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domingo, 17 de agosto de 2014

É possível uma vida diária livre de conflitos?

A maioria de nós se acha em conflito, em diferentes níveis da consciência. Não há um só ponto isento de conflito, nenhum lugar que não seja um campo de batalha. Em todas as nossas relações, quer com a pessoa mais íntima, quer com o nosso próximo, com a sociedade, lá está o conflito — um estado de contradição, de divisão, de separação, dualidade, os opostos; tudo isso contribui para o conflito. Quanto mais vigilantes estamos, a observar a nós mesmos e nossas relações com toda a sociedade e sua estrutura, tanto melhor percebemos que em todos os níveis de nosso ser há conflito — em maior ou menor grau — de que resultam consequências devastadoras ou reações muito superficiais. Mas, o fato real é que existe, profundamente arraigada em todos nós, a essência do conflito, a expressar-se de tantas maneiras diferentes — pelo antagonismo, pelo ódio, o desejo de dominar, de possuir, de dirigir a vida de outrem. Ora, existe alguma possibilidade de libertar-nos totalmente dessa essência do conflito? Talvez seja possível aparar, podar certos ramos do conflito, mas pode um homem penetrar profundamente e desenterrar a sua essência, de modo que não haja mais nenhum conflito interior e, por conseguinte, nenhum conflito exterior? Isso, porém, não significa que, libertando-nos do conflito, ficaremos a estagnar-nos, a vegetar, ou que nos tornaremos adinâmicos, sem vitalidade, sem energia plena. 

Ao investigar-se esta questão, deve-se ver, em primeiro lugar, se alguma organização externa pode ajudar-nos a promover a paz interior. Há grandes grupos de pessoas, de diferentes denominações, que creem na possibilidade de criarem-se organizações externas, perfeitas — uma sociedade capaz de promover o bem-estar, burocraticamente administrada, ou uma sociedade baseada no "pensamento eletrônico", etc.; creem que tais organizações darão paz à humanidade. Temos comunistas, ou materialistas, ou socialistas e, também, os chamados "religiosos", de várias organizações; todos creem, fundamentalmente, que com instaurar-se um certo estado de ordem exterior, criar-se-á, por meio de várias formas de sansão, compulsão, e legislação, a liberdade; o homem ficará livre de toda agressão e de todo conflito. Há também um grupo que diz que teremos ordem sem conflito se, interiormente, nos tivermos identificado com um certo princípio ou ideologia e de acordo com ela vivermos — de acordo com certas leis fixas, interiores. Conhecemos todos esses tipos, mas, pelo ajustamento, forçado ou voluntário, é possível cessar o conflito? Entendeis a pergunta? Cessará o conflito se, externamente, somos obrigados a viver em paz com nós mesmos e o próximo; compelidos, com o cérebro "lavado", forçados; ou se, interiormente, tentamos viver segundo princípios e ideologias ditados pela autoridade; se nos forçamos, lutamos e tentamos constantemente ajustar-nos? Tudo o homem tem tentado — obediência, revolta, ajustamento, observância de certas diretrizes — para viver em paz, interiormente, livre de todo conflito. 

Observando-se várias civilizações e religiões, não se pode duvidar que o homem sempre tentou isso, mas, por alguma razão, ao que parece, sempre fracassou. Talvez seja necessário seguir um caminho inteiramente diferente, em que não haja nem ajustamento, nem obediência, nem imitação, nem identificação com nenhum princípio, imagem ou fórmula — um caminho totalmente diferente. Por "caminho" não estou entendendo "método" ou "curso", porém uma maneira totalmente diferente de acesso ao problema. Valeria a pena examinarmos juntos essa possibilidade — de descobrir se é verdadeiramente possível ao homem viver uma vida interior de perfeita ordem, sem nenhuma forma de compulsão, imitação, repressão ou sublimação; uma ordem viva, e não uma coisa encerrada na estrutura das ideias. Uma paz, uma tranquilidade interior que não conheça perturbação em momento algum — é possível tal estado? Creio que todo ente humano inteligente, inquiridor, está a fazer esta pergunta. 

O homem aceitou a guerra como norma de vida; aceitou o conflito como coisa inata, parte da existência diária; aceitou o ódio, ciúme, a inveja, a avidez, a agressão, a inimizade, como a norma natural da existência. Aceitando uma tal norma de vida, devemos naturalmente aceitar a estrutura social tal como existe. Se aceitamos a competição, a cólera, o ódio, a avidez, a inveja, o espírito de aquisição, então, naturalmente, ficaremos vivendo dentro do padrão da respeitável sociedade. É nele que nos vemos aprisionados, a maioria de nós, visto que desejamos ser altamente respeitáveis. 

Percebei, por favor, como outro dia estivemos dizendo, que o mero escutar de uma poucas palavras, a mera aceitação de umas poucas ideias, não resolverá de modo nenhum o problema. O que juntos estamos tentando é examinar a nossa mente, o nosso coração, nossas maneiras de pensar, de sentir e de agir em nossa vida diária — examinar o que somos na realidade, e não o que deveríamos ser ou o que fomos. Assim, se estais escutando, estais então escutando a vós mesmos, e não escutando o orador. Estais a observar o padrão de vosso próprio pensar, a maneira como agis, pensais, sentis, viveis. Observa-se, assim, que, enquanto estamos a ajustar-nos ao padrão da sociedade, temos de aceitar a agressão, o ódio, a inimizade, a inveja, como parte da vida, essa parte da vida que gera inevitavelmente conflito, guerras, brutalidade, a chamada sociedade moderna. Temos de aceitá-la, com ela viver e nela viver, convertendo nossa vida num campo de batalha. Se não a aceitamos — e nenhuma pessoa verdadeiramente religiosa pode aceitar uma tal sociedade — como então achar essa ordem interior, não sujeita a nenhum domínio externo, essa tranquilidade que não exige nenhuma forma de expressão, que é, em si mesma, uma benção? Há possibilidade de encontrá-la, de "viver com ela"? Eis a pergunta que está a fazer a maioria de nós, sem jamais encontrar a resposta. Talvez possamos examinar esta questão e descobrir por nós mesmos se é realmente possível — não como ideia, conceito — descobrir como viver uma vida diária inteiramente livre de desordem interior, uma vida de perfeita tranquilidade, porém de tremenda vitalidade. Penso que, se pudéssemos descobrir isso, seriam verdadeiramente proveitosas estas reuniões, ao passo que, de outro modo, nenhuma significação teriam. Entremos, pois, na questão.

Jiddu Krishnamurti em, Como Viver Neste Mundo

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill