Interrogante: Há em mim alguma coisa que tem medo de fazer, de seguir, de pensar ou de ver claramente o que você está dizendo.
Krishnamurti: Aí está! Acho que é bem claro o que digo, não? É algo de positivamente revolucionário. Fazê-lo é extremamente perigoso, porquanto você terá, talvez, de alterar toda a estrutura de sua vida. Intelectualmente, você diz: "Sim, compreendo perfeitamente o que você está dizendo". Inconscientemente, porém, você percebe o perigo que encerra; e, assim sendo, você fica nervoso, apreensivo, assustado, porque deseja viver com muita segurança, conforto, facilidade, bem fechado e protegido em seu isolamento. O que estou dizendo poderá destruir tudo isso. Destruirá! Você deixará de ser cristão, inglês, indiano, etc. Não pertencerá a nenhum grupo ou seita. Estará completamente só — "só", não no sentido de "estar isolado".
O que está só é sempre belo. Uma árvore solitária, no meio de um campo, oferece-nos um belíssimo espetáculo. Temos medo de estar sós, e antes de estar sós tememos o isolamento. Somos entes humanos solitários. Todas as nossas atividades conduzem à solidão, que é isolamento. Embora sejamos casados, tenhamos filhos, empregos, sejamos membros de determinados grupos e seitas, em nosso íntimo profundo existe aquele isolamento, aquele medo da solidão, da privação de relações. Apelamos para diversões de todo gênero, inclusive a missa, a igreja, o culto — qualquer coisa que nos livre da solidão. Não poderemos compreendê-la se não compreendermos as atividades egocêntricas de nossas vidas, causadoras desse isolamento; mas, após tê-las compreendido, penetrado, ultrapassado, alcançaremos aquele estado em que estaremos completamente sós, incontaminados pela sociedade. Se não estamos sós, não temos possibilidade de ir mais longe.
Krishnamurti em, Encontro com o Eterno
Krishnamurti em, Encontro com o Eterno