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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

A passagem para uma Outra Consciência

A passagem para uma Outra Consciência

"Em verdade, em verdade vis digo:
quem não nascer de novo, 
não entrará no Reino de Deus." João, 3:3

Chega um momento, SÚBITO e INESPERADO, em que esse novo estado de consciência — que vivemos nas experiências esporádicas e intervaladas de contato entre os dois pólos do Espírito e da Matéria — manifesta-se em todo o seu esplendor, trazendo consigo uma mudança total e uma nova visão da vida, juntamente com um estado indescritível de alegria e beatitude. 

O caráter dessa mudança não é transitório e momentâneo, mas estável e profundo. Ele assinala o início de um novo ciclo da nossa existência, pois desse momento em diante não poderemos mais recair na inconsciência e na obscuridade; fomos, finalmente, "despertados para a nossa realidade". Tornamo-nos "nós mesmos". 

Na verdade, a primeira e fundamental sensação que experimentamos em tal momento é a de despertar de um longo sono de completa inconsciência. Por isso, em todas as tradições espirituais e religiosas essa experiência é chamada de "O Despertar", e aqueles que passam por ela são definidos como "despertos". 

Outra característica que acompanha essa passagem para outra consciência é o sono de "auto-reconhecimento", pois finalmente, com clareza e certeza, sentimos nossa essência profunda e nos admiramos de nunca a ter sentido antes. Nesse momento, tal fato nos parece natural e próximo, como se apenas tivéssemos esquecido essa realidade. É como se saíssemos de uma amnésia, recuperando a memória de nosso verdadeiro ser, o qual já nos parece bem conhecido e familiar. 

Esse reconhecimento traz consigo uma alegria tão profunda, que cancela completamente a recordação de toda a dor e angústia que experimentamos em outros momentos. Temos a revelação de que o reconhecimento de nós mesmos e da nossa Realidade Divina é exatamente a fonte da beatitude, e de que, por outro lado, a origem de todos os sofrimentos e males humanos reside na identificação com a personalidade, bem como na inconsciência e na obscuridade dali derivadas. 

Quando despertamos para a verdadeira consciência, todos as nossas dúvidas e todos os nossos problemas se resolvem. Deixamos de ter dúvidas e interrogações; temos apenas respostas claras. 

Allan Watts
Allan Watts, falando dessa experiência, escreve que ela produz um imenso alargamento da visão da realidade que nos permite ver as coisas "tais como realmente são", inseridas numa Realidade Universal onde reina total harmonia, justiça e amor. É um estado de consciência indescritível e inefável, diz Watts, permeado de beatitude, não estática mas dinâmica, que nos faz sentir finalmente vivos e criativos. É o início da verdadeira vida. 

Aqueles que "despertaram" são também chamados de "nascidos de novo". Diz Cristo no evangelho: "Em verdade, em verdade vos vos digo: quem não nascer de novo, não entrará no Reino de Deus" (João 3:3). 

É como se nós, antes do despertar da consciência do Eu, ainda não fossemos nascidos. É como se estivéssemos ainda imersos na obscuridade pré-natal, como o bebê no ventre materno.

Outro efeito importante que essa nova consciência traz consigo é a visão da nossa própria missão na vida e da direção justa que devemos tomar. A pessoa que despertou abre finalmente os olhos e vê tudo do ponto de vista do EU; na verdade, descobre ser o EU, descobre ter sido sempre o EU embora o tenha esquecido. 

Em seu livro DEI IN ESILIO [DEus no exílio], J.J. Van der Leeuw compara essa sensação de inesperada recordação àquela experimentada por quem foi exilado na infância, passando a morar em um país estrangeiro onde viveu durante muitos anos em meio a pessoas desconhecidas, esquecendo sua origem e seu verdadeiro nome. 

De repente, uma música, um perfume ou uma voz lhe traz tudo de volta à memória e ele recorda seu nome, sua origem, sua terra natal. É invadido pela profunda alegria de se reconhecer, reencontrando sua identidade.

Essa experiência tão poderosa e fulgurante de despertar produz uma mudança total, uma passagem para outra consciência. Essa meta pode parecer muito difícil e distante para quem ainda não a alcançou, uma experiência reservada a poucos. Na verdade, todos nós estamos caminhando na direção dessa meta, lenta e exaustivamente, sofrendo e lutando, enquanto dentro de nós, sem o sabermos, vai ocorrendo um processo gradual de transformação e desenvolvimento da consciência. Esse processo teve início no momento em que a Semente Divina, oculta em nosso íntimo, começou a se abrir e crescer, nutrida pelas experiências que encontramos, pelos sofrimentos e amadurecimentos que a vida colocou diante de nós. 

Nem sempre nos damos conta desse processo inexorável. Mas no momento do Despertar, tomamos consciência de que tudo aquilo que parecia inesperado e inexplicável tinha sido prenunciado, havia longo tempo, pelos fugazes átimos de abertura ao Divino que experimentamos, pelos momentos de elevação, pelos lampejos inesperados de intuição, pelo senso de vazio e ausência de algo que não conseguíamos alcançar. Compreendemos então que já tínhamos pressentido a aproximação do EU, talvez pela primeira vez, quando percebemos estar vivendo em um estado de semi-sono, imersos na ilusão e na irrealidade. Queríamos despertar, mas não conseguíamos, aprisionados que estávamos num senso angustiante de "impossibilidade". 

Não compreendemos de imediato que aquele senso de impossibilidade era, verdadeiramente, um sintoma positivo, a "origem de todas as possibilidades", como diz Sri Aurobindo. Esse senso é produzido, com efeito, pela pressão do EU em luta contra a resistência da personalidade que está inconsciente dele. 

É exatamente o estado de inconsciência em que estamos imersos que constitui o grande obstáculo ao despertar do EU. Esse estado nos acompanha durante a maior parte do nosso caminho evolutivo, criando a dilacerante dualidade da qual falamos várias vezes, que é ao mesmo tempo uma maldição e um privilégio do homem, destinado a construir a ponte entre o Espírito e a Matéria. 

Devemos ter sempre presente que o desenvolvimento da consciência é um processo de reunificação longo e difícil, nascido de uma contínua interação do EU e da personalidade. 

Por outro lado, o EU "desce" até a personalidade, para se expressar; por outro lado, a personalidade se sente atraída para o EU e ao mesmo tempo lhe opõe resistência, porque não deseja deixar suas ilusórias conquistas, seus apegos, e sobretudo não quer abandonar aquele eu falso e construído com mo qual se identificava. 

Somente poderemos superar essa resistência quando a consciência — que começou a despertar em nós, em resultado dos momentos de elevação e da gradativa transformação das energias — nos fizer compreender como são ilusórios e relativos todos os nossos condicionamentos, todas as nossas necessidades, todas as nossas arrogantes convicções, dando-nos assim a capacidade de termos uma visão justa da realidade. Quando isso acontece, abrimo-nos espontaneamente à nossa parte transcendente, nos entregamos e  oferecemos ao EU todos os conteúdos e todas as energias da personalidade. 

Esse oferecimento se baseia na lei de sacrifício, que não deve ser considerada uma renúncia dolorosa, mas um "ato sagrado" com o qual nos elevamos as energias dos nossos veículos na direção do EU a fim de purificá-las e as transformar, canalizando-as na direção justa. Trata-se, na verdade, de um processo de libertação que está ocorrendo dentro de nós, pois no momento mesmo do oferecimento sentimos que se reduz o peso do apego e da ilusão que nos causavam sofrimento. 

Quando oferecemos ao EU os conteúdos de nossa personalidade, superamos o dualismo porque nos identificamos com Ele. 

Um instante antes desse oferecimento, estamos ainda na dualidade; mas, quando completamos o ato do sacrifício e damos nossas energias ao EU e ELE as acolhe, tornamo-nos uno com ELE: somos o EU. Sentimos então que não estamos privados de nada, que não renunciamos a nada, porque fizemos aquilo que nós mesmos queríamos fazer. 

Não existem mais duas vontades, dois eus; existe uma só vontade, um só eu, porque nós somos o EU. 

O despertar é também chamado "metanóia" (do grego metanoia, que significa transformação fundamental, conversão). Isso porque, quando passamos para a outra consciência e nos identificamos com o EU, vemos todas as coisas na justa posição, "no lugar certo", e nos damos conta de que vivíamos "de cabeça para baixo".

Assim como o bebê que, para poder sair do ventre materno e nascer, precisa girar e virar de cabeça para baixo, também o nosso eu pessoal, para poder despertar e vir à luz, saindo da obscuridade da inconsciência, precisa virar de cabeça para baixo.

Esse acontecimento, embora ainda distante, é a meta para a qual tende todo o longo caminho do desenvolvimento da consciência. Tudo aquilo que nos acontece, todos os nossos problemas, os nossos erros, as provações que enfrentamos, o nosso sofrimento, procuram nos conduzir para essa menta e nada mais são do que instrumentos e meios para nos fazer conhecer a direção justa, rumo ao despertar da verdadeira consciência.

(...) Uma consciência despertada não mais se defende da vida e não mais se opõe à vida. Ela adere à vida, equilibra tudo, transformando cada experiência em oportunidade de crescimento.

É esse o estado de presença e de vigilância contínua e consciente que temos de alcançar e que nos faz perguntar incessantemente o significado das coisas e dos acontecimentos, para compreender se eles estão nos conduzindo para a meta real ou, ao contrário, para um desvio ou uma ilusão.

E então, sustentados pela constante percepção consciente da direção para a qual seguimos, descobrimos o caminho espiritual que se abre e se evidencia claramente diante de nós, conduzindo-nos ao despertar. Começa assim a verdadeira vida, porque adquirimos finalmente a visão límpida da realidade.

A verdadeira vida, portanto, coincide com o caminho espiritual percorrido conscientemente, um caminho que não é externo, mas interior.

Diz um antigo dito espiritual: "Tu não poderás percorrer o Caminho até teres te tornado, tu próprio, o Caminho". Isso significa que o caminho é a consciência do EU, manifestando-se gradualmente e iluminando os "passos" sucessivos a serem percorridos, os quais formam lentamente todo o caminho interior a ser seguido rumo à completa realização.

Essa realização não tem um caráter apenas individual, mas leva a uma abertura para todos os seres e para a Realidade Universal: ela leva à autotranscendência.

Reconhecer-se no EU significa desenvolver um sentimento de unidade e amor por tudo o que existe. Tornando-nos plenamente nós mesmos, alcançamos a capacidade do amor, da fraternidade, do compartilhamento, da universalidade e da união. Nasce o impulso para o Serviço, que é definido como o "Instinto da Alma", pois é sua expressão natural.

Quando chegamos a esse estado de consciência e vemos esse resultado, sentimos que valeu a pena termos passado pelo crisol do sofrimento. A dor nos parece então ser apenas uma primeira fase do caminho evolutivo da humanidade, um trabalho inevitável e necessário para a transformação das energias aprisionadas e imersas na inconsciência, e para alcançarmos a união entre Espírito e Matéria que nos levará à libertação e à Beatitude.

Angela Maria La Sala Batà


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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill