorando, não é verdade?

Por certo, vale muito mais a pena descobrir as causas determinantes da deterioração da mente, do que inquirir por que razão o seu vizinho se desintegra, quando se retira das atividades. Se pudermos realmente compreender só esta questão, talvez venhamos a conhecer a eternidade da mente.

Por que se deteriora a mente — não apenas a sua mente, mas a mente do homem? Pode-se ver que o fator da deterioração surge quando a mente se transforma em máquina de hábito, quando a sua educação é mero exercício de memória, e quando se acha numa luta incessante, procurando ajustar-se a um padrão imposto de fora ou criado por ela própria. 

Há medo, deterioração, destruição da mente, quando ela está constantemente em busca de segurança, ou quando sujeita do desejo de preenchimento.  

E tal é o nosso estado, não é verdade? Ou estamos na sujeição do hábito, da rotina, fazendo a mesma coisa sempre e sempre, exercitando-nos na virtude, ajustando-nos ao padrão de uma disciplina, para chegarmos a um certo resultado, para encontrarmos segurança psicológica ou material; ou, ainda, estamos a competir, a fazer esforços inauditos, na nossa ambição de sucesso mundano. 

Certo, é isso que cada um de nós está fazendo, e, por conseguinte, já pusemos em funcionamento o mecanismo da deterioração. Se qualquer dessas reações existe em nós, em qualquer nível que seja, estamos nos deteriorando. 

Pois bem. Pode a mente renovar-se com frequência? Pode a mente ser criadora momento por momento? 

Não me refiro à criação compreendida como mera atividade de planejar e expressar, compreendida como capacidade ou aplicação de uma técnica. Não estou me referindo à criação sob nenhum desses aspectos. Mas pode a mente experimentar o desconhecido? Sem dúvida, só no estado de não-conhecimento não há deterioração.

Qualquer outro estado acarretará, por força, o envelhecer da mente. Como qualquer mecanismo posto a funcionar seguidamente durante dias, semanas, meses e anos, a mente, sempre em atividade, se deteriora, inevitavelmente. 

Enquanto você fizer uso da sua mente como se fosse máquina, para realizar, produzir, ganhar, tem em si as sementes da deterioração, da velhice e da decrepitude. E quer se trate de um menino de dezesseis anos ou de um velho de sessenta, o "processo" é o mesmo. 

Nós, porém, em geral, não estamos cônscios desse processo de deterioração. Estamos cônscios, apenas, de nos acharmos entre as rodagens da máquina de prazeres e dores e sofrimentos, e da nossa luta para sairmos dela. 

A mente, pois, nunca está quieta, despreocupada; sempre se acha envolvida com alguma coisa: com Deus, com o comunismo, com o capitalismo, com o enriquecer, com a opinião dos outros ou... com a cozinha. Com quantas coisas ela anda preocupada! Como está constantemente ocupada, nunca é livre, jamais tranquila. 

Só a mente que está tranquila — não por estar insensibilizada, mas por encontrar-se naquele estado de silêncio que é criador — só essa mente pode sustar a deterioração. 

A imunidade à deterioração não é possível à mente que se preenche pelo exercício de capacidades. À medida que nos tornamos mais idosos, a capacidade se embota. Você pode ser um exímio pianista; como o envelhecer, porém, vem o reumatismo, vêm os achaques, vem a cegueira, ou você pode ser vitima de um acidente. 

A mente que anda à procura de preenchimento, em qualquer sentido, em qualquer nível, já contém em si a semente da destruição. É o "eu" que quer preencher-se, quer tornar-se alguma coisa; vendo-se vazio, frustrado, busca o "eu" preenchimento em minha família, meu filho, minha propriedade, minha ideia, minha experiência. 

Quando reconhecemos tudo isso e lhe percebemos os perigos, só então a mente pode estar vazia momento por momento, dia por dia, não embargada pela carga do passado ou pelo temor do futuro. 

O viver naquele momento não é nenhuma coisa fantástica, só concedida a uns poucos.

Afinal de contas, como disse, cada um de nós vive num mundo de sofrimento, luta, dor, efêmera alegria, e cada um de nós deve encontrar aquela coisa desconhecida; ela não foi reservada só para um e negada aos demais. É justo que podemos criar um mundo novo; mas este mundo novo não pode nascer da revolução exterior, que produz decomposição. 

A mente se deteriora quando busca um fim, quando se submete à autoridade, nascida do temor. Há um definhar-se da mente, quando não há autoconhecimento, e o autoconhecimento não é uma coisa que se possa aprender de um livro. Ele tem de ser descoberto a cada momento, o que requer uma mente vigilante ao extremo; e a mente não está vigilante quando achou um fim. 

Assim, o fator que acarreta a deterioração se encontra em nossas próprias mãos. A mente, presa à experiência, vivendo da experiência, nunca encontrará o incognoscível. O incognoscível só pode manifestar-se quando o passado já não existe; e só não há passado, quando a mente está tranquila.

Krishnamurti em, Percepção Criadora

domingo, 28 de setembro de 2014

É abençoador poder observar o pensamento


Na condenação ou justificação, não há compreensão

Você diz que o libertar-nos do “eu”  é uma árdua tarefa, e, ao mesmo tempo, você declara que todo o esforço de libertação constitui um empecilho a essa própria libertação. Como executar essa “árdua tarefa” sem esforço?

Krishnamurti: O que você entende por esforço? Quando é que faz esforço? E se não há esforço algum, implica isso indolência, estagnação? Comecemos, pois, por averiguar o que se entende por esforço, em que sentido estamos fazendo esforço? E por que fazemos esforço.

Quando dizemos “fazer esforço”, entendemos sempre um desperdício de energias com o fim de alcançarmos um resultado, não é isso? Desejamos mais saúde, mais compreensão, uma melhor situação econômica, social ou politica, etc., o que significa que estamos sempre fazendo esforço para chegarmos a alguma parte.

Ou, também, fazemos esforço para afastar certos obstáculos psicológicos. Se somos invejosos, dizemos que não devemos sê-lo, assim, uma resistência contra a inveja.

Ou, ainda, queremos ser muito eruditos, queremos saber mais, para causar impressão nos outros ou para obtermos um emprego melhor; por conseguinte, lemos, estudamos.

Eis tudo o que sabemos a respeito do esforço, não é verdade?

Para a maioria de nos, o esforço ou é positivo ou negativo, um processo de vir a ser ou não vir a ser; e esse mesmo processo provem do centro do “eu”, não é exato? Se sou invejoso e faço esforço para não sê-lo, não há duvida de que a entidade que faz tal esforço é ainda o “ego”, o “eu”.

Todo o esforço para dominar o “eu”, positiva ou negativamente, é ainda parte do “eu                “, e, por conseguinte, só pode dar-lhe mais força; e ficamos presos nesse circulo vicioso.

O problema, pois, é de como quebrar o circulo vicioso, essa cadeia continua de esforços que só servem para fortalecer o “eu”.

Ao perceber que é invejosa, a mente deseja não ser invejosa, pensando que o não ser invejoso traz certa compensação; obtém ela certa satisfação do esforço que faz para não ser invejosa, registra uma vitória espiritual. Assim, em não ser invejosa a mente encontra segurança, proteção, e o produto do esforço é ainda o “ego”, o “eu”.

Tenha a bondade de perceber bem isso, só isso.

Surge assim, o problema: que devo fazer, quando sou invejoso? Estou acostumado a rejeitar a inveja, a levantar resistência contra ela; veja agora o quanto isso é fútil, quanto é absurdo que uma parte de mim mesmo esteja a negar outra parte quando eu sou o todo. Que devo então fazer?

Entretanto, jamais chegamos a esse ponto, não reconhecemos nunca o fato de sermos, ao mesmo tempo, a inveja e o desejo de não ser invejoso. Quando somos invejosos, fazemos vigorosos esforços para dominar a inveja, e pensamos que esse esforçar-se é benéfico, e nos libertará do “eu”. Não o fará.

Mas quando compreendo, quando estou perfeitamente cônscio de que a inveja e o desejo de não ser invejoso constitui um processo total, há então esforço? Ocorre então algo inteiramente diferente, não é verdade?

Muito bem. No momento em que estamos cônscios de ser invejosos, coléricos ou ciumentos, põe-se em funcionamento um processo de condenação; e enquanto estamos condenando, não há compreensão.

As próprias palavras “inveja”, “cólera”, “ciúme”, subentendem julgamento, comparação, condenação, não é exato? Através de séculos de educação, de civilização, de ensino religioso, estas palavras adquiriram um sentido de censura, representam algo que cumpre afastar, algo que devemos resistir, combater, e nossa reação é toda nesse sentido.

Assim, ao dar nome a certos sentimentos, já estou em atitude condenatória; e o próprio ato de condenar, de resistir a um sentimento, dá-lhe mais força. Se não condeno a inveja, isso significa render-me a ela? Tornar-me-ei mais invejoso? Ora, a inveja é sempre inveja, nem mais nem menos.

O desejo, a direção pode variar,  mas a inveja, é sempre a mesma coisa, quer tenha por objeto um “Ford” ou um “Cadillac”, quer objetive uma casa grande ou uma casa pequena. Assim, pois, o não dar nome para a inveja, e portanto o não condena-la, não significa ceder a ela.

Quando compreendemos que a própria palavra “inveja” denota condenação, que o sentimento de antagonismo à inveja é inerente à própria palavra, manifesta-se logo um estado de liberdade. Essa liberdade não se opõe à inveja, não é liberdade da inveja.

Liberdade de uma determinada qualidade não é liberdade nenhuma, e o homem livre de algo assemelha-se ao homem que está contra o governo: enquanto ele está contra alguma coisa não é um homem livre. A liberdade é completa em si; não resulta de alguma atitude, não é contra algum estado ou qualidade.

Vemos, pois, que todo esforço para vencermos alguma coisa, para libertar-nos de alguma coisa, só dá mais força ao “eu”, ao “ego”; e quando compreendemos isso realmente, quando estamos conscientes da qualidade do seu oposto, como um processo total, e percebermos como a própria palavra encerra condenação ou estímulo, então já não estamos na sujeição das palavras e, portanto, nosso espirito está livre para considerar, observar o que é .

A compreensão do que é, e a liberdade que traz, não resulta de exercício persistente, de esforço penoso, a que dedicamos vários minutos todas as manhãs; apenas surge essa compreensão quando estamos conscientes, em todo o ocorrer do dia, das árvores, dos pássaros, das nossas próprias reações, das coisas que sucedem interior e exteriormente, como um processo total.

Quando há condenação ou justificação, não há compreensão do que é; por isso torna-se dificílimo o estar consciente.

O que é só pode ser compreendido momento por momento, e isso significa devemos estar perfeitamente conscientes de que estamos julgando, de que cada palavra implica rejeição ou aceitação. Enquanto a mente for a expressão verbal do seu próprio condicionamento, nunca será livre. Só há liberdade quando a mente está aliviada de todo o pensamento.

Krishnamurti em, Percepção Criadora

Eu sou um milagre da sobrevivência


A mente política não produz transformação

Nós, como missionários de uma nova espécie


É-nos familiar a mente consciente, a atividade diária da ganância, competição, ciúme, inveja, o desejar uma coisa e não desejar outra, a nossa luta incessante; mas os mesmos impulsos encontram-se também nos níveis mais profundos, não é verdade? Pode-se, pois, contar com o inconsciente para se realizar uma transformação radical? Se você prestar atenção ao que estou dizendo e o seguir sem esforço, encontrará a solução correta; e o descobrimento da solução correta é a revolução no centro.

Qual é o estado da mente quando não há esforço algum, nem por parte do consciente nem do inconsciente? Existe, então, um centro? Para a maioria de nós existe um centro, que é o “eu”, o “ego”; e se esse centro se acha num nível superior ou inferior, isso não tem grande importância. O centro é o “eu”, o instinto de aquisição, que se expressa no possuir propriedades, no desejo de nos tornarmos melhores, de adquirir virtudes, pelo controle, pela disciplina ou tudo o mais.

Temores, ansiedades, disposições de ânimo, anseios, esperanças, fracassos, frustrações — tal é o centro que conhecemos, não é verdade? E o fazer cessar completamente esse centro, é a única revolução verdadeira; essa revolução, porém, não é possível por meio de esforço por parte do consciente ou do inconsciente.

Pois bem. Quando percebemos tudo isso, qual é o estado da nossa mente? Evidentemente, a primeira reação é um sentimento de ansiedade, de temor, de desconhecimento do que vai acontecer.

O “eu”, o centro, que é uma acumulação de inúmeras reações, inúmeras influências culturais, políticas e religiosas — esse centro é que tem funcionado até agora; e se queremos que esse centro desapareça de todo, para que a mente seja pura, incorruptível, única, singular, a primeira reação por certo, é um tremendo sentimento de negação, de não-ser; e pouquíssimos de nós somos capazes de suportar tal coisa, que significa olhar de frente o que na realidade somos.

Por conseguinte, no centro existe temor, e, refugiados nesse centro, começamos a levantar defesas, a apegar-nos aos nossos dons, capacidade, talentos, produzindo desse modo o conflito constante entre o que somos realmente e o que gostaríamos de ser. E, entretanto, em momentos lúcidos, percebemos que esse mero lidar com coisas exteriores nunca produzirá uma revolução profunda, duradoura, fundamental.

Nessas condições, aqueles dentre nós que tiverem intenções sérias e inclinações religiosas, hão de interessar-se necessariamente por esta questão da revolução no centro.

Uma vez que nem a mente consciente nem a inconsciente pode produzir uma transformação fundamental no centro, que deve a mente fazer? Pode ela fazer alguma coisa? Como vimos, a mente tanto é atividade consciente como atividade inconsciente de pensamento, de reação, de memória.

A mente é resultado do tempo e o tempo não pode produzir revolução. Ao contrário, só o cessar do tempo produz a revolução fundamental no centro. O centro está acostumado ao tempo, o centro é tempo, é todo o “processo” psicológico de ontem, hoje, amanhã — eu fui, eu sou, eu serei — frustração, temor, esperança. Como vemos, a mente não pode produzir revolução; quando o faz, cria mais brutalidade, mais tiranias, mais horrores, e a compulsão totalitária. E se a mente é incapaz de efetuar uma transformação radical, qual é então a sua função?

Espero que esteja me seguindo, porquanto não falo para mim mesmo, mas também para você. Acredito, se essa revolução extraordinária pudesse realizar-se em cada um de nós, criaríamos um mundo diferente, seriamos missionários de uma nova espécie, de uma espécie inteiramente diversa, — não daqueles que convertem, mas dos que libertam.

Qual é, pois, a função da mente, ao reconhecer que nenhum esforço, consciente ou inconsciente, da sua parte, pode produzir uma transformação completa? Apenas, ficar tranquila, não é verdade? Todo esforço de sua parte para modificar-se é produto de seu condicionamento, de seu temor, do desejo de bom êxito, da esperança de melhorar as coisas; e tal esforço só pode dificultar o descobrimento da solução correta.

Veja bem a importância disso. Se reconheço que a revolução fundamental não pode ser produzida por nenhuma reação da mente consciente ou inconsciente; que todas essas reações estão baseadas no temor, que impele à aquisição na memória, no tempo, e se encontram, portanto, na parte externa, na periferia — se reconheço tudo isso, então o que a mente deve fazer é ficar completamente tranquila, não acha?

A função da mente, por conseguinte, consiste apenas em perceber como surgem essas reações, e em não procurar conquistar um determinado estado ou produzir uma modificação no centro, pela ação da vontade. O que pode fazer é apenas observar as próprias reações.

O observar, porém, exige paciência infinita; e se você é impaciente, a observação transforma-se num trabalho exaustivo, pois você deseja progredir, deseja um resultado.

Só quando a mente está sempre cônscia de suas próprias reações de temor, de ganância, de inveja, de esperança, essas reações podem desaparecer; não desaparecem, porém, quando há condenação, comparação, julgamento. Só desaparecem pela observação simples, inteiramente isenta de escolha.

A mente se torna então extraordinariamente tranquila, de todo serena, e uma vez existente essa serenidade, opera-se uma revolução no centro.

Aí, somente, há a possibilidade de se ser individual, porque então a mente está só, livre de toda a influência.  E esse estado é criação. Nele não existe um “experimentador” que experimenta. Enquanto há “experimentador”, há processo de tempo.

Assim, essa revolução no centro, tão obviamente necessária, não é possível por meio de nenhuma espécie de compulsão ou disciplina, que são coisas muito infantis; realizar-se-á apenas quando a mente estiver de todo tranquila, percebendo, sem escolha, todas as suas realizações externas e internas como um processo total.

Você verá então surgir um sentimento extraordinário de bem-aventurança interior, o que não constitui  uma promessa, nem uma recompensa de seus valorosos esforços de muitos dias, ou muitos anos, para alcança-la.

Essa felicidade, essa bem-aventurança não é o oposto do sofrimento; nada tem em comum com o sofrimento. Esse estado nasce da compreensão do sofrimento, a qual nos torna livres do sofrimento.

Krishnamurti em, Percepção Criadora




O mundo moderno e a busca de conforto

Pergunta: Qual o bem da educação, se enquanto somos educados somos também destruídos pelos luxos do mundo moderno?

KRISHNAMURTI: Temo que você esteja usando as palavras erradas. É preciso ter um certo conforto, não é? Quando sentamos calmamente em uma sala, é bom que esse cômodo esteja limpo e arrumado, embora possa estar quase sem móveis, só com um tapete; deve também ter boas proporções e janelas de tamanho adequado. Se houver um quadro, deverá retratar um bom cenário, e se houver uma flor e um vaso, ela deve trazer o espírito da pessoa que a colocou ali. É preciso também boa alimentação e um local silencioso para dormir. Tudo faz parte do conforto que é oferecido pelo mundo moderno; e o conforto está destruindo o chamado homem culto? Ou o chamado homem culto, por sua ambição e ganância, quem está destruindo o conforto comum a todos? Nos países prósperos, a educação moderna está deixando as pessoas cada vez mais materialistas e, portanto, todas as formas de luxúria estão pervertendo e destruindo a mente; e nos países pobres, como a Índia, a educação não as encoraja a criar um tipo radicalmente novo de cultura, não as ajuda a se tornarem revolucionárias — não daquelas que jogam bombas, do tipo fatal. Essas pessoas não são revolucionárias. Um verdadeiro revolucionário é o homem que está livre de todo induzimento, isento de ideologias e enfeitiçamentos da sociedade, que são expressão da vontade coletiva de vários; e sua educação não o auxilia a ser esse tipo revolucionário. Pelo contrário, ela os está ensinando a se conformarem ou meramente reformarem o que já existe.

Portanto, é sua chamada educação que os está destruindo, não o luxo que o mundo moderno provê. Por que não podem ter carros e boas estradas? Mas, vejam, todas as técnicas e invenções modernas estão sendo utilizadas para a guerra, ou simplesmente para a diversão, como um meio para escapar de si mesmos. Por isso a mente se perde em inventos, recursos mecânicos ou máquinas que os ajudam a cozinhar, a limpar, a passar a ferro, a calcular, e várias outras atividades essenciais, para que vocês não tenham que pensar nelas o tempo todo. Vocês devem usar os inventos, mas não se perder nas invenções, e libertar a mente para fazer algo diferente.


Krishnamurti — Pense nisso

A mentira não pode transformar-se na verdade

Quando carregamos o fardo dos “você deve” e “você não deve”, impostos a nós pelos outros, ficamos como este personagem roto e sofrido, pelejando para abrir seu caminho morro acima. “Mais depressa! Mais força! Tente chegar ao alto!”, grita o tolo tirano que essa figura triste leva às costas, enquanto o próprio tirano, por sua vez, tem às costas um galo dominador. Se a vida nestes dias está lhe parecendo apenas uma luta ininterrupta desde o berço até o túmulo, pode ser a hora de arriar a carga dos seus ombros e experimentar caminhar sem ter de carregar às costas essas figuras. Você tem suas próprias montanhas a conquistar, seus próprios sonhos a realizar, mas nunca haverá energia suficiente para ir atrás dessas metas enquanto você não se desfizer de todas as expectativas que lhe foram impostas pelos outros, e que agora você pensa que são suas. Há a possibilidade de que essas expectativas estejam apenas na sua mente, mas isso não significa que elas não possam jogá-lo ao chão. É hora de arriar a carga, e dizer a essas figuras que sigam o seu próprio caminho.

A verdadeira vida de um homem é o caminho no qual ele se desfaz das mentiras que lhe foram impostas pelos outros. Desprovido das roupas, nu, ao natural, ele é aquilo que é. Trata-se aqui de ser, e não de vir a ser. A mentira não pode transformar-se na verdade, a personalidade não pode transformar-se na sua alma. Não existe maneira de transformar o não-essencial em essencial. O não-essencial permanece não-essencial, e o essencial permanece essencial, eles não são conversíveis. Esforçar-se pela verdade só vai criar mais confusão. A verdade não precisa ser conquistada. Ela não pode ser conquistada, pois já está aí. Apenas a mentira é que precisa ser descartada. Todos os anseios, propósitos, ideais e metas, todas as ideologias, religiões e sistemas de aperfeiçoamento, de melhoramento, são mentiras. Cuidado com tudo isso. Reconheça o fato de que do jeito como você é agora, você é uma mentira, resultado de manipulação, produzido pelos outros. A busca da verdade é de fato uma distração e um adiamento. É a fórmula encontrada pela mentira para disfarçar-se. Olhe a mentira de frente, examine a fundo a falsidade que é a sua personalidade. Pois encarar a mentira é parar de mentir. Deixar de mentir é desistir de buscar alguma verdade, não há necessidade disso. No momento em que desaparece a mentira, ali está a verdade em toda a sua beleza e esplendor. Encarando-se a mentira ela desaparece, e o que fica é a verdade.

Osho em, Osho Zen Tarot

Todos temos um político de tocaia em nossa mente

Você reconhece este homem? Com exceção dos mais inocentes e sinceros de nós, todos temos um político de tocaia em algum lugar da nossa mente. De fato, a mente é política. É da sua própria natureza planejar, montar esquemas, e tentar manipular situações e pessoas de maneira a conseguir o que quer. Nesta figura, a mente é representada pela serpente recoberta de nuvens, que “fala com uma língua bífida”. O que é importante perceber, porém, a propósito desta figura, é que ambas as caras são falsas. A face cândida, inocente, do tipo “confie em mim”, é uma máscara, e a face diabólica, venenosa, do tipo “vou tirar vantagem de você”, também não passa de uma máscara. Políticos não têm faces verdadeiras. Seu jogo é na totalidade uma mentira. Dê uma boa examinada em si mesmo para verificar se você tem estado fazendo esse jogo. O que você vai encontrar poderá ser doloroso de ver, mas não tão doloroso quanto continuar agindo igual. No final, esse jogo não serve ao interesse de ninguém, e muito menos ao seu. O que quer que você consiga por esse caminho, irá transformar-se em pó nas suas mãos.

Qualquer um que seja capaz de fingir com convicção, que consiga ser hipócrita, se tornará seu líder político, se tornará seu sacerdote religiosamente. Tudo que ele precisa é de hipocrisia, tudo o que ele precisa é de dissimulação, tudo que ele precisa é de uma “fachada” para se esconder por trás. Os seus políticos vivem vidas duplas, os seus sacerdotes levam vida dupla, uma pela porta da frente, a outra pela porta dos fundos. E aquela vivida pela porta dos fundos é a vida real deles. Aqueles sorrisos pela porta da frente são pura falsidade, aquelas caras tão inocentes são puramente cultivadas. Se você quiser ver a realidade do político, precisará olhá-lo pela porta dos fundos. Deste ângulo ele aparece na sua nudez, do jeito como ele é; e para o sacerdote a coisa é assim também. Esses dois tipos de pessoas dissimuladas têm dominado a humanidade. Muito cedo eles descobriram que, se você quer dominar a humanidade, deve torná-la fraca, fazê-la sentir-se culpada, não-merecedora. Destrua a sua dignidade, tire-lhe toda a glória, humilhe-a. E encontraram maneiras tão sutis de humilhar, que eles nem aparecem “na foto”; você mesmo fica encarregado de se humilhar, de se destruir. Eles lhe ensinaram uma forma de suicídio lento.

Osho em, Osho Zen Tarot

sábado, 27 de setembro de 2014

Sobre a urgência de uma transformação profunda

Nós, geralmente falando, não queremos a revolução central e, sim, apenas, mudanças exteriores — queremos uma situação econômica melhor, mais riqueza, mais conforto, mais prosperidade, mais luxo, e uma maior variedade de entretenimento e distrações. 

É isso o que interessa para a maioria de nós. Ou, trocamos uma especialidade por outra, uma religião por outra, um dogma por outro; o que significa, simplesmente, passar de uma gaiola velha para uma gaiola nova. 

E se temos disposição séria, falamos sobre a necessidade de abolir a guerra — o que, mais uma vez, significa cogitar sobre a maneira de produzir modificações no exterior. 

As pesquisas científicas, as reformas sociais, os ajustamentos políticos, tudo isso — assim como as várias religiões e sociedades sectárias — só diz respeito a modificações exteriores. 

Ora como produzir uma transformação no centro? Este é o problema da maioria de nós, não acham? Se estamos seriamente intencionados e reconhecemos quanto é superficial andarmos só em busca de um emprego melhor ou de uma solução imediata para os nossos problemas econômicos, políticos, ou religiosos, desejaremos naturalmente saber se é possível efetuar-se uma transformação no centro, a qual por sua vez, produza uma transformação em nossas relações com a família, com os companheiros, enfim, com a sociedade. 

(...) Temos tentado durante anos reformar-nos exteriormente, procuramos transformar as nossas maneiras, pensamentos, conduta, nossa sociedade, e daí não resultou nenhuma mudança radical, nenhuma libertação de forças criadoras; e assim me parece que, sem essa profunda revolução interior, central, será vão todo esforço que empregarmos para modificar as coisas exteriores. 

Nossos esforços poderão produzir modificações momentaneamente satisfatórias; entretanto, se a revolução não for efetuada no centro, a mera alteração da circunferência, da parte externa, é muito pouco significativa e poderá, eventualmente, conduzir a malefícios maiores ainda. 

Compreendendo isso, averiguemos como se pode efetuar essa transformação, essa revolução no centro. 

O que é esse centro? Ora, é a mente; e nós vamos averiguar se a mente pode modificar-se, se pode produzir em si mesma uma revolução interior. 

A mente, como ó óbvio, é constituída de níveis conscientes e níveis inconscientes; e todo esforço da mente consciente para se modificar está sempre compreendido na esfera exterior. 

(...) A maioria de nós conhece o esforço consciente de modificar, de disciplinar a mente, e,  por esse motivo, o que chamamos modificação representa uma operação parcial, e não uma revolução total. E eu estou me referindo à revolução total, integral, e não à ação parcial, de superfície; e essa revolução total não pode verificar-se por meio de nenhum esforço consciente de nossa parte. 

Sabemos o que é a consciência, estamos bem familiarizados com a mente consciente que pensa e deseja, movida pelo impulso, pela intenção, e determina o ajustamento. A mente consciente está sempre forcejando em determinado sentido, ou para ajustar-se pelo temor, ou ainda pelo temor, transforma-se, a fim de adaptar-se a outro padrão de ação. 

Por conseguinte, todo esforço visante a uma modificação é um ajustamento sob a influência do temor, do desejo de termos bom êxito ou do desejo de nos tornarmos melhores, para alcançarmos um certo resultado, seja neste mundo, seja no mundo da santidade. 

É urgentemente necessária uma revolução profunda, mas, é óbvio, essa revolução deve ser inconsciente; pois, se produzo deliberadamente uma revolução em mim mesmo, essa revolução será resultado de desejo. Desejo tornar-me melhor, conseguir um resultado, descobrir o que é Deus, o que é a Verdade, ser mais feliz; por isso digo que há necessidade de transformação. 

O esforço positivo ou negativo, o esforço para ser ou para não ser, se baseia no temor, na ânsia de ganho, de conforto, de paz, segurança; assim, pois, toda modificação operada por esforço consciente não é verdadeira transformação, e, sim, puro ajustamento a um padrão diferente. A esse respeito, temos de perceber a verdade completamente

Como todas as revoluções econômicas, quer da direita, quer da esquerda, o esforço consciente não produz nenhuma transformação no centro. Ambas as coisas só produzem tiranias. O sábio, portanto, não se preocupa essencialmente com modificações periféricas: interessa-lhe só a revolução interior, a revolução que opera no centro. E como iremos, vocês e eu, produzir essa transformação?(...) Como então efetuar essa revolução no centro?  vemos que o esforço deliberado e consciente do nosso pensamento ordinário não pode realizá-la. E pode o inconsciente fazê-la?(...) O inconsciente é o resíduo do passado, não é exato? É o resultado dos instintos raciais, das impressões culturais, de tudo o que fomos no passado, de toda a luta do homem contra seus ocultos intentos, compulsões e ímpetos. 

Pode esse inconsciente ajudar-nos a operar uma modificação, uma revolução no centro? E existe alguma diferença, algum intervalo ou hiato entre o inconsciente e o consciente?

Krishnamurti em, PERCEPÇÃO CRIADORA

A mente adquirida é um álbum de figuras repetidas


sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Medo é o nome da chave da sua apertada cela

A maioria tem medo de ficar só. Porventura saímos a passeio sozinhos? Raramente. Sempre queremos alguém que vá conosco porque queremos conversar, queremos contar alguma história a alguém, sempre estamos falando, falando, falando; portanto, nunca estamos sós, estamos? Quando se cresce e se pode sair para um passeio sozinho, descobre-se muitas coisas. Descobre-se o próprio jeito de pensar, e então começa-se a observar todas as coisas circundantes — o mendigo, o homem estúpido, o inteligente, o rico e o pobre; toma-se consciência das árvores, dos pássaros, a luz refletida numa folha. Vocês verão tudo isso quando saírem a passear sozinhos. Ficando sós, vocês depressa descobrirão que têm medo. E é porque temos medo que inventamos essa coisa chamada religião. 

Muitos volumes têm sido escritos sobre Deus e sobre o que se deve fazer para abordá-lo; mas a base disso tudo é o medo. Enquanto se tem medo, não se pode encontrar nada de real. Se você tem medo do escuro, não se atreve a sair da cama, cobre a cabeça com o lençol e trata de dormir. Para sair e ver, para descobrir o que é real, é preciso haver liberdade em relação ao medo, não é? Mas, vejam, ficar livre do medo é muito difícil. A maioria dos adultos diz que que vocês só podem ser livres quando forem mais velhos, quando tiverem amealhado conhecimentos e tiverem aprendido a disciplinar a mente. Eles pensam que liberdade é algo muito distante, situado no fim e não no princípio. Mas certamente deve haver liberdade desde a infância, de outro modo vocês jamais serão livres. 

Vejam, tendo eles próprios medo, eles os disciplinaram, dizendo-lhes o que é certo e o que é errado; dizem que vocês precisam fazer aquilo e não isto, que devem pensar no que as pessoas dirão, e assim por diante. Há todo tipo de controle para assustá-los na trilha, no molde, no modelo, e a isso chamam de disciplina. Sendo muito jovens, e por causa de seu próprio medo, vocês se ajustam; mas isso não os ajuda em nada, porque quando vocês apenas se ajustam a algo, não o compreendem. 

Ora, examinem isso de outro modo. Se vocês não fossem disciplinados, se não fossem controlados, reprimidos, fariam o que quisessem? Vocês fariam o que bem entendessem, se não houvesse ninguém para lhes dizer o que fazer? Talvez o fizessem agora, porque estão habituados a ser obrigados, oprimidos, moldados e, como reação, fariam algo contrário a tudo isso. Mas suponham que desde a infância, desde o começo de sua frequência à escola, o professor conversasse com vocês e não lhes dissesse o que deveria fazer — como então reagiriam? Se, desde o começo de sua passagem pela escola, o professor assinalasse que ser livre é a primeira coisa importante, e não a última a ser tratada quando se está para morrer, o que aconteceria? 

O problema é que ser livre requer boa dose de inteligência; e como vocês ainda não sabem o que é ser livre — é função do professor ajudá-los a descobrir os processos da inteligência. É a inteligência que acarreta a liberdade em relação ao medo. Enquanto houver medo, vocês estarão sempre se impondo algum tipo de disciplina: devo fazer isto e não aquilo, devo crer, preciso conformar-me, preciso fazer puja, e assim por diante. Essa autodisciplina é toda nascida do medo, e onde há medo não há inteligência.

Por conseguinte, a educação, a rigor, não é apenas uma questão de ler livros, de passar nos exames e de obter um emprego. É um processo completamente distinto; ela se estende desde o momento em que se nasce até a morte. Vocês podem ler inúmeros livros e ser muito espertos, mas não creio que a mera esperteza seja sinal de educação. Se for simplesmente esperto, você perderá muito na vida. O importante é, primeiro, descobrir de que é que você tem medo, compreender isso e não fugir disso. Quando sua mente está realmente livre de todo tipo de exigências, quando já não é invejosa, cobiçosa, só então poderá descobrir o que é Deus. Deus não é o que o povo diz que ele é. É algo inteiramente diferente — algo que acontece quando você compreende, quando você não tem nenhum medo. 

Assim sendo, a religião é na realidade um processo de educação, não é verdade? A religião não é uma questão daquilo que se deve crer ou não crer, de cumprir rituais ou de apegar-se a algumas superstições; é um processo de auto-educação nos caminhos do entendimento, de modo que nossa vida fique extraordinariamente rica e não mais sejamos seres humanos amedrontados, medíocres. Só então poderemos criar um mundo novo.

Líderes políticos e religiosos dizem que a criação de um novo mundo está nas mãos dos jovens. Nunca ouviram isso? Centenas de vezes, provavelmente. Mas eles não os educam para serem livres; e é haver liberdade para criar um mundo novo. Os adultos os educam nos modelos das próprias ideias deles — e têm feito uma grande confusão. Eles dizem que são vocês, os da nova geração, que devem criar um mundo novo; mas ao mesmo tempo eles os enjaulam, não é verdade? Dizem-lhes que precisam ser indianos, parses, isto ou aquilo — e se vocês lhes seguirem as ideias irão obviamente criar um mundo exatamente igual ao atual. Um novo mundo só pode ser criado quando se cria a liberdade, não com medo, não com superstição, não com base no que certa pessoa disse que um mundo deveria ser.

Vocês, jovens, da nova geração, só poderão criar um mundo totalmente diferente se forem educados para serem livres e não forçados a fazer algo de que não gostem ou que não compreendam. Por isso, é muito importante, enquanto são jovens, serem verdadeiros revolucionários — o que significa não aceitar qualquer coisa, mas inquirir sobre todas as coisas a fim de descobrir a verdade. Só então poderão criar um mundo novo. Caso contrário, ainda que os chamem por um nome diferente, vocês estarão perpetuando o mesmo velho mundo de misérias e destruição que sempre existiu até agora.

Mas, geralmente, o que é que nos acontece quando somos jovens? As moças se casam, têm filhos, e aos poucos desaparecem. Os rapazes, quando crescem, têm de ganhar a vida, então arranjam empregos e lhes é exigido que se conformem, que sigam uma profissão, quer gostem quer não; tendo-se casado e tendo filhos, são arrastados pela vida afora por suas responsabilidades e devem, portanto, fazer aquilo que lhes dizem que façam. Nessas condições, o espírito de revolta, o espírito de inquirição, o espírito da busca interior chega a seu fim; todas as suas ideias revolucionárias de criar um mundo novo são esmagadas, porque a vida é demais para eles. Eles precisam ir para o escritório, têm lá um chefe para o qual precisam fazer isto ou aquilo e, aos poucos, o senso de inquirir, o sentimento de revolta, a ânsia de criar um modo de viver completamente diferente de tudo, é destruída por completo. Por isso, é muito importante ter esse espírito de revolta desde o princípio da vida.

Vejam, a religião, a coisa real, significa uma revolta para encontrar a Deus. ou seja, significa descobrirmos por nós mesmos o que é a verdade. Não é a mera aceitação dos chamados livros sagrados, por mais antigos e venerados que eles sejam.

Krishnamurti em, O VERDADEIRO OBJETIVO DA VIDA 

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

A paz só pode acontecer se houver amor

Estivemos examinando os vários fatores que acarretam deterioração em nossas vidas, em nossas atividades, em nossos pensamentos; e vimos que o conflito é um dos principais fatores dessa deterioração. E também a paz, como é geralmente compreendida, não é um fator destrutivo? Pode a paz ser produzida pela mente? Se tivermos paz através da mente, não levará isso também à corrupção, à deterioração? Se não estivermos alertas, se não formos observadores, a palavra "paz" torna-se como uma janela estreita através da qual miramos o mundo que procuramos compreender. Por uma janela estreita só podemos ver parte do céu, e não toda a vastidão, toda a magnificência dele. Não há possibilidade de se ter paz apenas por buscar a paz, o que é inevitavelmente um processo da mente. 

Pode ser um tanto difícil entender isto, mas procurarei torná-lo o mais simples e claro que puder. Se pudermos compreender o que significa ser pacífico, talvez compreendamos o verdadeiro significado do amor. 

Pensamos que a paz seja algo a alcançar por meio da mente, através da razão; mas será assim? Pode a paz advir mediante quietação, controle ou domínio do pensamento? Todos desejamos paz; e, para a maioria, paz significa não ter amolação, não ser importunado nem sofrer interferência, então construímos uma parede ao redor de nossa mente, uma parede de ideias. 

É muito importante que compreendam isto, pois à medida que crescerem vocês serão confrontados com os problemas da guerra e da paz. A paz é algo a ser buscado, obtido e domado pela mente? O que a maioria chama de paz é um processo de estagnação, uma lenta decadência. Achamos que vamos encontrar paz apegando-nos a um conjunto de ideias, construindo interiormente uma muralha se segurança, uma parede de hábitos ou crenças; achamos que a paz é uma questão de busca de um princípio, de cultivo de uma dada tendência, de uma determinada fantasia, de um particular desejo. Queremos viver sem perturbação, então encontramos algum canto do universo, ou do nosso próprio ser, em que aninhamos e vivemos à sombra do auto-encerramento. Eis aí o que a maioria busca em seus relacionamentos com o marido, a esposa, com os pais, com os amigos. Inconscientemente queremos paz a qualquer preço e, portanto, a buscamos. 

Mas acaso pode a mente encontrar paz? Não é ela mesma uma fonte de distúrbio? A mente só pode juntar, acumular, negar, afirmar, lembrar, buscar. A paz é absolutamente essencial, porque sem ela não podemos viver de forma criativa. Mas será a paz algo a ser concretizado mediante as lutas, as negações, os sacrifícios da mente? Compreendem o que quero dizer? 

Podemos estar descontentes enquanto somos jovens, mas à proporção que ficamos mais velhos, a menos que sejamos muito sábios e vigilantes, esse descontentamento será canalizado para alguma forma de pacífica resignação com a vida. A mente está perenemente buscando um hábito, uma crença, um desejo separado, algo em que possa viver, e estar em paz com o mundo. Mas a mente não pode encontrar paz, porque ela só pode pensar em termos de tempo, em termos de passado, presente e futuro: o que foi, o que é e o que será. Ela está constantemente condenando, julgando, ponderando, comparando, perseguindo suas próprias vaidades, seus hábitos, suas crenças; e essa mente nunca pode estar em paz. Ela poderá iludir-se e simular um estado que chame de paz; mas isso não será paz. A mente pode mesmerizar-se pela repetição de palavras e frases, por seguir alguém ou acumular conhecimentos; mas não está em paz, porque tal mente é, ela própria, o centro de perturbação, ela é, por sua própria natureza, a essência do tempo. Portanto, a mente com que pensamos, com que calculamos, com que maquinamos e comparamos, é incapaz de encontrar paz. 

A paz não é fruto da razão; e, no entanto, como vocês verão se as observarem, as religiões organizadas estão presas a essa busca de paz por intermédio da mente. A verdadeira paz é tão criativa e tão para como a guerra é destrutiva; e, para encontrar essa paz, é preciso compreender a beleza. Por isso, é importante, enquanto somos jovens, termos a beleza ao nosso redor — a beleza de edifícios que tenham proporções adequadas, a beleza da limpeza, de conversas tranquilas entre os mais velhos. Ao entender o que é beleza, conheceremos o amor, pois a compreensão da beleza é a paz do coração. 

A paz é do coração, não da mente. Para conhecer a paz vocês terão de descobrir o que é a beleza. O seu modo de falar, as palavras que empregam, os gestos que fazem — essas coisas importam muito, pois por meio delas vocês descobrirão o refinamento de seu próprio coração. A beleza não pode ser definida, ela não pode ser explicada com palavras. Só pode ser compreendida quando a mente está muito quieta. 

Assim sendo, enquanto são jovens e sensíveis, é essencial que vocês — tanto quanto seus responsáveis — criem uma atmosfera de beleza. Seu modo de vestir, de andar, de sentar, de comer — todas essas coisas, e as coisas que os cercam, são muito importantes. À medida que crescerem, vocês enfrentarão as coisas feias da vida — edifícios feios, pessoas feias pela malícia, pela inveja, pela ambição, pela crueldade; e se, em seu coração, não estiver fundada e estabelecida a percepção do belo, você serão facilmente engolfados pela enorme correnteza do mundo. Então ficarão presos na interminável luta para encontrar a paz através da mente. A mente projeta uma ideia do que seja a paz e procura alcançá-la, ficando, assim, presa nas malhas das palavras, na rede das fantasias e ilusões. 

A paz só pode acontecer se houver amor. Se vocês só tiverem paz através da segurança, do dinheiro ou de alguma outra coisa, ou através de certos dogmas, rituais, repetições verbais, não haverá criatividade; vocês não sentirão a urgência de fazer uma revolução fundamental no mundo. Tal paz só leva ao contentamento e à resignação. Mas quando em vocês houver a compreensão do amor e da beleza, então encontrarão a paz que não é a mera projeção da mente. É essa paz que é criativa, que remove a confusão e estabelece a ordem interior. Mas essa paz não vem através de nenhum esforço. Ela surge quando se está constantemente vigilante, quando se é sensível tanto ao feio como ao bonito, ao que é bom e ao que é mau, a todas as vicissitudes da vida. A paz não é uma coisa mesquinha, criada pela mente; ela é infinitamente grandiosa, ampla, e só pode ser compreendida quando o coração está cheio dela. 

Krishnamurti em, O VERDADEIRO OBJETIVO DA VIDA

O problema não está no sexo mas na imagem que temos do sexo


quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Filme: The Scribbler

Titulo Original: The Scribbler
País de origem: EUA
Duração: 89 minutos
Gênero: Suspense
Direção: John Suits
IMDB: Nota 6.0
Link IMDB: http://www.imdb.com/title/tt2396721/

Ano de lançamento no Brasil: 2014
he Scribbler, a adaptação para o cinema da história em quadrinhos de Dan Schaffer, conta a história de Suki, uma jovem que enfrenta sua destrutiva doença mental usando a "The Burn Siamese", uma máquina experimental projetada para eliminar múltiplas personalidades. Na medida que Suki vai se curando, ela é assombrada por um pensamento: e se a última identidade que sobrou for ela mesma?

Um místico liberando um físico quântico de seu antolho científico

Amit conta, como e quando, ele obteve o esclarecimento final "insight" que o levou a conclusão de seu trabalho (nada existe fora da Consciência).

Conta Amit, que o primeiro esboço de seu trabalho a respeito da Consciência foi escrito no verão de 1982. Conta ele: " Eu sabia, no entanto, que havia profunda incoerência no material. Elas tinham origem no apego muito sutil a um dos dogmas fundamentais da filosofia realista - a consciência tinha que ser um epifenômeno da matéria. O biólogo Roger Sperry falou em consciência emergente - uma consciência causalmente poderosa que emergiu da matéria, do cérebro. De que maneira poderia isso acontecer? Há um círculo vicioso obstinado no argumento de que alguma coisa feita da matéria pode agir sobre ela com novidade causal. Eu poderia ver, nesse caso, a conexão com os paradoxos da física quântica: como poderíamos nós, nossas observações, produzir um efeito sobre o comportamento de objetos, sem postular uma consciência dualista? Eu sabia também que a idéia de uma consciência dualista, separada da matéria, criava seus próprios paradoxos.

Ajuda chegou de uma direção inesperada. Como cientista, sempre acreditei em uma abordagem total do problema. Uma vez que, nessa ocasião, minha pesquisa constituía evidentemente uma exploração da natureza da própria consciência, achei que deveria mergulhar em estudos empíricos e teóricos da consciência. Essa orientação implicava psicologia, embora os modelos psicológicos convencionais - dadas as suas raízes no realismo materialista - evitem experiências conscientes que contestem essa visão do mundo. Outras psicologias menos convencionais, contudo, tais como o trabalho de Carl G. Jung e Abraham Maslow, pressupunham um conjunto diferente de suposições. Essas idéias apresentam maior ressonância com a filosofia dos místicos - uma filosofia que se baseia em enxergar, espiritualmente, através do véu que cria a dualidade. Para remover o véu, os místicos prescrevem que o indivíduo se torne atento ao campo da percepção. (esse estado de atenção é, às vezes, denominado de meditação).

Eventualmente, após anos de esforços, uma combinação de meditação, leitura de filosofias místicas, um sem-número de discussões e simplesmente pensamento concentrado começaram a romper o véu que separava da solução que eu procurava para tais paradoxos. O dogma fundamental do realismo materialista - que tudo é feito de matéria - teve que ser abandonado, e isto sem trazer o dualismo.

Lembro-me ainda do dia em que ocorreu o rompimento final. Estávamos em visita a nossa amiga Frederica, que reside em Ventura, na California.

Cedo, naquele dia, Magie e eu saímos com um amigo, o místico Joel Morwood, para ouvir uma palavra de Krishnamurti na vizinha Ojai. Mesmo aos 89 anos, Krishnamurti dava conta do recado com extraordinária habilidade. Em seguida, conversando com a platéia, ele aprofundou pontos que haviam constituído a essência de seu ensinamento - para mudar, temos que estar cientes agora, e não resolver mudar mais tarde ou, simplesmente, pensar no assunto. A percepção radical, e só ela, leva à transformação que desperta a inteligência radical. Quando alguém perguntou se a percepção radical ocorre a nós, seres humanos comuns, Krishnamurti respondeu gravemente: "Tem que ocorrer".

Mais tarde naquela noite, Joel e eu iniciamos uma conversa sobre Realidade. Eu estava lhe dando um prato cheio de minhas idéias sobre consciência, que havia elaborado a partir da teoria quântica, em termos da teoria da medição quântica. Joel escutava com toda atenção.

- Muito bem, o que é que vai acontecer em seguida?

- Bem, eu não tenho certeza de compreender como a consciência se manifesta no cérebro-mente - respondi, confessando minha luta com a idéia de que, de alguma maneira, a consciência tinha que ser um epifenômeno dos processos cerebrais.

- Acho que compreendo a consciência, mas...

- A consciência pode ser compreendida? - interrompeu-me Joel.

- Claro que pode. Eu lhe disse que nossa observação consciente, a consciência, produz o colapso de onda quântica...

E eu estava pronto para repetir toda a teoria.

Joel, porém, interrompeu-me:

- De modo que o cérebro do observador é anterior à consciência, ou a consciência é anterior ao cérebro?

Percebi a armadilha na pergunta.

- Estou falando em consciência como sujeito de nossas experiências.

- A consciência é anterior às experiências. Ela não tem objeto nem sujeito.

- Certo. Isso é misticismo antigo. Em minha linguagem, porém, você está falando a respeito de algum aspecto não-local da consciência.

Joel, porém, não se deixou desanimar por minha terminologia.

- Você está usando antolhos científicos, que impedem de compreender. No fundo, você acredita que a consciência pode ser compreendida pela ciência, que a consciência emerge do cérebro, que é um epifenômeno. Tente compreender o que os místicos estão dizendo. A consciência é anterior é incondicionada. Ela é tudo o que há. Nada mais existe, senão Deus.

A última frase fez comigo alguma coisa que é impossível descrever em palavras. O melhor que posso dizer é que provocou abrupta mudança de perspectiva - um véu foi levantado. Ali estava a resposta que eu estivera buscando e que conhecera o tempo todo.

Quando todos foram dormir, deixando-me em minha contemplação, saí de casa. O ar da noite estava frio, mas não me importei. Tão enevoado estava o céu que eu mal conseguia ver uma estrela. Mas, na imaginação, o céu tornou-se o mesmo céu radiante de minha infância e, de repente, consegui enxergar a Via-láctea. Um poeta da minha Índia natal concebera a fantasia de que a Via-láctea era a fronteira entre o céu e a terra. Na não-localidade quântica, o céu transcendente - o reino de Deus - está em toda a parte. "Mas o homem não o vê, lamentava-se Jesus."

Bibliografia.
Universo Autoconciente.

A verdade não é produto de posse e venda

Pergunta: A Verdade é relativa ou absoluta?

Krishnamurti: Em primeiro lugar, examinemos através das palavras o significado da pergunta. Queremos alguma coisa absoluta, não é? A ânsia humana é por alguma coisa permanente, fixa, inabalável, eterna; algo que não sofra decadência, que não experimente a morte — uma ideia, uma sensação, um estado eterno, para que a mente se lhe apegue. Temos que entender essa ânsia, antes de podermos compreender a pergunta e respondê-la acertadamente. 

A mente humana deseja permanência em tudo — dos relacionamentos, das propriedades, das virtudes. Ela deseja algo que não possa ser destruído. Por isso dizemos que Deus é permanente ou que a verdade é absoluta. 

Mas o que é a verdade? Será a verdade algum extraordinário mistério, algo longínquo, inimaginável, abstrato? Ou será algo que você descobre de momento a momento, de dia em dia? Se ela puder ser acumulada, amealhada através da experiência, então não será a verdade; pois, atrás dessa aquisição, jaz o mesmo espírito de cobiça. Se ela é algo muito distante, que só pode ser encontrado através de um sistema de meditação ou da prática da negação e do sacrifício, também nesse caso não será a verdade, pois também isso é um processo de cobiça. 

A verdade deve ser descoberta e compreendida em toda ação, em todo pensamento, em todo sentimento, por mais triviais ou transitórios que sejam; ela deve ser observada a cada momento de cada dia; deve ser ouvida no que o marido ou a esposa dizem, no que diz o jardineiro, no que seus amigos dizem e no processo de seu próprio pensamento. Seu pensamento pode ser falso, pode estar condicionado, limitado; e, descobrir que seu pensamento está condicionado, limitado, essa é a verdade. Essa mesma descoberta liberta a mente da limitação. Se você descobrir que é cobiçoso — se o descobri, e não for simplesmente informado disso por outrem — essa descoberta terá a verdade, e essa verdade exercerá sua própria ação sobre a sua cobiça. 

A verdade não é algo que você possa amealhar, acumular, armazenar e depois se apoiar nela como num guia. Isso seria apenas outra forma de posse. E é muito difícil para a mente não adquirir, não armazenar. Quando você compreende o que isso significa, verá que coisa extraordinária é a verdade. A verdade é intemporal, mas no momento em que você a captura — como quando diz: "Encontrei a verdade, ela é minha" — ela já não será a verdade. 

Portanto, se a verdade é "absoluta" ou intemporal depende da mente. Quando a mente diz: "Quero o absoluto, algo que nunca degenere, que não conheça a morte", o que ela realmente deseja é algo permanente a que se apegar; por isso ela cria o permanente. Mas a mente que está consciente de tudo o que se passa no seu exterior e em seu próprio interior e vê a verdade disso — essa mente é intemporal; e só uma mente assim pode conhecer aquilo que está além dos nomes, além do permanente e do impermanente.

Krishnamurti em, O VERDADEIRO OBJETIVO DA VIDA

A ideia de amizade é uma das fronteiras da mente adquirida


Amigo é coisa pra se guardar debaixo de 7 chaves?


Se alguém é infeliz e deseja ser feliz, isso é ambição?

Pergunta: Se alguém é infeliz e deseja ser feliz, isso é ambição?

Krishnamurti: Quando você está sofrendo, deseja ficar livre do sofrimento. Isso não é ambição, é? Isso é o instinto natural de todas as pessoas. É instinto natural de todos nós o não ter medo, o não ter dor física ou emocional. Mas nossa vida é tal que estamos constantemente experimentando dor. Eu como algo que não me faz bem e tenho dor de barriga. Alguém me diz alguma coisa e senti-me ferido. Sou impedido de fazer alguma coisa que desejo fazer e sinto-me frustrado, angustiado. Sou infeliz porque meu pai, ou meu filho, está morto, e assim por diante. A vida está constantemente influindo sobre mim, quer eu goste quer não goste, e sempre estou sendo ferido, decepcionado, tendo reações dolorosas. Assim sendo, o que tenho de fazer é compreender todo esse processo. Mas, veja você, a maioria de nós foge disso.

Quando você sofre no íntimo, psicologicamente, o que é que faz? Busca alguém para consolá-lo; lê um livro ou liga o rádio ou vai fazer puja. Isso tudo são indicações de que se está fugindo do sofrimento. Se você foge de algo, obviamente não o compreende. Mas se olhar para seu sofrimento, se o observar de momento a momento, você começará a compreender o problema nele envolvido, e isto não é ambição. A ambição aparece quando você foge de seu sofrimento, ou quando se apega a ele, ou quando o combate, ou quando gradualmente constrói teorias e esperanças em torno dele. No momento em que foge do sofrimento, o alvo para o qual você corre torna-se muito importante, porque você se identifica com ele. Você se identifica com seus país, com sua posição, com seu Deus, e isto é uma forma de ambição.

Krishnamurti em, O VERDADEIRO OBJETIVO DA VIDA

terça-feira, 23 de setembro de 2014

O que acreditamos ser amor é só sensação de posse

Enquanto não começarmos a investigar esse processo a que chamamos mente, enquanto não nos familiarizarmos com nosso modo de pensar e o compreendermos, não poderemos descobrir o que é o amor. Não pode haver amor enquanto nossas mentes desejarem certas coisas do amor ou exigirem que ele atue de determinada forma. Quando imaginamos o que deve ser o amor e lhe damos certos motivos, criamos gradativamente um padrão de ação com relação ao amor; mas isso não é amor, é meramente nossa ideia do que deve ser amor. 

Digamos, por exemplo, que eu tenha minha esposa ou marido, como vocês tem um sari ou um casaco. Se alguém lhes tomar o casaco, vocês ficarão ansiosos, irritados, encolerizados. Por quê? Porque consideram esse casaco propriedade sua; vocês o possuem, e através de sua posse vocês se sentem enriquecidos, não é? Mediante a posse de muitas roupas vocês se sentem enriquecidos, não só fisicamente, mas também interiormente; e quando alguém lhes leva o casaco, vocês ficam irritados porque interiormente estão sendo privados daquela sensação de riqueza, daquela sensação de posse. 

Ora, a sensação de posse cria uma barreira com relação ao amor, não é mesmo? Se eu tenho alguém, se o possuo, será isso amor? Eu o possuo como quem possui um carro, um casaco, um sari, porque na posse de alguém, essa dependência emocional a outrem, é o que chamamos amor; mas se examinarem isto, verificarão que, por trás da palavra "amor", a mente está tendo satisfação na propriedade. Afinal, quando possuímos muitos saris bonitos, ou um belo carro, ou uma grande casa, a sensação de que isto tudo são coisas nossas nos dá interiormente grande satisfação. 

Por isso, ao desejar, a mente cria um padrão e fica presa nesse padrão; e então fica cansada, entorpecida, estúpida, alheada. A mente é o centro dessa sensação de posse, a sensação de "eu" e de "meu": "Eu possuo alguma coisa", "sou um grande homem", "sou um desprezível", "sou insultado", "sou lisonjeado", "sou esperto", "sou muito bonita", "quero ser alguém", "sou filho ou filha de alguém". Essa sensação de "eu"e de "meu" é o próprio centro da mente, é a própria mente. Quanto mais a mente tiver essa sensação de ser alguém, de ser grande ou muito esperta, ou muito estúpida, e assim por diante, tanto mais construirá paredes em torno de si mesma e se encerrará, entorpecendo-se. Então ela sofre, pois nesse encerramento inevitavelmente há dor. E, porque sofre, a mente diz: "O que devo fazer?" Mas em lugar de derrubar as paredes que a sufocam por meio da consciência, da reflexão cuidadosa, do exame detido e profundo da compreensão de todo o processo por meio do qual elas são edificadas, a mente luta para encontrar alguma coisa externa com que encerrar-se novamente. Assim, a mente se torna aos poucos uma barreira para o amor; e sem compreender o que é a mente, o que seja entender os processos de nosso próprio pensar, a fonte interna da ação, não poderemos descobrir o que é amor. 

(...) Não é a mente também um instrumento de comparação?(...) Enquanto a mente estiver comparando não haverá amor; e ela está sempre comparando, ponderando, julgando, não é mesmo? está sempre buscando encontrar fraquezas; logo, não há amor. Quando pai e mãe amam os filhos, eles não comparam um filho com outro. Mas vocês se comparam com alguém melhor, mais nobre, mais rico; estão sempre preocupados consigo mesmos em relação a alguma outra pessoa e, assim, criam em si próprios uma ausência de amor. Desse modo, a mente se torna cada vez mais comparadora, mais e mais possessiva, mais e mais dependente, estabelecendo assim um padrão em que se vê presa. Porque é incapaz de contemplar seja o que for como uma novidade, como uma coisa realmente nova, ela destrói o próprio perfume da vida, que é o amor.

Krishnamurti em, O VERDADEIRO OBJETIVO DA VIDA

Por que nos sentimos tristes quando não podemos ter o que queremos?

Por que nos sentimos tristes quando não podemos ter o que queremos? Por que haveríamos necessariamente de ter o que desejamos? Acreditamos ser nosso direito, não é? mas já nos teremos perguntado porque haveríamos de possuir o que queremos, quando milhões não conseguem possuir sequer o que necessitam? E, de resto, por que o queremos? Há a nossa necessidade de alimento, roupa e abrigo; mas não estamos satisfeitos com isso. Queremos muito mais. Queremos sucesso, queremos ser respeitados, amados, considerados; queremos ser poderosos, queremos ser poetas famosos, santos famosos, oradores famosos, queremos ser primeiros-ministros, presidentes. Por quê? Já refletiram nisso? Por que desejamos todas essas coisas? Não que devamos ficar satisfeitos com o que somos. Não é isso que quero dizer. Isso seria horrível, seria tolo. Mas porque essa constante ânsia por mais, mais e mais? Essa ânsia indica que estamos insatisfeitos, descontentes; mas com quê? Com o que somos? Eu sou isto, não gosto do que sou, então quero ser aquilo. Penso que parecerei muito melhor num novo casaco ou num novo sari, então eu o desejo. Isso quer dizer que estou insatisfeito com aquilo que sou, e creio que posso escapar de meu descontentamento adquirindo mais roupas, mais poder, e assim por diante. Mas a insatisfação está aí, não está? Eu simplesmente a cobri de roupas, de poder, de carros. 

Por conseguinte, temos de descobrir como entender aquilo que somos. Simplesmente cobrimo-nos com posses, com poder e posição, não tem sentido, porquanto, ainda assim, seremos felizes. Vendo isso, a pessoa infeliz, a pessoa que está triste, não corre para gurus, não se esconde em suas posses, em seu poder; ao contrário, ela quer saber o que está atrás de sua tristeza. Se você for ao fundo de sua própria dor, verificará que você é muito pequeno, vazio, limitado, e que está lutando para adquirir, para vir a ser. Essa mesma luta para adquirir, para se tornar alguma coisa, é a causa do sofrimento. Mas se começar a compreender aquilo que você realmente é, e se se aprofundar cada vez mais nisso, verificará então que algo completamente diferente acontecerá.

Krishnamurti em, O VERDADEIRO OBJETIVO DA VIDA

A pergunta que não deveria se calar


O medo da solidão e desamparo é o que acreditamos ser amor

Vocês sabem o que é o amor? Vocês amam seus pais, seus irmãos, seus professores, seus amigos? Sabem o que quer dizer amar? Quando dizem que amam seus pais, o que é que significa isso? Vocês se sentem seguros com eles, sentem-se à vontade com eles. Seus pais os estão protegendo, eles lhes dão dinheiro, abrigo, alimento e roupas, e vocês têm, com respeito a eles, uma sensação de relação íntima, não é verdade? Vocês também sentem que podem confiar neles — ou talvez não. Provavelmente vocês não falam com eles tão fácil e alegremente como o fazem com seus amigos. Mas os respeitam, são guiados por eles, obedecendo-lhes, sentindo que deverão apoiá-los quando eles forem velhos. Eles, por sua vez, os amam, desejam protegê-los, guiá-los, ajudá-los — ao menos assim o dizem. Eles desejam fazê-los casar para que levem uma chamada vida moral e fiquem fora de problemas, para terem um marido que cuide de vocês, ou uma esposa que cozinhe para vocês e que crie seus filhos. Isso tudo se chama amor, não é? 

Não podemos dizer de imediato que é o amor, porque o amor não é facilmente explicável por meio de palavras. Isso não nos vem facilmente. Entretanto, sem amor, a vida é estéril; sem amor, as árvores, os pássaros, o sorriso dos homens e das mulheres, a ponte do rio, o barqueiro e os animais não têm sentido. Sem amor, a vida é como um lago vazio. Num rio profundo há riqueza e muitos peixes podem viver; mas o charco é logo seco pelo forte calor do Sol, e nada resta, salvo, lama e sujeira. 

Para a maioria de nós, o amor é uma coisa extraordinariamente difícil de entender porque nossas vidas são muito vazias. Queremos ser amados, e também queremos amar, e por trás dessa palavra há um medo oculto. Então, não será importante para cada um de nós descobrir o que é realmente essa coisa extraordinária? E só podemos descobrir isto se tivermos consciência de como consideramos os outros seres humanos, de como olhamos para as árvores, para os animais, para um estranho, para o faminto. Temos que ter consciência de como encaramos nossos amigos, de como consideramos nosso guru, se tivermos um, de como consideramos nossos pais. 

Quando vocês dizem, "Amo meu pai e minha mãe, amo meu guardião, meu professor", o que isto significa? Quando vocês respeitam alguém tremendamente, e o consideram, quando acham que devem obedecer-lhes e esse alguém, por sua vez, espera obediência de vocês, será isso amor? O amor será apreensivo? Certamente, quando vocês consideram muito a alguém, também desconsideram muito alguma outra pessoa, não é? E será isso amor? No amor haverá alguma sensação de consideração ou desprezo, alguma compulsão para obedecer os outros? 

Quando vocês dizem que amam alguém, não dependem interiormente dessa pessoa? Enquanto forem crianças, naturalmente dependeram de seus pais, de sua professora, de seus guardiões. Eles precisam cuidar de vocês, alimentá-los, vesti-los e abrigá-los. Vocês precisam ter a sensação de segurança, a sensação de que alguém está cuidando de vocês. 

Mas o que acontece geralmente? À medida que vocês crescem, essa sensação de dependência continua a existir, não é verdade? Já não a observaram em pessoas mais velhas, em seus pais e professores? Notaram como eles ainda dependem emocionalmente de suas esposas ou maridos, de seus filhos ou de seus próprios pais? Quando cresce, a maioria das pessoas ainda continua apegada a alguém; continua a ser dependente. Se não tiverem alguém em que se apoiar, que lhes dê a sensação de conforto e segurança, as pessoas se sentem sós, não é assim? Elas se sentem perdidas. Essa dependência que temos em relação aos outros é chamada de amor; mas se vocês observarem isso de perto, verão que dependência é medo, e não amor. 

A maioria de nós tem medo de ficar só; tem medo de pensar por si, medo de sentir profundamente, de explorar e descobrir todo o significado da vida. Por isso essas pessoas dizem que amam a Deus, e elas dependem daquilo que chamam Deus; mas não é Deus, o desconhecido, é algo criado pela mente. 

Fazemos o mesmo com um ideal ou uma crença. Acredito em alguma coisa, ou entrego-me a um ideal, e isso me dá grande conforto; mas removam o ideal, removam a crença e eu estarei perdido. Ocorre o mesmo com o guru. Eu dependo porque quero receber, é então que há a dor do medo. É também isso o que ocorre quando vocês dependem dos pais ou dos professores. É natural e é certo que isso ocorra quando vocês são jovens; mas se continuarem dependendo depois de maduros, isso os tornará incapazes de pensar, de ser livres. Onde há dependência há medo, e onde há medo há autoridade, não amor. Quando seus pais dizem que vocês precisam obedecer, que devem seguir determinada tradição, que devem apenas aceitar um certo emprego ou só desempenhar uma certa qualidade de trabalho — em nada disso há amor. E não há amor em seus corações quando vocês dependem da sociedade no sentido de aceitarem a estrutura da sociedade tal qual ela é, sem discutir. 

Homens e mulheres ambiciosos não sabem o que é o amor — e nós somos dominados por pessoas ambiciosas. Eis aí porque não há felicidade no mundo e porque é muito importante que vocês, à medida que crescem, vejam e compreendam tudo isto, e percebam por si mesmos se é possível descobrir o que é o amor. Vocês podem ter uma boa posição, uma casa excelente, um maravilhoso jardim, roupas; podem tornar-se primeiros-ministros; mas, sem amor, nenhuma dessas coisas terá sentido algum. 

Portanto, devem começar a descobrir agora — não esperar até serem velhos, porque então nunca descobrirão — o que é que realmente sentem em seus relacionamentos com seus pais, com seus professores, com o guru. Vocês não podem meramente aceitar a palavra "amor" ou qualquer outra palavra, mas devem ir além do sentido das palavras para ver o que é a realidade — sendo a realidade aquilo que realmente se sente e não o que se supõe sentir. Se vocês efetivamente se sentem ciumentos, ou irados, dizer "não devo ser ciumento, não devo me irar" é meramente um desejo, não tem realidade. O que importa é ver, com muita honestidade e clareza, o que é que estão sentindo no momento, sem trazer à baila o ideal de como deveriam sentir ou como sentirão em data futura, pois poderão então fazer algo a respeito. Mas dizer: "Eu devo amar meus pais, devo amar meus professores" não faz sentido, faz? Porque seus verdadeiros sentimentos são muito diferentes, e essas palavras se tornam uma cortina atrás da qual vocês se escondem. 

(...) O que importa é ir além da palavra "amor" para ver se vocês realmente amam seus pais e se seus pais os amam realmente. Sem dúvida, se vocês e seus pais realmente se amassem, o mundo seria inteiramente diferente. Não haveria guerras, não haveria fome, não haveria diferença de classes. Não haveria ricos e pobres. Vejam bem, sem amor nós procuramos reformar a sociedade economicamente, tentamos corrigir as coisas; mas enquanto não tivermos amor em nossos corações não poderemos criar uma estrutura social livre de conflito e de miséria. Aí está por que temos de esmiuçar essas coisas cuidadosamente; e, talvez, então, venhamos a descobrir o que é o amor. 

Krishnamurti em, O VERDADEIRO OBJETIVO DA VIDA

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill